Entrevista Maurício de Albuquerque Melo Júnior - Luiz Gianesini

De Sala Virtual Brusque
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Apresentador da TV Senado Maurício de Alburquerque Melo Júnor.

O entrevistado da semana é Maurício de Alburquerque Melo Junior, nascido em Catende/PE, aos 28.11.1961, filho de Maurício de A. Melo e Laura Braga de Melo; casado com Iara Maria Mello Ramires; dois filhos Maurício Neto e Pedro

Quais são suas primeiras memórias de infância?

Todas são lembranças difusas. Aulas, alguns colegas, uma festa de rua, um alto-falante tocando Disparada, de Geraldo Vandré. Nada importante.

Sonho de criança?

Ser cientista e talvez o seja hoje, já que sou pós-graduado em ciência política e economia. Estou com um livro no prelo que traça um painel sociológico do Nordeste atual. Enfim, mesmo sem querer, tornei-me cientista social. Na adolescência tive outro sonho, viver sozinho, cercado de livros, trancado num apartamento. Acho que também realizei tal sonho, embora precise sempre sair da biblioteca para ganhar o sustento também dela.

Como foi sua juventude? O que mais gostava de fazer para se divertir?

Uma juventude normal. Lendo muito, tocando violão, namorando, fazendo breve farras com os amigos. Curioso, até minha cama era cheia de livros. Todas as noites precisava afastar os volumes para poder dormir. No mais era estudar e, desde cedo, escrever para jornais.

Quais eventos mundiais tiveram o maior impacto em sua vida durante a sua infância e juventude?

Eventos mundiais, não lembro, mas do ponto de vista local, Recife, certamente o Movimento Armorial liderado por Ariano Suassuna. Aquela efervescência de cultura popular eruditizada, com orquestras, balés e uma nova narrativa – Raimundo Carrero, Maximiniano Campos – encantou meus olhos de quase menino.

Pessoas que influenciaram?

Hermilo Borba Filho, Mário de Andrade, Câmara Cascudo, Osman Lins e vários outros. Um fato interessante. Estava em casa quando uma irmã botou na vitrola o disco de estréia de Quinteto Violado. Aquele arranjo de Asa Branca nunca mais deixou que eu escutasse o rock progressista inglês, tão em voga na época então.

Como era a escola quando você era criança? Quais eram as melhores e piores matérias? De que atividades escolares e esportes você participava?

Uma escola comum do interior pernambucano, com um pátio imenso, mas onde se fazia muitas dissertações, se escrevia muito. A professora exibia um quadro e pedia para que descrevêssemos a cena. Um belo exercício. Sempre fui péssimo em matemática e um excelente aluno em história e língua portuguesa, o óbvio. Nunca fui de praticar esportes. E por ser muito ruim de bola, optei por ler tudo que encontrava.

Formação escolar?

Também o normal. Fundamental e primeiro grau, em parte, em Palmares; término do primeiro grau e do segundo grau em Recife; curso de jornalismo e duas pós-graduações - economia e ciência política - em Brasília

Primeira professora?

No primário estude com a professora Alzira Cavalcanti, uma espécie de lenda em Palmares/PE. Formou gerações e gerações.

Um grande professor? Por quê?

Um professor, Eliezer. Aprendeu a ler aos 17 anos e, com pouco mais de trinta, era especialista em Machado de Assis. Foi meu professor de português nos segundo grau, no Recife.

Uma palhinha sobre os livros que escreveu? Quais os últimos?

Cerca de quinze. Os últimos foram Andarilhos (novelas) Paranã- Puka e o Berço da Pátria ( infanto-juvenil) e É doce viver no Mar (infanto-juvenil). Terminei de escreveu um ensaio, Nordeste Morto, Nordeste Posto (no prelo) e um romance, Noites Simultâneas, que não sei quando será editado, ou se será.

Como surgiu o Programa na TV Senado: “LEITURAS”?

Fui escalado para cobrir a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em 2001, e, como a pauta era escassa, para aproveita o tempo, entrevistei 19 escritores brasileiros. A boa repercussão destas entrevistas, quando veiculadas, abriu espaço para urgir Leituras, que em 2011 completa dez e tem quase quinhentas entrevistas em seus arquivos.

Como você seleciona os entrevistados para o Programa;”LEITURAS”?

Busco as novidades dentro da literatura brasileira. Quem está lançando livro novo, além dos escritores consagrados. Em suma, não há critério rígido e pré definido. Se alguém tem algo de bom a dizer em termos literários, o entrevisto no Leituras.

Como você prepara as perguntas ao entrevistado? Lê todas as obras de cada autor a cada semana?

Apenas leio a obra ou, quando necessário, as obras e sigo perguntando sobre o que mais me chamou a atenção naquele trabalho. O programa, em suma, é uma conversa. E isso termina funcionando.

Fale um pouco de sua trajetória profissional e da sua história de vida?

Comecei a trabalhar muito cedo em jornal, aos 14 anos, e não parei mais. Em 1980 fui convidado para fazer a assessoria de um deputado federal, aqui em Brasília, e vim do Recife com este propósito. Não mais voltei. Casei, tive filhos, trabalhei em assessoria de imprensa, fui professor universitário, trabalhei com marketing político, escrevi livros. Atualmente dirijo e apresento o Leituras, escrevo resenhas mensais para O Rascunho e crônicas semanais para o blog Jornal da Besta Fubana, do Recife. E já estou envolvido no trabalho de um novo romance. Tudo que é comunicação me fascina, tudo que é literatura me encanta. Sou kafkiano:” O que não é literatura me aborrece”.

Algo que você apostou e não deu certo?

Sinceramente não lembro de nada importante que tenha apostado e fracassado. Sempre quis viver da escrita, e isso tenho feito ao longo da vida.Nunca montei empresa, nunca quis ficar milionário. Talvez por isso as apostas tenham sido modestas.

O que faria se estivesse no início da carreira e não teve coragem de fazer?

Apostar mais na literatura, escrever mais livros de ficção, mas não foi falta de coragem que me fez escrever menos do que queria. Foi mais a necessidade de sobrevivência e o tempo dedicado as atividades mais lucrativa.

O que você aplica dos grandes educadores, das aprendizagens que teve, no seu dia a dia?

Perseverança, teimosia, foco. Sempre que desejo algo, meto a cara com determinação e foco. E tudo termina por acontecer. Uma receita bem simples e óbvia.

Quais as maiores decepções e alegrias que teve?

Como diria violeta Parra:” gracias a la vida”... é isso, não tive nenhuma decepção digna de nota e as alegrias se acumulam quase que cotidianamente, é difícil selecionar uma , duas ou dez. Um bom copo de vinho, uma boa conversa com amigo, uma boa leitura, escrever um bom texto já são grandes motivos de alegria. E as decepções que fique para quem as procura.

Referências

  • Jornal Em Foco. Entrevista publicada em 29 de março de 2011.