Entrevista Gianmário Pellegrinelli - Luiz Gianesini

De Sala Virtual Brusque
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GIANMÁRIO PELLEGRINELLI

Uma apresentação?

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Meu nome é Gianmario Pellegrinelli. Sou o caçula de uma família de camponeses (meeiros), constituída por onze irmãos e irmãs. Tive origem neste ambiente rural e fraterno – sendo filho de Alessandro e Pasqualina Gotti; nasci na cidade de Bérgamo, Itália aos 14 de agossto de 1948. Fui ordenado Padre no dia 07 de dezembro de 1979, na cidade Natal do Papa João XXIII – Sotto II, Monte Bérgamo

Nosso entrevistado Padre Gianmário

Como foi a educação recebida de seus pais? Como eram seus pais?

A educação na família foi um tanto rígida, mas prevalecia a bondade da mãe educadora na fé e na formação humana. Éramos de família numerosa de camponeses. Nos alegrávamos muito com as festas natalinas e de páscoa. A educação religiosa se dava na família e nos ambientes da Paróquia. Tínhamos um padre especificamente dedicado à juventude. Ele era nosso ponto de referência. As práticas religiosas (missas, rosários, catequese etc) era de suma importância na vida familiar, certamente minha vocação sacerdotal tem muito a haver com isso. Na minha família não tínhamos padres, mas meus pais rezavam sempre para que tivessem um. E assim foi.

Como amadureceu a vocação missionária e sacerdotal?

Nas instalações Paroquiais havia um lugar reservado às crianças e juventude para a formação e diversão. Tínhamos o sacerdote que nos orientava, tornando assim o ponto de referência. Eram sacerdotes dedicados que não mediam sacrifícios e estavam disponíveis o tempo todo. Muitos jovens e crianças optavam para a vida religiosa e missionária. Na minha aldeia havia somente a Escola Primária. Para o Ginásio precisava ir à cidade vizinha, mas meus pais não tinham condições para enviar-me e assim parei no quinto ano primário, para poder ajudar os pais na roça. Com 15 anos fui trabalhar como aprendiz eletromecânico até aos 18 anos. Foi nessa época que estava procedendo dar uma resposta aos meus anseios vocacionais.

Alguma dificuldade inicial?

Pensava de ser um sacerdote missionário, mas tinha a dificuldade de me expressar devido a gaguice – que acompanhava desde criança. Havia também o problema dos estudos (nunca fui bem sucedido), mas sendo que é Deus que chama para a vocação tive oportunidade de conhecer um leigo missionário que trabalhava há tempo pleno na África. Ouvi de seu testemunho , numa reunião de jovens da Paróquia, decidi de ingressar na comunidade missionária de leigos do PIME e depois de 8 anos de estudos e formação religiosa, parti para a missão de Macapá, para trabalhar na escola profissional de missão.

Então o sonho de criança foi realizado?

Sim, meu sonho de criança era de ser bom, alegre e dados com todos. Queria ser padre e missionário. Mas, tinha um problema era muito gago, quase não conseguia falar. Nos meus estudos ficava atrapalhado, mas na escola sempre consegui passar de ano, com muito esforços e dedicação. Eu tinha quase inveja dos colegas mais saídos, eles tinham muita admiração pela minha teimosia de aprender. Eles mesmos confirmaram isso no dia que fui ordenado Padre. A gaguice acompanhou-me por muitos ano, até depois de padre, mas nunca desanimei. Sempre encontrei muita compreensão por parte do povo quando escorregava um pouco. Hoje sou vencedor também desta luta.

Como surgiu a religiosidade... a vida missionária? Como foi a vinda de Bérgamo(Itália) para o Brasil, mais precisamente Macapá? Como surgiu a Paróquia de Águas Claras no seu caminho de evangelização?

Meu chamado a vida missionária se deu no encontro com um missionário leigo que trabalhou por muitos anos na Africa. Fiquei encantado com seu testemunho de vida e logo fui me preparando para as missões. Era o ano de 1966, e eu tinha 18 anos, quan do retomava os estudos. Com 26 anos deixei a Itália e fui trabalhar na escola profissional na cidade de Macapá. Nos fins de semana visitava as comunidades ribeirinhas e ali vendo a necessidade religiosa do povo decidi ingressar no seminário para os estudos teológicos. Não tendo a possibilidade de estudar em Macapá fui transferido para a cidade de Londrina, aonde trabalhei como Padre por 27 anos. Fiquei 16 anos em duas Paróquias da periferia, 8 anos numa Paróquia rural e anos no Seminário de Teologia como Padre espiritual. Depois passei dois anos na Itália, para prestar um serviço em Paróquias.

A vida pastoral e o Seminário em Londrina?

Em Londrina trabalhei nas periferias e na área rural. Foi um tempo abençoado e rico de experiências pastorais. Só tenho que agradecer muito o Senhor e ao povo a mim confiado. Tive sempre bons colaboradores que ensinaram-me a como bem exercer meu ministério sacerdotal no Brasil. Gosto muito do trabalho da Igreja no Brasil. Ele é muito completo e não cuida somente da almas, mas interessa-se pelos problemas do povo (Veja as campanhas da Fraternidade). Também gosto da festividade do povo alegre e esperançoso e fraterno.

E como surgiu a musicabilidade em sua vida religiosa?

O gosto pela música vem de criança e da família – a música sempre foi parte da minha vida, sobretudo aquela alegre que traz vida. Desde criança costumava a cantar nas ruas de minha aldeia, todos me conheciam como cantarino. Aprendi a não se preocupar de cantar para fazer bonito, mas para ficar alegre em boas companhias. É claro, que depois a gente acaba de gostar de música e do canto. Nunca perdi uma ocasião de cantar e compartilhar a alegria. Todos da minha família são um pouco assim! Comigo foi um pouco mais, talvez para suprir as falhas que tinha quando falava. Na vida da comunidade missionária sempre me saia bem, porque, com muita alegria e canto mantinha alegre todo mundo. O mesmo aconteceu nas Paróquias aonde passei. Muita gente gostava de convidar-me nas festas de aniversários. O povo queria que gravasse os cantos que normalmente cantava e assim, na ocasião dos meus 25 anos de sacerdote editei dois Cds. Um sobre a história da minha vocação e outro sobre minha infância.

O que poderia ser dito sobre os talentos e os tesouros espirituais que Cristo dotou o homem?

A respeito dos talentos penso que todos nos temos muitos, mas talvez sejam escondidos ou não deixamos que os outros descubram em nós. Às vezes, por preguiça preferimos mantê-los escondidos para não nos comprometer-nos na vida. Neste caso pecamos de covardia e conta o Espírito Santo, Sobre os dons e tesouros espirituais acredito seja muito importante descobri-los em nós, para que produzam frutos em abundância. Eles devem estar ao serviço da comunidade. Cada um deve ser feliza por aqueles que têm. Não deve perder tempo, lamentando e tendo ciúmes por não ter dons que vê nos outros. É precisos fazer frutificar aqueles que em nós, talvez foram abafados pela educação, repressão etc

Quais as parábolas que gosta de mencionar? Quais as essências inseridas nelas?

Gosto de todas as parábolas, mas destaco aquelas que falam da misericórdia, perdão e, do tesouro encontrado.

Um homília bem planejada acrescenta a participação dos fiéis? Costuma prepará-las ou faz de improviso, pelo conhecimento e pela experiência?

Não tem dúvida que uma homília bem preparada suscite mais interesse do povo que participa da celebração. A homília deve ser catequética e deve levar a uma vivência mais profunda da fé. Eu a preparo mentalmente, mas não consigo por escrito. Perco toda a minha espontaneidade e acabo de não dizer tudo aquilo que desejo dizer. Não tem dúvidas que uma homília bem preparada acrescente a participação dos fiéis. Ela deve ser simples e direta. Curta e que toque o coração das pessoas. Cada Padre tem seu jeito de comunicar e este é um dom que o Padre deve ter. Eu gosto da espontaneidade e ter na cabeça que quero dizer. Se colocar algo por escrito vou me perder.

Por que os jovens estão caindo na depressão?

Ao meu ver a depressão ataca todo mundo por dois motivos: 1) Constitucional - que depende do nosso organismo. Diante de um fato uma pessoa reage de um modo e outra de uma outra maneira; 2) Circunstancial – de momento que se vive a própria vida e dos valores e contra-valores assumidos. Quando os dois motivos da depressão se entrelaçam é um – Deus me acode! O assunto depressão é complicado – existe uma depressão que resulta do tipo de vida que estamos levando, incluindo a falta de valores e valores invertidos – um não senso da vida – e uma outra que está ligada a estrutura biopsíquica. Muitas vezes, as duas se entrelaçam e se fortalecem deixando marcas profunda na pessoa.

A mulher, hoje, mormente aquelas que têm curso superior, utiliza mais da metade do tempo de sua ocupação profissional com conversas: programas de TV (baixarias), com suas aventuras sexuais , com a pretensão de colar silicone e com lifting nas coxas, não respeitando a presença do homem, coisa, que os homens jamais fizeram. A Igreja pensa em fazer alguma coisa para tentar reverter, um pouco, tantas futilidades e falta de respeito?

A respeito da baixaria e exploração do sexo na TV, internet, jornais etc é um caso sério, mas é preciso de um diálago com as novas gerações. É questão de escala de valores ou de valores invertidos. Só repressão não resolve. É preciso formação para motivar as novas gerações. A respeito da moral do comportamento humano na nossa sociedade e dos meios de comunicação, a Igreja defende os princípios evangélicos com toda razão. Acredito que não seja pela repressão que se resolve este problema. É preciso trabalhar na educação dos valores e princípios na escola, na família e na sociedade. Isso significa ir contra a corrente e tornar-se impopular.

Se fosse recomeçar?

A vida é uma s. Dentro das minhas possibilidades, condicionamentos e falhas humanas. Fiz o que pude fazer e, estou feliz de ter feito aquilo que estou fazendo. A criatividade de vida é deixada por nossa conta. Cada vida tem por trás uma história. Se eu voltasse a viver outra vez, e tivesse as mesmas condições faria as mesmas coisas com todo entusiasmo e fé. Sou feliz de estar dando ao mundo esta minha contribuição.

Finalizando, costuma ler jornais?

Nunca fui assíduo leitor, sobretudo de jornais diários. Gosto mais de livros e revistas

Referências

  • Matéria em A Voz de Brusque publicada em 10 de janeiro de 2009.