Entrevista Maria Alice Vieira Willrich - Luiz Gianesini

De Sala Virtual Brusque
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A entrevistada desta semana é a Diretora Técnica do Laboratório Verner Willrich, Dra. Maria Alice Vieira Willrich, nascida em Brusque aos 24 de abril de 1981; filha de Verner Willrich e Teresa Jovita Braga Vieira Willrich

Sonho de criança?

Ser bailarina!

Quais são as lembranças que você tem da sua infância?

Tive uma infância muito feliz, com meus pais presentes, muito tempo para brincar e vários amigos.

Você ainda têm amigos da infância?

Claro que tenho! Vários! A alegria de morar em Brusque é que temos a chance de estar perto dos amigos durante grande parte da vida. Meu primeiro amigo foi meu irmão, Werner Gustavo. Depois, quando eu comecei a me entender por gente, vieram a Juhama Beatriz de Souza, que nasceu 3 dias antes de mim, a Gabriela Bonatelli, que era minha vizinha e a Patrícia Elias estavam sempre por perto. Nos primeiros anos do colégio, a Alessandra Muller era minha companheira de recreio. Quando eu tinha 12 anos conheci o Rodrigo Vechi, e nos tornamos grandes amigos desde então. É muito legal conhecer essas pessoas há tanto tempo e ver que adultos incríveis se tornaram, cada um na sua área. E é claro que ha vários outros amigos. Sou uma pessoa que cultiva as amizades, e agradeço por ter tantos amigos no meu caminho.

O que sente falta da infância?

Das ruas tranquilas, quando podíamos jogar partidas de "batida" no meio da rua e sair de casa deixando a porta aberta.

Quando você era criança queria ser adulta?

Eu achava que era mentira que a gente crescia. Achava que uns nasciam crianças e outros nasciam adultos. Eu gostava de ser criança!

Pessoas que influenciaram?

Sem dúvida nenhuma, minha mãe Teresa, meu pai Verner e muitos dos meus professores.

Histórico escolar?

Foi nota 10! Colégio São Luiz (Brusque – SC) ate 1º ano do ensino médio; Colégio Santo Antônio (Blumenau-SC) 2º ano do ensino médio; Colégio Energia (Blumenau – SC) - Terceirão; Universidade Federal de Santa Catarina (1999 a 2003); Curso de Farmácia com habilitação em Análises Clínicas; Universidade de São Paulo (2004 a 2011); Mestrado em Farmácia – Análises Clinicas; Doutorado em Ciências

Primeiro/a Professor/a?

Marta Maestri, na primeira série do Colégio São Luiz. Quando ela morreu, alguns anos depois, lembro que todos os alunos foram ao velório, foi triste e marcante. A grafia dela era linda, e acho que consegui aprender direitinho, minha letra também é bonita!

Grandes Professores?

Quando fui depois de adulta visitar Foz do Iguaçu, me lembrei muito das aulas de geografia do Seu Valentim Beber, e quando tenho oportunidade de visitar um local marcante, geralmente me lembro dele [até hoje!], que me mostrou aqueles lugares através dos livros antes que eu pudesse visitá-los. Durante a faculdade, tive dois professores de análises clínicas que foram essenciais na formação do meu caráter como pesquisadora, Profª. Dra. Maria Luiza Bazzo e Prof. Dr. Luiz Alberto Peregrino Ferreira. Éticos, questionadores, verdadeiros educadores preocupados com a formação da próxima geração de profissionais. E claro, minha orientadora do mestrado e doutorado, Profª. Dra. Rosário Hirata, com quem aprendi muito ao longo dos anos. Admiro muito quem é professor. Não é tarefa fácil, e talvez seja a profissão mais bonita de todas. Os verdadeiros educadores deixam marcas profundas [e belas lições!] na vida infantil e adulta de seus alunos.

Como surgiu o Laboratório Verner Willrich?

Em 1963, assim que o Dr. Verner terminou seus estudos na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, ele voltou a Brusque, sua terra natal, e estabeleceu o Laboratório Verner Willrich com a ajuda do irmão Ackcel, em uma sala no alto da Farmácia Lindóia, na Avenida Cônsul Carlos Renaux [onde até hoje temos uma unidade de coleta]. Em seguida foi convidado pelo Dr. Carlos Moritz a transferir suas instalações para o Hospital de Azambuja, onde estamos localizados até os dias de hoje.

O Laboratório está equipado para realizar todas as espécies de exame de sangue?

Sim, estamos equipados para fazer 95% dos exames laboratoriais mais comuns, que é o que a nossa cidade comporta atualmente. Os exames que são de baixa demanda e alta complexidade são coletados no próprio laboratório e encaminhados a laboratórios de referência do país, que concentram a demanda destes exames complexos.

Qual o grau de confiabilidade no exame feito com uma fisgada de agulha?

É muito grande. Com a evolução dos métodos de análises clínicas e com a introdução dos equipamentos automatizados nos laboratórios, os exames são cada vez mais precisos e exatos. Para se ter uma ideia, com o exame da hemoglobina glicada A1C, que os diabéticos precisam manter abaixo de 7% para evitar complicações da doença, uma variação de 0.5% é considerada significativa para o médico (para melhor ou para pior!), então o laboratório deve ser capaz de testar a mesma amostra de um paciente 10 vezes e obter uma variação de menos de 0.2% nesse exame. Os percentuais de variação são diferentes para cada exame, dependendo de sua complexidade e amplitude dos valores normais de referência. E isso é realidade no Laboratório Verner Willrich!

Existe a possibilidade de ser trocado um frasco de coleta de sangue de uma pessoa por outra?

Os pacientes devem levar documento de identidade ao fazer seus exames. Quando são chamados [individualmente] pela coletadora para tirar o sangue, são chamados pelo nome completo. As etiquetas com o nome completo do paciente e com o código de barras para a realização dos seus exames são impressas na frente do paciente, assim que as amostras são coletadas. Para cada exame solicitado pelo médico existem diferentes tubos a serem colhidos [quem já tirou sangue pode ter reparado que há tubos com tampa roxa, tampa azul, tampa amarela...] Para cada tubo, uma etiqueta é gerada no computador. O Laboratório Verner Willrich usa este sistema de identificação eletrônica, conferência do nome completo do paciente e leitores de códigos de barras, e com isso essa possibilidade de troca é muito remota e não temos nenhum registro de que isso tenha acontecido ao longo da nossa história.

Quais os exames mais requisitados?

Hemograma completo, glicose de jejum e exame de urina de rotina.

Qual o número de funcionários do quadro de pessoal do Laboratório?

Ao todo somos 25 funcionários atualmente.

Há muita rotatividade de pessoal?

A equipe de um laboratório de análises clínicas tem que trabalhar como um time em grande sincronia. O serviço de recepção e coleta de amostras tem uma rotina intensa: começa às 6h30 da manhã todos os dias. É uma rotina para quem ama o que faz. Temos membros na equipe há 30 anos, e outros que acabaram de chegar, o que dá uma química bastante interessante!

Como está formada a Diretoria do Laboratório atualmente?

Werner Gustavo é o diretor administrativo e eu sou a diretora técnica. Com a minha ausência para o pós-doutorado, Adriana Helena Sedrez, nossa bioquímica há mais de 15 anos, é a responsável técnica substituta.

Um pouquinho dos 50 anos do laboratório?

Laboratório Verner Willrich, 50 anos de história. Maturidade suficiente para examinar o passado com orgulho, aprender com ele e, com os pés no chão, lançar olhos de esperança no futuro. Sem nunca abrir mão dos pilares lançados por seu fundador – a conduta ética, a busca pela excelência e valorização do ser humano – o laboratório evoluiu superando desafios e incorporando novas tecnologias, sempre de ponta.

Tive a honra de participar do Rotary juntamente com o saudoso Verner e observei que era muito participativo. Dê uma palhinha sobre o pai.

Meu pai, meu herói. Sem tirar, nem pôr! Empreendedor, acreditava no associativismo, na tecnologia, na juventude, na ciência. Grande homem, grande pai. Faz muita falta, e ficará para sempre marcado na minha memória

Como foi o seu Mestrado? E o Doutorado?

Foram bastante intensos e investigativos. Eu estudei as diferenças genéticas em cada indivíduo que poderiam explicar porque uma pessoa responde bem a um medicamento e para outra pessoa ele não faz efeito, ou traz efeitos colaterais. É o campo da farmacogenética. A mutação mais conhecida é para a dosagem de warfarina, no gene CYP2C9. A dose que um paciente precisa pode ser prevista através do DNA. Isso é importante porque o uso inadequado leva a sangramentos e doses menores não fazem o efeito anti-trombótico desejado. Infelizmente ainda estamos longe dessa realidade no Brasil. Alguns laboratórios de referência oferecem este exame, mas devido ao custo elevado dos testes de genética e falta de reembolso pelas seguradoras, são poucos os médicos que solicitam o teste.

Fale sobre o Pós- Doutorado na terra do tio Sam?

É um programa de pós-doutorado de dois anos, na Mayo Clinic, um dos 3 maiores laboratórios de referência dos Estados Unidos. Durante o primeiro ano, fiz estágio em 16 laboratórios diferentes, nas mais especializadas áreas. No segundo ano escolhe-se um dos laboratórios para atuar como co-diretor. Eu escolhi o laboratório de imunologia, e estou atuando como diretora ao lado do Dr. Jerry Katzmann, um dos “papas” de mieloma múltiplo e disproteinemias, com mais de 300 trabalhos na área, e da Dra. Melissa Snyder e Dr. David Murray, ambos membros da Comissão de Imunologia do Colégio Americano de Patologistas. É uma experiência incrível, estou desenvolvendo cerca de 8 projetos simultaneamente, e já recebi 4 prêmios nos congressos de análises clínicas americanos durante este ano de 2013.

Comente sobre a realidade dos EUA

Não me sinto apta a discutir, pois estou vivendo aqui há menos de um ano. Acho os EUA um país maravilhoso, que acolhe os estrangeiros na minha posição com grande interesse. Aqui, se você é bom, se é inteligente e sabe o que faz, tem espaço para você. Acho que eles são muito organizados e a força de trabalho desta nação é impressionante.

O que faria se estivesse no inicio da carreira e não teve coragem de fazer?

Eu acho que ainda estou no começo da minha carreira, ainda tenho muito a aprender e a contribuir. Eu acho que não acertei sempre, mas as minhas escolhas me fizeram crescer.

Você se arrependeu de alguma coisa que disse ou que fez?

Eu acho que a gente se arrepende das coisas que NAO faz. Eu não tenho arrependimentos e acho que fui corajosa em muitos dos desafios que a vida já me apresentou.

O que você aplica dos grandes educadores, das aprendizagens que teve, no seu dia a dia?

As coisas que me marcaram nos educadores que tive em minha vida foram fortes valores éticos, humanos, de importar-se com a vida e com o futuro, dos homens e do planeta.

Qual foi o maior desafio enfrentado até agora?

O maior desafio foi perder meu pai (Verner Willrich) de forma repentina e passar, do dia pra noite, de aluna do curso de mestrado na Universidade de São Paulo a "chefe", responsável técnica de um laboratório de analises clinicas com 30 funcionários, 30 famílias. Meu irmão foi um grande parceiro nessa fase dura, e minha mãe também. Foi uma transição brusca, mas aprendemos muito. O fato de estarmos juntos no mesmo barco, e remando na mesma direção foi fundamental para o sucesso da continuidade do negocio. É uma pena eu não ter tido a chance de trabalhar mais com meu pai, de aprender com ele as entranhas do negocio.

O que o entristece?

Injustiça, desonestidade e autoritarismo. Odeio desrespeito ao cidadão por parte de quem está nos cargos públicos. A lentidão da justiça no Brasil também é de doer.

'Qual a sua aspiração atual?

Terminar o pós-doutorado e aplicar meu conhecimento na melhoria do diagnóstico e monitoramento das doenças através de exames laboratoriais de alta qualidade.

Qual a sua maior ambição?

Ver os laboratórios de análises clínicas mais fortes e reconhecidos na área da saúde, visto que 70% das decisões médicas são tomadas com base nos exames laboratoriais.

De quê sente orgulho?

Da minha família: minha mãe Teresa, meu irmão Werner Gustavo e meu saudoso pai, Verner. Aquela história da família ser o nosso porto seguro, e que os pais devem dar aos filhos duas coisas: raízes e asas. Eu tenho muito orgulho de ser parte da família Willrich.

Em quem tem fé?

Uma vez meu irmão Werner Gustavo postou no Orkut [naquela época!!] uma letra de música que eu quero compartilhar um trecho aqui, porque tenho fé em gente como ele, nos jovens que querem mudar o mundo. Admiro quem tem coragem de lutar.

Eu acredito é na rapaziada

Que segue em frente e segura o rojão

Eu ponho fé é na fé da moçada

Que não foge da fera e enfrenta o leão

Eu vou à luta com essa juventude

Que não corre da raia a troco de nada

Eu vou no bloco dessa mocidade

Que não tá na saudade e constrói

A manhã desejada

  • Gonzaguinha

Referências

  • Entrevista publicada no EM FOCO aos 16 de agosto de 2013.