Entrevista Izaías Joaquim Gonzaga - Luiz Gianesini

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Apresentação:

Izaías Joaquim Gonzaga.

Izaías Joaquim Gonzaga, nasci em 26 de Setembro de 1937, no Lugar Moura, Município de Canelinha, todavia, registrado em São João Batista, sou filho de Joaquim Luiz Gonzaga e Maria Boni Gonzaga. Cônjuge Marlete Dias Gonzaga. Filhos: Maria Tereza, Maria Eunice e Luiz Marcelino. Torço para o Palmeiras (São Paulo), e Bruscão. Endereço do escritório: Em Brusque, Rua Felipe Schmidt, Edifício Centro Empresarial João Dionísio Vecchi. Em Balneário Camboriú, Rua 916 esquina Rua 1.546.

Como foi sua infância?

Até os seis anos de idade, normal para uma criança do meio rural, e dos sete aos doze anos, bastante intensa para uma criança do meio rural, porém, enfrentando o curso primário elementar, no Bairro Águas Claras, em Brusque.

Sonho de criança ?

Quando ia para a escola, nas frias manhãs de inverno, com direito a muita geada e tudo o mais, desejava ter algo como um fogão à lenha que se movesse para aquecer-me.

OAB Brusque campeã do torneio em 1981: Em pé: Colombi, Ivo Mário, Nego Muller, Juca, Gianesini, Izaias Gonzaga; Agachados: Antônio Luiz da Silva, Carlinhos, Welter, Ayone, Edson e Adilson.

Como foi sua juventude?

Minha juventude começou aos quatorze anos de idade, quando iniciei minha vida profissional como operário na Fábrica de Tecidos Cônsul Carlos Renaux, setor de tecelagem, seção de emendação, 1952/1953. Em 1954 migrei para São Paulo, Capital, onde aos dezesseis anos e meio trabalhei como faxineiro, copeiro e garçom até os dezenove anos. Depois trabalhei como cartorário por vinte anos seguidos. Não posso me queixar de minha vida pessoal, quando jovem.

Como conheceu a Marlete?

De modo normal e familiar em São João Batista.

O senhor se lembra da primeira professora?

Minha primeira professora foi a senhora Adelina Rudolf Zirke, carinhosamente conhecida por Dona Dilina. A senhora Anadir Martins também foi minha professora no primário elementar. Ambas no Bairro Águas Claras, em Brusque.

Segundo o artigo 133 da Constituição Federal, "O advogado é indispensável à administração da Justiça", ainda é, ou é mais uma letra morta?

Eu não diria que o Advogado "é indispensável à administração da Justiça", e sim digo que o Advogado é indispensável à aplicação da Justiça. Mas, o Advogado tem que saber da responsabilidade que é ser Advogado. Não creio que o referido dispositivo constitucional tenha se tornado letra morta, mesmo porque não há como haver aplicação da Justiça sem a presença do Advogado. A presença de Advogado é imperiosa em qualquer procedimento judicial, especialmente na área criminal.

Qual deve ser o perfil do profissional do Direito?

Ao receber a carteira de Advogado, o até então bacharel em Direito, presta e assina o juramento de "exercer a advocacia com dignidade e independência, com observância da ética, dos deveres e das prerrogativas profissionais, defender os direitos humanos, a justiça social, a boa aplicação das leis e a rápida administração da Justiça", entre outras obrigações. No meu entender pois, o perfil do Advogado deve ter por base a lealdade, não só para com o cliente, mas também com seus colegas, promotores e juízes. O Advogado que se preza não pode esquecer da urbanidade, da transparência na prestação dos seus serviços, dar e receber tratamento no mesmo patamar de promotores e juizes.

Em que áreas ou segmentos o Advogado pode atuar?

Entendo que o Advogado pode atuar em qualquer área ou segmento de atividade profissional liberal, em sua banca advocatícia, ou como assessor industrial, empresarial, comercial, etc. De certo modo o Advogado não encontra limite para a sua atuação profissional. O Advogado pode limitar-se à assessoria jurídica, ou apenas como professor, ou ainda, agir em defesa de seu cliente ajuizando ou contestando as ações judiciais necessárias.

Quais são as mais concorridas?

A meu ver a Advocacia mais concorrida é a própria advocacia liberal, independente de emprego ou subordinação a horário e local de trabalho. É a advocacia pura no sentido amplo da palavra.

Atualmente prevalece a especialização por área?

Muito embora seja importante e até necessária, não creio que a advocacia especializada prevalece, especialmente em locais ou regiões de menor expressão populacional. A advocacia especializada tem bom efeito em grandes centros urbanos. No mais, creio ser melhor aplicável a advocacia geral, isto é, o Advogado atuar em todas as áreas.

Advogou muito tempo em São João Batista?

Iniciei em Setembro de 1977 e lá permaneci até Agosto de 1985. Em que área o senhor mais atuou ? Como já respondi, o Advogado de pequenas Cidades não pode se dar ao luxo de escolher causas. Em São João Batista atuei na área cível, civil e criminal. Fiz algumas defesas no tribunal do júri. E posso dizer que me sai muito bem.

O senhor poderia traçar um paralelo quanto a atuação do Advogado entre a Comarca de São João Batista e a de Brusque?

É difícil a comparação, uma vez que desde 1985 não mais tive uma atuação significativa em São João Batista. De lá para cá passei por Tijucas e Itapema. Atualmente, além do escritório em Balneário Camboriú, também estou exercendo a advocacia em Brusque. Por isso não tenho como embasar um paralelo entre as duas Comarcas.

Como o senhor vê o Judiciário em Brusque?

Creio que a pergunta está relacionada ao Judiciário Estadual, e o observo com bons olhos. Pessoalmente não tenho queixas. A tendência, certamente é melhorar em todos os sentidos. O que mais preocupa, não só a mim, mas a todos os Advogados, principalmente aos que aqui são radicados, é o contínuo e desgastante rodízio de Juízes.

Por que o Judiciário em Brusque mesmo com o surgimento da Justiça Federal e da criação da 3' Vara ainda não atingiu o ponto ideal na concessão da Justiça?

Vamos por parte. Vejo que a indagação tem relação com a Justiça Estadual. A propósito, já respondi que pessoalmente não tenho queixas do Judiciário Estadual em Brusque. A instalação da Justiça Federal em Brusque não teve grande repercussão, para cima ou para baixo, no Judiciário Estadual Brusquense, por quanto a carga processual federal não era significativa. É sabido que o ser humano não é perfeito. Creio que o único homem que se pode considerar perfeito, morreu na cruz de braços abertos. Por isso mesmo, não se deve cruzar os braços diante das dificuldades. Seria muito bom se o Judiciário Estadual em Brusque atingisse o ponto ideal. Mas, para que tal desiderato acontecesse, seria necessária a criação e instalação de, no mínimo o dobro das atuais Varas. E não é o sonho só dos Advogados Brusquenses, mas de todos que advogam no Estado de Santa Catarina. O ideário pleno, sem dúvida, é difícil de alcançar.

O senhor considera justo o exame da Ordem dos Advogados?

O exame da OAB pode não ser justo, no entanto, é legal. Entendo que o exame é uma necessidade para a classe. Muitos poderão dizer: é mais em outras profissões não existe o exame, como medicina, engenharia, odontologia, etc. Mas, creio que mais cedo ou mais tarde a exigência do exame de capacitação deverá alcançar todas as profissões de nível universitário. Não faz muito tempo, o exame de capacitação dos bacharéis em direito de Santa Catarina, era efetuado sob o comando a Ordem dos Advogados-SC, e causou muita polêmica pelo descaso como era tratado. Agora, o exame é feito com a direção do Conselho Federal, fato que colocou fim no atrito entre os examinandos e a OAB-SC.

O Advogado é um eterno estudante?

Sim. Não podemos esquecer que o Direito não é estanque, não é finito. O Direito está sempre em evolução e ebulição. O Advogado deve e precisa atualizar-se sempre, lendo, revisando, escrevendo, conversando, consultando a literatura, principalmente a específica do Direito, frequentando cursos e eventos da área do Direito. Enfim, o Advogado não pode estacionar, não pode se dar ao luxo de estagnar, tem o dever de estar sempre atento à evolução do Direito.

O Advogado antes, era visto com uma autoridade, e hoje, um quase ninguém ?

Eu não diria tanto, e nem seria tão radical. Mas, certamente os tempos mudaram, ou melhor as pessoas mudaram. Realmente, em tempos idos, o Advogado era tido e havido como autoridade. Era respeitado, reverenciado, por quem quer que o procurasse. Todavia, tudo é uma questão dos tempos. Antes, havia menos população, e logo menos Advogados. Os meios de comunicação eram difíceis e limitados. Daí porque o Advogado se parecia com um médico. Hoje, o número de Advogados é muito elevado, é pois mais fácil a população encontrar um Advogado. Dizer que atualmente o Advogado não é uma autoridade é um tanto pesado. Porém, muito do caimento da referência e respeito, deve ser debitado ao próprio Advogado que, em muitos casos não se dá ao respeito que deveria empregar.

O senhor integra o COMUSA ? Como funciona ? E que resultados tem trazido aos brusquenses ?

Sim. Integro o Comusa, que é o Conselho Municipal de Saúde, como conselheiro representando a Ordem dos Advogados, Subseção de Brusque. O funcionamento se dá, primeiro através de uma Diretoria, formada por um presidente, um vice-presidente e um secretário. Depois pela reunião dos conselheiros que o integram, formando o plenário. Uma vez por mês o Plenário do Conselho se reúne para discutir e aprovar ou não os assuntos colocados em pauta. Os conselheiros são eleitos a cada três anos. O Comusa conta com várias Comissões internas que tratam dos mais variados temas pertinentes. Sou relator da Comissão de Avaliação de Prestações de Contas. Os resultados têm surgido e são muitos, mas seria longa a especificação. Estou sempre atento às necessidades da população. É claro que sou apenas um conselheiro entre vinte e tantos outros.

Um resumo de sua vida profissional.

Já coloquei que minha vida profissional teve início nos anos 1952/1953, como operário aqui em Brusque. De 1954 até 1956 trabalhei em São Paulo, Capital, como faxineiro, copeiro e garçom. A partir de Janeiro de 1957 até Julho de 1977, trabalhei como auxiliar e depois como escrevente habilitado do 19° Tabelião de Notas, também em São Paulo. De Agosto de 1977 até os dias atuais, exerço a advocacia liberal. Com muita honra fui jubilado em 2007 pela Ordem dos Advogados de Santa Catarina, por ter atingido trinta anos de advocacia, sem nenhuma mácula e por ter completado setenta anos de idade. Um fato inédito: no que dia em que fui jubilado, tive a satisfação de, por deferência da Ordem dos Advogados, Subseção de Brusque, entregar a meu filho, Luiz Marcelino Gonzaga Júnior, a sua carteira de Advogado.

O que é uma sexta-feira perfeita?

Para mim, uma sexta-feira perfeita, é deixar toda e qualquer atividade profissional em absoluto repouso, o que faço a uns dez anos, e me dirijo à um sítio no meio rural para trabalhar como roceiro, limpando, carpindo, roçando, plantando, colhendo, enfim, praticando a vida do lavrador, sem compromisso de horário para iniciar e terminar. Observar e apreciar os bichos e aves silvestres, os quais, graças a Deus, estão reaparecendo em número muito bom.

O que o senhor diria aos que estão iniciando a carreira advocatícia?

Creio que já me expressei o bastante a respeito de como deve agir um Advogado. E o modo de agir serve para todos, velhos ou novos Advogados. Mas, de qualquer maneira, é sempre bom e dever dos mais velhos orientar os Advogados mais jovens. Portanto, todo cuidado é pouco. Receba o cliente com presteza e dedicação. Trate todos os assuntos aos seus cuidados com transparência, responsabilidade e ética. Não pense, o jovem Advogado, que já sabe tudo. Antes de errar peça ajuda.

Referências

  • Jornal Em Foco. Edição de 4 de agosto de 2010.