Pensar o Golpe Militar de 1964 hoje

De Sala Virtual Brusque
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Há 50 anos um golpe de Estado interrompia de forma brusca não só o governo de João Goulart, mas também o regime democrático vigente no país. Assumindo a presidência da República após a renúncia do Presidente Jânio Quadros, o então sucessor João Goulart encontrava-se em visita diplomática à República Popular da China – país que havia aderido ao regime comunista – sendo mal visto por setores conservadores da sociedade.

Por conta disto estes setores alinhados à Doutrina Truman (plano estadounidense de contenção ao comunismo) promoveram o golpe sob a justificativa de evitar que o comunismo se espalhasse no Brasil. Ideia esta que se pregava era de que havia um “perigo interno”, ou seja, que o comunismo se espalharia a partir de dentro e não de uma conquista externa. A guerra ideológica contou também com a ajuda da Igreja, citando como exemplo a carta encíclica "Divinis Redemptoris" do Papa Pio XI, documento que versou sobre o "comunismo ateu" em 1937.

É justamente por conta deste combate ao comunismo por parte da Igreja Católica, que podemos sentir os efeitos deste contexto em Brusque, principalmente no apoio de mais de duas mil pessoas que marcharam no bairro Santa Terezinha em 12 de abril de 1964, na conhecida “Marcha pela Família com Deus pela Liberdade”.

Naquele contexto o acesso à informação era muito limitado se compararmos aos dias atuais. Para além disso, ao lançarmos um olhar retrospectivo podemos perceber de que forma uma ação impactou no curso dos acontecimentos. Assim, a marcha de Santa Terezinha como um evento singular não poderia evidenciar um apoio dos brusquenses ao golpe, muito menos da Igreja - que anos mais tarde contou com algumas lideranças que se mobilizaram desfavoravelmente ao golpe por meio da Teologia da Libertação.

Para além do olhar retrospectivo, a história como um discurso que se faz no presente deve analisá-lo e enfrentar seus problemas postos. Neste sentido, a lembrança dos 50 anos do golpe militar deve servir para que possamos refletir sobre movimentos atuais como a reedição da Marcha da Família ocorrida neste ano de 2014.

  • Álisson Sousa Castro, 31 de março de 2014. Historiador da Fundação Cultural de Brusque - Mestrando em Patrimônio Cultural e Sociedade