São João

De Sala Virtual Brusque
Revisão de 16h06min de 25 de julho de 2012 por Alicas (discussão | contribs)
Ir para navegaçãoIr para pesquisar

Vivências: histórias de bairro (da exclusão a participação)[1]

  • Marlus Niebuhr, Historiador[2]

A data de 12 de agosto de 1998, marcaria o início do projeto Bairro & Memória, desenvolvido pelo Centro de Documentação Oral e Memória – CEDOM, localizado nas dependências da FEBE, hoje Unifebe.

O projeto, foi desenvolvido primeiramente no Bairro São João, na ocasião foi estabelecido um contato e autorização com Prefeitura Municipal de Brusque, para a realização das pesquisas. A primeira reunião na Escola Isolada Cedro Alto, marcou o contato inicial com os professores e, portanto a primeira discussão em grupo sobre a possibilidade da realização da pesquisaErro de citação: </ref> de fechamento ausente para a marca <ref>, neste sentido cabe ao entrevistador, ao pesquisador a sublime “disposição para ficar calado e escutar”[3]. Assim, após este primeiro encontro, optou-se então, por centralizar o foco das atividades nas escolas locais, que se transformariam em espaços de discussão e debate.

Inicialmente, as professoras do Bairro São João, começaram a despertar nos alunos a importância do estudo da história da local onde viviam, incentivando-os a pesquisarem a respeito; não tardou muito, e as informações começaram a surgir: a chegada dos imigrantes, as primeiras atividades econômicas, as dificuldades de sobrevivência, a fauna e a flora, bem como os sonhos desses camponeses, na sua maioria avos e avós destes pequenos pesquisadores. Despertado o interesse dos alunos cada escola acabou se transformando em local de exposição dos trabalhos e um espaço privilegiado na comunidade.


Escola Isolada Cedro Alto: a sala de aula virou local de exposição, dia após dia, chegavam à escola objetos antigos como gamelas de madeira, pilões, balanças artesanais, moedor de pimenta, máquinas de costura, lampiões, brinquedos... Também foram coletados documentos como: certidões de nascimento e fotografias. Segundo, a diretora da época Neuza Sapelli Teixeira, “faltou espaço na sala de aula para colocar tudo... eles perguntavam como era a vida antigamente, o que faziam, como trabalhavam, como era a escola, sobre as distâncias e como se locomoviam...[4] Assim, foi criada uma exposição no interior da escola com o material coletado nas pesquisas, como nossa equipe ainda estava sendo formada, apelamos para o trabalho voluntário, e chamamos alguns colaboradores, dentre os quais o Prof. Honório Bertolini, que documentou em vídeo a exposição, os resultados impressionaram tanto que “criamos tempo e condições” para continuar gravando o andamento da pesquisa, na época a Fundação Educacional de Brusque, hoje Unifebe, nos possibilitou o suporte de todo o material necessário para o prosseguimento da pesquisa, bem como “nosso quartel general” onde ficava localizado o CEDOM, como também equipamento de informática.

Munidos de vontade e incentivo, angariamos equipamentos e partimos para o campo de pesquisa, um dos momentos mais cativantes, foi quando saímos com os alunos para visitarmos a comunidade; a tarde encontrava-se chuvosa, mas o animo destes pesquisadores mirins estava radiante, a estrada ficou pontilhada de sombrinhas coloridas e guarda-chuvas. Nós corríamos para acompanhá-los; primeiro visitamos uma das residências mais antigas da localidade, que aguçava a curiosidade dos alunos fazia muito tempo... Enquanto explorávamos o local, nosso convidado “nono Pino”, como é conhecido carinhosamente José Tamasia, chegou para dar explicações e contar suas histórias... a chuva amainou e agrupados em torno de uma cruz erguida por missionários católicos, os alunos se dispuseram em círculo; rapidamente uma das professoras emprestou uma cadeira de um dos vizinhos mais próximos para alojar nosso convidado especial. Atentos, descobrimos que nono Pino havia nascido em Botuverá a 18 de março de 1908, e que decidiu ir morar no bairro (região do Cedro), pois seu irmão o convencera que “no Cedro a terra era boa... e ficava mais perto da cidade...” 2. A cidade em questão é Brusque, localizada no curso do Rio Itajaí-Mirim, fundada a 04 de agosto de 1860, a 38 quilômetros da cidade portuária de Itajaí situada no litoral catarinense. Mas, voltemos ás histórias de “nono Pino”, o corte da madeira e o rio são lembranças recorrentes e continuamente reafirmadas: “cortava madeira a uma distância de 4 quilômetros do rio... Puxava com zorra de boi até o rio... Amarrava a madeira com uma corda de casca... Tirava com a ponta da faca a casca que depois de molhada virava uma corda.Erro de citação: </ref> de fechamento ausente para a marca <ref> Em seguida, foi possível observar a técnica do trabalho artesanal na madeira nas engrenagens minuciosamente talhadas, e a bela roda d’ água que colocava o engenho em funcionamento. Nesta etapa das visitas os alunos já se comportavam como verdadeiros pesquisadores, acompanhando nossas atividades entrevistavam moradores, fotografavam e faziam perguntas. Descobriram a importância do fumo na economia recente da região e detalhes de como colher e preparar as folhas para a revenda.

Com os alunos das escolas multisseriadas realizando um levantamento de dados na região, as pesquisas constatavam o que o senso comum apontava, o grande fluxo de imigrantes italianos para a formação do bairro, examinando as fichas, encontramos os sobrenomes mais comuns na localidade, por exemplo Stofela, Sapelli, Vailati, Testoni, Contesini, entre outros. Mas a curiosidade dos alunos foi além, e foram levantados pontos negativos e positivos do bairro. A busca pela identidade italiana se fortaleceu pois queriam conhecer seus antepassados e saber porque saíram da Itália, queriam saber mais...

Considerações

Gostaria de encerrar relembrando a grande exposição que foi realizada na Escola Isolada Cedro Alto, com a ajuda de toda a comunidade. Como foi nosso primeiro trabalho, é certo que marcou de maneira especial à vida de quem dele participou, e assim passo a retratá-lo: toda a comunidade foi engajada ao evento, inclusive a Associação de Bairro; as salas de aula e os corredores se transformaram em espaços que refletiam a cultura local. Grandes painéis retratavam os passos da pesquisa, expondo trechos de entrevistas e fotografias dos momentos marcantes do projeto; os objetos das três exposições foram reunidos e outros acrescentados, pouco a pouco, os convidados de honra foram chegando, aqueles que deram sua voz a esta pesquisa, a saber, os avós, tios, pais, primos e primas dos alunos que desenvolveram este trabalho. Depois da apresentação da diretora e das explanações sobre o projeto, a comunidade foi convidada a assistir o vídeo por nós produzido, por cerca de sessenta minutos devolvíamos à comunidade as informações que ela havia nos presenteado com tanto carinho e esforço.

Ao ligar o aparelho de TV, não havia mais lugar na sala de aula escolhida para a apresentação. As crianças ocupavam o chão, mas, apesar da aparente confusão, se fez silêncio quase solene, cada imagem refletia a emoção no rosto daqueles que participaram da pesquisa, lágrimas rolavam vez por outra e eram rapidamente escondidas com um gesto de mão, crianças se ruborizavam e se escondiam envergonhadas, mas surgia em seus lábios um sorriso maroto. Percebia-se o orgulho e a satisfação por onde corríamos os olhos. Naquele dia a comunidade relembrou seu passado e viu o futuro espelhado no desejo e na garra de suas crianças.

Educação

E.E.F. Adelina Zierke[5]

A Escola de Ensino Fundamental Prof.ª Adelina Zierke teve sua origem no ano de 1939, tendo como primeira professora a senhora Edeltrude Wippel, que assim a denominou em homenagem à sua primeira professora, que foi uma pessoa excelente durante sua vida escolar.

Esta escola está construída em um terreno doado pelo Sr. Pedro Dada, cuja metragem é de 20x20, sendo a área construída de 126m², contendo uma sala de aula, dois banheiros, uma cozinha, uma área para refeitório e uma secretaria. Ficando como área livre de 274m.

E.E.F. Cedro Alto[6]

A escola foi construída na administração do Prefeito Antônio Heil, (1966- 1970 ), sendo a construção de uma pequena escola de madeira, somente com uma sala de aula, disponível para o estudo.

No entanto, antes dessa “escolinha”, as pessoas do local tinham aulas nas residências das pessoas da comunidade, que cediam suas casas, para as pessoas que tivessem interesse em aprender. As aulas eram ministradas por "professores" vindos de outras cidades, principalmente Florianópolis, e eram na maioria estudantes de Filosofia.

A Escola de Ensino Fundamental Cedro Alto possui aproximadamente 320 alunos distribuídos entre Educação Infantil e 8ª série, sendo que a implantação das séries finais aconteceu, gradativamente, a partir do ano de 2001.

Referências

  1. O artigo original foi publicado por Marlus Niebuhr na Revista de Extensão do Sistema ACAFE, Blumenau - SC ( Ed: FURB), n. 01, p. 71-78, 2003.
  2. Historiador, Diretor de Patrimônio Histórico de Brusque. Na ocasião do desenvolvimento do artigo era coordenador do Centro de Documentação Oral e Memória – CEDOM / Unifebe.
  3. THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.p.254.
  4. Projeto de memória oral é levado as escolas do Cedro Alto. Diário Brusquense. 16/10/98.
  5. Informações fornecidas pela Secretaria Municipal de Educação
  6. Informações fornecidas pela Secretaria Municipal de Educação

Outros recursos

Entrevistas

Entrevista José Tamasia

Entrevista Antônio Cesari