Entrevista Ana Beatriz Baron Ludvig - Luiz Gianesini

De Sala Virtual Brusque
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A entrevistada da semana é a Secretária de Governo e Gestão Estratégica Ana Beatriz Baron Ludvig, nascida em Brusque aos 23/11/1964; filha de André Pedro Baron e de Lucy Morelli Baron; casada com o vereador Valmir Coelho Ludvig; filhos: Tainá Baron Ludvig, 25 anos, formada em Psicologia pela UFSC e Cauê Baron Ludvig, 19 anos, cursando Engenharia Civil na Univali

Como conheceu o Ludvig?

Conheci o Valmir em um Encontro de Jovens da Igreja Católica. Eu tinha 15 anos e desde muito nova já participava ativamente de movimentos de juventude. Numa destas atividades, escutei o comentário de algumas meninas sobre um “tal de ” Valmir, que viria dar uma palestra. Não lembro bem o que, mas falavam dele com um certo entusiasmo. Criei uma certa expectativa em relação a ele, imaginando quem e como seria... De repente, entra na sala de palestras um sujeito, de barba, com um violão nas costas, uma roupa não muito na moda (cafona mesmo), de Conga (lembram desse tênis?) e eu pensei: esse não deve ser o famoso Valmir! E não é que era ele mesmo! Fiquei até um pouco frustrada. Claro que não demonstrei, afinal eu nem o conhecia. Foi quando ele começou a palestra que eu entendi. Com suas músicas, suas histórias e seu jeito simples e coerente de falar, ele prendia a atenção de todos, prendeu a minha também. Passou um tempo e encontrei-o novamente no I ° FEMUSEST, Festival de Música Estudantil, no Bandeirante, organizado pelos seminaristas. Fomos concorrentes e o que eu temia aconteceu. Ele levou o primeiro lugar com a música “Grito” e nosso grupo, o “Filhos do Sol”, ficou em segundo, com a música Filhos da Terra, cujos integrantes eram o Sergio Bianchini, a Maria do Carmo Machado, Sulamita Lopes, Luiz Fernando Merico, Paulinho Mineiro, Márcio Servi, Alfredo Wagner e Amilcar Costa. Será que esqueci alguém? Rivalidade? Que nada! Ao final fomos todos comemorar na única pizzaria da cidade, a Tarantella da Azambuja. Conversa vai, conversa vem, resolvemos criar um grupo de teatro e juntamos algumas pessoas, como o Jocelito e a Jeanete de Souza, a Aninha dos Santos, a Maria do Carmo Machado, eu e o Valmir entre outros. Havia uma “crise”na coordenação do Movimento de Juventude e ninguém queria assumir . O vigário padre Pedro Paloschi, pediu para assumirmos e lá fomos nós, porque gostávamos de um bom desafio. Como não se tinha muitas opções aproveitamos para propor algumas condições e mudanças. Queríamos mais autonomia e que os encontros de jovens fossem mistos, pois até então eram feitos meninos e meninas separadamente. Eu e o Valmir começamos a atuar juntos na coordenação do movimento, que transformou-se em Pastoral da Juventude da Comarca de Brusque, e isto nos aproximou bastante. Tornamo-nos confidentes. Namorávamos outras pessoas, mas parece que não dava muito certo, porque nenhum de nós aceitava que tentassem nos moldar dentro dos padrões “normais”. Depois de cinco anos de uma grande amizade, fomos percebendo que tínhamos muito em comum. Acho que ele percebeu primeiro. Ele insistiu bastante, foram muitas serenatas. A Maria Luci, minha irmã e companheira de quarto, me dizia pra eu namorar de uma vez porque ela não aguentava mais ser acordada pelas serenatas. Meu pai, certo dia disse: minha filha, se quiseres namorar com ele, eu deixo. Eu relutei um pouco, afinal, se não desse certo, eu perderia o namorado e um grande amigo. Resolvi aprender violão e ele se dispôs prontamente a me ensinar. O resultado é que não sei tocar violão até hoje mas me casei com o professor . Estamos casados há 28 anos, temos dois filhos incríveis e Deus foi muito generoso com a gente, quando fez com que nossos caminhos se cruzassem.

Histórico escolar?

Estudei no Colégio São Luiz até me formar no Científico. Bons tempos passei lá. Embora fôssemos gente simples, meus pais fizeram questão de garantir bons estudos para os sete filhos. Fico pensando, hoje, o que significaria sete filhos estudando ao mesmo tempo num colégio particular? Quantos sacrifícios meus pais não fizeram! Começo a entender as roupas repassadas de irmão para irmão, os lanches com pão caseiro e capilé, os materiais escolares mais simples... E o nosso diretor, Padre Orlando! Que figura fantástica. Ficava impressionada e me achava o máximo porque ele se dirigia à gente pelo nome. Afinal, nós eramos as filhas do Seu Baron, que construiu muitas salas de aula no colégio, o ginásio de esportes e a rampa do Colégio novo. Ao me formar, fiz vestibular para Serviço Social na Faculdade de Tubarão. Até fui pra lá de mala e tudo, minha mãe fez o enxoval, fiz a matrícula e arranjei lugar para morar. Mas não me vi morando naquela cidade e desisti. Voltei no mesmo dia para casa. Comecei então a Faculdade de Estudos Sociais na FEB (hoje UNIFEBE), e cursei 4 semestres. Eu queria trabalhar e as aulas eram de manhã. Além disso, eram os tempos da Teologia da Libertação, e os conflitos ideológicos eram grandes pois a Faculdade equivalia ao curso de Filosofia para os seminaristas, não deu para conciliar as diferentes visões. Nossa atuação na Pastoral da Juventude causou muitos conflitos com alguns sacerdotes que por acaso eram meus professores. Então tranquei a matrícula. Para não ficar parada, fui fazer o Curso de Magistério no Colégio Cônsul. Aquela carteirinha vermelha era um problema... fiz alguns atos de rebeldia, tentei entrar sem a carteirinha, porque eu já era casada e dona do meu nariz. O seu Arno Ristow me olhava meio de lado, mas no fim a gente se entendeu bem. Depois disso, me dediquei de corpo e alma aos trabalhos sociais e políticos e participei de vários cursos de formação, incluindo 300 horas de formação em Ensino Religioso pelo CIER e 600 horas de Teologia para leigos em São Paulo, no CESEP. No ano 2000, quando surgiu o Curso de História na UNIFEBE, decidi que era hora de retornar para a universidade, mesmo com filhos pequenos e fui fazendo o curso aos poucos, conciliando a militância, a faculdade, o trabalho e a família, até me formar.

Pessoas que influenciaram?

Quem me conhece pensa de cara que a resposta seria Che Guevara, Fidel Castro, Gandhi... Sim, são grandes líderes e cada um, a seu tempo, teve uma importância na minha história e na história da humanidade. Mas minhas verdadeiras influências estão bem próximas. Não tenho dúvidas de afirmar que meus pais foram meus maiores exemplos e nortearam minha vida. Mesmo quando nossos pensamentos divergiam e eles não entendiam minhas escolhas, a base dessas escolhas sempre foi seu exemplo de fé cristã, de caridade com o próximo, de humildade e retidão. Exemplos a gente dá e recebe em casa. As demais pessoas que passam por nossa vida apenas reforçam o que recebemos no berço. Para o bem ou para o mal.

Como foi a educação recebida de seus pais?

Somos uma grande família. Daquelas que quando se reúnem para um simples almoço na casa do pai e da mãe aos sábados, vira uma festa. Sete irmãos, muitos netos e alguns bisnetos , todos falando ao mesmo tempo, saboreando aquele banquete delicioso, gesticulando de forma escandalosa , mas nos entendendo muito bem. Com nossos pequenos (e grandes) defeitos, nosso temperamento fruto da mistura de alemão com italiano, temos uma forte ligação familiar, sentimento que estamos repassando paras as gerações que vêm vindo. Vivíamos com simplicidade, mas a mesa era sempre farta. Tínhamos horta, galinhas, pomar, porco, vaca de leite. Minha mãe dava conta da filharada, da lida da casa e ainda ajudava meu pai na empresa de construção civil. Tive uma infância muito feliz na casa construída por meu pai, na Rua Benjamim Constant, uma rua sem saída, que depois do corte do rio nos anos 70, virou rua Almirante Barroso e ligou-nos ao bairro Santa Rita. O futebol de várzea, a pesca de cascudo e os banhos no Itajaí Mirim que passava ao lado da nossa casa, as brigas com os primos por causa das quilicas, tudo isso forjou nosso espírito. Mesmo quando o resultado de muito trabalho deu à nossa família uma condição melhor, com uma casa mais moderna, um outro padrão, mesmo aí, permaneceu em todos nós as raízes da simplicidade plantada lá trás. Essa é a educação que recebemos, educação de família, de respeito e de carinho uns pelos outros.

Desde quando batalha ao lado Paulo Roberto Eccel?

Conheci o Paulo em 1983, nos trabalhos da Pastoral da Juventude. Eu era da coordenação da Pastoral e ele fazia parte do Grupo de Jovens Jepam – do Maluche. Sempre se destacou como uma grande liderança e não tardou muito para atuarmos juntos em outras áreas, direitos humanos, Partido dos Trabalhadores e várias lutas sociais em nosso município. Então, já são 30 anos de convivência e companheirismo, e posso afirmar que aprendi e aprendo muito com ele. Considero o prefeito Paulo um irmão de luta e um grande companheiro. Tem aquela música que o Valmir canta que reflete o espírito da nossa amizade: “Amizade sincera é um grande remédio é um abrigo seguro...” Sou abençoada por que quando canto estes versos muitos nomes me vem a mente, e os nomes do Paulo e da Bete Eccel certamente estão entre eles.

Como foi a experiência no Gabinete do Deputado Paulo Roberto Eccel na Assembleia Legislativa?

Em 2003, fiquei muito honrada em ser convidada para fazer parte da equipe de trabalho do Gabinete do deputado Paulo Eccel na Assembleia. Era um mundo novo e desconhecido pra todos nós e tivemos que aprender muitas coisas. Foi sem dúvida um grande aprendizado e um período de intensa atividade. Saímos de Brusque nas segundas bem cedo e retornávamos as sextas-feiras, nem sempre para casa, pois tínhamos muitas ações aos finais de semana em diversas cidades da região. Nesta época o Valmir foi um grande parceiro, porque ficou em Brusque, trabalhando e cuidando dos filhos. Até hoje eles tem trauma de camarão na moranga, porque ele fez uma vez e as crianças elogiaram e, então, ele fez vários dias seguidos. Valeu a experiência, pois fomos considerados um dos mandatos mais atuantes da ALESC, reconhecidos até pelos demais deputados da que faziam oposição ao PT na época. A luta “Contra a Baixaria na TV”, o Fim da Tarifa Telefônica, que só não teve êxito pelo veto do Governador ao projeto, A Lei da Meia Entrada e o aumento das Bolsas de Estudos do Artigo 170, foram algumas de nossa lutas na Assembleia. Infelizmente, a conjuntura política na época não favoreceu a reeleição do Paulo para mais um mandato de deputado. Mas como nada é por acaso, haviam outros planos traçados por Deus e hoje estamos no segunda gestão à frente da Prefeitura Municipal.

A chefia de Gabinete do Prefeito Paulo Eccel foi uma experiência positiva?

Vejo esta questão sob dois aspectos. O primeiro é que sempre temos muito a aprender e eu aprendi muito como chefe de gabinete. Aprendi sobre o funcionamento da máquina da administração pública, seu potencial e suas limitações. Aprendi muito a ouvir, mais do que falar (embora eu fale muito). Aprendi que lealdade é fundamental para o sucesso de todo projeto político e, principalmente, aprendi que preciso sempre estar aberta para os novos desafios e encarar com humildade as minhas limitações para superá-las. O segundo aspecto, é que estando próximo ao dia a dia do prefeito, só confirmou ainda mais a certeza de que nossa cidade está sendo governada por um verdadeiro líder, que não mede esforços para conduzir nosso município com princípios éticos, trabalhando incansavelmente para elevar Brusque ao lugar de destaque que merece .

E como está enfrentando a Secretaria de Governo e Gestão Estratégica?

Encarei este novo desafio com muita determinação e alegria. Tenho uma excelente equipe de trabalho e muita vontade de acertar. Como disse anteriormente, conhecendo meus limites, posso superá-los e colocar toda minha energia para dar o melhor de mim para a cidade. Às vezes penso que até exagero e deixo minha família de escanteio... Mas eles são tudo de bom e me dão muita força, porque comungam dos mesmos ideais.

Quais as principais atribuições da Secretaria de Governo e Gestão Estratégica?

“Governar o governo”, esta foi a frase dita pelo prefeito Paulo quando me convidou para esta nova função. Então é o que faço. Procuro me inteirar de todas as questões do governo e das secretarias, intermediando, buscando soluções e acompanhando a execução do planejamento estratégico elaborado no início desta gestão.

Um resumo de sua trajetória profissional?

Comecei a trabalhar muito cedo, com 14 anos, como balconista na Loja José Morelli, que pertencia ao meu avô e que vendia armarinhos e aviamentos. Trabalhei também na Loja Baron, de minha mãe, que também tinha o mesmo ramo de negócio. Durante alguns meses, trabalhei numa empresa de engenharia, como secretária para encaminhar os processos, através do seguro da CEF, de reformas das casas atingidas pelas enchentes em Blumenau. Depois trabalhei por um período como auxiliar no Detran, na aplicação dos testes psicotécnicos, com a Dra Teresa Braga Vieira Willrich. De lá, passei a ser a secretária dela no seu consultório de psicologia e ao mesmo tempo era secretária do Dr Ismar Morelli, cujo consultório era em frente. Comecei a lecionar como professora de Ensino Religioso no Colégio Ivo Silveira, como professora ACT. Fiz bico como servente de pedreiro, fugando azulejos num prédio próximo à Uniasselvi. Em 1987, depois de uma longa greve na educação, onde não fui mais recontratada, eu e o Valmir, juntamente com mais 3 companheiros, fundamos a empresa Bruscor, no ramo têxtil, empresa que foi referência em nível de país, recebendo inclusive premiações por sua forma alternativa de gestão, ou seja, uma empresa de autogestão, sem patrão, sem empregado, modelo que permaneceu por mais de 20 anos. Com a minha ida como assessora parlamentar à Assembleia Legislativa e depois, com o trabalho assumido na prefeitura de Brusque, afastei-me totalmente da empresa, pois são demandas inconciliáveis. Acredito que se é para estar num lugar, especialmente se for uma administração pública, temos que estar por inteiro, de corpo e alma.

Quais medos você tem ou teve? maior medo é o de envelhecer ou o de entristecer. ?

É engraçado, pois escrevendo esta entrevista, dei-me conta de que um dos meus maiores medos é de perder a memória. Percebo que o ato de escrever, ou mesmo de contar a nossa história para alguém é um excelente remédio para combater este medo. Quanto ao medo de envelhecer ou entristecer, acho que o que não quero é virar uma “velha triste”. Na minha vida tive belíssimos exemplos de pessoas que envelheceram com bom humor e sempre rodeados pela família e por amigos. Meus avós, meus pais e sogros, e outros tantos por aí que vocês também devem conhecer... Deus permita, primeiro, que eu envelheça, segundo, que eu tenha saúde para usufruir as coisas boas que a velhice traz e, terceiro, que esteja rodeada por gente que me queira bem.

Qual foi o maior desafio até agora?

Para mim, o maior desafio é viver. Viver no sentido amplo da palavra. Não apenas estar no mundo, mas ser alguém no mundo. Passar a vida acumulando coisas e perdendo o gosto pelas coisas simples e boas não é a melhor forma de encarar este desafio. Vejo da seguinte forma: a gente tá no mundo para deixar a nossa marca na história e na vida das pessoas. Pelo quê queremos ser lembrados? Pelo que temos, pelo sucesso que alcançamos ? Pelos sorrisos e abraços sinceros que distribuímos ? Pelo bem que fazemos aos outros? Esse é o desafio!

Você se arrependeu de alguma coisa que disse ou que fez ?

Acho que ainda tenho tempo para me tornar um ser humano melhor. Tem aqueles defeitos de estimação que tenho que superar, aquelas coisas mal resolvidas que tenho que consertar. Tem também alguns perdões que talvez tenha que pedir... Afinal, o arrependimento faz parte da nossa vida e nos transforma em alguém mais interessante. Nem sempre acertamos, né? Mas, esse arrependimento não pode nos paralisar, nos prender. Ele tem que ser visto como uma oportunidade para crescermos, para empurrar-nos para frente. É isso. Simples assim.

Referências

  • Entrevista publicada no EM FOCO em 02.08.13.