Mudanças entre as edições de "Entrevista Nestor Adolfo Eckert - Luiz Gianesini"

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*Jornal Em Foco. Edição nº x. 2012.
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*Jornal Em Foco. Edição de 3 de julho de 2012.
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Edição atual tal como às 14h17min de 16 de abril de 2013

O entrevistado da semana é o Dr NESTOR ADOLFO ECKERT, popular Padre Nestor, nascido em Boa Vista do Buricá/RS, aos 07.03.1952; filho de Belmiro Otto Eckert e da saudosa Alcira Hermann Eckert. Atualmente é Secretário Geral da Escola Superior de Gestão Comercial e Marketing e Professor nos cursos de Pós-graduação, ambos na faculdade ESIG. Torce para o Grêmio Football Portoalegrense.

Nosso entrevistado Nestor Adolfo Eckert.
Divulgação.

Ainda preserva alguns amigos da infância?

Os meus vizinhos e colegas de escola primária e os primeiros colegas seminaristas. Somos amigos até hoje e são muitos.

O que lembra com carinho de sua infância?

Hoje sinto falta da vida espontânea, simples e alegre de todas as crianças e a possibilidade de fazer um bodoque (cetra) e caçar passarinhos nos domingos, à tarde, com os amigos e chupar bergamota, laranja e cana-de-açúcar e balançar nos cipós do mato. Além da possibilidade de andar de carriola, feita por nós mesmos, nas encostas dos cerros.

Quando criança queria ser adulto?

Isso nunca me passou pela cabeça. Gostava muito de ser criança. Era vida simples, muito pobre, mas alegre. Só tenho boas lembranças da infância, apesar das carências em termos de dinheiro. Nunca tínhamos dinheiro como crianças.

Sonho de criança?

Sonhava em celebrar missa (até celebrávamos de “brincadeirinha” com “hóstias” de banana e “vinho” feito de suco de amora), fazer discursos ou dar aula. Brincava muito de escola. Eu sempre era o professor. Sonhava em ser professor.

Como foi a juventude?

Juventude vivida em Seminário, visto que entrei no Seminário aos 12 anos. Bastante estudo. Muita leitura. Aos domingos, à tarde, ao invés de jogar futebol, eu ficava na sala de aula lendo livros que só eram permitidos aos mais adultos, até escurecer porque não podíamos acender a luz só para ler. Naquela época, Ensino Médio e Fundamental funcionavam juntos. Éramos mais de 200 guris e jovens. Os livros que eram para os do Ensino Médio só eram lidos clandestinamente. Eram os que eu lia aos domingos, à tarde. Do que eu gostava mesmo era jogar futebol e pescar. A pescaria sempre me divertiu. Principalmente, tirar peixe da toca à unha... Fui mordido alguma vez por traíra ou “fisgado” por jundiá, no Rio Novo, em Corupá/SC. Depois, aficcionei-me às lagoas. Até hoje. Não me lembro de grandes crises como jovem. Foi um período tranquilo.

Quais eventos mundiais tiveram impacto na sua infância e juventude?

Recordo-me de dois fatos. Ambos acompanhados pelo rádio. O primeiro foi a vitória do Éder Jofre sobre o Harada (lutador japonês), no boxe. Eu não sabia o que era boxe, mas meus colegas todos gostavam e me explicaram o que era e os adultos vibravam muito. O segundo fato que me marcou foi a escutar a transmissão, via rádio, da Copa do Mundo de 1966. Na casa de meus não havia rádio e eu nunca havia ouvido jogo pelo rádio. No Seminário, em Corupá, todos ficávamos sentados na grama, em frente ao Salão de Teatro, no qual estava instalado um aparelho de rádio e escutávamos os jogos, principalmente, do Brasil. Para mim tudo era novidade. Eu não fazia a mínima ideia de como funcionava uma Copa do Mundo. Lembro-me que depois consultei a Enciclopédia e quis saber tudo sobre todos os países cujos nomes eu havia escutado durante os jogos. Sempre me interessei por Geografia e como tinha boa memória consegui “decorar” o nome de todos os países do mundo e suas capitais.

Pessoas que influenciaram?

Meu pai me influenciou muito no sentido positivo. Ele me ensinou a ler antes de eu ir à escola e ele só pôde fazer os dois primeiros do antigo primário. Com mamãe, aprendi a escrever em alemão gótico. Meu professor do primário também me influenciou, despertando um gosto especial pelos estudos em todos nós, seus alunos.

Como era a escola no seu tempo de criança?

Como éramos poucos alunos, no interior, na Comunidade de Linha Almeida, havia apenas uma sala, com bancos compridos e todas as séries juntas. O professor (só tive professora na 1ª. série) passava matéria para cada turma. Começava com a 1ª. série e ia até a 4ª. série. Nós mesmos limpávamos a escola. A comunidade sustentava o professor, levando-lhe alimento, lenha, e tudo o que fosse necessário. Era uma escola pequena construída em madeira. Quando havia missa (de três em três meses), também era na escola que acontecia. Era escola de uma sala apenas.

Quais foram as melhores e piores matérias?

Honestamente, nunca tive muita dificuldade em estudos. Mas, não gostava de Matemática nem Desenho. Gostava de ler e escrever e estudar História e Geografia.

Atividades escolares e esportes que gostava de participar?

Eu gostava de participar de todos os tipos de atividades menos marchar em desfiles cívicos. Achava aquilo muito chato e sem sentido. Dos esportes sempre gostava de participar de todos. Havia uma brincadeira chamada “caçador”, em que se devia acertar o adversário com uma bola. Aliás, as bolas sempre eram feitas com meias e pano velho. Além desse, havia a “bandeira quente” e outros esportes e brincadeiras de cujos nomes não me recordo.

Formação escolar?

As etapas pelas quais passei em minha formação escolar são:

  • Da primeira à quarta série: Escola Municipal Fernando Borba, na Linha Almeida – de 1960-1963.
  • Admissão e 5ª. série: Escola Apostólica São Miguel – Crissiumal/RS – de 1964- 1965.
  • 6ª. série até 8ª série: Escola Apostólica Sagrado Coração de Jesus – Corupá/SC – de 1966-1968.
  • Ensino Médio: Colégio Estadual Manuel da Nóbrega – Rio Negrinho/SC – de 1969-1971.
  • Curso de Estudos Sociais: Fundação Educacional de Brusque (FEBE) – de 1973-1975 – minha turma foi a primeira turma a frequentar e a se formar oficialmente na Fundação Educacional de Brusque – FEBE. Cursamos Estudos Sociais porque os militares não permitiam a existência de Curso de Filosofia.
  • Curso de Teologia: Convento Sagrado Coração de Jesus – Taubaté/SP – de 1976- 1979. Em 1979, fui ordenado padre e fui trabalhar como professor no Ensino Médio, em Curitiba.
  • Mestrado em Sociologia: Pontificia Università Gregoriana – Roma/ Itália – de 1982- 1983.
  • Doutorado em Ciências Sociais: Pontificia Università Gregoriana – Roma/Itália – de 1984-1985.
  • Especialização em Administração de Empresas: Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (UDESC) – Jaraguá do Sul/SC – de 1987-1988.

Primeiro/a Professor/a?

Ida Dick (apenas na 1ª. série). Nas outras séries do Primário tive como professor o Sr. Ermindo Roque Bender, a quem eu admirava e respeitava muito. Um verdadeiro educador.

Grandes professores?

Ermindo Roque Bender, Pe. Roque Opperman, Pe. Alírio Pedrini, Pe. Orlando Maria Murphy, Tadeu Cristovam Mikowski, Alexandre Müller, Pe. Canísio Rauber, Pe. Pedro Claderán Beltrão (orientador de minha tese de doutoramento), Pe. John Carroll, Angelo Saporiti (professor de Estatística, que me fez gostar de matemática!), Prof. João Salm (UDESC), que me iniciou nos Cursos de Pós-graduação.

Medos?

Desde criança, como morava bem no interior sem luz elétrica, portanto no escuro, nunca tive medo. Penso que eu não tenha medos. Envelhecer ou entristecer? Nunca pensei no assunto. É tão bom viver como vivemos...

Arrependimentos?

Não ter lido e estudado mais. Mas, é um arrependimento leve!

Algo que fez ou disse e que não faria ou diria mais?

Nada me vem à memória, no momento. Estou muito tranquilo e sereno quanto a isso.

Algum ressentimento?

Não saberia dizer se é ressentimento, mas quando deixei o cargo de Secretário da Educação, em Brusque, senti a frustração de não termos conseguido elevar significativamente o salário dos professores. Isso me deixou um pouco chateado, mas a situação não permitia outras políticas. Mas, se tivesse conseguido esse objetivo, eu poderia dizer que fizemos um bom trabalho na Educação. Ficou faltando alguma coisa. Eu achava que conseguiríamos. Os professores mereciam.

Nestor Adolfo Eckert quando Secretário Municipal de Educação.
Divulgação.

Maior desafio?

Acho que foi ter tido coragem de aceitar ser Secretário de Educação e Desportos, em Brusque, de 1993-1996. Mas, sou grato ao Prof. Danilo Moritz (Prefeito) e aos professores e às professoras da Rede Municipal por essa oportunidade de crescimento na vida. Aprendi muito.

A “passagem” pela Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus?

Eu, desde menino, gostava da ideia de ir para o Seminário. Os dehonianos apareceram. Fizeram proposta e aceitei. Mas, quem queria mesmo ir para o Seminário era meu irmão, que vem logo depois de mim (sou o mais velho lá de casa), mas eu pensei “eu vou antes dele. Afinal, sou o mais velho”. São coisas de guri de roça. Eu fiquei padre e ele hoje é pai de três moços e Diretor de Operações Comerciais da AGCO, em Porto Alegre. Ele é muito grato ao Seminário pela formação que recebeu. Ele deixou o Seminário na metade do segundo ano do Ensino Médio. Somos muito ligados um ao outro. Mais que irmão ele é meu amigo... Da Congregação só recebi coisas boas. Não me imagino a não ser como dehoniano.

Cargos que ocupou na FEBE?

Fui professor de diversas disciplinas. Além disso, fui Secretário Executivo por sete anos, fui coordenador do Curso de Administração, coordenei a pós-graduação e dei as primeiras ideias para a formação do CEDOM, que o Prof. Marlus Niebuhr fez criar vida própria.

Lembranças positivas da FEBE?

A boa e agradável convivência com os alunos. Tanto que até hoje mantenho contato com muitos deles, especialmente do Curso de Filosofia, de Administração e de Pedagogia. Outra lembrança boa é a postura profissional de muitos professores, o que me estimulou muito, principalmente, no início de minhas atividades docentes.

Quais artigos que escreveu que tiveram mais receptividade? E quais não reescreveria mais?

Não tenho nenhum mecanismo de controle ou de averiguação para saber que tipo de receptividade algum texto recebeu. Um ou outro comentário, talvez. Mas nada profundo ou sistemático. Para mim, pessoalmente, não ajuda em nada saber se houve receptividade ou não com relação a algum texto. Certamente, há textos de que eu gosto, textos de que não gosto. Textos que foram escritos sob pressão, outros foram escritos muito livremente... Não saberia dizer se existem artigos que não escreveria mais nem reescreveria. Isso nunca me passou pela cabeça. Já faz um bom tempo que assumi, livremente, o compromisso de, a cada semana, enviar textos para jornais e páginas on-line. Às vezes, não me lembro de escrever e está na hora de enviar os textos. Aí, sento em frente ao computador, penso por uns minutos. De repente, dá como que um “estalo”, um “insight” e, em pouco tempo o texto está pronto.

Como surgiram as idéias para escrever “Memórias de Guri da Roça” e “Vida Secreta de Seminarista”?

A ideia de escrever MEMÓRIAS DE GURI DA ROÇA, surgiu na convivência com meus sobrinhos e minhas sobrinhas que me perguntavam de vez em quando “Como isso era no teu tempo de criança?”Em uma noite, sem ter nada planejado comecei a escrever e gostei do que estava saindo. Fiz uma revisão, mostrei ao Luiz Saulo Adami e ele topou publicar e assim aconteceu. Já VIDA SECRETA DE SEMINARISTA, depois da boa aceitação do MEMÓRIAS... tentei responder a todas as pessoas que perguntavam “Como é a vida dentro de um Seminário”. Percebi que seria um assunto atraente e que poderia fazer um pouco de literatura, sem ter autoridade para ser literato. Achei que poderia misturar realidade e invenção...

Os textos têm autobiografia?

Sem dúvida. Há um pouco da minha vida em ambos os textos. Mas também há coisas inventadas, criadas. Os dois livros não são autobiografia. São a junção de histórias de vidas. Principalmente, o VIDA SECRETA... Ele revela como é a vida dentro de um Seminário, mas não é a minha vida dentro do Seminário. Para não se tornar chato, inventei algumas coisas para fazer jus ao título e torná-lo um pouco “picante”...

Se estivesse no início da carreira o que faria que não teve coragem de fazer?

Faria um bom curso de computação e faria muitas pesquisas de campo para desenvolver algumas ideias na área da Sociologia. E viajaria muito mais. De modo especial, gostaria de conhecer melhor os países da América Latina, lugares como Machu-Pichu, México e gostaria muito de conhecer pessoalmente autores latinos como Eduardo Galeano, por exemplo.

O que aplica dos grandes educadores e das aprendizagens que obteve?

O respeito aos alunos, paciência na hora da aprendizagem, estímulos e incentivos a quem mostra interesse, estímulo à leitura e pesquisa, valorização do que o acadêmico produz (não sei atribuir nota baixa...), respeitar cada aluno como único, singular, indivíduo com sua personalidade.

Decepções e alegrias?

Não tenho condições de fazer esse tipo de classificações. Decepções talvez fossem as minhas irritações nos jogos de futebol. Mas, do futebol também vieram muitas alegrias como os muitos torneios que ganhei juntamente com os fratres, jogando pelo Águia Negra, que era o time do Convento Sagrado Coração. Em um ano, ganhamos seis bois em torneios, um porco grande e dois trofeus imensos. Foram momentos de sadia alegria e disposição para iniciar bem a segunda-feira. A regra era essa: cerveja vai ter, mas somente depois do jogo, ganhando ou perdendo. A camisa preta e amarela assustava...

Exerceu o magistério também no Honório Miranda?

Não. Nunca lecionei no Colégio Honório Miranda. Apenas dei algumas palestras. Lecionei, desde o tempo de estudante de Filosofia, no Colégio São Luiz (Inglês, História, Português, Organização Social e Política do Brasil...). Uma experiência muito boa e agradável tive, ainda como estudante, aqui em Brusque, quando lecionei nos cursos de educação de adultos. O mais novo na sala de aula era eu. Eu ficava felicíssimo quando toda a minha turma (Português) era aprovada nas provas que eram aplicadas pela Secretaria de Estado da Educação. Durante os três anos de estudante de Filosofia eu lecionei: Colégio São Luiz, curso para adultos, cursos supletivos e em cursinhos de preparação para o vestibular.

Finalizando como vê a Programação da televisão?

Aqui no Brasil houve época em que já foi melhor. Hoje penso que o nível seja relativamente baixo. Eu assisto pouco. Talvez uma hora por dia. Não mais. Quando o Grêmio joga, aí acrescento mais 90 minutos. Não gosto de ver Seleção Brasileira, muito menos escutar Galvão Bueno, Luciano do Valle, Neto... Ninguém merece tanta bobagem em tão poucas bocas. Quando assisto a algum jogo com esses indivíduos ao microfone, coloco no mudo. Apenas assisto.

Referências

  • Jornal Em Foco. Edição de 3 de julho de 2012.