Documento de 9 de outubro de 1860 - Parecer
Documento de 9 de outubro de 1860
Parecer do diretor Schnéeburg relacionado com terras requeridas em “Vicente Só” e que destinava à futura Povoação, Freguezia, Vila ou Cidade. (Ortografia original).
Ilmo. e Exmo. Snr. Presidente.
Em obediencia ao officio de Vª. Exª. de 14 de Setembro, que recebi em 6 de Outubro corrente, junto com a informação dada pelo Delegado da Repartição das terras publicas sobre as terras devoluta que MATHIAS WAGNER requereo comprar na margem esquerda do Rio Itajahy-mirim no lugar chamado Vicente-só[1], devolvo inclusos o requerimento do Supperintendente e a informação do Dmº. Snr. Delegado, e tenho a honra de juntar aqui uma pequena planta da collocação das terras pedidas e que mostrará a Vª. Exª. com clareza a razão em que, relativamente a uma futura Povoação, Freguezia, Villa ou Cidade, se funda a minha informação e opinião seguinte:
O theor do requerimento, se bem que isto não tem parte nemhuma na opinião que vou submetter a Vª. Exª., está em contradição comsigo mesmo, pois:
1º. requer-se 25.000 braças quadradas de superficie mais ou menos, no indicado lugar, em que já existe habitação do Supperintendente, digo, do Suplicante e um pequeno cultivado de canna d'assucar. Esta superficie pedida occuparia o lugar I do mappa separada pela linha ideal x.y, contendo devêras em si a pequena plantação de canna, um pequeno pasto e habitação, e estando a maior parte restante dos 25.000 braças quadradas em matto.
2º. O supplicante indica no seu requerimento os limites dos 25.000 braças quadradas, que mais ou menos pretende comprar, dizendo serem: a margem esquerda do Rio d'Itajahy-mirim do Ribeirão Alvin[2] pª. baixo estremando pelo 1'Este com Pedro José Werner (será do outro lado do Rio,) e para Oeste com terras de valuta. O terreno comprehendido n'estes limites tãobem requeridas, contéria uma Superficie de aproximadamente 240.000 braças quadradas, que são as parcellas I e II do mappa, contradicção de 25.000 a 240.000 braças quadradas.
Em todas as terras da Colonia banhadas pelo Rio d'Itajahy-mirim de Agoas-claras pª baixo, o unico lugar contiguo menos sujeito a innundações menores e frequentes, é sem duvida aquelle que Mathias Wagner requer, e por consequencia o unico melhor proporcionado pª uma povoação, um dia Cidade; para cujo fim Vª. Exª. déo de antemão providencias, recommendando-me: a não perdel-o de vista. De mais, estas terras requeridas na pequena e agradavel vargem de bello aspecto, ao l'Este do morro de Igreja indicada por uma Cruz vermelha, se limitão: pelo Rio; — pelo Norte por terras de Pedro José Werner e otferecem de persi favoravel agresso fluvial ,e tãobem terrestre pelo caminho que Vª. Exª. mandou agora abrir da Villa d'Itajahy até Vicente-só. — As 35.000 braças quadradas que poderá ter toda mencionada vargem já são poucas para o estabelecimento de qualquer povoação um pouco grande, para a comodidade da qual se precisará lançar mão das oportunidades do terreno contiguo e ao Oeste do morro da Cruz, devendo ficar reservadas as mais terras do Oeste do morro até as Colonias ja distribuidas para estes fins e casualidades imprevistas, o que ditroe a petição do Supplicante por limites do Ribeirão Alvin para baixo e que por si é um completo equivoco do requerimento.
Qualquer que seja a direção da linha x.y., que Vª Exª conforme a franca proposta na informação do benemerito Snr. Delegado, me authorizasse de traçar para as terras que se concedesse, mesmo em diminuta escala ao Supplicante, o exposto não deixaria de existir em seu pleno sentido. As plantações e cultivados tomarião sempre precioso e indispensavel terreno pª a povoação, - e de todo modo a farião inconsequente, alem de que taparião de todas as maneiras a Vista da Povoação, o que me parece merecer muita consideração. É quanto tenho de relatar a Vª Exª a esse respeito, acrescentando a seguinte declaração:
Que no dia 30 de Setembro antes da distribuição das Colonias por Sorte, propuz por intermédio de 3º. a Mathias Wagner (sobre minha propria responsabilidade) em troca de suas bemfeitorias immoveis, a Colonia que pertence hoje a KLING, como propriedade gratuita permittindo-lhe de continuar a morar e de desfrutar os seus pequenos cultivados já existentes, com declaração passada até razoavelmente se precisar d'este lugar etc. etc. Mathias Wagner recusou positivamente, declarando que tinha papeis, e logo não deixaria sua posse pª metter-se no matto. — Muito satisfeito estou hoje com essa recusa; pois accontecimentos da conducta do mesmo, e de que agora estou sciente, pª com os colonos, é muito contra os interesses dos mesmos, logo a sua cohabitação não dezejavel.
Por tanto seria do meu fraco intender consciencioso, de indemnisar esse alias pobre homen, casado com filhos pecuniariamente das suas bemfeitorias immoveis, o que offereceria ainda outras conveniencias que tenho a honra de levar ao conhecimento de Vª Exª no meu relatorio do mez de Setembro.
DEOS GUARDE A Vª. Exª.
Ilmo. e Exmo. Snr. Dr. Francisco Carlos de Araujo Brusque Dmº.
Presidente da Provincia de Sta Catharina
Colonia Brusque 9 de Outubro de 1860
ass: Barão de Schneéburg
Diretor da Colonia Brusque
Mapa:
Nota: no mapa, a área solicitada por Mathias Wagner é a marcada em cinza, abaixo da cruz em vermelho.
- Publicado originalmente na Revista Notícias de Vicente Só n. 01 páginas 15 a 17. Acervo da Casa de Brusque
- ↑ Região aproximada que iria da região da atual Ponte Estadaiada Irineu Bornhausen até uma região situada entre os fundos do atual Supermercado Bistek e a ponte Mário Olinger (do Bombeiro), desta linha em direção ao Rio Itajaí-Mirim. É preciso ter em mente que o Rio Itajaí-Mirim foi retificado após a grande enchente de 1860, então é possível apenas uma indicação aproximada da área.
- ↑ Região aproximada da Av. Hugo Schloesser.
