Tempestade e Granizo sobre Brusque

De Sala Virtual Brusque
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  • Marlus Niebuhr, Historiador.

A chuva de granizo, que ocorreu em outubro de 1950, permaneceu viva na memória dos brusquenses.

O Sr. Antônio Cervi, nascido a 11 de março de 1933, relembrou esse fato quando de uma das minhas visitas ao Museu e Arquivo Histórico do Vale do Itajaí - Mirim carinhosamente conhecido como "Casa de Brusque", o tempo estava nublado e propício para uma dessas conversas que atravessam horas, ao badalar do “tique-taque” do antigo relógio da casa, perdemo-nos em recordações.

Chuva de granizo atinge Brusque.
Acervo SAB.

O Sr. Antônio relembrou:

Eu morava no Santa Terezinha, e ia de bicicleta para lecionar no Bateas. Naquela época não havia estrada calçada, era estrada de barro até Bateias ...dias de chuva...chegava à escola completamente molhado e a calça respingada de lama...era sofrido. Quando chegava à escola de Bateas, trocava de roupa para poder dar aula, para o 1o e 2o ano que funcionavam à tarde. Era uma escola interessante, pois só a metade dela tinha forro, e a outra metade não. Eu estava dando aula e de repente começou uma trovada de granizo, começou a quebrar as telhas. A gurizada correu para a parte coberta com forro, foram debaixo das carteiras, da mesa, chorando e todos começaram a rezar em voz alta...pensávamos que o mundo ia acabar...

Surpreso diante da fala do Sr. Antônio, comentei que quando da entrevista com o Sr. Roland morador do Bairro de Bateas que recordou de uma tempestade tão forte que destelhou sua casa e o forro “chegou a formar barriga” com o peso das pedras de granizo. “Acredito”, completou o Sr. Antônio e continuou a contar a sua história:

Quando terminou a tempestade, dispensei os alunos, a paisagem havia tornado-se branca e quando estava perto do Steffen, vi o pessoal recolhendo galinhas e até um pequeno porquinho, que havia morrido por causa da tempestade. No dia seguinte, quando voltei para Bateas ainda havia granizo ao lado da estrada, na capoeira onde o sol não havia alcançado.

“Sem dúvida!”, afirmou o Sr. Otto Kuchenbecker, que adentrava a sala após recepcionar os visitantes, que se encontravam no museu, e logo afirmou categórico:

Casei em 1950, e na época era contramestre da sala de fiação da Indústria Têxtil Renaux. Eu havia deixado cada máquina em ponto de bala, afinal, iria passar uma semana em casa. Qual não foi a surpresa...veio o granizo e despedaçou tudo. Olha, até que uma daquelas máquinas começou a trabalhar levou uma semana ou duas!!! Na casa de fiação era tudo telha nova e esta chuva furava direto, acho que as pedras deveriam pesar uns 300 gramas... Essa tempestade atingiu desde a Indústria Renaux até Bateas, como uma faixa de mais ou menos 200 metros de largura.

Nesta altura da história, a conversa já estava animada e o Sr. Antônio relembrou de um detalhe:

O Paulo Bianchini tinha destelhado a ponte do centro, em 1949, porque ia ser feito uma nova. A ponte era coberta com um telhado de zinco. Após a tempestade, o telhado foi distribuído pela prefeitura às pessoas necessitadas. Naquele tempo, não havia plástico...e o pessoal atingido sofreu para conseguir telhas, e as telhas que ainda eram usadas na época, eram as telhas chatas. A telha francesa acabou vindo de outros lugares”. Foi quando o senhor Otto rapidamente e sabiamente emendou -“ Tristeza de alguns, alegria de outros!

Meu tempo disponível tinha acabado e era hora de retornar, o museu precisava ser fechado, porém, levava comigo um pouco mais da história de Brusque que eu desconhecia. Antes de sair o Sr. Otto me perguntou: “Sabes o que aconteceu em 24 de agosto de 1954?” Respondi: Claro, a morte do presidente Getúlio Vargas! Com um sorriso franco seu Otto respondeu “Não, apenas isso, eu estava naquele dia no escritório da Renaux, era bem cedo de manhã quando deu um estouro, uma queda de raio que danificou todos os transformadores. Foi nesse dia, estranho não...Que se suicidou Getúlio Vargas. Suicidou-se ?”.

Olhei para os lados e suspirei. Bem, esta já é outra história...

Referências