Francisca dos Anjos de Lima e Silva

De Sala Virtual Brusque
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  • Álisson Sousa Castro

Francisca dos Anjos de Lima e Silva, mais conhecida por "Fanny", foi uma popular moradora do bairro Santa Terezinha em Brusque.

Nascida em 19 de janeiro de 1900, filha de João Raymundo dos Anjos e de Theodora da Silva, casou-se com Eduardo de Lima e Silva Hoerham em Ibirama no dia 22 de setembro de 1920, residindo no Posto Indígena daquele município[1].

Eduardo era funcionário do governo republicano no Serviço de Proteção ao Índio e aos 19 anos já aventurou-se a pacificar a feroz tribo dos Botocudos, que dominavam a região do Alto Vale do Itajaí. Em Ibirama ele criou o posto indígena Duque de Caxias, homenagem ao tio de sua mãe[2].

Do casamento com Eduardo nasceram quatro filhos: Dalbérgia, Setembrino, Generino e Laioneli. Dentre eles, somente a primogênita Dalbérgia residiu em Brusque, ao lado da casa da mãe.

Sobre a vida do casal, Dalbérgia Deucher (sem data apud SOUZA, 2005) relata que

Foi ele quem ensinou tudo para ela. Mas apesar disso tudo, se ele era orgulhoso, ela era mais. Os dois se brigavam muito, casa um de revólver em punho sabe? Ele era violento com ela, e ela era firme, lutadora, enérgica... firme. Ela sempre tinha um revolver. Cuidava de nós quatro - os quatro filhos - com muito cuidado, mas passava o chicote se a coisa não ia como ela queria. Mas sempre foi uma mãe muito boa, cuidadosa, presente. Mas o chicote... estava sempre ali, ela não contava tempo [...] Ela caçava - de tudo - não tinha medo de nada, da pra ver pelas fotos ela com traje de caça, espingarda e facão-de-caça. Tinha sua própria canoa (caiaque), cavalgava e nem se importava com o que ninguém achava ou pensava. Sempre dizia assim: A vida é dura e nós não podemos ser moles.[3]

O casal aparentemente tinha uma boa vida,

Mas as constantes cenas de violência entre Eduardo e Fanny, as brigas com revólveres apontados um para o outro, acabaram por levá-la a uma decisão radical. Abandonou tudo. A casa luxuosa, as roupas elegantes de Paris, os esportes, o cavalo, o automóvel, os filhos, o marido e veio para Brusque rompendo com tudo e com todos. Rompeu com a classe social a que estava ligada pelo casamento e lutou por si. Só![4]

Sobre a decisão da mãe, Dalbérgia (sem data apud SOUZA, 2005) relata que

Brusque naquele tempo era uma cidade grande [...] A família sempre vinha para cá visitar a cidade. Daí, um dia ela cansou de tudo, das brigas; de tudo sabe? ... Montou a cavalo e foi embora. Em Águas Negras ela enviou o cavalo de volta pra casa e veio pra Brusque sem nada [...] Foi faxineira, cozinheiras, copeira também. Como eu disse ela não tinha medo de nada. Lá em Ibirama, no Posto, ela tinha tudo, mas não tinha nada entende? Depois ela abriu a casa para as mulheres. E claro, as mulheres com ela tinham que andar na linha.[5]

Esta "casa de tolerância" ficava no bairro Santa Terezinha e no terreno havia 3 casas de madeira onde moravam em cada a Fanny, a filha viúva Dalbérgia com três filhos e na terceira as moças. Sobre o quotidiano da casa, Dalbérgia (sem data apud SOUZA, 2005) nos informa sobre:

Olha quando eu fiquei viúva, em 1964, eu vim pra Brusque[6]

Fanny: uma vida em perspectiva

Capa do livro de Aquiles Duarte de Souza.

Causou certa aflição a notícia de que seria lançada uma biografia sobre a Fanny no início de 2011. A causa do desconforto, segundo Celso Deucher, se daria ao fato de que

Algum desalmado criou pânico esta semana entre uma parcela significativa de vovôs da cidade. Espalhou o boato de que um escritor local havia encontrado o “famoso caderninho de fiados” da Fanny e que estaria publicando na integra em um livro. Na longa lista de clientes da mais famosa cafetina brusquense, haveria um rosário de nomes conhecidos e gente da mais alta roda social da cidade. Todos freqüentadores assíduos ou como se diz hoje em dia “clientes de carteirinha” da casa de tolerância de Fanny.[7]

Celso Deucher, para dar um exemplo concreto, expõe a opinião de um senhor de idade:

“Teve gente muito preocupada e sem tirar isso a limpo não ficou descansado. depois de tanto tempo isso ai poderia criar dissabores reais na vida de muita gente”, confessa um dos preocupados vovôs que estava numa cafeteria da cidade e soube da bombástica notícia na terça feira, dia 27. “Mas eu acho que este tal caderninho nem existe. É papo furado deste povo. Pelo que eu sei a Fanny não tolerava dívidas e se o cidadão ficava lhe devendo ela o procurava e educadamente pedia ao cliente para escutar a Rádio Araguaia no dia seguinte. A sutileza do convite era o que bastava para até o final do dia o cidadão passar lá no estabelecimento dela e acertar as contas”, diz o mesmo vovô.[8]

O livro surgiu a partir da dissertação de mestrado em Educação pela Univali que buscou compreender Fanny como agente educador em Brusque na década de 1960 sendo que sua imagem perpassa uma dicotomia: de profissão impura a pessoa necessária (uma educadora sexual aos rapazes e uma protetora da pureza das noivas), respeitável (por seu caráter) e até temida (por seu controle sobre quem ficava devendo a ela).

Referências

  1. SOUZA, A.D. de, 2005. IDENTIDADES VELADAS: Fanny: a formação e a educação na cidade de Brusque na década de 1960. Dissertação de Mestrado. Universidade do Vale do Itajaí - Programa de Pós-Graduação em Mestrado em Educação. Itajaí. Santa Catarina. Brasil.
  2. Ibid.
  3. Ibid.
  4. Ibid.
  5. Ibid.
  6. Ibid.
  7. DEUCHER, Celso. História de Fanny vira livro. 3/01/2011. Disponível em: <http://historiadebrusque.blogspot.com.br/2011/01/historia-de-fanny-vira-livro.html., acesso em 03 de agosto de 2012.
  8. Ibid.