Entrevista Luiz Saulo Adami 2 - Luiz Gianesini

De Sala Virtual Brusque
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O entrevistado da semana é Luiz Saulo Adami. nascido escritor em Brusque na madrugada de 21 de fevereiro de 1965. filho de Tereza Conte e Luis Avani Adami. comer-ciantes estabelecidos no Atraia! dos Cunhas. Hajar Seu nome foi escolhido por sua avó Maria da Silva Adami. a dona Cota. frequentadora da Igreja Batista. A avó materna e benzedeira Ema Fomari Come cantou a pedra do seu destino: -Ele vai ser escritor"! Autodidata. jornalista prático por 22 anos. Saldo Adami é autor de 54 livros nas áreas de literatura (poesia. conto. crônica. novela e romance). biografia e história: editor de 80 livros nos mais variados gêneros. e desde 2004 tem sua própria editora. hoje conto selo DOM. Gosta de cinema (a preferência pela série -O Planeta dos Macacos" fez dele referência mundial). teatro (escreveu, produziu e dirigiu mais de 30 espetáculos). corridas de Fornada 1 e futebol. que assiste quando pode. Torcedor do Clube Atlético Carlos Renaux (SC. sobre o qual está preparando um livro para 2012). Grêmio (RS) e Flamengo (RJ). "não necessariamente nesta ordem".

Quais lembranças guardou da sua infância?

Minha avó Ema era benzedeira. foi ela quem disse para minha má e. assim que nasci. que eu seria escritor. Aos três anos de idade eu escrevia com água. carvão e giz nas paredes da casa-venda de meus pais. Na escola primária do Arraial dos Cunhas. quando a professora Eleta Raimondi Pinto perguntava o que eu queria ser quando crescesse, eu respondia: "Quero ser escritor". Aos nove anos. escrevi os primeiros contos, aos dez montei a primeira peça teatral com colegas da escola. Na verdade. eu não gostava do ambiente escolar, só queria aprender a ler e a escrever bem. fugia dos cálculos e das ciências físicas e biológicas. Prioridades em minha vida sempre foram escrever e publicar livros. Algumas das lembranças mais divertidas incluem meu avó materno. Serafim Conte. e seu cachorro Pió. personagens dos livros "História secreta do Armyal dos Cunhas" (2004) e "O caso do esqueleto sem cabeça" (2008). Quando meu avô foi sepultado. em outubro de 1978. voltamos para casa e encontramos Pió morto: ele morreu de tristeza, pois ele e Serafim eram grandes amigos. .Aprendi muito com eles e com vários outros mestres que tive na infância e adolescência. dentro e fora da minha família, como João Sardo. o Janga. meu professor de sinuca.

Na juventude, o que mais gostava de fazer para se divertir?

Passei a maior parte da adolescência estudando e escrevendo. Fui um guri normal. pleno de dúvidas, mas ao mesmo tempo certo de que queria ser escritor. Eu mentalizava minhas experiências futuras: escrevendo livros. autografando livros, vendendo livros...

Meus pais sempre fizeram tudo para me aju-dar na realização dos meus sonhos. mesmo aqueles que não condiziam com o futuro que eles estivessem almejando para mim. Eu pro-curava ajudá-los no comércio e nas plantações que meu pai fazia. em um terreno do qual ele gostava muito. Eu fazia o que gostava: assistia "Vila Sésamo" e "Shazan. Xerife 8: Cia." na TV: tive sarampo. cachumba. catapora. meti espinho nos pés. tinha calos e hematomas porque jogava futebol (fui zagueiro central do Arraial dos Cunhas e do Bfilhante. time do técnico Silvio Moser): participei de grupos de jovens da igreja católica. conheci centros espíritas. escrevi para o jornal mimeografado do colégio. montei peças de teatro na garagem de casa, nos colégios onde estudei em boi aí... Passei boa pane da minha adolescencia con-vivendo com minha tia. a professora Florisa Batista Ada mi. que morava na Vila Operária. em Itajai. com suas filhas Eliane. Tania e Euza. Eu estudava pela manha. almoçava na casa dela e. no período da tarde, fazia cursos, como (hoje praticamente extinto) datilografia, que cursei na Escola Brasil: fui contemplado por uma bolsa de estudos oferecida pelo dono da escola, Nereu Pinto, amigo de meu pai.

Costumava assistir teatro e cinema?

Sim, sempre que podia, assistia peças de teatro com a participação do jornalista Mauro Cadore, que era meu vizinho, foi com ele que assisti pela primeira vez "O Santo Inquérito". de Dias Gomes, um de meus textos favoritos. Também assistia filmes em Itajaí e em Brusque. e nunca vou me esquecer do tamanho da fila para entrar na sessão do "King Kong" em 1977. produção do Dino de Lati-rentiis. Dos eventos que mais ficaram vivos em minha memória. destaco a vitória do Brasil na Copa do Mundo de 1970: as conquistas do bicampeonato de Emerson Fittipaldi e do tricampeonato de Ayrton Senna na Fórmula 1:0 assassinato de John Lennon. em 1930: eu havia comprado o último disco dele, naquela manhã, e ao chegar em casa vi a noticia na TV Filho único até meus 23 anos. me divertia a valer com as visitas dos colegas de escola e dos primos de Brusque. Itajaí. Blumenau e Ponta Grossa (PR). Nossa casa-venda era um local de muitos encontros felizes, e essas lembranças alimentam com personagens e cenas as histórias que escrevo hoje.

Como surgem as ideias para escrever um livro?

São várias as formas. Quando se trata de literatura, o canal condutor é a inspiração. No caso de história e biografia. é unia questão de observação, de pesquisa para verificar o ineditismo e a necessidade de se produzir o livro. Gosto de escrever de tudo. sobre varia-dos temas, mas prefiro escrever literatura, que me dá maior liberdade de expressão e estimula minha criatividade. Gosto da trilogia "Kuranda" (2010). "Kuranda do Norte" e "Kuranda do Espaço" (2011). que agora está sendo traduzi& para língua inglesa. Quero lançar a série em outros países. também. Gosto limito de teatro, tanto de escrever quanto dirigir e produzir. mas hoje em dia não tenho mais tempo para isso. O que pretendo fazer, em breve, é reunir em um ou mais livros algumas peças de teatro — incluindo monólogos — que escrevi nas décadas de 1970 a 1990. Não quero deixar estas histórias envelhecendo nas gavetas porque trouxeram muitas alegrias para mim e para todas as pessoas que tiveram participação nas suas montagens.

Teve dificuldades para publicar livros?

Ainda tenho. Não é porque sou dono de editora que tenho facilidades: bons profissionais custam caro, tenho que pagar por eles. Não há uni sistema satisfatório de distribuição de livros em Santa Catarina. autores e editores tem que fazer tudo. e ainda aparecer sorrindo nos jornais e na TV. Porém. já foi mais com-plicado produzir um livro. Até a década de 1980. precisávamos de meses para viabilizar a monta.:,em e a impressão de um livro, tudo era composto em chumbo, às vezes em tipos móveis, e impresso em gráficas locais, a custos altíssimos, ou muito distantes de casa (São Paulo, por exemplo). Hoje, temos gráficas especializadas em livros, como a Nova Letra Gráfica Si: Editora. de Blumenau. minha parceira há mais de dez anos, que imprime para as principais editoras do pais.

Quais das suas obras repercutiram mais positivamente?

Alguns livros marcaram época ou se projetaram mais do que outros, o que é normal considerando uma carteira de três décadas e 54 títulos. Na área de literatura: "Cicatrizes" (1982). o primeiro. aos 17 anos, de poesia. conto e crônica: "Nosso Pequeno Grande Mundo" (198$). poesia: "Palavra Tardia" e "Quarto Crescente" (2008). romances: "O caso do esqueleto sem cabeça" (2008), contos: "Duplo Girassol" (2008). poesia. conto. crônica e novela: e a trilogia -Kuranda" (2010-2011). Na área de história: "História secreta do Arrayal dos Cunhas". "Paisagens da Memória: A criação do município de Vida! Ramos" e "Agrolandia de todos os tempos" (2004, que teve três edições): "Colégio Salesiano Itajaí: 50 Anos" (2006): "Lauterbach: Aurora de nossa história" (2007. duas edições): "Guabiruba de todos os tempos" (2010): e a série de cinco livros sobre minha cidade natal: "Brusque Cidade Schneeburg" (2005). "Brusque era maior: Viajantes do tempo" (2006). "Brusque vai à guerra: Novas visões da história" (2007). "Brusque operária: comércio e indústria" (2008) e "Histórias e lendas da Cidade Schneeburg" (2009). reconhecido pela Academia Catarinense de Letras como o melhor livro do ano: "Vielen Dank. Hen' Doktor: Dos primeiros médicos aos 40 anos da Associação Bmsquense de Medicina" e "Arthur Schlösser e a criação dos Jogos Abertos de Santa Catarina" (2010).

Você também escreveu algumas biografias?

Sim. "Testemunho de Fé: Memorial do Pastor Wilhelm Gottfried Lange" (2003). português/alemão: "Carlos Boos nunca soube dizer não!" (2005). "Nas Mãos de Deus: A Verdadeira História de Lilli Zwetsch Steffens" (2006. oito edições): "Willy Hoffinann: Ambientalista por vocação" (2009) e "José Bemardino da Silva: Pioneiro da Assembleia de Deus em Santa C'atarina" (2011).

Seu interesse pelo universo "O Planeta dos Macacos" já rendeu quantos livros?

Foram dois publicados até agora: "O único humano bom é aquele que está morto!" (1996). que inc levou aos Estados tinidos ao encontro de atores e técnicos destas séries. e "Diários de Hollywood: um brasileiro no Planeta dos Macacos" (2008). que trata destas experiências e da viagem a Los Angeles em 1999. quando usei maquiagem e figurinos originais do ator Roddy McDowall. Mas. sobre este tema também produzi exposições. fãzines e artigos para jornais e revistas. Agora. estou me preparando para editar. provavelmente em 2012. o terceiro livro (e acredito que o último sobre este tema). "Homem não entende nadar.

Há algumas de suas obras que você vai escreveria hoje?

Cada obra que escrevi ou editei tem seu valor, sua importância e sua razão de existir. Alguns textos são melhores do que outros: são eles que diferenciam um livro do outro. Não me arrependo de nada do que escrevi ou publiquei. O que faço. sempre que reedito um livro, é fazer a sua revisão — tanto ortográfica quanto de conteúdos — porque é comum ocorrer equívocos. principalmente quando o assunto não é literatura.

Qual obra exigiu mais de você?

A série sobre os 150 anos de fundação de Brusque foi projeto nascido em 2003. concretizado a partir de 2005. com o lançamento do primeiro dos cinco livros. "Brusque Cidade Schneeburg". Entrevistar, escrever. pedir patrocínio na iniciativa privada. ilustrar. revisar. editar, colocar nas livrarias, armazenar os exemplares restantes em casa... Foi unia maratona de sete anos entre a ideia e a conclusão da série que teve cinco livros. 6 mil exemplares e 2.300 páginas com vários colaboradores. Valeu a pena cada minuto, cada visita, cada resultado. Consegui realizar aquilo a que me propus. com alguns ajustes ao longo do percurso. mas o resultado está acessível à comunidade. meu principal objetivo. Uni esforço reconhecido e premiado pela Academia Catarinense de Letras, que nos premiou como o melhor livro de história de 2009. Divido este prêmio com todos que colaboraram com o projeto. resultado de esforços individuais e coletivos.

Algo que você apostou e não deu certo?

Tudo o que me propus a realizar. realizei. Então, não houve o que não deu certo, o que houve foi que algumas trajetórias foram interrompidas pelo surgimento de oportunidades melhores ou mais atraentes. Quando não estou satisfeito com uma situação ou com uni resultado. não perco tempo: saio. redireciono meu foco. Sempre fui assim, não tenho motivos para me arrepender de nada do que fiz porque tudo o que fiz foi com boa vontade, amor e fé. De tudo eu procuro tirar algum ensinamento, tudo é importante para a minha evolução, tanto como ser humano quanto como ser profissional.

O que gostaria de ter feito no inicio da carreira e não teve coragem de fazer?

Não deixei nada para trás. nem ninguém. É que algumas pessoas que ficaram pelo caminho não compartilharam da mesma paixão e da mesma fé que eu sempre tive pelo livro e pela capacidade de produção. As pessoas que ficaram pelo caminho sabem que quando o afastamento aconteceu foi porque não comungávamos mais dos mesmos objetivos. Não me considero concorrente de alguém e nem perco meu tempo discutindo assuntos como futebol. política, religião ou preferencia sexual: entendo que cada um tem sua visão. ninguém é obrigado a com-partilhar das minhas ideias ou preferências. por alguma razão ou por vários motivos. Se cada um cuidasse de si, o mundo seria ainda melhor do que é.

O que você aplica dos grandes educa-dores e das aprendizagens que teve. no seu dia a dia?

Meus maiores educadores foram familiares e amigos. Tenho poucos amigos, mas são leais a mim e eu leais a eles. que é a melhor forma a ser aplicada. Tenho na família os grandes exemplos: meus avós paternos e maternos. meus pais. e há 22 anos minha irmã Karina Matai, que admiro e incentivo por ter a paixão que eu não tive pelos estudos — vai se formar em Direito em 2012: tem meu amor e meu apoio para seguir seus propósitos. desde o dia em que fez a opção por esta área. No dia a dia. procuro ser eu mesmo. com minhas imperfeições e minha determinação em procurar melhorar a cada dia. como ser humano e escritor.

Quais as maiores decepções e alegrias que teve?

As decepções eu apaguei da memória. deixei para trás, procuro não lembrar mais delas. As alegrias eu guardei. e unia das minhas maiores alegrias foi descobrir que eu poderia dizer "não" quando realmente não queria dizer "sim": ou que eu poderia dizer "eu não quero mais". quando realmente não queria mais alguém. alguma coisa ou vivendo uma situação desagradável, indesejável ou desconfortável. Foi quando nasci de novo.

E como editor de livros?

Fico feliz ao acessar a Intentei e encontrai-sendo comentado algum livro que passou por minhas mãos repercutindo positivamente. Pelo menos uma vez por mês faço uma pesquisa para avaliar opiniões pessoais ou repercussão na imprensa.

Um escritor já nasce feito?

Todos nascem com um dom. Eu nasci com o dom de escrever. Procuro honrar meu dom todos os dias. pois escrevo diariamente. Vivo profissionalmente do oficio de escrever. desde as primeiras matérias que escrevi para os jornais, no inicio da década de 1980- Mas não nasci pronto. fui me aperfeiçoando na prática diária da redação. Só se aprende a escrever. escrevendo. Só nos tomamos bons escritores, escrevendo cada vez mais, e lendo cada vez mais a produção de outros autores. também. Sempre aprendo alguma coisa lendo outros autores, quer sejam meus favoritos ou não. Muitas vezes, lendo textos de outros autores, encontro inspiração para escrever novas histórias. para criar o perfil dos personagens. para ambientar as tramas de meus livros... Para falar a verdade, até a leitura do horóscopo ou de unia bula de remédios pode inspirar a criação de uma história.

Quais os grandes escritores que você admira de nossa cidade e em Santa Catarina?

Em Brusque. minha referência sempre foi por um autor que não era escritor, era um homem determinado a transformar sua paixão em crônicas: o historiador Ayres Gevaerd que, assim como eu. não fez faculdade de História



Referências

  • Jornal Em Foco. Edição nº x. 2012.