História e Memórias de Botuverá

De Sala Virtual Brusque
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  • Marlus Niebuhr, Historiador.
E chegaram aqui em Botuverá, o rio faz um remanso, bate, o rio bate aqui, faz um remanso assim sabe! Essa jangada foi ancorada aqui, bem ali no centro. À noite, choveu e o ribeirão encheu primeiro e essa água entrou no rio Itajaí-Mirim, e a jangada que não estava bem amarada rodou, rodou no remanso não foi levada embora, então disseram: ‘-Ma che Porto Franco’, isto é: que porto seguro. Assim, Botuverá sempre foi chamado de Porto Franco, Porto Seguro.[1]

Porto Franco, hoje Botuverá, emancipou-se de Brusque, em 28 de abril de 1962. A Câmara Municipal de Brusque, sob a presidência do Sr. João Batista Martins, sancionou a resolução Nº. 238, que criava o Município de Botuverá e Guabiruba, desmembrados do território do Município de Brusque. Em 07 de maio de 1962, a Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, homologou a criação dos municípios.

A data oficial da emancipação do Município de Botuverá, foi 09 de junho, quando assumiu provisoriamente como prefeito o Sr. Zeno Belli, que nasceu em 1912, e concorreu pelo Partido Social Democrático –PSD, para ocupar o cargo de 1962 a 1963. Quando das eleições municipais, para o cargo de prefeito, foi eleito o Sr. Sebastião Tomio, que ocupou o cargo de 1963 a 1969.

Memórias de Porto Franco

O ano de 1876, anunciava dificuldades, a 22 de janeiro, assumiu o cargo de Diretor da Colônia Itajaí-Príncipe Dom Pedro, agora uma só, o Dr. Olímpio Adolfo de Souza Pitanga, natural de Pernambuco[2] que “ao assumir encontrou um elevado número de colonos a instalar, pagar e atender com auxílios não especificados [...] nessa altura já atingiam 1.300 instalados e por instalar na Colônia Príncipe Dom Pedro”[3]. Não devemos nos admirar portanto que seus primeiros pedidos sejam de auxílio financeiro, e de um intérprete italiano, o tempo não também não colaborou, as chuvas contínuas, faziam o rio Itajaí-Mirim, encher rapidamente, atingindo o rancho de recepção, e “a epidemia de disenteria continuava...e o médico pedira demissão.”[4] O Contrato Caetano Pinto, capitaneava novas levas de imigrantes italianos à região, em maio de 1876, chegavam nos vapores ‘Wassimon’ e ‘Leopoldina’, mais 220 colonos, que acabaram por escolher Blumenau; em outubro no vapor ‘Norte America’ chegava de Genova, com 900 imigrantes italianos, optaram pela província 521, os outros seguiram para o Rio da Prata.[5]

Com relação ao Distrito Porto Franco, 33 colonos italianos pediram transporte para suas terras, o que lhes foi negado[6], devemos enfatizar que, nesta fase do processo de colonização, restavam poucas terras favoráveis para a agricultura, sendo os imigrantes direcionados a ocupar, os terrenos montanhosos, portanto bastante acidentados, para tanto buscamos as palavras do engenheiro Max J. Schumann, que andou pelas paragens da ex-Colônia Príncipe Dom Pedro, em 1907; zeloso para que os colonos aproveitassem melhor suas terras, sugere:

sendo a cabra a “vaca dos pobres”, arbitrei os potreiros cheios de gado vacum como agradável sinal de certa riqueza dos moradores, mas não quero deixar despercebida a ocasião para chamar a atenção daqueles moradores para a grande importância da criação caprina nesses morros quase inacessíveis e toda a vida impróprios para a lavoura[7]

Parafraseando o linguajar do mesmo, será ‘nestes morros quase inacessíveis’, que distanciam 30 quilômetros da sede colonial que irá se instalar, o povoado de Porto Franco.

Quanto aos primeiros habitantes encontramos a citação das famílias: Morelli, Molinari, Colombi, Maestri, Paini, Pedrini, Rampelotti, Dognini, Tirloni, informação esta, colhida através da memória de Dionísio Pedrini[8]. Para acrescentar a esta listagem, podem ser elencadas as famílias: Bosio, Venzon, Bonomini, Aloní, Gianesini, Betelli, Raimondi, Tomio e Comandolli, de acordo com Bonomini[9] eram ao total 33 famílias a se estabelecerem na região. Em nossas pesquisas, nos deparamos com uma bela surpresa, quando da visita a residência do Sr. Vitro Bambinetti, este nos apresentou anotações escritas ‘nas costas de um velho calendário’, vejamos:

Os primeiros imigrantes a chegar em Porto Franco foram: Pedro Maestri, que tinha os filhos: José Carlos, Rosa Pepina e Maria. Veio também, Carlo Maestri e Joani Maestri, Vitório Cestari, Vitório Zanca, João Morelli, Pascoal Dalmolini, Alexandre Tirloni e outros. Havia um português chamado José Crest, este foi a ‘salvação dos primeiros’, pois ele tinha construído uma canoa feita a machado e começou a buscar o que era mais necessário como sal e querosene, na vila, hoje Itajaí[a referência pode indicar a sede, em Brusque][10]

Completando sua história acrescenta os primeiros moradores da localidade de Ribeirão do Ouro:

Andréa Colzani, Luiz Bambinetti, Gizo Mariani, Pedro Liyra, Ângelo Colzani, Andréa Busquiroli [...] e o Asqui Radavel e sua mulher, um dos seus filhos foi morto pelos índios [...] Andréa Colzani, era casado com uma Sales, estes eram os mais aventureiros de todos, pois ele pagava por dia, todos que queriam trabalhar com ele, construiu fornos de cal e engenhos de serra e de mandioca, e açúcar, depois fez a melhor casa de negócios do lugar.Ele teve sete filhos. O primeiro a ser enterrado no cemitério do Ribeirão do Ouro, foi o Asqui, dos italianos, porque junto com eles Vieram muitos polacos, mas sobraram poucos, dois ou três por aqui.[11]

Uma Colônia, não só de italianos... Mas, também de poloneses

Torna-se importante destacar nas informações do Sr. Vitro Banbinetti, a seguinte frase:

[...] porque junto com eles vieram muitos polacos, mas sobraram poucos, dois ou três por aqui.” Devemos lembrar que, “eram as massas camponesas e proletárias que imigravam, legítimos representantes da Europa oprimida [...] pouca conhecida do mundo, essa outra Europa fazia sentir sua existência, protestando através da imigração [...] essas massas camponesas se deslocavam para a Alemanha para embarque nos portos de Bremen e Hamburgo, chamando a atenção da população,[...] na cidade de Bremen, nas manhas dominicais as ruas estavam cheias de imigrantes poloneses[...][12]

Estes imigrantes eram vistos com exotismo pela população local. Nesse sentido vale citar, que desembarcaram na Villa do Itajahy, 20 famílias polonesas, para se fixarem nas terras da Colônia Príncipe Dom Pedro, nos idos de 1869, no entanto para confirmar sua presença nas terras de Porto Franco, preferimos citar o livro “Dívidas Colonial”[13], que contém a relação nominal dos poloneses estabelecidos na região, como também a contabilidade de suas dívidas, ela inicia-se em outubro de 1890 e continua até fevereiro de 1893:

*Margem direita do Rio Itajaí-Mirim, Distrito Porto Franco: Adolfo Dereschefschi, Casimiro Borkewicz e Otto Gimbitzki.
  • Ribeirão da Areia, Distrito de Porto Franco: Alfredo Prigerowski, Guilherme Marczefeski, Miguel Walendowski, Stanislay Gerski.
  • Braço direito Ribeirão do Lageado Grande: Antonio Rogoski, André Schafreinski, Antonio Plowaczki, Carlos Lipowski, Francisco Mankowski, Francisco Schafreinski, Julio Wosniak, José Blakowski, Martin Twadowski, Nicolau Witkkowski, Pedro Simianowski, Stanislau Rosiczki, Theophilo Thelimkowski, Vicente Drzewinski e Woiczek Przibilski.
  • Braço esquerdo do Ribeirão do Lageado Grande: Antonio Pesczinski, André Falkowski, Alvin Nasgewicz, Clemente Soboleski, José Narolski, João Maruszewski, Miguel Zabelski, Stanislau Kotowski, Stanislau sabelski, Stanislau Dolinski, Wadislau Kotowski.
  • Linha Águas Claras, Distrito de Porto Franco: Francisco Falkowski.
  • Linha Águas Negras: Frans Jagesfski, José Przinski e João Kreibisch ( nesta localidade requereu lotes Frederico Klappoth)


Referências

  1. BONOMINI, Evido Bonomini. Entrevistado em 17 de maio de 1999. Botuverá, arquivos:CEDOM.
  2. CABRAL, Oswaldo R. Brusque: subsídios para a história de uma colônia nos tempos do Império. Brusque: SAB,1958. p.177.
  3. GEVAERD, Ayres. “1875 – Os primeiros anos da colonização italiana nas Colônias Itajahy – Brusque e Príncipe Dom Pedro”. In: Jornal “O Município” – 25/07/1975.
  4. CABRAL, Oswaldo R. Op.Cit. p.177.
  5. Idem. pp. 182 e 189.
  6. Idem. p.189.
  7. SCHUMANN, Max. Jornal “Novidades”, 29 de setembro de 1907.
  8. Entrevistado por Roselys C. dos Santos em 25/01/1979. In: SANTOS, Roselys Izabel Corrêa dos. A colonização italiana no vale do Itajaí-Mirim. Florianópolis: Edeme, 1981. p.18.
  9. BONOMINI, Pedro Luiz. Pequena História de Botuverá. Brusque: Gráfica Mercúrio Ltda, 1975, p.17.
  10. BAMBINETTI, Vitro. Entrevistado em 03 de setembro de 1999. Botuverá, arquivos:CEDOM.
  11. Idem.
  12. WACHOWICZ, Rui Christovam. O camponês polonês no Brasil. Curitiba: Fundação Cultural-Casa Romário Martins, 1981.pp. 65 e 66.
  13. Utilizamos aqui da relação já apresentada por Maria do Carmo Ramos Krieger Goulart. In: Paízes polonesas em Brusque. Florianópolis: Imprensa Universitária da UFSC, 1989.pp. 17 à 20.