Entrevista Günther Lother Pertschy - Luiz Gianesini

De Sala Virtual Brusque
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Günther Lother Pertschy.

O entrevistado da semana é o Reitor do Centro Universitário de Brusque – UNIFEBE, Günther Lother Pertschy, nascido em Guarapuava (PR), aos 31/07/1962. Filho de Franz Pertschy e Gonda Alma Pertschy, casado com Eunice Margarida dos Santos Pertschy, com a qual tem uma filha: Júlia Pertschy. Independente do esporte, quando envolve o Brasil é um torcedor vibrante pelos representantes do país. No futebol é santista, pois na sua infância, a equipe do Santos, era um time em grande evidência. Outro esporte que acompanho atentamente é o automobilismo.

Como surgiu Brusque em sua vida?

Em 1991 eu e minha esposa decidimos que um de nós tentaria empreender um negócio próprio. Brusque se destacava neste período com um crescimento extraordinário no segmento de confecção na pronta entrega. Era a grande oportunidade para realizarmos um sonho antigo, então minha esposa em sociedade com um irmão e uma amiga, iniciaram uma confecção com pontos de venda, que rapidamente se consolidaram, tornando nosso sonho real. Foi desta forma que nos transferimos para esta encantadora cidade.

Quais as memórias da infância?

A minha infância foi fantástica, tanto na cidade como no interior durante as férias escolares. Sou da época em que se brincava em áreas livres e jogava bola nos campinhos de futebol. Tive muito contato com a natureza. Quando criança soltava pipas, jogava bola de gude, brincava de esconde-esconde e de muitas outras brincadeiras. Quando chegavam as férias o meu destino era a casa do meu avô no interior. Eram dias de muita pescaria, de andar a cavalo, tomar banho no rio com câmaras de pneu de carro, comer frutas da época e ter ainda mais contato com a natureza. Meu avô era um grande companheiro e me ensinou muito sobre a vida.

Sonho de infância?

Meu sonho de infância era possuir uma grande fazenda na qual eu pudesse proteger a natureza e também abrigar todas as crianças abandonadas da minha cidade. O projeto seria proteção da fauna e flora aliada à assistência, abrigo e formação das crianças para permitir um futuro melhor às mesmas.

Como foi sua juventude?

Normal para época: família, escola, amigos e pensar no futuro. As opções de profissão eram menores e isso fez com que eu partisse para capital para me preparar para o vestibular. Sempre fui muito responsável e determinado na conquista dos meus objetivos.

Como conheceu a esposa?

Trabalhava com a irmã dela que em determinado dia me apresentou durante uma festa no Clube Guarani em Blumenau no ano de 1982, começamos a conversar e desde então estamos juntos.

Günther Lother Pertschy, reitor da Unifebe.

Pessoas que influenciaram?

Meus pais são as pessoas que mais influenciaram na minha vida. Também a minha esposa e filha. Ainda muitas outras pessoas, mas seria injusto dar crédito apenas para algumas delas, pois acredito que todas as pessoas que passaram pela minha vida, de alguma forma, contribuíram para a minha evolução como ser humano.

Vida escolar?

Sempre muito aplicado e determinado a conquistar os meus objetivos. Estudei em escola pública até o segundo ano do ensino médio e somente o terceiro ano realizei em colégio particular preparatório para o vestibular. A seguir a sequência: Ensino Fundamental – Escola São José – Guarapuava - PR; Ensino Médio – Escola de Aplicação Visconde de Guarapuava – Guarapuava – PR; Ensino Regular do Segundo Grau (primeiro e segundo ano) Colégio Francisco Carneiro – Guarapuava – PR - (terceiro ano) - Colégio Positivo – Curitiba – PR;

Primeira professora?

Foi a senhora Mene Hauage, que apesar de rígida quanto a disciplina era bondosa e motivada para ensinar.

Grandes Professores?

Todos aqueles que fazem a diferença para um ser humano em construção.

Grandes nomes na educação

Orlando Maria Murphy, um dos pioneiros no desenvolvimento do ensino superior de Santa Catarina e fundador Fundação Educacional de Brusque - FEBE. Paulo Freire, um dos maiores educadores Latino Americano do século 20.

Como surgiu Günther … Reitor da Unifebe?

Após as eleições para reitor de 2006 verifiquei a possibilidade de realizar um trabalho no sentido de conquistar a reitoria. Tinha experiência em gestão, formação acadêmica, bom relacionamento com o quadro de docentes, discentes e funcionários, um baixo índice de rejeição e acima de tudo, muita vontade em defender o projeto UNIFEBE. Coloquei o meu nome a disposição e foi quando se confirmou através de um maciço apoio de todas as lideranças da instituição, culminando na minha eleição para reitor. Portanto, um processo muito tranquilo e democrático que consequentemente amplia a minha responsabilidade na condução da mesma.

Foi com orgulho que recebeu a incumbência para dirigir a UNIFEBE?

Com certeza, foi com muito orgulho e alegria que tomei posse no dia 9 de abril. Estou ciente da responsabilidade e do desafio que tenho para os próximos anos. Entretanto, afirmo com toda convicção, que a condução da UNIFEBE me realiza em todos os sentidos: como pessoa, como educador, como profissional e agora como gestor. Auxilio na realização do futuro de muitos jovens, que serão os novos líderes da nossa sociedade, isto não é um fardo, pelo contrário, é um grande presente do destino.

Os alunos que chegam a Unifebe apresentam boa qualidade e estão dispostos a aprender?

Os nossos acadêmicos são o reflexo da realidade do país neste momento, entretanto, a sua disposição para fazer um futuro melhor é impressionante e motivador para avançarmos em busca da excelência em tudo que realizamos. A UNIFEBE preocupada com essa realidade oferece cursos de nivelamento naqueles conteúdos básicos, onde se percebe em sala de aula que os alunos têm dificuldades. Além disso, outras políticas institucionais foram criadas no intuito de amenizar os efeitos deixados por uma educação de base defasada. Necessitamos rever a educação em todos os níveis. Atualmente a preocupação da legislação educacional deste país se volta principalmente no ensino superior, porém toda boa construção se concentra numa sólida base. O ensino fundamental e médio está vulnerável, para não dizer crítico. O material humano que chega as nossas universidades reflete esta situação. É urgente a necessidade de fortalecer o ensino fundamental e médio através de uma política séria, bem como, valorizar os professores dos anos iniciais. Em qualquer nação desenvolvida o professor é valorizado e considerado uma autoridade por sua sociedade, pois tem a grande incumbência de formar os futuros condutores da nação. Recentemente, vivenciamos em Santa Catarina uma greve que reivindicava o pagamento de salários já aprovados por lei e ainda não cumpridos. A própria sociedade não reconhece a educação como sendo o grande investimento para mudar o Brasil. Até a democracia só será real se houver uma nação educada. Acusam-se os políticos deste país como responsáveis de tudo que está errado, mas será que eles não são o reflexo de toda uma sociedade que aí esta?

Daria para traçar um perfil dos estudantes da Unifebe?

Sim, de acordo com a última pesquisa realizada neste ano, e que a UNIFEBE realiza todos os anos com os seus ingressantes, podemos afirmar que 52% são do sexo masculino, 81% são solteiros e 34% dependem do transporte coletivo. Eles são oriundos principalmente da escola pública e a maioria trabalha. Também podemos afirmar que 50% destes, já atuam na área de sua graduação.

Quais as áreas de ensino que a instituição está voltada?

Atualmente a área com maior ênfase se concentra nas Ciências Aplicadas, entretanto estamos investindo fortemente nas áreas de Engenharia e Tecnologia. Também iniciamos na área da Saúde. Ressalto que a comunidade de Brusque e região sempre colaborou e continuará auxiliando na definição destas áreas e rumos da UNIFEBE, pois somos uma Universidade Comunitária e a ela, pertencemos.

Quais são os postos de direção mais importantes da instituição em todos os assuntos estratégicos?

Considero toda a equipe de extrema importância, independente da função que realiza. Os postos de direção da instituição, considerados estratégicos se concentram nas Pró-Reitorias, que atualmente são três: Pró-Reitoria de Ensino de Graduação, Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão e Pró-Reitoria de Administração.

A UNIFEBE já está totalmente informatizada?

Sim, a UNIFEBE tem um bom nível de informatização. Como atuei na área de informática durante 14 anos e possuo um curso superior, além de Administração na área de Informática, tenho certeza da importância de investir em tecnologia. Reafirmo que este será um dos grandes pilares de minha gestão. Acabamos de realizar um grande investimento no Laboratório de Informática I, onde foram adquiridos 30 novos computadores de última geração, que permitem a utilização dos mais variados aplicativos de vários cursos de graduação, como: Engenharia Civil, Engenharia de Produção, Arquitetura e Urbanismo e Design Gráfico.

O que o senhor acha de se cobrar uma mensalidade razoável do aluno que pode pagar a universidade pública?

Algo muito normal, assim acontece em diversos países desenvolvidos. Por exemplo, estive recentemente em Portugal visitando as suas Universidades Públicas e todas elas cobram, no mínimo, mil euros de seus acadêmicos, independente do curso de graduação que freqüentam. Lá as universidades são custeadas pelo governo em 50% e o restante a universidade busca junto ao mercado, através de formas criativas de parcerias.

Outro dia li que as universidades públicas costumam ser acusadas de darem ensino de graça para pessoas que podem pagar. O vestibular tem sido criticado porque promoveria essa distorção, deixando os alunos carentes de fora. A universidade deve mudar isso, recebendo mais alunos com provavelmente pior formação, mas de outras classes sociais?

Não é questão de acusação e sim, uma realidade. As universidades públicas deste país contemplam as suas vagas para quem teve a oportunidade de se preparar melhor, traduzindo, para quem tem dinheiro. É claro que devemos mudar esta situação, afinal somos todos nós que trabalhamos duro que financiamos o ensino gratuito através dos nossos impostos, que não são poucos. Tenho duas sugestões simples: a primeira é só permitir a entrada na Universidade Pública de pessoas que sempre estudaram em escola pública e selecionar pelo conjunto das melhores notas de seu histórico escolar. Caso isso não seja possível e continuar da forma que é hoje, minha segunda sugestão é que pelo menos seja exigido que os formados, à custa do povo brasileiro, permaneçam durante um ano após o término de seu curso desempenhando a sua profissão nas cidades mais pobres do estado onde pertence aquela universidade federal. Poderiam até receber um salário simbólico e assim retribuiriam ao país o investimento concedido pelo cidadão. Quanto à questão de receber o acadêmico com deficiência na formação é necessário trabalhar o cerne da questão: criar políticas sérias para o ensino básico e ensino médio.

E quanto ao sistema de cotas?

Pessoalmente sou contra estabelecer cotas pela cor da pele de um ser humano. Para mim existem outras formas mais inteligentes de estabelecer quem deve ocupar uma vaga nas Universidades Públicas financiadas pelos impostos pagos por todos os cidadãos deste país. Uma forma mais justa seria permitir a entrada numa universidade pública gratuita somente de quem sempre estudou em escola pública. Assim, se a elite deste país quisesse que seus filhos estudassem numa Federal, matricularia os seus filhos na escola pública e ainda, pressionaria o governo para uma escola pública de ensino básico e médio com qualidade.

E o ENEM?

É o governo federal tentando fazer um grande vestibular travestido. Os tropeços ocorridos em suas várias edições anteriores mostram que não há competência e a devida seriedade necessária. Antes de gastar milhões num projeto desastroso, deveríamos proporcionar uma educação de qualidade nos níveis básico e médio, respeitar e valorizar os professores - iniciando por um salário digno e compatível a sua importância - e ainda, resgatar os cursos de licenciatura, que são estratégicos para um país que quer ser de primeira grandeza.

O vestibular, não constituía um filtro rigoroso e necessário para a qualidade do ensino?

O vestibular existe pela falta histórica de investimentos por parte do governo no ensino superior. O vestibular acaba sendo necessário para selecionar os candidatos que ocuparão as poucas opções de vagas existentes. É por este motivo que a elite deste país continua a colocar os seus filhos nas federais, pois só os melhores preparados passarão nos respectivos vestibulares. O candidato que sempre estudou na escola pública, com raras exceções, terá chances de frequentar um ensino superior gratuito. Para acontecer uma grande mudança social deveríamos rever urgentemente esta situação.

Fala-se muito em analfabetismo universitário. O senhor não acha que isso seja uma falha do Ensino Superior?

Eu não apontaria como responsável somente a falha no Ensino Superior, pois eu lhe pergunto qual o segmento ou área em nosso país que eu possa afirmar sem medo algum, que serve de bom exemplo? A Universidade é a última etapa na formação profissional do indivíduo. Fica evidenciado que a própria sociedade brasileira estabeleceu alguns valores que não são coerentes aos padrões necessários de uma nação que pretende ser de primeira linha. Quando eu elejo um Sr. Tiririca como representante no Congresso Nacional, e ainda, permito que o mesmo seja da Comissão de Educação, eu acredito que temos muitos outros envolvidos para compartilhar como responsáveis pelo analfabetismo universitário.

Como está a instituição, principalmente no tocante à exigência de titulação? Que percentual de professores têm mestrado e que são doutores?

Estamos muito bem para a nossa realidade, entretanto estamos confeccionando um plano de atuação para ampliar a busca por titulação, seremos uma referência nos próximos 10 anos. Nosso percentual de mestres e doutores esta no patamar de 60%, o que é considerado acima dos padrões exigidos pelo MEC.

Como a instituição vem se posicionando e contribuindo para o desenvolvimento e crescimento do Berço da Fiação Catarinense?

A UNIFEBE investe muito em instalações físicas adequadas. Recentemente investimos em laboratórios sofisticados para diversos cursos. A Instituição se aprofunda e aprimora cada vez mais nas questões pedagógicas. Iniciamos na minha gestão a criação de diversos cursos de extrema importância para Brusque e Região e muitos outros ainda serão implementados. Investiremos fortemente na titulação de nossos professores, pois isto reflete diretamente nas salas de aula e proporciona profissionais mais bem preparados para o mercado e para vida. Várias parcerias estão sendo firmadas com diversas organizações, proporcionando uma necessária e importante união da academia e da sociedade.

Algo que você apostou e não deu certo?

Na minha juventude eu tinha plena certeza que teria uma velhice em um país justo para todos os seus cidadãos, com tratamento equânime, com distribuição de riquezas, oportunidades iguais para todos, saúde pública como em países desenvolvidos, aposentadoria digna de quem já fez pelo seu país, convivendo em uma nação onde não seria necessário ensinar o que é ética, muito menos fazer lei para descrever o que é ser FICHA LIMPA.

O que faria se estivesse no inicio da carreira e não teve coragem de fazer?

Sempre tive muita coragem para aproveitar as oportunidades da vida. Acredito que repetiria toda trajetória novamente. Meu pai sempre dizia: “esteja sempre preparado para quando a oportunidade aparecer”.

O que você aplica dos grandes educadores, das aprendizagens que teve, no seu dia a dia?

Que o ser humano é tão complexo e fabuloso, que você nunca deve subestimá-lo e sim identificar os seus talentos individuais para aproveitar o máximo destas competências, para em conjunto conquistar as metas estabelecidas e sempre evoluir para um novo patamar.

Quais as maiores decepções e alegrias que teve?

Minha maior decepção com a vida, foi não compreender porque perdi a minha irmã no auge de sua vida. Minhas alegrias são várias: os muitos encontros da minha família, o meu casamento, o nascimento de minha filha, a obtenção dos vários títulos acadêmicos, as diversas viagens realizadas, as várias conquistas profissionais e, os vários amigos que fiz.

Como foi sua trajetória profissional?

Iniciei como estagiário na área do meu primeiro Curso de Graduação, ou seja, na área de Informática, isto em 1980 na empresa Ceval S/A em Gaspar – SC. Atuei durante 14 anos nesta que considero uma grande organização e que hoje é o grupo Bunge, a qual me proporcionou transitar por diversas funções na área de Tecnologia da Informação. Em 1999 retornei a academia como aluno do curso de Direito, na então FEBE, quando fui reconhecido pelo coordenador do curso de Administração. Ele sabia da minha formação em dois cursos de Graduação e Pós-Graduação e me convidou para lecionar duas disciplinas no curso de Administração. A partir de então, realizei um mestrado em Administração enfoque em novos negócios – Empreendedorismo e atualmente estou concluindo o meu doutorado em Educação. Fui Coordenador do curso de Administração eleito por dois mandatos e com o histórico de realizações neste período, me credenciaram a ser candidato a reitor da UNIFEBE, cargo para o qual fui eleito.

Referências

  • Jornal Em Foco. Edição de 13 de dezembro de 2011.