Entrevista Sebastiana de Souza Cardeal - Luiz Gianesini

De Sala Virtual Brusque
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SEBASTIANA DE SOUZA CARDEAL: Filha de Francisco Antônio de Souza e Maria Duarte de Souza, natural de Brusque, nascida aos 05.02.33.

Uma apresentação

Sou primogênita de uma família de 12 filhos ( 3 já falecidos), pais semi-analfabetos, família modesta, com baixo poder econômico, sou casada há 53 anos e 9 meses com Alfredo Cardeal, tenho 9 filhos ( 2 homens e 7 mulheres) e 12 netos. Formada em Filosofia, Pós-graduada em Administração Escolar e Fundamentos Educacionais, tenho, também, licenciatura curta em Teologia.

Primeira professora?

Como primeira professora tive Dona Cecília Kunitz Contesini, no Colégio Santo Antônio, hoje, Colégio São Luiz.

Como iniciou a formação?

Cursei Magistério – ensino médio – já casada, com 4 filhos, e, a faculdade com 42 anos. O mundo deu muitas voltas em minha vida. Ressalte-se, que a minha insistência em estudar, fez cair barreiras, referências e mitos da cabeça de meus pais.

Como foi a sua infância e juventude? E a estréia no magistério?

Tive uma infância rica em valores, apesar das dificuldades financeiras. Com 12 anos fui trabalhar em serviços de indústria até aos 18 anos, para colaborar com as despesas da casa. Uma experiência fantástica. Nunca faltou solidariedade, fraternidade, ajuda mútua, laços de afeto e amor. Guardo como aspectos positivos dos meus pais. Aos 18 anos entrei no Magistério, como estreante , meu trabalho foi na Escola Padre Vendelino Wiemesm na localidade de Cedrinho.

Sebastiana educadora e as realidades vividas?

Permaneci na Escola Padre Vendelino por 19 anos, sendo 12 como alfabetizadora – minha paixão. Gosto de dizer – ser professor não é tarefa fácil. Menos quebra-galhos ou bicos para alguém. Isto nem na minha época, menos ainda, para a atualidade. Tenho consciência das diferentes realidades vividas na educação. Era preciso crer para ensinar. Aliás, um pouco mais amar e crer para melhor ensinar. Porém, sabemos perfeitamente que o ato de ensinar é ato de amor. Como é difícil compreender tudo isto se nós professores temos problemas parecidos aos dos alunos, sem conseguir resolvê-los: quem ama educação, faz educação.

Respira educação?

Vivi 40 anos com educação: História, Geografia, Religião, Moral e Cívica e OSPB. Trabalhei com primeira e quarta séries, Escola Isolada e primeira a quinta e oitava séries no Ensino Fundamental. Fui auxiliar de Direção, Secretária, Orientadora Pedagógica nos Municípios de Brusque, Botuverá e Guabiruba, Supervisora e Diretora de Escola. Recebia-se pouco ou nenhuma formação. Era preciso buscar informação e formação. Não me acanho em dizer, que a educação para mim, operou uma transformação. Mudou a temperatura do meu sangue e o prazer da vida.

Hoje?

Hoje, as contribuições da informática e a automação criaram um cenário de competição. A educação pede professores com habilidade e inovação constante, para que o Professor se iguale aos alunos.

Pensou em desistir em algum momento?

Sempre me senti precoce como mulher. Sem apoio familiar para estudar e trabalhar. Desde 1945, fui à luta. Houve momentos de desânimo, porém enfrentei. Comigo tenho sempre em mente: “quem sabe onde quer chegar, escolhe o caminho certo e o jeito de caminhar”. Lutei!

Grandes nomes na educação?

Paulo Freire, Marilena Chauí, Leonardo Boff, Pierre Fuster e Ivan Illic.

A mulher trabalha por necessidade ou para ser independente?

A mulher trabalha em primeiro lugar por uma realização pessoal. Ela se sente gente. Faz bem. A independência é coisa importante. Quem gosta de mendigar? Ninguém. Sem deixar de lado a necessidade dos dias de hoje. Vamos juntar realização, independência e necessidade. A mulher deve trabalhar sim. É valorização pessoal.

A mulher não está confundindo liberdade responsável com libertinagem?

Os avanços confundem liberdade responsável com libertinagem. É preciso equilíbrio para sobreviver numa sociedade machista. A luta da mulher que sabe e já se entrega a promiscuidade é resultante de dois fatores: primeiro, faltou maturidade e equilíbrio e em segundo, de outro lado, o machismo da nova sociedade ainda é acentuado, em ver a mulher pejorativamente. Falta respeito.

O casamento ainda é válido?

Acredito que no casamento com respeito, fidelidade, amor e tolerância , sem estes ingredientes é difícil conviver.

Lazer?

Quando posso viajo para visitar os filhos distantes.

Recomeçaria tudo novamente?

O trabalho e o estudo foram marcos da minha vida. Começaria tudo de novo.

Finalizando?

Para muitos possa parecer um vôo de fantasias. Digo que não. É o encanto que muitos ainda não descobriram.

Referências

  • Jornal A Voz de Brusque. Matéria publicada na semana de 16 a 30 de dezembro de 2006.