Entrevista Aloisius Carlos Lauth - Luiz Gianesini

De Sala Virtual Brusque
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Aloisius Carlos Lauth.

ALOISIUS CARLOS LAUTH: O entrevistado da semana é o consultor de empresas Aloisius Carlos Lauth, nascido em Brusque, 24 de janeiro de 1954, na antiga Maternidade Cônsul Carlos Renaux.Filho do saudoso Aloysius e de Adélia Lauth É casado com Tania Paza e tem dois filhos: Victor e Kiara. Victor estuda cerâmica fina em Bremen, na Alemanha e Kiara faz engenharia elétrica na Furb.

Quais são as memórias de infância?

Aloisius Carlos Lauth.

Passei minha infância em Pomerode, bem perto de um rio, onde a gente passava boa parte do dia. Adorava pescar de canoa, durante a madrugada, quando meu pai e meu irmão usavam tarrafas para pegar cascudos da pedra. Quando dava, a gente armava espinhel para pegar tajabicus, carás, carpas, jundiás, traíras, robalos... o rio era limpo e tinha muito peixe. A natureza era outra. Na época de caça, final do inverno, meu pai nos levava para as caçadas de final de semana na região do Spitskofp, Baú e Santo Antônio. Eu tinha uma espingarda calibre 32 e sabia manusear a arma com agilidade. Uma boa caça tinha que ter rolas do mato, tucanos, araquãs, jaós, aves grandes. Não se matava correca, João de barro, andorinha e colibris, eu não sei por que! Não tenho arrependimentos do que fazíamos. O lazer era a caça, a pesca, o banho de rio, andar a cavalos. Mas a natureza mudou, o rio está poluído, a caça acabou, lamentavelmente, pela nossa própria ação.

E a juventude?

Tenho boas lembranças dos domingos à tarde nos anos de juventude. Eu estudava no Colégio Santo Antônio e tinha grandes amigos. A gente se juntava e ia para a rua, na praça barão von Schneeburg, ver os jogos do CA Renaux e do Paysandu. Mas o mais legal era o matiné com grandes fitas do cinema no Cine Coliseu e no Cine Real. A gente se sentia astro com os atores. Me impressionou muito as fitas Tarzan, rei da selva; e Os 10 mandamentos.

Formação escolar?

Eu fiz o 1º ano no Colégio D. João Becker. Depois, fui escolarizado na Escolas Reunidas Municipal Quintino Bocaiuva, em Testo Salto/ Pomerode e depois encerrei o ciclo escolar no Colêgio Santo Antônio, aqui em Brusque.

Pessoas que o influenciaram?

As irmãs da Divina Providência foram as professoras que mais me influenciaram na infância e juventude. O jeito delas ensinar, castigar e tratar a gente como criança que precisavam de atenção e carinho. Lembro com carinho da Ir. Cleonice Stingen – diretora do colégio.

O ingresso na Faculdade de Estudos Sociais influenciou decisivamente em sua trajetória?

Só virei gente quando entrei na faculdade de Estudos Sociais, da FEBE. A maior influência foi de uma colega radical, que participava do grupo Cogumelo Atômico – um jornal underground editado pelo Buss e outros caras! Era Inês Mafra, a menina que se mostrava inconformada com a revolução militar no Brasil. Talvez por causa dela eu acabei adorando ler os livros de Karl Marx e encantado com as aulas de Sociologia, ministradas pelo Pe. Orlando Murphy. Ele falava o tempo todo em marxismo para que aprendêssemos e assim, quem sabe, poderíamos nos defender do Estado possessivo e planificado. Então, descobri um jornalista espanhol que analisava a formação de manobras de massa denominado Jose Ortega y Gasset, cujas reportagens eu recortei e colei em meu diário. Minha formação tem linha humanista como Emanuel Mounier, Lebret, Marx e Teilhard du Chardin. Só mais tarde terei tempo para leitura como Caio Prado Junior, Celso Furtado, etc, olhando o Brasil de então. Hoje voltei a ler Saint Exupery e alguns livros da Biblia como os Salmos, que trazem inspiração e louvor. Se isto é sabedoria, acho que a caminhada foi muito boa!

O abrange a consultoria que você presta?

Sou consultor de empresas para temas como negócios modernos. Atuo em projetos de desenvolvimento da gestão para a Indústria Cerâmica Vermelha e últimamente para um grupo de fornecedores do ramo têxtil da Guabiruba para grandes empresas âncoras de cama, mesa e banho.

Uma palhinha da trajetória profissional?

Comecei a profissão como professor substituto no antigo Centro Interescolar de Io. Grau Arthur Schlosser, na Santa Teresinha. A escola era dirigida pelo Prof. Celso Westrupp e o prof Nelson Frener, nos quais me inspirei em termos de valores profissionais. Lembro de outros professores, como Silvana Appel, profª. Mafra, prof Afonso de Artes Industriais e outros. Depois trabalhei no Centro de Treinamento da Renaux e no Lafite e então assumi trabalhos burocráticos no SENAI de Blumenau. Lá começa minha carreira de consultor, inicialmente como professor do método TWI – Training Within Industry com mestres como Cláudio Jair Moritz, Laercio Knhis, ambos brusquenses; Onildo Sales de Oliveira, Paulo dos Reis e Isaías Nazari. Tive colegas inspiradores como Nilo Imhof, Militino Angioletti, Renato Valin, Maria Bernardete Cascaes e Alcides Dalsenter.

Em especial quem merece ser lembrado?

Especial foi ter trabalhado como Danilo Moritz, um gestor iniqualável e com visão de educação e empresarial. Decidi então ser o instrutor de formação destes programas pois são fantásticos para as chefias modernas. Ser chefe é aprender lições básicas as quais as universidades não formam.

Em que você apostou e não viu os resultados acontecerem positivamente ?

Eu apostei na possibilidade de ficar rico aplicando dinheiro no mercado financeiro. Aprendi a lidar com ações e a escolher estratégias de alto risco para os últimos 15 anos. Ganhei dinheiro sim, mas perdi os resultados logo depois. O ciclo não é constante e a economia brasileira é avassaladora, sem lógica e excessivamente mutante. Não dá para ficar rico estudando o mercado financeiro.

O que pensa escrever?

Há anos estou reunindo as informações científicas do botânico Raulino Reitz, uma espécie de guia para os pesquisadores. Ele tem pesquisa em história, etnografia e geologia e a botânica, em especial as cipós, os gravatás e as palmeiras. Penso sistematizar a trajetória do padre dos gravatás, que escreveu mais de 8 mil páginas.

Como você vê Gestão da Indústria Catarinense?

Entendo que somos um estado com enorme esforço industrial, alavancado por muitas lideranças. É bom a gente lembrar que há 30 anos atrás não havia universidade de Administração e mesmo assim as pessoas criavam empresas para gerar riquezas. Acho que a geração de empreendedores passada tinha muita força de vontade, persistência nas propostas diante dos mercados diminutos e sabedoria em gerenciar os recursos financeiros. Pode ver, os grandes empresários de Brusque eram pessoas de grande controle financeiros de suas empresas. Os tempos mudaram, os empreendedores também, e o crédito, mais fácil. Contudo, o risco aumentou para quem não se dedica a entender a gestão de negócio. Isto envolve compreender as demandas do Marketing, o desenvolvimento de novos produtos nem sempre tão inovadores e a arte de gerenciar pessoas, tal como os técnicos de futebol. Eles precisam conquistar rapidamente o time, criar jogadas inteligentes e surpreender a torcida. Do contrário, no 2o. jogo são cortados pela diretoria. Assim, quais empresas atualmente persistem em planejamento estratégico? ou gestão de custeio pela curva ABC? Passou o tempo em que se ganha dinheiro de qualquer maneira, hoje o momento é de gestão pela sobrevivência! Tão importante quanto pela lucratividade! Quantas empresas são criadas em Brusque? Não é o sobrenome da familia que faz o negócio hoje, mesmo aquela que tinha a melhor camiseta de malha, ou a empadinha de palmito.

Diante do quadro acima que atitude você tomou em sua trajetória?

Então, fui trabalhar em uma instituição de ensino e consultoria que se dedica a aumentar a competitividade empresarial e me orgulho de participar de alguns projetos. Na década passada, dediquei parte de meu tempo e organizei o Prêmio de Qualidade e Produtividade, a partir de uma proposta de Egon da Silva (WEG) denominado PBQP. Consistia em formar grupos de trabalhadores dentro das empresas, como se fossem CCQ, para mapear os problemas de processo e diminuir a ociosidade e os desperdícios. O programa ensinava metodologia de análise e solução de problemas industriais, criando novos produtos e aperfeiçoando os processos. Aqui em Brusque e Guabiruba, tivemos a participação da Fischer, Iresa, Buettner, Renaux, Kohler Tinturaria e tantas outras. Trouxe muitos benefícos para as indústrias e hoje já se fala em inovação, mesmo em setores de tecnologia senescente. O fator de risco hoje é a inovação de produtos a preços competitivos. Será a saída para o enfrentamento China, embora o Governo Dilma deva também expressar uma nova política industrial. É o caso da seda chinesa que está tomando conta do mercado brasileiro. Até os lençóis de cama já são produzidos com seda chinesa, em detrimento da malha de algodão. Malharia que fecha, leva junto tinturaria e bordados! Vão-se os empregos, que não retornarão jamais, como foi na Inglaterra. A última empresa textil que fechou foi de meias de mulher. Sem política Industrial acolhedora de mão de obra intensiva é colocar a presa na boca do jacaré! Um dia ele come!

No momento em que está empenhado?

Neste momento, estou empenhado no projeto de desenvolvimento da cerâmica vermelha, auxiliando suas Diretoria a criar planos e projetos de crescimento dos negócios. Empreender é gerenciar mais do que comprar máquinas e equipamentos. Com crédito, você compra máquinas e até contrata gente. Mas sobrevivência com lucratividade, somente se aprender a arte da administração.

TWI?

A metodologia do TWI - training within industry, busca desenvolver nos funcionários, tecnicamente bem qualificados, a competência de formar times de trabalho, criar bons ambientes de relacionamento e visão da produtividade. Estes objetivos são desenvolvidos em 3 fases distintas: 1a. fase: Técnicas de Treinamento; 2a. fase: Relações Humanas no TRabalho; 3a. fase: Melhoramento de Métodos de Trabalho. O conjunto tem duração de 50 horas aproximadas. Recentemente, um empresário teve que trocar sua equipe de supervisores e líderes e foi buscar no TWI a formação rápida da nova turma. Já eram pessoas técnicas, vinham de cursos técnicos e de tecnologia mas somente o método´é capaz de inspirar a figura do chefe, do líder, do coach, do facilitador e coordenador. Um cara que fez TWI toma nova dimensão da postura de liderar um grupo de trabalho, como um time que se apronta para cada jogo de forma diferente e se desfaz a cada insucesso. Acredito que nossas indústrias tiveram grandes líderes em seus processos operacionais, capazes de comandar pessoas e conseguir excelentes resultados em razão do método. Compare agora nosso insucesso em gerar líderes para as atividades da administração pública, como é difícil ter um líder público empreendedor sem ser autoritário, benquisto sem ser politiqueiro. O país precisa de bons administradores públicos.

E a 2a. fase?

A 2a. fase propunha que os líderes agissem com acertividade e justiça no trato das pessoas. É possível evitar problemas com gente. E quando isto ocorre, é importante agir com critérios de bom senso e humanidade, mesmo em ambientes desgastantes e de trabalhos sobre-humanos. O curso ensinava que ocomportamento do funcinario estava ligado à atitude de seu chefe. Por isto, ele deveria ser equilibrado emocionamente ao tomar decisões envolvendo gente. Quando há um problemas num processo, quebrou a máquina, saiu o produto não conforme, há sempre gente por trás. Olhar os dois lados é sabedoria nas relações humanas. O difícil do passado era ser lider participativo em um ambiente empresarial autoritário, ou onde o empregado era visto como custo de produção. Imagina trabalhar em uma fábrica sem estrutura de banheiros, com agentes químicos e biológicos presentes nos processos produtivos e alto risco de acidentes?! É preciso entender que os processos industriais texteis, mecânicos, de alimento, cerâmica e plástico não tinham tecnologia suficiente e nem sempre existia uma visão de co-participação na empresa, isto é, empregado que adere aos objetivos é empregado excelente e produtivo.

Os nascidos entre 1980 e 2000, a chamada “geração y são antenados com a tecnologia e têm um apreço especial pela meritocracia (acesso a cargos e posições sociais conquistados a partir do cumprimento de metas os antecessores – chamada de X, nascidos entre 1965 até 1979– é o perfil dos chamados workaholics (que nunca param de trabalhar). “A geração Y tem um grande problema: possui nas mãos uma enorme carga de informação, mas não sabe o que fazer com ela! A geração Y se escora no Google, o oráculo do mundo pós-moderno, e não sabe escrever uma petição à mão. Tentamos mostrar que existe ainda um mundo palpável, que o saber crítico é imprescindível”

Os tempos são outros agora, com a entrada de funcionários da chamada Geração Y. Imagine um indivíduo que teve escolaridade intensiva com eletrônica e computação de escola pública e ir trabalhar numa empresa com processos pouco automatizados, onde ainda se faz força para empurrar material na máquina, vigiar falhas de padrão operacional e suar a camisa levando coisas de um lado para o outro? Quanto tempo um cara assim vai ficar na indústria? Tão importante quanto o salário é lider com as expectativas dos funcionários a longo prazo. Todos querem trabalho, mas após 6 meses aparecem as reclamações e descontentamentos. Cnheço um caso de uma moça que abandonou o salário de 1,5 mil reais para trabalhar numa loja de shopping, ganhando apenas mil reais. Tornou-se mais difícil para os líderes operacionais tomarem decisões sobre seu grupo de pessoas porque precisam enxergar necessidades físicas e desejos superiores tal como Elton Mayo descreveu já em 1930. Felizmente, hoje a grande maioria dos empresários incorpora em seu negócio a visão sócio-ambiental, tem compromisso sociais com a vizinhança do bairro, veja como é na Cerâmica Reis, em Aguas Claras e até de uma empresa na Nova Brasilia. Há muito empresário que pratica Programa de Participação de Resultados, igualmente, estimulando a lucratividade da organização. Isto não é clientelismo, é sabedoria; bem diferente de alguns programas sociais do governo federal que são paternalistas. Eu considero hoje que Relações Humanas no Trabalho é uma arte que precisa ser ensinada para esta nova geração de líderes.

Referências

  • Jornal Em Foco. Edição de 4 de outubro de 2011.