Entrevista Francisco Colombi - Luiz Gianesini

De Sala Virtual Brusque
Ir para navegaçãoIr para pesquisar
Francisco Colombi.

FRANCISCO COLOMBI: Filho de Carlos Colombi (in memoriam) e Amábilie Zanca Colombi, natural de Botuverá/SC, nascido aos 20 de maio de 1956. São em 11 irmãos: Maria, Valmir (Miro), Rosa, Lourdes, Terezinha (in memoriam), Olandina, Bernadete (in memoriam), Clarice, José Luiz (Nene), Marlene e Francisco. Cônjuge: Fátima Maria Maestri Colombi, casados aos 27.11.82. Dois filhos: Diléia Aparecida, nascida aos 10.09.83, é professora e está cursando Letras na Unifebe e Dilei Francisco, nascido aos 19.07.87, técnico em informática e Cursando Sistemas de Informação na Assevim. Torce pelo C.R. Flamengo.

Francisco e família.

Como foi sua infância e juventude?

Vivi com meus pais e irmãos até os 12 anos. Tenho saudades. Adorava imitar meus pais e irmãos mais velhos trabalhar na roça. Adorava levantar de madrugada e buscar os animais no pasto para tratar e prepará-los para virar terra para plantar fumo. Todas as noites alguém vinha nos visitar ou fazíamos uma visita na casa dos parentes e vizinhos para conversar. Era quando encontrava os amigos e fazíamos os nossos brinquedos e nos divertíamos muito. Nunca deitamos sem rezar o terço em família, junto aos pés da cama de meus pais.

Como eram seus pais?

Trabalhadores e muito preocupados com a educação e bem estar da família. O pai era perito no uso do machadão, exímio cortador de madeira e farquejador. A mãe, uma excelente costureira e dona de casa. A roça, porém, sempre foi o prato principal do seu trabalho. Nunca deixaram de me amar e amar meus irmãos um segundo sequer. Meus pais provaram com a vida que amar é sofrer e o fruto do amor é a felicidade. Vejo meus pais como alguém que consumiu sua vida amando cada irmão como se fosse o único filho.

Influência na disciplina e na formação?

Pelo Testemunho recebi de meus pais as sementes da fé, do amor, dedicação, persistência, humildade, coragem, força de vontade, união, paciência, caráter, sabedoria – embora analfabetos, e muito mais. Se hoje não sou tudo o que me ensinaram é porque não cultivei as sementes. Devo tudo a meus pais. Os anos de seminário também me ajudaram muito, mas o que recebi de meus pais ainda está impresso em meus sentimentos, a cada decisão e ação do meu dia a dia. Hoje acredito que o mundo nunca vai ter paz e justiça até que o valor da família seja restaurado na mente e na vida do nossos jovens e crianças e de todos as pessoas.

Primeira professora?

Minha primeira professora foi a Odete Eccer.

Formação escolar?

Primário na Escola Pe. João Stolte, em Botuverá; ginásio, no Seminário Sagrado Coração de Jesus, em Corupá; segundo grau no Seminário Instituto Dehonista, em Curitiba; Noviciado, em Jaraguá do Sul; Superior em Estudos Sociais, na Febe, em Brusque; bacharelado em História, na Furb; especialização em Gestão e Administração Escolar, na UDESC.

Como foi sua vida escolar?

Tive a felicidade e a satisfação de freqüentar as melhores escolas e ter os melhores professores. Desde o primário até a especialização tive tudo ao meu alcance. Lamento muito não ter aproveitado todos os momentos que tive na busca de conhecimento. Infelizmente, só descobri (mos) depois quanto à gente perdeu em aulas e horas de estudo. É aquela história: ‘só percebemos a importância do que fazemos e temos depois que deixarmos de fazer e ser’.

Que professor (a) lembra com carinho? – como ele (a) era?

Seria injusto lembrar apenas de um ou outro. Todos além de padres, foram grandes amigos. Um marcou mais, outro menos, mas todos tiveram sua contribuição em minha formação.

Como surgiu o magistério em sua vida profissional?

Não foi só o salário. O trabalho na Catequese me fez aprender a gostar de crianças, adolescentes e jovens. Em 84, recebi o convite para atuar como professor do CENEC e resolvi trocar a empresa de representação e prestação de serviço para me dedicar ao magistério.

A educação atual cumpre as necessidades da formação?

Infelizmente, a educação está em crise. A função social da escola é a formação integral do ser humano. Esse processo exige a participação fundamental da família. As crianças vivem 4 horas na escola e, outras 20 com a família. A família educa e a escola ensina. A diferença é simples. Quem deve conscientizar as crianças que precisam aprender a ler e a escrever é a família. Quem ensina a ler e a escrever é a escola. Quem diz e conscientiza as crianças de que precisam cumprimentar e respeitar os mais velhos, ceder o lugar para os idosos no ônibus é a família. A escola vai ensinar como cumprimentar e como ceder o lugar. Enquanto a família não assumir também o seu papel de educadora a educação escolar não vai cumprir suas necessidades de formação que a sociedade exige. O professor não pode assumir o papel de pai, mãe, médico, enfermeira, psicólogo e policial.

Como conheceu a Fátima Maria?

Já a conhecia desde criança e éramos vizinhos. Meu pai comprou terras de meu sogro e na noite em que fecharam negócio percebi o quanto era linda e, ainda hoje continua mais linda do que nunca. Ela foi morar no Paraná e eu fui para o Seminário. Quando optei em abandonar a vida religiosa e constituir uma família decidi que minha companheira e mãe de meus filhos seria a Fátima. Não posso afirmar que tivemos, efetivamente, um namoro. Eram opiniões que ajudavam e que pioravam nosso relacionamento. Depois de muitas idas e vindas, resolvemos assumir não só o namoro, mas o casamento. Em três meses noivamos e já marcamos a data do casamento. Foi o casamento mais bonito e maravilhoso que já participei. Em novembro esta história de amor, completa 25 anos com a certeza que chegaremos aos 50.

O casamento ainda é válido?

A sociedade precisa resgatar o devido valor ao sacramento do matrimônio e á família. Quando isso acontecer o mundo deixa de ser tão cruel e injusto. A solidão em que as pessoas vivem hoje na multidão é a falta do calor humano, que só nasce na família. A semente do relacionamento sadio entre as pessoas nasce e é cultivado no lar, onde vive uma família que não deixa Deus em segundo plano.

Como está a Administração Municipal?

Excelente. A administração Municipal está em mãos de uma equipe responsável, competente e sabe o que faz. Uma administração que prioriza a educação, saúde, saneamento básico, dá apoio a novos investimentos no município e, atende às necessidades da população em todo o setor público. Ao contrário do que acontece a nível federal, tenho certeza que os recursos públicos municipais estão sendo bem administrados e em benefício da população botuveraense.

O Legislativo Botuveraense está cumprindo seu papel?

Acredito na equipe legislativa do município. Apenas cobro da equipe um trabalho voltado para a informação e orientação da população do verdadeiro papel do poder legislativo no município. O povo ainda pensa que o papel do vereador é apenas pedir para molhar a rua e instalar uma luminária. Este é o papel do executivo, que aliás está fazendo muito bem e de acordo com o orçamento do município.

Como traçaria um perfil de Botuverá de sua infância e o de hoje?

Tenho muitos motivos para amar minha cidade. Minha infância via uma cidade que apenas produzia o suficiente para sobreviver, cidade de um povo trabalhador, simples, honesto, persistente e principalmente um povo de fé. Um povo que valoriza as tradições e costumes herdados dos antepassados. Botuverá criou uma identidade cultural “sui generis” e vejo preocupado que está identidade está se perdendo. Nossas crianças não falam mais o dialeto Bergamasco, a religiosidade, marcante do povo de Botuverá está esquecida. Faz-se necessário um trabalho voltado para o resgate e manutenção dessa identidade. A Festa tradicional é importante, mas é apenas um das muitas outras opções que serão necessárias para preservar esta identidade cultural, típica e única no mundo. Um povo que perde suas tradições e raízes perde sua identidade. Sou favorável à criação de um centro cultural específico para fazer isso acontecer. Botuverá é fruto de trabalho, honestidade, seriedade e principalmente da fé e persistência do seu povo. Nos últimos anos Botuverá passou a oferecer mais oportunidades de investimentos, venceu o problema do êxodo rural, graças ao surgimento de indústrias oferecendo oportunidades de emprego e renda e, também, graças a uma política de valorização e apoio que está sendo dada nestes últimos anos aos pequenos agricultores.

O que falta para o Município deslanchar?

Não interrompendo a atual administração. Botuverá apresenta um potencial de crescimento econômico muito positivo. Investir num projeto consistente voltado para a agricultura familiar e para o agronegócio. Botuverá carece de um espaço de lazer para nossos jovens e adolescentes. Ginásio de esportes e campo de futebol é muito pouco.

O Brasil tem acerto?

Quando o povo deixar de eleger políticos que já foram condenados, a situação com o Brasil vai começar a melhorar. Não basta combater a que os corruptos sejam presos. Detesto políticos teóricos e executivos que insistem em colocar em prática projetos e programas elaborados por tecnocratas atrás de escrivaninhas.

Qual a melhor obra que já leu? (livro e artigo)

Uma obra que sempre indico aos alunos: a natureza. É um livro que pode ser lido e interpretado por analfabetos e em todas as línguas. Considero a gota d’água um livro e um artigo, a lição que ela ensina. A gota d’água é pequena, mas capaz de escavar uma rocha. Não sou contra nenhum livro a não ser o fato de serem muito caros, para serem adquiridos com o salário de professor.

Tem lido a Coluna Dez? Vale a pena?

Sempre. É uma leitura amena, agradável, informativa e instrutiva.

Grandes nomes em Botuverá: Empresários, Religiosos, Comerciantes, Cultura, Saúde, Educação, Políticos?

Citar alguns nomes, se esquece muitos outros. Tiro o chapéu para os nossos antepassados. Graças a eles existem tantos personagens hoje.

Referências

  • Jornal A Voz de Brusque. Entrevista publicada em 30 de novembro de 2007.