Síntese Histórica

De Sala Virtual Brusque
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  • Marlus Niebuhr, Historiador.

Os primeiros imigrantes...

Araújo Brusque
Fonte: MAHVIM

De acordo com o historiador Oswaldo Rodrigues Cabral, o movimento colonizador de Santa Catarina iniciou-se no ano de 1829, dirigindo-se especialmente para a zona litorânea, com a chegada dos primeiros imigrantes alemães, que se localizaram, então, em território que constituía o Município de São José[1].

Estes escritos iniciam a obra: “Brusque: subsídios para a História de uma colônia nos tempos do Império”, pedra fundamental da pesquisa sobre a história de Brusque. Livro este que foi editado pela Sociedade Amigos de Brusque em comemoração ao primeiro Centenário da fundação da Colônia, em 1960.

O ano de 1829 marca a fundação da Colônia de São Pedro de Alcântara. Outras colônias alemãs podem ser enumeradas, 1837 em Vargem Grande; 1847 em Piedade; 1850 em Blumenau; Itajaí em 1860.

Voltemos a 25 de julho de 1860! Desembarcam em Itajaí, a primeira leva de 55 colonos alemães! O céu se achava nublado, quando partiram da ilha de Santa Catarina, com o vapor Belmonte, este que havia participado das operações da Guerra do Paraguai.

Sulcando o verde mar, o Belmonte tinha como destino à pequena vila de Itajaí! A bordo encontrava-se o Presidente da Província, Dr. Francisco Carlos de Araújo Brusque, que acompanhou os primeiros colonos até a barra do Itajaí-Mirim.

Sobre o Belmonte

Nos estaleiros franceses foram construídas as canhoneiras Belmonte e Parnaíba. [...] O sinal que se via agora no navio era “O Brasil espera que cada um cumpra com o seu dever”. Quando os vasos da Marinha Imperial se defrontaram com os paraguaios, perceberam a existência de baterias em toda a extensão da curva até a boca do Riachuelo.[...]

 Ao perceber tal fato, a Jequitinhonha fez contra-marcha, sendo seguida pelas demais, com exceção da Belmonte, cujo comandante não viu o que ocorria. A Belmonte recebeu sozinha o primeiro ataque das baterias paraguaias, e foi obrigada,  para não ir a pique, a abandonar o combate. Restavam assim oito unidades brasileiras para enfrentar 14 unidades paraguaias, mais 30 peças de terra comandadas por Bruguez e a infantaria chefiadas por Robles. A luta era dura e o fogo partia dos dois lados. Por volta do meio-dia a Amazonas desceu o rio. Meza, ao ver os brasileiros aproximarem-se, foi ao seu encontro. [...][2]


A nova colônia “Itajahy” leia-se Brusque, vai ser fundada pelo Barão von Schneeburg, primeiro Diretor da Colônia em 1860. Guiados pelo Barão austríaco, esperançosos colonos alemães, seguiam em canoas rio acima, para o seu novo lar, entre eles: Augusto Hoeffelmann, João Wilhelm, Frederico Guilherme Neuhaus, João José Scharfenberg, Frederico Orthmann, João Germano Boiting, João Ostendarp, Jacob Morsch, Daniel Walter, Luis Richter ...

1860 - primeiro mapa de Brusque, assinado pelo Barão Maximiliano Schneeburg
Fonte: MAHVIM

De valor inestimável, são as cartas (relatórios) do Barão Schneeburg trocadas com o Presidente da Província Francisco Carlos de Araujo Brusque, sobre os primeiros tempos da colônia, reproduzidas por Cabral em seu livro. Vejamos alguns trechos da carta de 31 de agosto de 1860:

Ilmo. E Exmo. Sr. Presidente da Província de Santa Catarina.

Tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Excia. que em 4 de agosto, corrente, quinto dia de viagem pelo Rio d’Itajaí-Mirim acima, cheguei com a primeira turma de 55 colonos com bom tempo e com muito zelo conduzidos pelo contraente Pedro Werner (vulgo Pedro Miúdo) ao lugar Vicente-Só [...] Em 19 de agosto chegaram a Vicente-Só os 139 colonos da 2ª turma [...] que tiveram má viagem pelas frequentes chuvas.

Todos os 194 colonos gozam de boa saúde, menos muito poucos, que se acham bastante incomodados em conseqüência da má viagem e que, pela feliz presença do sr. Eberhardt são por ele com muito cuidado socorridos, sendo ele químico com curso de medicina[...]

Rogo a v.exª. de mandar-me as suas ordens[...] a fim de colocar utilmente os piquetes dos soldados, que tem de formar o cordão de defesa contra o agresso dos bugres[...]

Os donos da terra: Xokleng

Xokleng: foto realizada em estúdio.
Fonte: AHJFS

Quando enfocamos nosso olhar para o sul do Brasil e o tema são os povos que habitavam esta terra, buscamos as palavras do antropólogo Sílvio Coelho dos Santos, no seu livro “Índios e brancos no sul do Brasil: a dramática experiência dos Xokleng”:

no território em foco, duas regiões podem facilmente ser distinguidas: litoral e planalto. Entre este ou aquele, a floresta subtropical cobria as serranias e os vales, dificultando a penetração. Este obstáculo natural impossibilitou as empreitadas escravocratas dos portugueses e permitiu abrigo às populações que logravam pressentir a aproximação dos atacantes. No primeiro século da conquista, entretanto, os “Carijó” foram dizimados ou levados para os mercados de escravos de São Vicente. Na região de florestas e campos, da encosta e do planalto, permaneceram dois grupos tribais: os Xokleng e os Kaingang.[3]
Desfile do Centenário: A criança Wilmar Walendowsky, ao lado de João Indaya Schaefer - representante dos primeiros habitantes, adotado pela família Schaefer.
Fonte: MAHVIM

Silvio Coelho dos Santos, ainda nos informa que os Xokleng ocupavam um território em “movimento”, pois mantinham uma disputa secular com os Guaranis e os Kaingangs, para controlar esse território. Podemos desenhar o seu contorno pelas florestas do litoral e o planalto, terras que ao Norte chegavam até a altura de Paranaguá; ao Sul, até as proximidades de Porto Alegre; ao nordeste abrangiam até o rio Iguaçu e aos campos de Palmas[4]. Como eram caçadores e coletores, o grupo vivia em movimento, e os acampamentos formados por construções de simples para-ventos, aproveitando ramos de árvores, que eram devidamente arqueados e cobertos de folhas de palmeira... quando o tempo era favorável, dormiam ao relento, com o fogo acesso durante toda a noite[5].

Na busca por respostas, o pesquisador Pe. Dorvalino Eloy Koch, também aborda o tema no livro “Tragédias Euro-Xokleng e o contexto”, enfatizando que o confronto entre colonos e “indígenas”, acontece diante de um quadro político do Império, colocando os imigrantes como encarregados de ocupar e “civilizar” a área. Assim, a figura do “bugreiro” aparece em nossa história, mais especificamente em 1905, quando uma expedição desfechou um ataque, enquanto os nativos dormiam, trazendo como troféu um menino que fora adotado pela família Schaefer, seu nome João Indaya Schaefer.

Voltando ao antropólogo Silvio Coelho dos Santos, devemos ter em mente que:

Os Xokleng formavam um povo. Tinha língua, cultura e território que os diferenciavam dos outros povos indígenas [...]. Se identificavam a si próprios como “nós” e, todos os demais estranhos, como os “outros”. O nome Xokleng é apenas uma palavra de seu vocabulário pela qual foram identificados na literatura antropológica. Regionalmente, continuam a ser Botocudos, em conseqüência do uso pelos homens de um enfeito labial, denominado tembetá, ou Bugres, termo pejorativo também dado pelos brancos. Atualmente, alguns índios preferem uma outra autodesignação, o termo “lacranon” que quer dizer “povo ligeiro” ou “povo que conhece todos os caminhos[6].



Vicente Só

A história de Brusque tem início nas terras localizadas à margem direita do rio Itajaí-Mirim. Neste local destinado à sede da Colônia Itajahy (Brusque), já havia a presença de outros imigrantes - que exploravam a extração de madeira, sendo Pedro Werner, Franz Sallentiem e Paulo Kellner. No entanto, não devemos nos esquecer de que Vicente Ferreira de Mello foi o primeiro a adentrar a mata e estabelecer moradia. Conta-nos a história que, “andando a caçar, achou o lugar muito bonito e fez um rancho no alto do morro em que hoje se vê a Igreja Católica”[7] por isso, a localidade ficou conhecida como Vicente Só.

Colonização Alemã

Frederico e Dorotéia Pöpper, no dia de suas Bodas de Ouro. Colonos originários de Oldenburg - Alemanha.
Fonte: MAHVIM

Em sua obra “A Colonização Alemã no Vale do Itajaí-Mirim: Um Estudo de Desenvolvimento Econômico”[8], a historiadora Giralda Seyferth dedica o primeiro capítulo para contextualizar a situação do campesinato na Alemanha, no início do século XIX, e afirma que as causas da imigração do camponês alemão se deu por causas tanto políticas quanto econômicas.

O período abordado compreende-se durante o processo de unificação do Estado alemão, que iniciou em 1848 e finalizou-se só em 1871; Seyferth nos informa que a Alemanha era fragmentada em vários pequenos Estados, cada qual com suas próprias características e organizações sociopolíticas

A principal atividade econômica era a agricultura, mas os camponeses não constituíam uma unidade, um modelo de produção: cada localidade tinha sua própria forma de organizar a propriedade da terra, podendo ser pelo arrendamento, empréstimo, posse temporária.

A terra era a principal fonte de subsistência para o camponês que:

Vivia dos produtos de sua terra, muito raramente, comia carne, alimentava-se de pão escuro, de queijo grosseiro, de papas de cevada, ou de aveia, de ervilha e de feijões secos e de algumas raízes... a introdução da batata desde 1770... atenuou muito os riscos de fome. O camponês produzia o que consumia, não só a alimentação, mas os têxteis: lã, cânhamo, e linho, e as mulheres fiavam e teciam.[9]
Vicente Kormann e sua esposa Agatha Baumgarter Kormann. Negociante e proprietário de fábrica de cerveja em Guabiruba. Originários de Badem - Alemanha.
Fonte: MAHVIM

Naquele período, os camponeses tinham que pagar pesados impostos aos proprietários da terra e ao fisco, que os levaram ao empobrecimento da população campesina. Também devemos considerar a fragmentação da propriedade rural, e o sistema de herança usado na Alemanha o anerbenracht.

Sobre o anerbenracht, Seyferth explica tratar-se de uma forma de herança que existia em algumas regiões da Alemanha, onde a terra era herdada pelo filho mais velho (ou mais novo, dependendo da região). O herdeiro poderia dispor das terras sem nenhuma obrigação para com seus irmãos. Aqueles que não recebiam terra poderiam trabalhar como assalariados para outras pessoas ou para o próprio irmão, ou ainda como proletário nas indústrias[10].

No segundo capítulo, a historiadora discute o povoamento do Vale do Itajaí-Mirim, informando que “a região banhada por este rio é muito montanhosa, com várzeas estreitas ao longo dos principais afluentes – os ribeiros do Cedro Grande e Limeira, na margem direita, e da Guabiruba, na margem esquerda.” A região se encontrava coberta pela mata atlântica, a exploração da madeira era uma opção viável, a autora desenvolve no terceiro capítulo que o colono aprendeu não só a cultivar as sementes e raízes da terra como a transformá-las: da mandioca produziam farinha; do milho, o fubá; da cana, o açúcar e a cachaça. Usavam para isso tecnologias como os engenhos e atafonas, que são dois diferentes tipos de moinhos. No princípio da colônia ambos eram movidos à água, posteriormente passou-se a usar tração animal para movê-los. Também devemos mencionar as serrarias, as olarias e as cervejarias.

A farinha de trigo era a base alimentar do alemão em sua terra natal. No Brasil, ao contrário, a farinha de trigo era escassa, sendo substituída pela farinha de mandioca e pela farinha de milho, o fubá. Destacam-se outras mudanças como: substituições de carne fresca, centeio, leite e queijos usados na Europa pelo charque e pelo feijão.


No ano de 1861, os colonos produziam legumes variados: arroz, milho, feijão, batata, inhames, mangaritos, taiá, mandioca e café. Dois anos depois era introduzido o cultivo da cana-de-açúcar, do algodão e do tabaco, ainda árvores frutíferas, sobretudo bananeiras e laranjeiras.

Giralda Seyferth define a vila, como Stadtplatz: uma cidade ou lugar de vida social e econômica, assim, nesse local vamos encontrar o Schützenverein: a Sociedade de Caça e Tiro, e tínhamos a Schützenfest... Mas havia também a Turnverein: associação de ginástica, a Sociedade de canto: Gesangverein...

Mas essa identidade alemã festejada representava a identificação Deutschbrasilianer (teuto-brasileiro). A valorização da língua alemã é um desses aspectos, que são discutidos na obra “Nacionalismo e identidade étnica: a ideologia germanista e o grupo étnico teuto-brasileiro numa comunidade do Vale do Itajaí”, de autoria de Giralda Seyferth. Nesse trabalho de pesquisa, a autora enfoca também os conflitos que aconteceram no período da Campanha de Nacionalização, iniciados em 1937, no ano de 1938, a meta era o fechamento das escolas alemãs, e em a ação repressiva com a participação do exercito em 1939, em Brusque, rádios eram confiscados, assim como publicações na língua alemã, falar alemão... Nem pensar!

Colonização plural: irlandeses, ingleses, norte-americanos...

Quando tratamos da entrada de imigrantes na Colônia Itajahy, não podemos deixar de citar a presença de nacionalidades diversas além do elemento alemão. Em documento oficial de 1864, ao Presidente da Província, o Barão Von Schneeburg relata que nessa data, os imigrantes de língua alemã eram a maioria na Colônia, sendo 619, vindos especialmente de Baden, seguidos dos prussianos em número 182. Além disso, o documento cita a presença de 11 holandeses, sete franceses, um suíço, 11 brasileiros, 11 portugueses, um sueco e um grego.

A partir de 1867 foram introduzidos, pela mesma política de imigração do Governo Imperial, imigrantes de outras partes da Europa, e também da América do Norte - destacando-se poloneses e irlandeses remigrados dos EUA, é o surgimento de uma nova colônia geradora de muita controvérsia e discórdia.

Sobre a Colônia Príncipe Dom Pedro, devemos registrar o belo trabalho de pesquisa “A Colônia Príncipe Dom Pedro: Um caso de política imigratória no Brasil Império” de Aloisius Carlos Lauth, que nos informa: irlandeses, americanos e ingleses formavam a maioria da população da colônia. Entretanto, em 1867 entraram nela também imigrantes alemães, escoceses, franceses, belgas, suíços, espanhóis, entre outras nacionalidades. A primeira leva de imigrantes americanos foi composta por 98 pessoas, que chegaram em 10 de março de 1867. Até o fim do ano, já haviam se estabelecido na Colônia Príncipe Dom Pedro, 474 imigrantes vindos dos Estados Unidos. Os imigrantes de outras procedências somavam 196 pessoas. Portanto, no primeiro ano de existência da colônia, 670 imigrantes foram estabelecidos.

Tabela com os dados imigratórios para a Colônia Príncipe Dom Pedro[11]:
p03_hist_img03.jpg[12]

Assim, podemos perceber a presença de diferentes elementos europeus. Mas devemos lembrar-nos dos luso-brasileiros na Colônia Itajahy (Brusque), e de moradores de ascendência africana na própria Colônia e região, basta para tanto um olhar mais atento. Dificuldades de toda ordem levaram ao abandono da Colônia que foi ocupada por poloneses, Em 1869, desembarcaram na Vila de Itajahy vinte famílias polonesas para se fixarem nas terras da Colônia Príncipe Dom Pedro. Vinte anos depois, em 1889, colonos naturais de Lodz, na Polônia, estabeleceram-se no lugar chamado Porto Franco, que na época era um distrito do município de Brusque e, atualmente é o município de Botuverá. Os poloneses trouxeram consigo a conhecimento dos teares e da fiação, e logo tiveram importância fundamental na fundação da indústria têxtil em Brusque, iniciativa de Carlos Renaux.

Colonização Polonesa

Recordação de Falecimento - Imigração Polonesa..
Fonte: CEDOM

Nesse sentido vale citar, a geógrafa e pesquisadora Maria do Carmo Ramos Krieger Goulart, que desenvolveu vários trabalhos como: “Raízes polonesas em Brusque”, “Imigração Polonesa em Brusque”, “Anotações de uma imigrante polonesa” e “A imigração Polonesa nas Colônias Itajahy e Príncipe Dom Pedro”, neste último informa que desembarcaram na Villa do Itajahy, 16 famílias da Silésia, região que se encontrava sob o domínio prussiano. Seu destino eram as terras da Colônia Príncipe Dom Pedro, nos idos de 1869. Registra a autora que foi nesse ano que ocorria o primeiro nascimento de imigrantes poloneses, tratava-se de Izabella Kokot, nascida em 12 de novembro de 1969, em Brusque.

No entanto, para confirmar sua presença nas terras de Príncipe Dom Pedro e, posteriormente, de Porto Franco (Botuverá), preferimos citar o livro “Dívidas Colonial”[13], que contém a relação nominal dos poloneses estabelecidos na região, como também a contabilidade de suas dívidas, a relação inicia-se em outubro de 1890 e continua até fevereiro de 1893:

  • Margem direita do Rio Itajaí-Mirim, Distrito Porto Franco: Adolfo Dereschefschi, Casimiro Borkewicz e Otto Gimbitzki.
  • Ribeirão da Areia, Distrito de Porto Franco: Alfredo Prigerowski, Guilherme Marczefeski, Miguel Walendowski, Stanislay Gerski.
  • Braço direito Ribeirão do Lageado Grande: Antonio Rogoski, André Schafreinski, Antonio Plowaczki, Carlos Lipowski, Francisco Mankowski, Francisco Schafreinski, Julio Wosniak, José Blakowski, Martin Twadowski, Nicolau Witkkowski, Pedro Simianowski, Stanislau Rosiczki, Theophilo Thelimkowski, Vicente Drzewinski e Woiczek Przibilski.
  • Braço esquerdo do Ribeirão do Lageado Grande: Antonio Pesczinski, André Falkowski, Alvin Nasgewicz, Clemente Soboleski, José Narolski, João Maruszewski, Miguel Zabelski, Stanislau Kotowski, Stanislau sabelski, Stanislau Dolinski, Wadislau Kotowski.
  • Linha Águas Claras, Distrito de Porto Franco: Francisco Falkowski.
  • Linha Águas Negras: Frans Jagesfski, José Przinski e João Kreibisch (nesta localidade requereu lotes Frederico Klappoth)

Colonização Italiana

Imigração Italiana. Sentados Rosa Caresia Colombi e Stefano (Estevão) Colombi (5.6.1898), Rosa Tereza Colombi (6.3.1903) e as crianças Maria Colombi Pezzini e Dionízio Luiz Colombi.
Fonte: CEDOM

No entanto, o ano de 1875, marca o fluxo de uma grande corrente imigratória, era a colonização italiana. Informa-nos a autora Roselys Isabel Correia dos Santos no livro “A colonização italiana no Vale do Itajaí-Mirim”, que “na direção do atual município de Botuverá, antigo Porto Franco, no médio vale, em terrenos que constituíram a antiga Colônia Príncipe Dom Pedro, os mesmos que foi canalizada a maioria dos imigrantes italianos”, no entanto, os terrenos eram poucos aproveitáveis para a agricultura, destaca-se a exploração da madeira.

Também é de sua autoria o livro “A terra prometida: imigração italiana: mito e realidade”, Roselys percorreu o Itália, desenvolveu pesquisas jornais analisando os discursos sobre a imigração da época, como também discorreu sobre o mito da cocanha: “a terra onde corre leite e mel”.

As localidades ou linhas de colonização onde inicialmente estabeleceram-se os colonos italianos foram Azambuja, Poço Fundo e Águas Claras. Também foram ocupadas as margens do Ribeirão Alferes, no Vale do Rio Tijucas, onde foi criado o núcleo Nova Trento. Mais tarde, ocuparam as terras da extinta Colônia Príncipe Dom Pedro, nas localidades compreendidas entre Cedrinho e o distrito Porto Franco, atual Botuverá. Nesta síntese histórica, vamos focar o Vale de Azambuja e Botuverá.

Caminho do Meio ou Valata Azambuja

Vista de Azambuja em meados de 1950.
Fonte: MAHVIM

Conta a história, registrada pelo Pe. José Artulino Besen, que lecionava história Eclesiástica no Instituto Teológico de Santa Catarina, e autor do livro “Azambuja 100 anos do Santuário”, que:

As famílias vindas do distrito de Treviglio (Itália), no dia 22 de outubro de 1875, para emigrarem para o Brasil, depois de embarcarem em Le Havre (França), combinaram entre si que ficariam sempre unidas. Para isso levaram uma Igrejinha ou Capela em honra da “Madona de Caravaggio.[14]

Infelizmente, alguns não se agradaram do vale que os esperava. Diante das possibilidades, alguns optaram por outras Províncias, até mesmo pela Argentina. No entanto, nove famílias de colonos instalaram-se no vale de Azambuja, a saber: as famílias de Pietro Colzani, Girolamo Tomasini, Angelo Colzani, Paolo Benaglio, Angelo Bosco, Francesco Leoni, Carlo Franziosi, Dalmazio Paoli e Antoni Vanolli[15].

Em maio de 1876, esses colonos receberam 16 lotes coloniais, ao longo do ribeirão Azambuja, terras que se situavam a três quilômetros da sede da Colônia, num vale conhecido na época como Caminho do Ribeirão, também chamado Caminho do Meio, e mais tarde, denominada Valata Azambuja (provavelmente em homenagem ao diretor do departamento de terras, Conselheiro Bernardo Augusto Nascentes d’Azambuja).

Besen, afirma ainda que “com a construção do Hospital e Hospício (1907-1911), fizeram-se muitos aterros, cobrindo-se boa parte dos pântanos que ocupavam as terras”[16]. Talvez a lembrança mais marcante de Azambuja, é sua famosa festa, ansiosamente aguardada pelo inusitado movimento que trazia à cidade. Ao visitar o site, que descreve o complexo de Azambuja, percebemos que:

Uma comunidade de fé, um centro de peregrinação (Santuário – Gruta – Morro do Rosário), um espaço cultural (Museu), um centro de formação e educação (Seminário), uma valorização da terceira idade (Asilo) e um trabalho permanente em favor da vida (Hospital). A primeira festa de Nossa Senhora de Azambuja aconteceu no ano de 1900. A festa é celebrada todos os anos no 3º Domingo de agosto, desde o ano de 1985, com a devida anuência da Santa Sé, de Roma e também devido à lei dos feriados em todo o Brasil, que retirou o dia 15 como feriado. No entanto, para muitos cristãos católicos a data oficial, continua sendo 15 de agosto.[17]

Porto Franco (Botuverá)

Porto Franco (Botuverá)- 1920 - Igreja sem torre. Ao lado da Igreja, escola de madeira com grande varanda.
Fonte: CEDOM

Quando focamos o ano de 1876, percebemos que este anunciava novas dificuldades, levas de imigrantes se encaminhavam para a Colônia Itajaí-Príncipe Dom Pedro, este é o tema abordado nas primeiras páginas do livro “Memórias de Porto Franco... Botuverá: a sua história”, de autoria do historiador Marlus Niebuhr.

Devemos enfatizar que, nessa fase do processo de colonização, restavam poucas terras favoráveis para a agricultura, sendo os imigrantes direcionados a ocupar, os terrenos montanhosos, portanto bastante acidentados. Para tanto buscamos as palavras do engenheiro Max J. Schumann, que andou pelas paragens da ex-Colônia Príncipe Dom Pedro, em 1907; zeloso para que os colonos aproveitassem melhor suas terras, sugere:

sendo a cabra a “vaca dos pobres”, arbitrei os potreiros cheios de gado vacum como agradável sinal de certa riqueza dos moradores, mas não quero deixar despercebida a ocasião para chamar a atenção daqueles moradores para a grande importância da criação caprina nesses morros quase inacessíveis e toda a vida impróprios para a lavoura.[18]

Parafraseando o linguajar do mesmo, será ‘nestes morros quase inacessíveis’, que distanciam 30 quilômetros da sede colonial que irá se instalar, o povoado de Porto Franco.

Quanto aos primeiros habitantes encontramos a citação das famílias: Morelli, Molinari, Colombi, Maestri, Paini, Pedrini, Rampelotti, Dognini, Tirloni, informação esta, colhida por meio da memória de Dionísio Pedrini[19]. Para acrescentar a esta listagem, podem ser elencadas as famílias: Bosio, Venzon, Bonomini, Aloní, Gianesini, Betelli, Raimondi, Tomio e Comandolli, de acordo com Bonomini[20] eram ao total 33 famílias a se estabelecerem na região. Em nossas pesquisas, nos deparamos com uma bela surpresa, quando da visita a residência do Sr. Vitro Bambinetti, este nos apresentou anotações escritas ‘nas costas de um velho calendário’, vejamos:

Os primeiros imigrantes a chegar em Porto Franco foram: Pedro Maestri, que tinha os filhos: José Carlos, Rosa Pepina e Maria. Veio também, Carlo Maestri e Joani Maestri, Vitório Cestari, Vitório Zanca, João Morelli, Pascoal Dalmolini, Alexandre Tirloni, Vitório Cestari e outros. Havia um português chamado José Crest, este foi a ‘salvação dos primeiros’, pois ele tinha construído uma canoa feita a machado e começou a buscar o que era mais necessário como sal e querosene, na vila [...][21]

O que cabe destacar, particularmente na região de Botuverá, é a colocação feita por Max J. Schumann, que a descreve como ‘região montanhosa’, e distante da sede do município, assim, a extração da madeira representava uma alternativa para a sobrevivência da família, “especialmente a de madeira de lei, canela e peroba.[22]

A este breve relato sobre Botuverá, poderia somar outras histórias, como: da busca pelo ouro, da exploração da cal e do calcário, do cotidiano, da religiosidade popular. Ou ainda, registrar as narrações da descoberta das famosas cavernas de Botuverá, e assim, comentar da beleza natural do município, com seus riachos e corredeiras. Atualmente encantam os turistas a junção dos atrativos naturais a tradição culinária das festas típicas da região. Aconselhamos, a leitura de outros artigos, elaborados neste site complementares ao tema.

Engenhos de Serrar

O pesquisador e estudioso da história brusquense Ayres Gevaerd, nos informa em seu texto “As balsas do rio Itajaí – Mirim”, publicado na Revista Notícias de “Vicente Só”, que:

no período de 1870-80, com a chegada das primeiras levas de imigrantes italianos, instalados nas linhas Ouro, Porto Franco, Águas Negras, Limeira e Lageado, as derrubadas tomaram intensidade principalmente nas terras compreendidas entre as confluências dos ribeirões das Águas Negras e Thieme com o Itajaí-Mirim.”O texto nos informa ainda que eram “raros os italianos com recursos próprios para a montagem de engenhos de serrar; encontraram porem apoio em comerciantes da sede. Multiplicando-se os engenhos nas linhas mencionadas, o desmatamento atingiu proporções enormes e desordenadas. O respeito aos limites dos lotes raramente era observado e as derrubadas só paravam na ultima caneleira ou perobeira. Atendidas as necessidades locais, procuraram os comerciantes, com bons lucros, a exportação, comércio liderado por João Bauer, dono de muitos engenhos e de 2 barcos no porto de Itajaí.

Abastecimento de Água e Energia Elétrica

Cabe aqui o registro da figura de João Bauer, pioneiro em vários empreendimentos, como o projeto de instalação da rede d’água particular em Brusque entre os anos de 1907 e 1910, como também da instalação de uma usina hidroelétrica em Brusque em 1913. Estes e outros fatos são narrados no livro “João Balthasar Bauer III ou apenas João: uma luz do passado”, do pesquisador Quido Jacob Bauer.

Quando do Cinquentenário da inauguração da Usina Hidroelétrica que ocorreu em 13 de novembro de 1963, foi um inaugurado um busto na colina da caixa d´Água, de autoria do escultor de Pomerode, Erwin Curt Teichmann, com os seguintes dizeres: “ Homenagem do Município e dos descendentes de João Bauer – pioneiro do abastecimento de Água e Energia Elétrica de Brusque – 1849 -1931”.

Outros Engenhos... Outras Histórias...

As rodas d'água moviam os engenhos.
Fonte: CEDOM

Explica o historiador Ivan Carlos Serpa, em seu livro “Os engenhos de Limeira: História e memória da imigração italiana no Vale do Itajaí”, explica que a técnica de produção de farinha de mandioca era utilizada pelos imigrantes açorianos em Santa Catarina, e que o engenho “não é apenas uma máquina de fabricar farinha de mandioca, ele também pode produzir, açúcar, aguardente, energia elétrica, moer café, milho etc..” Cita que, na ocasião de sua pesquisa existiam na Limeira Alta, os engenhos de “Osvaldo Fusão, Bento Joanini, Teodorico Lana, Arnoldo Forbes, Martinhano Bertolini, Arno Pretti, Dalério Caviquiolli e Rosa Dallago Benvenutti. Sendo que o engenho deste último transformou-se em ponto turístico com a criação da “Festa da Farinha”[23].

Os engenhos fazem parte da história de Brusque, quando criança lembro-me de como me fascinava a roda d’água do engenho de meu avó. As brincadeiras entre as belas engrenagens que retratavam as mãos hábeis de nossos carpinteiros. Depois aprendi, escutando tantas histórias, que os engenhos guardavam outras memórias:

Oh, mandioca! [...] Meu pai pegou plantar mandioca, muita rama. Eu já com treze anos já era profissional para tirar. Eu vinha ferver açúcar até ali, ali no Próspero Cadore, é pra lá ainda, no outro lado não tem um engenho velho naquele outro lado lá? Lá eu ia fazer. Buscar farinha de milho, quando ninguém tinha nada, era ali atafona, era ali o engenho, era ali tudo... Só que lá engenho de cana, engenho de farinha, essas coisas nós tínhamos... Depois meu pai botou pra moer milho, depois tinha tafona, tinha de tudo lá em cima [...].José Petri – Arquivos do CEDOM.
O engenho de serra! Com uma roda bem grande, movida a água. Tinha um tapume, um ladrão, que levantava e ali vinha aquela pressão da água que tocava a roda. A roda movimentava todas as outras rodas que tocavam a serra. Era bonito. Queria ver aquilo funcionando. Era tudo com força de braço para empurrar os rolos em cima. Aquelas alavancas para botar no lugar, embaixo da serra, meu irmão com 14 anos já era serrado [...]. Adelina Petri – Arquivos do CEDOM.
Dançavam no chão do engenho mesmo. Como esse aqui! Tudo iluminado com luz de lamparina. As moças usavam vestidos longos. Nem todas podiam usar sapatos, havia muita pobreza. Mas todo sábado tinha baile, depois do serão, no tempo da farinhada. Dalério Caviquiolli - (Os Engenhos de Limeira, p.87)

Industrialização - Renaux, Buettner e Schlösser

Praça principal de Brusque em 1905, ao centro casarão da família Renaux.
Fonte: MAHVIM

João Bauer, em 1890, desenvolveu a primeira tentativa de produção de tecidos no município, contando com ajuda dos imigrantes poloneses, conhecidos como tecelões de Lodz. A segunda tentativa que logrou êxito aconteceu com o apoio de Carlos Renaux, comerciante, que instalou teares de madeira rústicos, construídos pelos próprios poloneses, dentro do depósito de sua casa de comércio em 1892, fundando a Indústria Têxtil de Brusque (Fábrica de Tecidos Carlos Renaux S.A).

Primeira Tinturaria instalada na fábrica Renaux.
Fonte: MAHVIM

Segundo a historiadora Maria Luiza Renaux, em seu livro “Colonização e Indústria no Vale do Itajaí: o modelo catarinense de desenvolvimento”, o comerciante e posteriormente industrial Carlos Renaux “empregou princípios comerciais até então desconhecidos, ou melhor, não usados no local, ao substituir a troca em espécie das mercadorias por dinheiro, e ao imprimir maior exatidão a essas trocas, pesando os produtos agrários e escrevendo a diferença favorável aos colonos, no crédito destes.[24]” Para a autora, o aparecimento da indústria na colônia de Brusque, corresponde às diferentes etapas da imigração. Assim, os comerciantes das primeiras levas, não haviam vivenciado o trabalho industrial em sua terra de origem. A pesquisadora salienta ainda que o ano de 1880 foi um marco na abertura e no desenvolvimento da economia catarinense.

Saída de operários da IRESA em meados de 1950.
Fonte: MAHVIM

A historiadora Maria Luiza descreve em seu livro “O outro lado da história: o papel da mulher no Vale do Itajaí 1850 – 1950”, que:

Depois que Carlos Renaux fundou sua fábrica de tecidos, separou-se, como era a regra, o local de trabalho do local de moradia da família. A casa e a venda permanecem no centro da cidade e o edifício da fábrica foi construído 3 km além, próxima a uma fonte d’água, necessária para a geração de energia para os teares. [...] Em 1900, numa atitude pioneira e com o aval de seu compadre, João Bauer, um dos comerciantes mais fortes da região, conseguiu importar a primeira fiação de algodão para o sul do Brasil.[25]

Para a historiadora Giralda Seyferth o desenvolvimento das indústrias foi ocasionado pelo acúmulo de capital proveniente do comércio. Assim, os vendeiros eram as únicas pessoas que tinham possibilidade de acumular capitais em maior escala dentro do sistema colonial. Nesse sentido, escreve a autora sobre os elementos motivadores para a instalação da primeira fábrica por Carlos Renaux: “os altos preços das roupas e tecidos em todas as áreas coloniais e as probabilidades que tinha, como vendeiro, de garantir um mercado seguro para sua produção na própria colônia [...][26]”.

Controvérsias a parte, o fato é que em 1898, tivemos o início das atividades da Buettner S.A Indústria e Comércio, tendo como fundador Eduardo Von Buettner, que se especializou na fabricação de bordados finos. Em 1911 tivemos a fundação da Cia. Industrial Schlösser, voltada para tecidos populares e toalhas de mesa e rosto. A modernização do parque industrial dá-se com a inauguração da usina elétrica, construída na Guabiruba Sul, em 1913, como já vimos. Também tínhamos nos idos de 1950, indústrias alimentares, de bebidas e refrigerantes, extrativistas mineral e vegetais, fecularias, móveis e esquadrias...



Movimento Operário

Em 1º de maio de 1933, realizou-se o I Baile Operário, em comemoração ao Dia do Trabalho. Surge as figuras de José Walendowsky, Rodolpho Orthmann e Manuel dos Santos, que lançam a ideia de criar a “Liga Operária Brusquense”. Mesmo com chuva, muitos se empolgaram e organizaram uma passeata matinal no centro da cidade. Esta é a origem do “Syndicato dos Operários de Brusque”, escreveu o pesquisador Aloisius Carlos Lauth.

Em 1952, estoura um movimento grevista, que irá marcar a história, quem primeiro explora o tema é o historiador Afonso Imhof, no texto “Conflito industrial e populismo em Brusque”, mais tarde o historiador Marlus Niebuhr, desenvolveria o projeto, que virou o livro “Ecos e Sombras: memória operária em Brusque – SC, na década de 50”. O tema da greve de 1952 foi o fio condutor que envolveu toda a obra, a greve envolveu aproximadamente 4.000 trabalhadores, o movimento iniciou-se em 19 de dezembro de 1952 e perdurou até 26 de janeiro de 1953.

O livro procura perceber o dia a dia de operários e operárias, alimentação, lazer e trabalho. A cidade de Brusque era conhecida pelo vai e vem dos operários em suas ruas, longe de um olhar idílico, o percurso que não era tão fácil quanto imaginamos! Vejamos as falas de alguns entrevistados[27]:

Eu vinha de Dom Joaquim a pé, de bicicleta, depende [...] era longe, 12 km, não vinha só eu não, vinham muitos operários daquela região [...] quando estava na 1ª turma, saía de casa às três e meia da madrugada. Se tivesse chovendo, saia de calça arregaçada; atolado, ás vezes, mais de um palmo acima do pé [...]Sr. Henrique Dias
Eram 3 horas da madrugada, escuro..., escuro, já era hora de trabalhar. Eu não via nem a estrada, mas ia!!! De repente, entrei com a bicicleta atrás de um cavalo!! !Me deu um coice!!! Cheguei na fábrica toda machucada, me mandaram pro ‘Dr. Nica”, quando cheguei em casa minha mãe se assustou. Sra. Iracema Erthal
Era tão escuro, o centro da cidade com neblina, que nós saíamos mais cedo para trabalhar [...]. Para não batermos um com o outro, acendíamos dois cigarros e colocávamos um em cada mão, assim o vento ia fazendo o fogo ficar, ‘vivo’. Quem não fumava, cantava e assobiava [...] Sr. Rigon Niebuhr

Esportes, Músicas, Festas e Lazer... Em outros tempos!

Brusque nas primeiras décadas do século XX. Destaca-se as torres da Igreja Católica e da Igreja Luterna.
Fonte: MAHVIM

Para aqueles que buscam a pesquisa, vale citar o “Álbum do 1º Centenário de Brusque”, publicado pela Sociedade Amigos de Brusque, durante as comemorações do Centenário de Brusque, foram especialmente consultados os textos “As Sociedades Esportivas, Recreativas, Culturais, beneficentes, de classe e militares de Brusque”, “História da Música em Brusque”.

Clube Atlético Carlos Renaux - Campeão Catarinense em 1950.
Fonte: MAHVIM

Em 14 de setembro de 1913 foi fundado o Sport Club Brusquense. Os brusquenses marcavam presença nos torneios de futebol, nos bairros da cidade, nos inesquecíveis clássicos do Clube Atlético Cônsul Carlos Renaux e Clube Esportivo Paysandu.

Sede do Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque.
Fonte: MAHVIM
Bráulio Mattiolli e neto exibem um belo cascudo.
Fonte: CEDOM

Domingo era o dia do lazer, com famosa a tarde dançante ou “domingueiras”, também os concorridos bailes de salão, com as bandas da cidade, como: a Banda Musical Concórdia, Jazz-Band América, Jazz-Band Chopp Com Rosca, Jazz Band Ideal, entre outras. Sobre a música e o fazer musical em nossa cidade como esquecer a figura de Aldo Krieger, que em 1929: cria o primeiro Jazz Band de Santa Catarina: o “Jazz Band América” que atuou de 1929 – 1940. Em 18 de novembro de 1954 desenvolve um novo empreendimento: funda o Conservatório de Música de Brusque. Aldo Krieger foi violinista, compositor e regente. Em 17 de março de 1928 nasce em Brusque, Edino Krieger, que projetou o Brasil no cenário musical, autor de diversas composições e ganhador de vários prêmios...

Domingo também era o dia do famoso “fazer avenida”, um desfile das moças pela rua central da cidade, atraindo o olhar dos jovens. Nesse contexto, surge o cinema, como não se lembrar do olhar sempre presente dos lanterninhas... E como esquecer a Matinê!

A Sociedade de Caça e Tiro foi a principal das sociedades da época. Basta dizer que sua fundação data de 16 de julho de 1866, o mais antigo do Brasil. O salão da Schützen-Verein foi palco para apresentações artísticas, danças, festejos variados. A Schützenfest (Festa do Tiro) era a maior festa da colônia. O segundo dia de Páscoa era ansiosamente esperado pelos atiradores que se reuniam em frente ao Hotel Zum Deutschen Kaiser, ponto de encontro dos descendentes de alemães de Brusque. Marchavam garbosos, ao som da banda que marcava os passos do pelotão... A meta: ser o “rei do alvo”!

Veio na bagagem da imigração italiana, o popular bocce, conhecido popularmente por jogo de bocha. O jogo é tratado no livro de Walter F. Piazza, “Folclore de Brusque”, o qual nos informa que: “trata-se de um jogo de cancha, local preparado e cercado por madeira, com duas cabeceiras altas e cantos para ricochete [...] quinze ou vinte metros de comprimento por três de largura, onde dois ou quatro parceiros, munidos de doze bolas de madeira (bochas), tendo como alvo uma bola menor (bolim), disputam as partidas.” Para as crianças, escreve Piazza, os jogos eram outros, os meninos: a funda (estilingue), o bodoque (similar ao arco), o papagaio, o pião e a peteca... As famosas “clicas”, bolinhas de vidro, e o jogo da “boca”.... E as meninas: com amarelinha, ovo-chôco...

A cidade era movimentada por Circos e palhaços... Touradas!Nos finais de semana tínhamos as pescarias dos “carás de meio quilo” e dos muitos cascudos.... Houve tempo, de apostas e das famosas corridas de cavalo!

Para os namorados os passeios de carro de mola pelas pacatas ruas da cidade... A famosa “Rua da Fábrica”, hoje 1º de Maio, com suas azaléias e paisagens tranquilas, ou quem sabe uma visita ao calmo Vale de Azambuja... Uma cidade, outros tempos.

O Centernário e os Jogos Abertos (1960)

Jogos Abertos de 1960.
Fonte: MAHVIM
Praça central da cidade em 1960.
Fonte: MAHVIM

A história dos preparativos das comemorações do Centenário, pode ser sinalizado com a fundação da Sociedade Amigos de Brusque em 4 de agosto de 1953, ideia acalentada pelo senhor Ayres Gevaerd, um dos sócios fundadores dessa entidade, que se responsabilizou pela organização de um livro sobre a história de Brusque, confiando esse trabalho ao historiador Dr. Osvaldo R. Cabral. Em famosa reunião de 28 de maio de 1957 houve a Constituição das subcomissões responsáveis por diversos segmentos das comemorações.

Símbolo do IV JASC.
Fonte: MAHVIM

Foram frutos desse esforço, os livros: "Brusque - subsídios para a história de uma colônia nos tempos do Império” (1958), de Osvaldo Rodrigues Cabral, “Folclore de Brusque - estudo de uma comunidade” (1960), de Walter F. Piazza, e o Álbum do Centenário de Brusque (1960).

A parte histórico-cultural do município recebeu um grande apoio dos florianopolitanos, já no início das mobilizações pró Centenário:

Uma das notícias mais auspiciosas foi comunicada na reunião conjunta de 19 de novembro de 1957. O achado em Florianópolis, no Departamento de Terras e Colonização, de documentos originais relacionados com a Colônia Itajay - Brusque dos anos 1860 e 1877 e jornais com amplas notícias da colonização"[28].

Fez parte dos festejos: a inauguração do Grupo Escolar “Dom João Becker”, do “Museu Arquidiocesano Dom Joaquim”, o desfile “Retrospectivo 100 anos” e o belo “Parque do Centenário”.

Entre tantos outros movimentos, devemos especialmente destacar a criação dos JASC. Em 1956, o brusquense Arthur Schlösser foi até São Paulo e colheu informações sobre os Jogos Abertos do Interior que estavam acontecendo na região. Seu intuito era o de trazer para Santa Catarina competição semelhante. E, assim, o fez. Persistente, Arthur, falecido em 1969, ficou conhecido como o pai dos Jogos Abertos de Santa Catarina. O Sr. Rubens Facchini, em entrevista destacou que Arthur não gostava de títulos que o vangloriassem. “Ele nunca quis saber de uma menção do que ele fez, nada... Era uma figura ímpar”.

A grande preocupação dos organizadores dos primeiros Jogos Abertos de Santa Catarina era em relação à comunicação, ao contato com as outras cidades, segundo o Sr. Facchini: “As estradas eram precárias, as correspondências iam do correio para as prefeituras, mas Artur fazia questão de mandar mensageiros. Entre os quais, com muita emoção e orgulho, eu fui um deles. Ele pedia para levar material, cartazes e explicar como seria a competição porque era uma coisa nova, não havia estrutura de prefeitura como há hoje”.

Referências

  1. CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Brusque: subsídios para a história de uma colônia nos tempos do Império. Brusque: SAB,1958.p.03.
  2. Site Artimanha. Disponível em <http://www.artimanha.com.br/Historia%20naval/Riachuelo/Riachuelo.htm>.
  3. SANTOS, Sílvio Coelho dos. Índios e brancos no sul do Brasil: a dramática experiência dos Xokleng. Porto Alegre: Editora Movimento. 1987.p.30.
  4. SANTOS, Sílvio Coelho dos. Os índios Xokleng: memória visual.Florianópolis: Ed. da UFSC, Ed. da Univali,1997.p.15.
  5. Idem. p.16.
  6. Idem. p.16.
  7. Jornal Novidades, de Itajahy, 23/06/1907.
  8. SEYFERTH, Giralda. A Colonização Alemã no Vale do Itajaí-Mirim: um Estudo de desenvolvimento econômico. 1ª Edição. Porto Alegre: Editora Movimento/ SAB, 1974, p. 19 à 30.
  9. BIANQUIS. Apud SEUFERTH, Op Cit, p. 21.
  10. Seyferth. Op Cit. p. 23
  11. LAUTH, Aloisius. “A Colônia Príncipe Dom Pedro: Um caso de política imigratória no Brasil Império”Anexos.
  12. Imigrantes de Diversas Nações Compreendem: Suecos, Dinamarqueses, Noruegueses, Canadenses, Austríacos.
  13. Utilizamos aqui da relação já apresentada por Maria do Carmo Ramos Krieger Goulart. In: Raízes polonesas em Brusque. Florianópolis: Imprensa Universitária da UFSC, 1989.pp. 17 à 20.
  14. BESEN, José Artulino. Azambuja: 100 anos do Santuário. Brusque(SC):Ed. do autor, 2005,p.16.
  15. Idem.Ibidem
  16. Idem.Ibidem. p.17.
  17. Azambuja. Disponível em <http://www.azambuja.org.br/>
  18. Max Schumann
  19. </refEntrevistado por Roselys C. dos Santos em 25/01/1979. In: SANTOS, Roselys Izabel Corrêa dos. A colonização italiana no vale do Itajaí-Mirim. Florianópolis: Edeme, 1981. p.18.
  20. BONOMINI, Pedro Luiz. Pequena História de Botuverá. Brusque: Gráfica Mercúrio Ltda, 1975, pg.17.
  21. BAMBINETTI, Vitro. Entrevistado em 03 de setembro de 1999. Botuverá, arquivos:CEDOM.
  22. Idem.
  23. SERPA, Ivan Carlos. Os engenhos de Limeira: história e memória da imigração italiana no Vale do Itajaí. Itajaí: Editora da Univali, 2000.
  24. HERING, Maria Luiza Renaux. Colonização e Indústria no Vale do Itajaí: o modelo catarinense de desenvolvimento. Blumenau: Ed. da FURB, 1987, p. 75.
  25. RENAUX, Maria Luiza. O outro lado da história: o papel da mulher no Vale do Itajaí 1850 -1950.Blumenau: Ed. da FURB, 1995,p.172.
  26. SEYFERTH, Giralda. A colonização alemã no Vale do Itajaí-Mirim: um estudo do desenvolvimento econômico. Porto Alegre/Brusque:SAB, 1974.p.124.
  27. NIEBUHR, Marlus. Ecos e Sombras: memória operária em Brusque – SC na década de 50.Itajaí: Editora da Univali, 1999.pp 65 á 69.
  28. Notícias de “Vicente Só”. Nº11, Ano III. p.79.

Ligações externas