Ayres Gevaerd - O pioneiro Engelbert Gevaert e seus descendentes

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O pioneiro Engelbert Gevaert e seus descendentes

  • Ayres Gevaerd

Há muitos anos venho recolhendo subsídios para um relato históricos e composição da árvore genealógica da Família Gevaert. Mas a carência de documentos fundamentando a história pouco conhecida da "Colônia dos Belgas" no rio Itajaí-açu, à qual deveria pertencer o primeiro Gevaert a emigrar para o Brasil, impediam meu propósito.

Carlos Ficker, dedicado cultor das letras históricas de Santa Catarina, propiciou-me esta oportunidade, por intermédio de importante documentários: "Charles Van Lede e a colonização Belga em Santa Catarina".

Notáveis foram também as atividades dos amigos José Ferreira da Silva e Jean Rul, meu "patrício", que cuidaram do trabalho preliminar, permitindo acesso ao Arquivo Histórico da Bélgica.

Não pretendo, evidentemente, fazer um novo relato dos atribulados dias da "Colônia dos Belgas", largamente documentado no livro de Carlos Ficker. Quero lembrar, simplesmente, alguns acontecimentos: a origem da Colônia e a situação dos primeiros colonizadores. Em seguida adiciono notar que a tradição familiar conservou e os aspectos genealógicos mais interessantes que podem servir de orientação a outras famílias de origem belga. Procuro dar, assim, aos meus familiares, meios de conhecerem os primeiros tempos da Família aqui no Brasil.

Contam, pois, os registros, que no dia 24 de agosto de 1844 o brigue "Jean van Eyck" saía do porto de Ostende, na Bélgica, levando à bordo 109 colonos, todos das Flandres, com destino à Província de Santa Catarina.

O seu objetivo era dar cumprimento ao contrato firmado entre o governo do Império do Brasil e da Bélgica, fundando a Companhia Belgo Brasileira de Colonização: exploração comercial e mineral, assim como instalar nas margens do rio Itajaí-açu uma colônia agrícola.

Foi Charles Van Lede o idealizador desse movimento colonial e comercial e J. P. Fontaine o seu primeiro diretor.

Charles Van Lede adquirira do Major Henrique Flôres uma légua quadrada de terras na margem direita do Itajaí-açu, no local chamado Ilhota, visitado pelo adquirente em março - abril de 1842 em viagem de exploração, inspeção geológica e procura de jazidas de ferro e carvão mineral.

O brigue "Jean Eyck" chegou a Desterro[1] no dia 17 de novembro, 86 dias depois da saída de Ostende, sendo os 107 colonos (dois desertaram no navio ao chegar ao Rio de Janeiro) recebidos por autoridades provinciais pelo Cônsul da Bélgica e por Van Lede e esposa.

Dias depois, em iate costeiro, 90 colonos (17 separaram-se, preferindo terras no atual município de São José), com o diretor Fontaine, Charlen Van Lede e senhora, complementaram a viagem até Ilhota. A 27 de Novembro de... 1844, data da fundação da "Colônia dos Belgas", iniciaram o desmatamento e a construção dos primeiros ranchos.

A relação nominal completa dos primeiros belgas chegados ao Brasil com o brigue "Jean van Eyck" não se encontra nos documentos. Tampouco os que chegaram em meados de 1846 - 16 - pelo navio "L'Adile", contratados por Pierre van Loo na cidade de Gand, foram relacionados. Antes, a 19 de maio do mesmo ano, outros 18 colonos chegaram a Desterro, destinados porém ao Alto Biguaçu e Tijucas Grandes.

Cedo o descontentamento tomou conta da Colônia, verificando-se, inclusive, motins.

As causas, entre outras: questões de terras, brigas com os nacionais, falta de títulos de propriedade, indolência de alguns colonos, indiferença da direção com relação ao cumprimento dos compromissos com os colonos.

Em conseqüência, muitos colonos abandonaram-na em demanda da Capital e São Pedro de Alcântara. Outros desapareceram, em estado miserável.

Em 1874 as condições eram as piores possíveis, contrastando com o progresso das Colônias vizinhas Blumenau, Brusque e S. Pedro Apóstolo (Gaspar). Somente por volta de 1900, com a legalização dos lotes coloniais e presença de destacamento militar, restabeleceu-se a ordem e a Colônia então começou a tranquilizar-se. Veio o progresso, em face da boa agricultura e pecuária.

De conformidade com a planta de 17 de julho de 1847, os lotes ocupados eram dos seguintes colonos e respectivas famílias: Ignace de Sanders, Charles Casteleyn, Gregoire Himpens, Leonardo de Cand, Leonardo van der Gucht, François de Smet, Ange Gevaert e Jean Verdurem, este sem indicação de família. Parte da casa do diretor e do terreno que a cerca era ocupada por Charles Van Dale, sua mulher e seu irmão Ivo Van Dale.

Uma parte da planta marcada com C foi reservada por Pierre Van Loo, ausente, ocupada temporariamente por Leo de Comneck e sua família. A parte assinalada com B era explorada por Gustavo Lebon, com autorização de Hypolite Van Heydin e, finalmente, a parte assinalada com A foi explorada pessoalmente por Gustavo Lebon.

Como se vê, Engelbert Gevaert e sua família ocupavam o lote de Nº. DN 6.

Outros colonos, com os seguintes sobrenomes, constam nos documentos sem serem proprietários: Maes, Grabels, Van Heyke, Conicke, Busche, Marbe, Opstale, Bulens, Speckart, Rauvez, Verdarm, Ostyn, Nerrinck e Crousey.

Um outro Gevaert, de nome Ange (tradução francesa de Engel) aparece como subscritor de um documento entregue ao substituto do diretor Fontaine, Gustavo Lebon.

Deixo os documentos de Carlos Ficker para aproveitar elementos da tradição familiar e os registros do padre Alberto Gattone, cura da "Colônia dos Belgas", cargo que exerceu simultaneamente em Brusque e São Pedro Apóstolo.

Em 1940, em companhia de meu tio-avô Pedro e de meu tio Júlio, visitamos, em Ilhota, pessoas da Família Maes, entre eles Desidério Maes, então com mais de 80 anos. Afirmou-nos Desidério que Engelbert, conhecido por Engel, veio da Bélgica em companhia de sua mulher Catarina de Pütt e seu filho único Alexandre.

Ange, o solteiro, deve ter deixado a Colônia, como tantos outros, tomando destino que se ignora, ou faleceu, sem deixar descendentes, o que é mais provável.

Quanto a exatidão das informações de Desidério Maes não existe dúvida, são corretas, aspecto perfeitamente corroborado nos registros da Igreja Católica da "Colônia dos Belgas".

Alexandre, em 1854, com 22 anos (nasceu no dia 1 de novembro de 1832) contraiu matrimônio com Júlia Maes, nascida a 18 de abril de 1838, filha de Eugênio Maes e Vicentia Van der Goecht.

Eugênio e Leonard, que na documentação aparecem como solteiros, provavelmente eram irmãos ou parentes próximos de Júlia.

Desse matrimônio nasceram os seguintes filhos: Carlos Luiz (25.2.1855), Felício, Leandro, Augusto (7.3.1862), Maria Luiza (faleceu com aproximadamente 45 dias), Ricardo (25.11.1864), Alfredo (28.4.1866), Luiz Alberto, Pedro, Bernardino, Victor e Júlia, ao todo 13 filhos.

Engelbert e sua mulher Catarina faleceram pouco depois do casamento de seu filho, sepultados em Ilhota ou São Pedro Apóstolo.

Em 1867/68, Alexandre e toda família transferiram-se para Desterro. Quase 25 anos permaneceram na Colônia que com seus pais ajudaram a estabelecer; saiu para sempre, como tantos de seus compatriotas, de uma região promissora, tornada dura e amarga face a tantos desenganos, desarmonia e injustiças.

Ao fixar-se em Desterro o casal tinha 6 filhos; os outros 6 nasceram na Capital.

Trabalhou Alexandre como carpinteiro nas seguintes firmas: Fernando Hackradt & Cia., Carlos Ebel, Ernesto Vahl, Joaquim Manoel da Silva e Carl Hoepcke.

A 28 de fevereiro de 1890, com 52 anos, faleceu Júlia, sua esposa e oito anos depois em 1898, veio Alexandre morar em Brusque junto a seu filho Carlos Luiz.

Carlos Luiz, meu avô, arrendara a Fazenda Augusto Maluche, atual loteamento Jardim Maluche, cuidando dos engenhos de açucar, aguardente e farinha de mandioca.

Cinco anos permaneceu Alexandre trabalhando com seu filho, além de dedicar-se à manufatura e comércio de canoas, retornando a Florianópolis, onde faleceu no dia 20 de janeiro de 1907, com 74 anos.

Segundo afirmação de meu tio-avô Pedro, teria sido o professor Benjamim Carvalho de Oliveira o autor da mudança do t de Gevaerd para d, mudança que ficou até hoje.

Alfredo e Luiz faleceram moços e Maria Luiza com 45 dias. Ricardo e Alberto casaram mas não tiveram filhos. Alguns dos demais filhos tiveram prole numerosa: Carlos Luiz 10 filhos, Felício 3, Leandro 8, Augusto 5, Pedro 21, Bernardino 3, Victor 5 e, finalmente, Júlia 12 filhos.

Em 1940 segundo dados reunidos por David Gevaerd o número de descendentes de Engelbert somavam 290.

Meu avô Carlos Luiz casou com Maria Luiza Corsin, filha de Pedro Corsin e Jeane Labreyere Corsin, de nacionalidade norte americana. Seus filhos: Tancredo, Eugênio, Júlio, Evilásio (meu pai), Arthur, Júlio, Tancredo 2º., Alexandre, Victor e Pedro Gaio (10 filhos). Meu avô teve atuação destacada na Comunidade Brusquense, exercendo as funções de alfaiate, professor público e particular, funcionário da coletoria estadual, tabelião e delegado de polícia.

Nenhum Gevaerd voltou à antiga "Colônia dos Belgas", salvo para visitar nossos parentes Maes.

Com relação à Família Maes, consegui os seguintes dados nos registros do Cura Alberto Gattone: Eugênio foi casado com Vicentia Xavier van der Goecht e tiveram os seguintes filhos: Ricardo, casado com Eugênia Brakefeld, Leandro, casado com Pelágia van Conning; Carlos, casado com Maria Luiza Brakefeld; Maria Luiza, casada com Guilherme Augusto Villain; Júlia, casada com Alexandre Gevaerd, e Leônia.

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  1. Atual município de Florianópolis.