Reportagem - Duas visitas memoráveis: Dom Duarte Leopoldo e Governador Gustavo Richard

De Sala Virtual Brusque
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  • AGUARDANDO REVISÃO

Duas visitas memoráveis Como, a então vila de Brusque, recebeu, em agosto de 1905, a visita de S. Excia. Revma. Dom Duarte Leopoldo e, em outubrO dé 1907, a do Governador do Estado Coronel Gustavo Richard. (Do correspondente em Brusque do jornal "NOVIDADES", de Itajaí) D. DUARTE LEOPOLDO E SILVA Desde o dia 1,6( que Brusque está em movimento por causa do bispo D. Duarte, pois foi quando começaram os preparativos para a solene recepção de S. Excia. Revma. que aqui chegou sábado 9, às 5 horas da tarde. A rua central e as circunvizinhanças da igreja católica esta-vam transformadas num verdadeiro bosque de palmitos, bambús e ou-tras plantas ornamentais e tudo isso garridamente enfeitado de flo-res, bandeiras, galhardetes e de lanternas venezianas de variegadas cores que à noite se acenderam. O conjunto era o mais impressiona-dor possível. A vila nesses dias transbordou de povo, não só daqui, como vindo dos lugares vizinhos. Uma hora antes da solene entrada do sr. Bispo na sede da Fre-guezia, adiantou-se um da comitiva trazendo a notícia de se achar muito próximo S. Ekcia. Revma., queimando-se então grande quan-tidade de foguetes e repicando festivamente os sinos. A este aviso, a multidão, que se aglomerava nessa ocasião esperando o Bispo, no Largo Cel. Renaux e nas proximidades da ponte, que estava primoro-samente enfeitada, era enorme. As 4 e meia horas da tarde apareceram na primeira volta da estrada a vanguarda do esquadrão de lanceiros, se assim, podemos chamar, uns cem cidadãos, mais ou menos, montados a cavalo, cada um com sua lança, em cuja haste tremulavam, aos reflexos do sol, produzindo deslumbrante efeito, pequenas bandeiras verdes e amare-las. Dirigiam o imponente préstito dos cavaleiros os srs. Francisco E'nnes Torres, Durval Luz e Augusto Bauer, que conseguiram manter a melhor ordem, fazendo-os marchar, dois a dois, e guardar a devida distância. Após o esquadrão vinha uma longa fila de carros, o primeiro dos quais trazia o Bispo, o seu secretário, o sr. Francisco Gottardi, de Nova Trento, e o sr. Superintendente Vicente Schaefer. Ao chegar à ponte o préstito parou e foram então tirados pelos fotógrafos Vasques e Frederico Raguse, diversos clichês. O bispo, des-cendo do carro, foi recebido pela comissão nomeada para este fim e seguiu a pé, acompanhado de enorme massa popular, silenciosa e cheia de respeito, para a casa da viúva Peiter, próximo ao templo ca- - 28 — è tólico e que tinha sido destinada para sua residência e onde S. Excia. Revma. entrou. Uma meia hora depois, S. Excia. Revma., revestido dos seus sagrados paramentos e empunhando o báculo, dirigiu-se para a igreja matriz onde fez a sua entrada solene, observando-se as cerimônias do ritual. Nesta ocasião foi entoado, em ação de graças, um solene Te Deum e dada a bênção ao povo. À noite, a população toda, sem distinção de religião, fez ilumi-nar as frentes de suas casas. Foi isto uma manifestação que muito penhorou S. Excia , que se referiu à ela e agradeceu essa gentileza por parte de toda a população e sobretudo por parte dos que não eram católicos. A igreja matriz estava embandeirada em arco e do mesmo mo-do foi feita a iluminação à noite, dando à sua torre naquela ocasião a aparência de uma grande pirâmide luminosa. Às 7 horas o povo, com uma banda de música, percorreu as ruas numa marcha cívica, ao troar de foguetes e ao clarão de vistosos fogos de bengala, e depois parando em frente à casa do sr. Bispo, S. Excia. Revma. agradeceu aquela manifestação de toda a população de Brusque que, sem a distinção de crenças, o recebia tão gentilmente. Até tarde da noite, do dia 19, houve grande movimento de gente. No dia seguinte, domingo, a chuva prejudicou muito a afluên-cia de povo à igreja. As 8 horas da manhã, S. Excia. rezou a missa pontifical e à tarde foi ministrado o sacramento da Crisma a grande número de fiéis. S. Excia. Revma. recebeu neste dia a visita das pessoas mais gradas do lugar. O sr. Bispo teve muito boa impressão de Brusque, pois não jul-gava fosse uma localidade tão desenvolvida e adiantada. Ontem, 21, foi a visita à capela de N .S. do Caravaggio, na A-zambuja, onde disse Missa, com assistência de grande número de fiéis. Hoje, 22, estás continuando a fazer um péssimo tempo. Com cer-teza, à tarde, ao Crisma, não irá ninguém assistir. O sr. Bispo tenciona ir amanhã, 23, a Porto Franco, donde pre-tende voltar 5a. ou 6a., feira, para depois seguir para Barracão e Gas-par; mas, a continuar o tempo, será impossível tal viagem. GOVERNADOR CEL. GUSTAVO RICHARD Em horas já adiantadas da manhã de domingo último, correu na nossa Vila o vago boato da vinda, absolutamente inesperada, do be-nemérito Sr. Coronel Richard. Mais tarde tornou-se oficial esta agra-dável e boa notícia, mas infelizmente tarde demais para ainda poder-se decorar condignamente a nossa Vila, para recepção de tão alto e esti-mado personagem, e ficaram assim hasteadas bandeiras federais e 29

estaduais, somente no Paço Municipal, na Agência do 2°. Distrito e nas residências dos Coronéis Renaux, Krieger e Bauer. Achando-se ausente grande número de carros da nossa. praça, tornou-se impossível irem ao encontro de S. Excia. todos os seus ad-miradores e assim tomou crescido número de pessoas o bonde do sr. Cel. Renaux para esperar a vinda de S. Excia., em frente à fábrica de tecidos e nesta ocasião as interessantes meninas Selma Renaux, Lucia e Edna da Gama Schumann ofereceram ao ilustre itinerante bouquets de flores. Em companhia do Sr. coronel Richard o benemérito diretor da Viação, sr. Antonio Maria Barroso Pereira, o sr. dr. Pedro- da Silva, estimado oficial do Gabinete e o sr. Tte. Euclides de Castro, incansá-vel Ajudante de ordens. Todos os ilustres visitantes aos quais o cor-respondente envia mais uma vez as boas vindas do povo brusquense, hospedaram-se na residência do sr. Superintendente Krieger, onde fo-ram recebidos ao som do hino nacional, executado pela Banda de Mú-sica "Concórdia" e onde foram cumprimentados por inúmeras pessoas gradas, amigos e admiradores. Infelizmente S. Excia. o sr. governador não poude se demorar no seio da sociedade brusquense senão um dia e ainda assim contra-Apesar de uma chuva bem copiosa durante o dia, foi S. [Excia. riado foi pelo mau tempo de segunda-feira, esta visita particular. com sua ilustre comitiva visitar as escolas, algumas pontes e mais estabelecimentos do lugar, pondo à disposição do Governo Municipal diversas quantias como auxílio para certas reformas e construções. — Seja-me lícito dizer algumas palavras sobre duas, talvez das mais importantes visitas do Exmo. sr. coronel Richard, aqui. Depois de lauto almoço na residência do ar. Cel. Renaux, embarcou S. Excia., comitiva e crescido número de cavalheiros no bonde, para uma visita à fábrica de tecidos. Com o maior interesse o sr. governador percorreu todas as secções da fábrica, recebendo do incansável pro-prietário minuciosas explicações, desde o preparo do algodão até a fa-zenda pronta e sendo demonstrada cada operação técnica, especial-mente com máquina. Tivemos assim ocasião de ver pela primeira vez funcionar a tur-bina e a nova secção de teares de tecelagem. AZAMBUJA, o bom retiro de todas as vítimas da miséria da vi-da mundana, a fonte de saúde para milhares de doentes, o apoio e amparo dos órfãos e da velhice, o refúgio dos surdos, cegos, mudos e alienados, Azambuja, o apreciado sítio de numerosas romarias de mi-lhares de peregrinos, foi o ponto de outra excursão. Recebido o sr. — 30 --

Governador e sua numerosa comitiva pelo benemérito reverendo pa-dre Gabriel Lux, foi oferecido, nos bem modestos compartimentos do Curato, um copo de água, brindando esse verdadeiro apóstolo da cari-dade, em palavras cheias de comoção, o sr. Cel. Richard, dando tam-bém, em curtas palavras, um histórico deste pio estabelecimento, obra de caridade começada com recursos os mais modestos possíveis, pelo bem conhecido padre Antônio. Convidou finalmente ao Sr. governa-dor a colocar a pedra fundamental do novo hospício, cujos trabalhos já estão bem adiantados, cerimônia procedida imediatamente depois de terem assinado todos uma ata e tendo abençoado o padre Gabriel Lux a pedra, conforme o rito católico. Logo em seguida foram per-corridas as diversas salas do hospital, ficando o sr. governador visi-velmente comovido, ou por tanta miséria oculta neste recinto da mi-sericórdia e do amor ao próximo, ou pelo carinho e esforços do in-cansável padre Gabriel e das beneméritas freiras do Divino Coração de Jesus. Avaliando bem, e de pleno coração os serviços humanitários prestados pelo Santuário episcopal de Azambuja e sendo agora sabe-dor das enormes dificuldades pecuniárias do hospital que é mantido somente com esmolas de almas caridosas — o mesmo dando-se com a mais do que necessária construção do novo e bem importante edif í-cio - o generoso Sr. Governador prometeu o seu inteiro e poderoso au-xílio para a conclusão de tão importante obra. Tendo o sr. Governador prometido chegar hoje em Tijucas, nem o mau tempo moveu-o transferir sua viagem. Tendo-se despedido de todos, embarcou às 10 horas para a tão fatigante viagem, acom-panhado por crescido número de cavalheiros até a casa do sr. José Morelli, onde lhe apresentaram, mais uma vez as suas despedidas.


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