Histórico da Comunidade Evangélica de Brusque - Hoje Paróquia Evangélica Luterana de Brusque

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Histórico da Comunidade Evangélica de Brusque hoje Paróquia Evangélica Luterana de Brusque

Pastor Werner Brunken

As primeiras famílias evangélicas provindas da Alemanha (Schleswig — Holstein, Birkenfeld (Oldenburg) e badenses) chegaram a Brusque com a primeira leva de colonos no dia 4/8/1860. São eles: Augusto Hoefelmann, Frederico Guilherme Neuhaus, Frederico Orthmann, Daniel Walther e Luis Richter. Todos eram casados e tinham filhos.

Já em 1861 chegaram novas famílias evangélicas: Felipe Krug, João Carlos Schuck, Amadeus Feige, Carlos G. Werner, José Krieger, Cristiano Albrecht, Henrique Kühl, Guilherme Krieger, Pedro Stefen, Cristiano Missfeld, Carlos Sacht, Carlos Krieger, Henriqueta Staak, Hening Jonk, Pedro Jensen, João Jorge Hass, Frederico Schroeder, Detlef Horst, João Schwartz, Frederico Gehler, Fernando Jonk, Detlef Todt I e II, Nicolau Kistenmacher, Francisco Pedro Haag, Jacó Krumenauer, Jacó Willrich, Guilherme Jungblut, Antonio Bretske, Henrique Feuneberg, Frederico Kramer, Cristiano Matz, Felipe Krieger, Henrique Niels, Henrique Koch, João Sabel, Henrique Bettermann e Jacó Korb, que se estabeleceram em Bateas (na margem esquerda do Rio Itajaí Mirim), muitos pomeranos. Em Bateas surgiu também a primeira Casa de Oração em 1871. O serviço religioso dirigido por um dos colonos.

As famílias Evangélicas (237) pessoas — 1862) sentiam-se abandonadas quanto ao atendimento religioso. Para batizar, casar e confirmar, precisavam deslocar-se para Blumenau, onde era Pastor o Sr. Oswaldo Hesse.

Já no relatório da direção da Colônia, correspondente ao ano de 1861, dirigido ao Presidente da Província, o Diretor destaca a necessidade urgente de um pastor, a fim de ministrar a religião a cerca de 200 evangélicos, residentes na Colônia.

Em 1° de janeiro de 18152 foi feito um batismo de emergência pelo colono Eugênio Rieger. A criança chamava-se: Heinrich Paul Gustav Philip Ludwig, filho de Johan J. F. Sabel, nascida no dia 23/ 12/1861. Este ato foi desaprovado pelo diretor interino da Colônia, João André Cogoy Júnior, que afirmava que a criança gozava de perfeita saúde e não havia necessidade de realizar tal batismo. Este foi ratificado pelo Pastor Oswaldo Hesse no dia 21/04/1863.

No relatório da Colônia de 1862 o Diretor da Colônia, Barão Maximiliano de Schneéburg descreveu a situação da Comunidade Evangélica com as palavras:

"Os colonos evangélicos fizeram também nas Bateas e à suas expensas uma pequena casa também de fraca construção em que se reunem nos Domingos para o seu Culto. No primeiro relatório sobre o ano de 1861, pediu a Diretoria ao Exmo. Sr. Presidente, como no presente relatório também submeto o mesmo pedido ao conhecimento e a benignidade na determinação de Va. Excia., que se digne incumbir ao Ministro Evangélico da Colônia Blumenau de visitar, pelo menos enquanto o Governo não mandar sacerdotes (alemães) de ambos os Dogmas da Fé, para residirem nesta Colônia, alguma vez no ano, este Estabelecimento, afim de ministrar aos seus Correligiosos os Sacramentos; aonde existem já 237 colonos protestantes que há mais de 2 anos ainda nem uma vez tiveram o consolo de socorro espiritual, havendo entre eles grande número de crianças a batizar e casamentos a ratificar".

No livro de "avisos" mais antigo da Comunidade Evangélica de Blumenau encontramos referências a Brusque. No 2° dia da Páscoa de 1863 o Pastor Oswaldo Hesse comunicou à sua Comunidade: "Comunico à Comunidade cristã, que nos próximos dias visitarei para atendimento religioso os evangélicos da Colônia de Brusque por ordem do Presidente da Província. Por causa deste fato os cultos aqui não serão realizados nos dois próximos domingos (dias 12 e 19 de abril).

Conforme dados do Pastor Henrique Sandreczki, no dia 17 de abril de 1863 foi aprovada a primeira "ordem da Comunidade de Brusque" com a presença do Pastor Oswaldo Hesse de Blumenau, sendo esta a "data oficial" da fundação da Comunidade Evangélica de Brusque.

O primeiro Culto foi realizado no dia 19 de abril de 1863 pelo Pastor Oswaldo Hesse. Neste culto foi realizado o primeiro batismo oficial por um pastor aqui em Brusque. Trata-se de Heinrich Friedrich Kühl. No dia 20 e no dia 23 de abril seguiram-se outros batismos e casamentos. O livro de Ofícios da Comunidade registra também a primeira confirmação: Friedrich Neuhaus no dia 9 de julho de 1875, o primeiro enterro registrado foi de Gustav Neuhaus com 14 anos no dia 23 de março de 1865. O primeiro casamento registrado é de Johann W. Wandrey com Maria Carlota Johanna Jonk no dia 1° de novembro de 1865.

O Diretor da Colônia solicitou ao Presidente da Província que ajudasse a pagar as despesas do Pastor Oswaldo Hesse, para que este pudesse vir de 3 em 3 meses a Brusque. Foi o que o Pastor Hesse fez: vinha no espaço de 3 meses e permanecia aqui de 8 à 14 dias.

Os cultos e ofícios eram realizados na casa primitiva de palmitos em Bateas, no rancho da imigração, sem assoalho e sem janelas. Estas visitas periódicas foram feitas até o início de 1865, quando Brusque recebeu seu primeiro Pastor: Johann Anton Heinrich Sandreczki. Este foi ordenado pastor no dia 21 de fevereiro de 1864 em Hürtinger (Suiça) e designado pela Missão da Basiléia para ser pregador para colonos alemães no Brasil, precisamente para ser pastor na Colônia de Brusque. Chegando ao Brasil atendeu primeiramente as Comunidades de Terezópolis e Santa Izabel. Só em fevereiro de 1865 chegou a Brusque.

Escreve o Pastor Sandreczki sobre a sua chegada a Brusque: "Depois de quatro dias cavalgando uma mula, sozinho, ali cheguei de surpresa, sem cantos nem toques de sinos de recepção pública e me apresentei ao Diretor da Colônia, o Barão von Schneéburg, um antigo oficial austríaco" Casa paroquial não havia. Ainda solteiro, residiu com o Secretário da Colônia, Max von Barowski. Tratou logo de comprar um terreno, que conseguiu por preço razoável do Governo e construiu sua casa própria, com 2 cômodos e cozinha. Casou-se com Elisabeth Groben no dia 09/10/1868 no Rio de Janeiro. Seu ordenado era pago pelo Governo Imperial.

Sobre o local para o Serviço Divino da Comunidade Evangélica relata o P. Sandreczki: "Foi-me mostrado um compartimento no antigo, primitivo e tosco rancho de recepção de imigrantes. As paredes do compartimento eram de barro e a cobertura de folhas de palmito. No chão de terra batida, sem assoalho, haviam fincado estacas sobre as quais tábuas serviam de bancos. Uma mesa grosseira, tendo um acréscimo em forma de tribuna, era a combinação de altar e púlpito".

O P. Sandreczki era de opinião que as famílias (já 220) que não tinham despesas com o pastor, estariam em condições de construir sua própria igreja. Foi assim que em 21/11/1865 foi aprovada uma nova "Ordem da Comunidade". Todos os domingos eram realizados Cultos. Em 1866 requereu do Governo um lote de terra para construção da igreja e casa paroquial. Em 1869 iniciou-se a construção da lª capela, inaugurada em 1872. Iniciou-se a construção da capela, pois o rancho onde se realizavam os cultos tinha desmoronado e agora estavam sem casa de oração. Sobre a primeira capela diz ainda o P. Sandreczki: "O Governo ajudou com uma pequena verba e construiu-se a igreja, não suntuosa, mas digna". O principal ornamento do altar dessa igreja era urna cópia do quadro "A descida da Cruz" de Rubens, doado pela Rainha da Prússia. O harmônio foi doação da Fundação Gustavo Adolfo, de Stuttgart. Observação: O quadro ainda hoje está no altar da igreja e o harmônio em uso no Centro Evangélico.

Uma das medidas tomadas pelo P. Sandreczki em 1870 não agradou à Comunidade, a saber, a decisão que só crianças com 14 anos completos e que soubessem ler e escrever poderiam ser confirmadas. Diz ele que esta medida tornou-se uma bênção para a Comunidade. A casa Paroquial construída em 1881 era propriedade do P. Sandreczki e foi transferida mais tarde para a Comunidade.

No relatório de 1872 o P. Sandreczki acentuou a necessidade de ter uma Escola Evangélica, pois os filhos dos imigrantes não poderiam ficar sem aprendizagem na escrita e leitura. Empenhou-se pela causa, e em 20/04/1872 fundou a Escola Evangélica, fique inicialmente funcionou numa sala anexa à sua casa. Já em 1873 a Escola era freqüentada por 54 crianças. Em 1878 concluiu-se o primeiro prédio da Escola. O Pastor Sandreczki foi professor da Escola até o ano de 1880.

A Diretoria da Comunidade resolveu no dia 14 de julho de 1872 que os cultos dominicais seriam realizados só na igreja da sede da Colônia. Em outros lugares haveria culto só em caso de extrema necessidade. (Centralização do trabalho — hoje estamos descentralizando para melhor atingir os evangélicos — já contamos com nove filiais e a matriz). Esta medida tinha como objetivo criar um "sentimento de comunidade" entre as famílias evangélicas, pois viviam muito afastadas umas das outras.

Já nos primeiros anos de sua existência, houve problemas difíceis para superar, principalmente no sentido financeiro. Até 1882 o Governo pagava o ordenado do Pastor. Mas as famílias eram responsáveis financeiramente para as demais despesas da Comunidade e Escola. Mas muitos não tinham compreensão para esta responsabilidade. Muitos nem sequer pagavam as contribuições anuais. Diz um documento de 1928 que os relatórios anuais estavam repletos de queixas sobre a situação financeira da Comunidade. Em 1881, por sugestão de um membro de Comunidade, o P. Sandreczki falou numa Assembléia sobre o tema: "Para que precisamos uma tesouraria na Comunidade". Nesta palestra o P. Sandreczki fez a seguinte proposta: "Vamos desintegrar a Comunidade, alugar a igreja e despedir-se de Deus, porque os tempos ficaram ruins e porque a fé, o amor e a esperança acabaram".

Também a organização externa tinha problemas a superar. Foi assim que no dia 7/03/1875 o P. Sandreczki teve que tomar uma decisão arrojada contra 29 evangélicos, que não tinham assinado os Estatutos da Comunidade e agora exigiam uma Assembléia da mesma.

A sua decisão foi: Só aqueles são membros da Comunidade, os que aceitam os Estatutos e só estes têm o direito de fazer propostas e ajudar a decidir.

A esta altura registramos que o P. H. Sandreczki deixou a Comunidade de Brusquqe em fins de agosto de 1880. Transferiu-se para Blumenau, donde visitava mensalmente a Comunidade de Brusque até o ano de 1889 (21/8). Mas continuou sendo o Pastor responsável pela Comunidade.

Criando problemas para a existência da Comunidade foi fundada no dia 4 de maio de 1883 a "Sociedade Eclesiástica Evangélica" (Evangelisch kirchlicher Verein) com estatutos próprios. Grande parte dos evangélicos filiaram-se a esta sociedade, que deveria defender juridicamente as causas da Comunidade, que no momento estava sem estatutos. Esta Sociedade deveria pagar o ordenado mensal do pastor (parte era pago por Blumenau). Entretanto, esta Sociedade existiu só pouco tempo. Já em 1884 voltou a integrar-se à Comunidade, que ainda não funcionava com suas assembléias.

Somente no dia 22 de fevereiro de 1885 deu-se uma mudança na organização. Até então a Assembléia era formada pelos pais de família. E isto não funcionou. De agora em diante seriam "eleitos delegados", que como representantes de sua região, assumiriam certas responsabilidades (este princípio ainda hoje está em uso). Esta proposta foi aceita. No lugar da Assembléia da Comunidade existia agora um Conselho Comunitário composto por 21 delegados. Os estatutos aprovados em 1885 foram substituídos por novos em 1907. Em 1885 a Comunidade possuia 212 famílias.

Com a saída do P. H. Sandreczki para Blumenau (1880) o professor E. F. Geithner assumiu a direção da Escola Evangélica. Também ajudava nos serviços da Comunidade, realizando cultos de leitura, enterros e distribuição da Santa Ceia aos doentes. Isto era necessário, pois o P. Sandreczki vinha a Brusque só 6 vezes por ano.

A partir de 1887 a Comunidade expressou que a vinda do P. Sandreczki 6 vezes por ano era demais e resolveu fazer um acordo com o Pastor. Sobre este acontecimento dizem os registros: "Para a Comunidade a palavra de Deus tinha se tornado muito dispendiosa". Mas o P. Sandreczki não concordou com este plano. Tudo permaneceu como antes e houve uma contraproposta: ao completar em 1890 25 anos de serviços à Comunidade, ele deveria receber uma soma de 500 mil réis como doação pela sua dedicação. Esta proposta foi assinada por 31 pessoas.

Em agosto de 1889 o P. Sandreczki visitou a Comunidade de Brusque pela última vez, transferindo-se para os Estados Unidos.

Mesmo havendo vozes contrárias às visitas periódicas do P. Sandreczki, houve vozes fortes a partir de fevereiro de 1887, que desejavam ter um Pastor residindo novamente em Brusque. E no dia 9 de julho de 1887, sabendo a Comunidade que o P. Sandreczki iria embora definitivamente, resolveu pedir um Pastor só para si. No Livro de Atas lemos: "Desejamos um Pastor que de coração creia na Palavra de Deus, que em palavras e ações seja um exemplo para nós.

O Sr. Carlos Renaux, que tinha em mente viajar para a Alemanha, foi encarregado de entrar em contato com o Dr. Fabri, Diretor da Sociedade Evangélica para a América do Sul, para que enviasse um pastor para Brusque. Depois de longa espera a Comunidade de Brusque recebeu o seu 2° pastor Von Czekus, no dia 25 de maio de 1880, que permaneceu em Brusque até o dia 1° de julho de 1897. Em 1886 foi criada a Sociedade Escolar mantenedora da Escola, substituída posteriormente pela Fundação Educacional Evangélica, mantenedora do Colégio Cônsul Carlos Renaux. Em 1895 a Escola passou para as dependências da igreja, tendo 90 alunos.

(Seqüência histórica da Comunidade, no próximo número)

(continuação)

Na primeira parte do histórico precisamos retificar: "Brusque recebeu o seu segundo pastor Johannes Julius von Czekus no dia 25 de maio de 1890". Outra retificação: O primeiro harmônio da Comunidade foi vendido em 1904 para o Sr. Wolf de Florianópolis, portanto, não está mais em nossas mãos como afirma-mos na primeira parte de nosso histórico.

CONTINUAÇÃO — Dos anos de 1890 em diante até o ano de 1905 houve muitas reuniões da Sociedade Escolar, examinando a situação financeira da Escola. Tornou-se problemática a manutenção da mesma. Anualmente eram feitos pedidos de subvenção ao Governo Estadual. Várias vezes o Governo negou ajuda financeira, afirmando, que onde havia escolas do Governo, não havia necessidade de subvencionar escolas particulares. Mesmo assim a Sociedade Escolar não deixou de anualmente pedir. Finalmente a partir de 1895 o Governo passou a pagar subvenções anuais.

O professor Eduardo Francisco Geithner dirigiu a "Escola Particular da Vila de Brusque" até o ano de 1886. Neste ano assumiu a direção da Escola o professor Bernhard Howard, que dedicou-se muito à música, lecionando a matéria aos alunos da Escola, cantando com os mesmos. Acompanhou os hinos no harmônio da igreja. Howard permaneceu até o ano de 1891. Seguiu-o na Direção da Escola o professor Reinhard Graupner.

Na vida da Comunidade os anos do P. von Czekus foram de grande movimento, pois no seu tempo foi construida a igreja no centro da cidade, a qual ainda hoje está de pé, dando testemu-nho do trabalho incansável dos evangélicos no século passado.

A partir de 05 de março de 1893 a Comunidade Evangélica possui todas as atas de reuniões da Diretoria e do Conselho da Comunidade. Estas atas foram escritas em alemão no estilo gótico até o ano de 1930. Da primeira ata de 05/03/18913 destacamos:

1) O pedido para retelhar a casa do pastor por Rs 500$000 foi aprovado.

2) O pedido para que o P. von Czekus substitua o P. Bunte de Blumenau foi aprovado.

3) O pedido do zelador por aumento de salário não foi aprovado.

4) Nesta Assembléia foi eleita a nova Diretoria da Comunidade, constituiria pelos senhores: Presidente: P. J. J. von Czekus; Vice-Presidente: Eduard von Büttner; 1° Secretário: Wilhelm Strecker; 2° Secretário: Paul Scheel; Tesoureiro: Ernst Ulber.

Casa de Brusque
Casa de Orações e Escola Evangélica em 1899 ao tempo do Pastor W. Lange.

O Relatório do Pastor relativo às atividades de 1892 foi bastante minucioso: 63 crianças foram batizadas; 21 casamentos; 20 sepultamentos, 635 pessoas participaram da Santa Ceia, 43 jovens foram confirmados, 10.960 adultos e 1.897 crianças participaram dos cultos.

Quanto à Comunidade filial de Itajaí, fundada em 1870, foi servida por Brusque até o ano de 1970. No relatório do Pastor le-mos: "Em Itajaí realizei 6 cultos; distribui a Santa Ceia 2 vezes; batizei 3 crianças, sepultei 2 pessoas e realizei 1 casamento. Em Porto Franco (Botuverá) realizei 12 cultos; batizei 8 crianças, 1 casamento e 3 vezes distribui a Santa Ceia. Na cidade realizei 9 cultos à noite com ensaio de cantos; em Schleswig 6 vezes; em Limeira 6; em Águas Claras 5; na Rua Tijucas 6; na Rua da Serra 6; na Rua Porto Franco 7 vezes".

(Obs.: Em Botuverá não temos mais Comunidade, pois todas as famílias evangélicas sairam de lá logo no início do novo Século).

Até 1889 as igrejas evangélicas não podiam ter aspecto de igreja e nem possuir torre ou sinos. A religião oficial era a Católica. Com a Proclamação da República (15/11/1989) e promulgação da primeira Constituição Republicana (1891) foi concedida liberdade religiosa a todas as religiões no Brasil. Vemos assim, que a Comunidade Evangélica de Brusque logo se movimentou, para conseguir uma igreja digna de sua fé. Em 29 de maio de 1893 foi constituida a "Comissão de Construção", formada pelos senhores P. von Czekus, Eduard v. Büttner, Ludwig Spengler, Ernst Ulber, Ludwig Lübke, Wilhelm Strecker. A igreja a ser construida teria as seguintes dimensões: 25 metros de comprimento, 13 metros de largura, 8 metros de altura. O preço da construção seria de Rs.... 8:919$000. A Comunidade possuía na época um depósito de Rs 1:000$000 na Caixa Econômica. Esta quantia foi usada para a aquisição de material para a construção da igreja. A comissão de construção reuniu-se mensalmente, para examinar as propostas da compra do material e tinha a incumbência de comprar daquelas pessoas que tivessem a melhor qualidade por menor preço. A decisão final para iniciar a construção foi tomada na Assembléia Geral Ordinária de 25 de janeiro de 1894. Antes de iniciar a construção da Igreja, foi construido um galpão para guardar o material adquirido.

Na Assembléia Geral Extraordinária de 11 de março de 1894 foi decidido:

1) O serviço de pedreiro seria executado pelo Sr. Ludwig Lübke, que apresentou a melhor oferta. O serviço de carpinteiro seria confiado (ao Sr. Adolf Bruns. Boa parte da madeira será comprada do Sr. Marcos HÖRNER. A areia será adquirida do Sr. August Ristow. Outras decisões: "Todos os membros são conclamados a dar 5 dias de serviço na construção da igreja e quem tiver carroça trabalhar com a mesma 3 dias em benefício da construção".

Estando tudo decidido, inclusive o material comprado, foi lançada a Pedra Fundamental da igreja no dia 03 de maio de 1894. Desta data em diante não houve mais interrupção nas obras da construção. Mas já no dia 12 de agosto de 1894 numa Assembléia Extraordinária resolveu-se fazer uma campanha em favor da construção da torre. E para poder cumprir com os compromissos da construção, foram emprestados Rs 2:500$000 de pessoas da Comunidade. Estas receberam Notas Promissórias (Schuldscheine), que seriam pagas no espaço de 5 anos.

A inauguração da igreja deu-se no dia 03 de janeiro de 1896. É interessante citarmos as palavras que constam do relatório do P. v. Czekus sobre a inauguração da igreja: "Com alegres esperanças entramos no novo ano, cada um pedindo a ajuda bondosa de Deus, pois no dia 06 de janeiro deveria ser inaugurada a nova igreja. Ainda havia muito por fazer, mas onde há uma vontade ferrenha, aí se chega ao alvo. Tanto os trabalhadores contratados, como também os membros de nossa Comunidade, aplicaram todo o esforço para chegar a um bom termo. Ainda dois dias antes da inauguração tudo parecia dizer que não haveria inauguração. Mas conseguimos terminar. Dignamente ornamentada ela nos abriu a sua porta e nos convidou para entrar, a fim de buscar em seus átrios consolo e salvação. Sob grande número de pessoas da Comunidade, na presença de 6 pastores evangélicos e com a presença das autoridades convidadas, ela foi inaugurada no dia 06 de janeiro. Com gratidão ecoaram os hinos, com entusiasmo santo a palavra de Deus foi anunciada e recebida com corações atenciosos. Abriram-se corações e mãos, pois a coleta rendeu Rs 532$000 e o almoço festivo Rs 309$000. Ficou ainda uma dívida de Rs 3:042$000".

Estas dívidas foram pagas gradativamente até o ano de 1904. Na inauguração da igreja a parte externa ainda não tinha sido rebocada. Isto foi feito somente a partir de 1898, quando foi feito um novo empréstimo de Rs 2:000$000. Emprestaram o dinheiro na ocasião (1899) os senhores Henning Joenk ..... Rs 700$000; Hedwig Joenk..... Rs 300$000 e Ernst Ulber..... Rs 600$000.

O primeiro sino foi adquirido só depois da inauguração, bem como uma cruz e dois castiçais — tudo veio da Alemanha. Sobre o badalo do sino encontrei as seguintes anotações: "o sino será badalado 3 vezes por dia. Duran-te os enterros 2 vezes (até entrar o esquife na igreja e ao ser levado da igreja até o cemitério)". Interessante é observar que já nesta época (1896) o esquife era levado à igreja, como o fazemos ainda hoje.

Em 1895, na reunião do Conselho da Comunidade (20/01), foram tomadas várias medidas quanto à filiação ou não de membros e suas contribuições:

1) Foi aceita a proposta de escalonar as contribuições, isto é, a contribuição seria paga conforme o que cada um ganhava.

2) Toda família não filiada à Comunidade, pagará a taxa de Rs 25$000 para batismo, confirmação ou enterro.

Na reunião do Conselho da Comunidade de 02/02/1896 o P. Johannes Julius von. Czekus pediu demissão de seu cargo. Permaneceria na Comunidade até 1°. de julho. A Comunidade aceitou o pedido e logo procurou convocar outro pastor para a vaga. O Conselho dirigiu-se ao P. Wilhelm Lange, servindo em Bruederthal (hoje Mun. de Guaramirim), convidando-o para visitar a Comunidade e fazer a sua apresentação através dum culto. Já na ata do Conselho da Comunidade de 1°. de março de 1896 consta que o P. Lange esteve aqui e foi aceito como pastor da Comunidade com 15 votos a favor e 1 voto contra. A Diretoria ficaou autorizada a fazer um contrato para 5 anos com o P. Lange. O contrato data de 04/05/1896 redigido nos seguintes termos: "A Comunidade Evangélica de Brusque nomeia para ser pastor em sua Comunidade o Rev. P. Wilhelm Lange a partir de 1°. de julho de 1893 e assume o compromisso de:

1) Pagar-lhe em 4 parcelas o ordenado anual de Rs. 2:000$000.

2) Conceder-lhe moradia gratuita e o uso dos terrenos pertencentes à Comunidade. Em contrapartida o P. Lange se prontifica à:

1) Assumir o cargo de pastor a partir de 1°. de julho e de desempenhá-lo durante 5 anos.

2) Desempenhar o cargo segundo os preceitos da Igreja Evangélica, pregando a Palavra de Deus pura e retamente e celebrar a Santa Ceia conforme as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo. Zelará pela doutrina e educação das crianças; observará os Estatutos da Comunidade e será um bom exemplo para a Comunidade através de palavras e ações".

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Na reunião da Diretoria de 15/06/1896 resolveu-se:

1) Preencher uma Letra de Câmbio no valor de Rs. 1:000$000 em favor do Sr. Adolf Bruns, que havia trabalhado como carpinteiro na construção da igreja. Esta quantia seria paga até 1°. de outubro de 1900, acrescida de 5% de juros.

2) Dois representantes da Diretoria iriam a Itajaí recepcionar o P. Lange.

3) Ao P. von Czekus será entregue na sua partida um documento, comprovando seu trabalho como Pastor da Comunidade.

O P. von Czekus na sua despedida agradeceu pela colaboração dos membros, principalmente na construção da igreja e admoestou-os para que também no futuro participassem ativamente da vida na igreja.

Já no dia 19 de julho o P. Wilhelm Lange saudou o Conselho da Comunidade, pedindo que lhe concedesse férias sempre no mês de outubro para visitar sua antiga Comunidade de Bruederthal.

O zelador Boehm desligou-se da Comunidade por motivos de doença. O seu lugar foi assumido pelo Sr. Carl Siemsen no dia 1°. de dezembro de 1896. Este assumiria o repicar do sino conforme ordem existente. Limparia o cemitério e as catacumbas 4 vezes por ano. Antes das Festas de Natal teria que limpar as janelas e todo o interior da igreja. Procurava-se na época um organista para a igreja.

Já em 1897 houve queixas para com o novo pastor, pois costumava ausentar-se várias vezes por ano e a Comunidade ficava só. Por conseguinte o Conselho da Comunidade resolveu que futuramente o pastor só teria o direito de de ausentar da Comunidade com autorização da Diretoria.

Na reunião do Conselho da Comunidade do dia 23/09/1900 o P. Lange pediu aumento do seu, ordenado e renovação de seu con-trato com a Comunidade. Ambos os pedidos foram aprovados.

Passando para o Século XX o relatório de 27/01/1901 do P. Lange fez as seguintes considerações: "No início de um novo Século convém aos cristãos silenciar para fazer um balanço, a fim de que deste lembrar do passado, possamos distingüir a fidelidade para enfrentar o futuro. Uma tal retrospectiva sempre será motivo para agradecer, apesar das horas escuras, pois o agradecer é dever do cristão. Assim diz o Senhor: Quem sacrifica gratidão, exalta-me, e este é o caminho, que lhe mostro, a minha salvação. A gratidão é uma premissa se quiser-mos receber salvação para o futuro".

No início do Século a dívida da construção da igreja era de Rs 1:500$000. Mesmo assim foi adquirido um harmônio novo por Rs. 1:200$000. Para pagá-lo foi levantada uma coleta e várias pessoas emprestaram dinheiro sem juros para 2 anos. Este novo harmônio foi inaugurado no Natal de 1900 e encontra-se em uso no Centro Evangélico.

Em outra reunião do Conselho da Comunidade de ...... 15/12/1901 resolveu-se colocar a velha igreja totalmente à disposição da Escola com o compromisso de mantê-la em ordem. Igualmente seria colocado mais terreno à disposicão para novas construções. Estas regalias só teriam valor enquanto os membros da Diretoria da Sociedade Escolar fossem da Comunidade Evangélica. A esta altura a Escola já tinha 2 professores: Reinhard Graupner e Moritz Lehmann. Devido a auxílios recebidos da Alemanha, tiveram que ser reformulados os Estatutos da Escola, que passou a chamar-se de "Escola Alemã" a partir de 1902. Para tais escolas, nas quais a língua alemã era lecionada, o Governo da Alemanha, designava dinheiro. As doações recebidas foram colocadas a juros e em 1912 finalmente foi possível construir uma nova escola, pois a velha igreja não oferecia mais ambiente satisfatório. Em 1909 foi contratado um 3°. professor para a escola na pessoa do Sr. Hans Wiedemann.

Voltando à Comunidade, constatei que em 1903 já havia um coral, pois pedia-se na época uma melhor iluminação da igreja para os ensaios.

Em 26 de julho de. 1903 tomou-se uma decisão arrojada: Para acabar com a dívida da igreja seriam realizados 2 leilões — um no dia 30 de agosto para uma parte da Comunidade; o outro no dia 27 de setembro para a outra parte da Comunidade.

Até 1904 a Comunidade Evangélica de Brusque não estava filiada a nenhuma entidade religiosa. Em Santa Catarina ainda não existia uma entidade que fosse responsável pelas Comunidades Evangélicas. Este fato levou o P. Lange a propor a filiação da. Comunidade à Igreja Evangélica na Alemanha. Esta filiação teria a vantagem de a Comunidade receber os pastores desta. Igreja e estaria ao mesmo tempo subordinada a esta entidade em assuntos eclesiásticos. A Diretoria reunida no dia 24 de janeiro de 1904 aprovou esta proposta. Já no dia 31 de janeiro realizou-se uma Assembléia do Conselho da Comunidade, na qual o P. Lange esclareceu sobre os direitos e deveres que a Comunidade teria uma vez filiada à Igreja Evangélica da Prússia. Logo após, foi enviada correspondência ao Conselheiro Mor da Igreja Evangélica da Prússia, pedindo a filiação. A Comunidade prontificou-se a adaptar os Estatutos à nova realidade.

No dia 27 de agosto de 1905 foi lida na reunião da Diretoria a carta recebida da Igreja Evangélica da Prússia, na qual constatava que fora aceito no dia 11 de junho de 1905 a filiação da Comunidade (Evangélica de Brusque à Igreja Evangélica da Prússia. Esta filiação foi outorgada pelo Imperador da Alemanha. Na mesma correspondência foi enviado o "Documento de Vocação" do P. Lange, que lhe concedia o direito legal de continuar a trabalhar na Comunidade de Brusque.

Na Assembléia do Conselho da Comunidade de 11 de novembro de 1907 foram aprovados os novos Estatutos, os quais legalizavam a filiação da Comunidade à Igreja Evangélica da Prússia. Lemos nestes Estatutos:

§ 1 — A área de ação da Comunidade Evangélica de Brusque é o Município de Brusque e municípios limítrofes.

§ 2 — A finalidade da Comunidade Evangélica é: A edificação comunitária conforme a organização da Igreja Evangélica da Alemanha e promover a piedade e a moral, que terá sua expressão no temor a Deus. Será prestada obediência às autoridades e mantido o compromisso consensioso entre as pessoas das famílias.

§ 3 — A Comunidade Evangélica terá como base de sua fé e vida a Escritura Sagrada e confessa-se ligada aos ensinamentos da Igreja Evangélica, como os encontramos nos escritos da Reforma.

§ 4 — A Comunidade Evangélica de Brusque filia-se à Igreja Evangélica da Província mais antiga da Prússia.

§ 5 — O pastor será chamado para servir pela Diretoria da Comunidade. Mas a aceitação ou demissão definitiva dependem do Conselheiro Mor de Berlim (Alemanha).

§ 20 — O Conselho da Comunidade vota para um período de 4 anos uma Diretoria Executiva. Ela é formada pelo pastor como seu Presidente; de um Vice-Presidente, de 2 Secretários e de 1 Tesoureiro.

Em correspondência de 27 de dezembro de 1907 o Conselho Mor aprovou os novos Estatutos da Comunidade. Os Estatutos foram traduzidos para o português e impressos 600 exemplares, dos quais cada família receberia um exemplar.

Outro marco importante no ano de 1907 foi a fundação da "Sociedade Evangélica Caritativa (Evangelischer Wohltaetigkeits-verein). Sua fundação deu-se no dia 01 de dezembro de 1907, mas a Assembléia Constituinte foi no dia 29 de dezembro de 1907. Da ata desta Assembléia destacamos: "A convite da Sra. Pastor Lange um grupo de senhoras reuniu-se nas dependências da Escola Alemã. Reconheceram a necessidade de fundar um "Asilo para Idosos". Aprovou-se na ocasião os Estatutos e foi escolhida a primeira Diretoria: Pres. Sra. Clara Lange; Tesoureira - Mathilde Becker Lehmann; demais membros: Caroline Krieger; Ida Krieger; Selma Renaux; Anna Koehler, Anna Ulber, Luise von Czekus. Estas senhoras tomaram sobre si a responsabilidade de cobrar mensalmente a taxa das associadas. Esta Sociedade é hoje a Associação das Damas de Caridade, Mantenedora do Hospital Evangélico, da Maternidade Cônsul Carlos Renaux, do Jardim de Infância Bom Pastor, e das obras sociais, atendendo anualmente centenas de pessoas necessitadas. A Diretoria da Comunidade em sua reunião de 06 de setembro de 1908 decidiu colocar um terreno à disposição da Sociedade Caritativa, para nele construir o Asilo de Idosos. As senhoras compraram uma casa e a reconstruiram no terreno cedido e já no ano de 1909 o Asilo recebeu seus primeiros moradores.

Desde 1906 o P. Lange teve problemas com a sua saúde. Várias vezes teve que deixar de realizar o trabalho de rotina. Assim registra uma ata da Reunião da Diretoria de 20 de abril de 1909: "A pedido do Sr. P. Lange e de seu médico, que seja liberado de realizar os cultos aos domingos, a Diretoria decidiu que nos 4 domingos seguintes não precisaria realizar os cultos previstos. Só serviços inadiáveis seriam por ele efetivados".

Mesmo assim o P. Lange não conseguiu mais desempenhar o seu cargo, pedindo demissão. O Conselho da Comunidade, reunido no dia 25 de julho de 1909, aceitou o pedido e agradeceu pelos relevantes serviços prestados à Comunidade e à Escola durante os 13 anos. Foi Presidente da Comunidade, fazia parte da Diretoria da Sociedade Escolar e foi professor.

Ao mesmo tempo o Conselho resolveu dirigir carta ao Conselheiro Mor da Igreja Evangélica da Prússia, pedindo que enviasse outro pastor para a Comunidade. Em carta de 12 de outubro de 1909 o Conselheiro Mor comunicou que seria enviado o P. Gerold Hobus, que iniciaria o seu trabalho no dia 1°. de janeiro de 1910.

Nota: Continua no próximo número.

Werner Brunken - Pastor

Casa de Brusque