Entrevista Álisson Sousa Castro - Luiz Gianesini

De Sala Virtual Brusque
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Historiador Álisson Sousa Castro.
Divulgação.

O entrevistado da semana é o historiador Álisson Sousa Castro, nascido em Itaituba-PA em 24 de janeiro de 1985.Filho de Álvaro Castro e Francisca Martins de Sousa. Torce para o Clube de Regatas Flamengo e Clube Náutico Marcílio Dias. Agora também torço pelo Carlos Renaux, mas, pensa que o Vale do Itajaí deveria ter um time único.

Por que seus pais escolheram este nome para você?

Meu pai disse-me que queria um nome com a letra inicial "A", então, certo dia acordou com o nome "Álisson" em mente.

Quais são as lembranças que você tem da sua infância?

Até os 5 anos eu vivi no interior do Pará. Lembro-me da culinária local (Pirarucu, Tucunaré, Farinha de Mandioca, Tacacá), da peculiaridade do modo de vida (regiões ribeirinhas) enfim, o que me marcou foi o contraste com Itajaí. Lembro-me, sobre Brusque, da rua Azambuja nos anos de 1992/1994 quando meus pais vinham para Brusque buscar materiais para sua confecção.

Sonho de criança?

Ser advogado e político, atividades do meu pai na época.

Como foi e como está sendo sua juventude? O que você mais gosta de fazer para se divertir?

Minha juventude foi dedicada aos estudos e ao trabalho. Gosto de estar com os amigos, assistir seriados e também de viajar.

Quais eventos mundiais tiveram o maior impacto em sua vida durante a sua infância?

O mais impactante foi o período de inflação em 1990/1993. Lembro-me das compras no Supermercados Vitória em Itajai. Tinha que comprar o máximo possível pois no dia seguinte as mercadorias estariam com o preço muito elevado... Aos 4 anos obviamente não compreendi eventos simbólicos como a queda do muro de Berlim.

Pessoas que influenciaram?

Meus pais e os pais da Luana (meus segundos pais). No âmbito profissional os professores Normélio Weber, Itamar Siebert, Paulo Mello e Marlus Niebuhr.

Você se espelha em algum profissional?

Nos meus professores da faculdade.

Como era a escola quando você era criança? Quais eram suas melhores e piores matérias? De que atividades escolares e esportes você participava?

Não tenho uma única visão de escola. Na primeira série estudei em um colégio cenecista, da segunda a quarta em uma escola municipal, da quinta à oitava em escola estadual e no ensino médio em curso e colégio preparatório para vestibular. Fui um aluno mediano. Tive alguns problemas com matemática. Não me envolvi muito com outras atividades escolares. Praticava o futsal e com maior frequência o basquete. Formação escolar desde o início dos bancos escolares? Ensino Fundamental no Colégio Estadual Victor Meirelles — Itajaí; Ensino Médio no Curso e Colégio Radical — Itajaí; Licenciatura em História pela Univali — Itajaí; Cursei Administração e Administração Pública na UFSC os quais não conclui — Joinville e Florianópolis.

Primeira professora?

Não me recordo.

Grandes professores?

Professora de Ciências no ensino fundamental chamada Maria lzabel; professor de Geografia do ensino médio que lembro do apelido "Boy"; professor do ensino médio e de graduação em História Normélio Weber e os demais professores já citados, inclusive o Professor Marlus Niebuhr, que é meu colega de trabalho e chefia o Departamento de Patrimônio Histórico.

Você concorda com a máxima de que brasileiro não gosta de ler?

Não vejo desta maneira. Sou otimista e penso que avançaremos na área da educação.

Como conheceu a Luana?

Através das redes sociais e do envolvimento político...

Conte-nos um pouco da sua trajetória para chegar ao cargo de historiador?

Nasci em ltaituba-PA e aos 5 anos mudei-me para Itajaí, terra natal de meu pai e meu avô. Nesta cidade cresci, me formei, tive uma participação singela na política. Em 2004 morei por 6 meses em Schleswig-Holstein onde tive uma experiên-cia legal. Conheci alguns museus, alguns locais públicos, enfim, conhecer um pouco da cultura daquele povo. De volta a Itajaí trabalhei na Prefeitura de Itajaí até 2008. Em 2009 regressei por 6 meses como servidor efetivo e de 2009 até maio de 2011 lecionei em algumas escolas de Brusque Guabiruba. Desde maio trabalho como Historiador, lotado na Fundação Cultural de Brusque.

O que o motivou a estudar "História"?

Creio que foram as aulas do Professor Normélio Weber. As análises dele nas aulas de atualidades remetiam sempre a uma parte do mundo (passado). Vi que para entender a realidade, o mundo, era preciso ter conhecimento histórico, ou saber como construí-lo, isso me seduziu.

Como você vê as mudanças na China e o fato de o PC chinês estar aceitando capitalistas? Você acredita que a China continue a resistir ao declínio, mesmo com a situação pelo que passa a Europa?

Creio que o ritmo acelerado das mudanças e do crescimento econômico estão associados ao totalitarismo. Sem democracia, sem discussão, as decisões são executadas de forma célere — limpar os Hutongs (favelas) na China é comparável ao período da Belle Epoque no Rio de Janeiro (fim dos cortiços e abertura da avenidas) e na reforma sanitária que a maioria dos municípios brasileiros passou, em Brusque, por exemplo, concretizado na mudança do cemitério católico e no aspecto de urbanidade percebido em fotos antigas. Quando pensamentos em China temos de ter em mente que há um líder. A diferença entre Mao Tse-Tung e Deng Xiao-Ping sinalizou a troca de um comunismo ortodoxo por uma abertura do país ao capitalismo. Lógico que o comunismo aceitar "ilhas- ou investimento capitalistas parece um absurdo mas, é o mesmo que o capitalismo e os liberais verem os governos levantarem barreiras comerciais no lugar de permitir a livre concorrência. O declínio depende de tempo, quem imaginaria que Roma cairia?

Qual a diferença entre um mundo com a Guerra Fria e um mundo com a guerra contra o terror?

Na Guerra Fria usa-se o conceito de espaço vital, cortina de ferro, etc. Ou seja, o território era algo importante e o inimigo definido. Manter a União Soviética confinada em seu território e não deixar o comunismo se espalhar para outros países era fundamental. A partir do momento que o comunismo se espalhou, e Cuba foi um exemplo, começou a história do inimigo interno e ocorreram os golpes da Ditadura Militar para "legitimar" a defesa perante o comunismo que se infiltrara no espaço interno — o que atrasou as reformas de base na América Latina e diminuição da disparidade social. Já o mundo com terror é disforme e indefinido pois para o que prega a mídia estadunidense o terror é associado a uma vertente radical do islã organizada em grupos terroristas; já para países africanos o tenor vem de grupos que detém interesses específicos (traficantes de diamante, etc) ao passo que na Europa o terror é parte de conflitos étnicos (Espanha) ou religiosos (Irlanda) ou diversos (Região da ex-Iugoslávia).

Quem foi na sua opinião o maior herói do período colonial? Da República?

Os heróis foram os nativos (indígenas) que tiveram seu território e cultura alienados, os africanos que deram seu suor no trabalho escravo e até mesmo os europeus que fizeram as travessias do Atlântico em condições frágeis. O herói da República foi Lula e o povo brasileiro pois tirar milhões da miséria e colocar o Brasil no cenário internacional administrando conflitos de interesses fisiológicos de partidos políticos que estavam mais interessados em loteamento de ministério do que nas políticas públicas foi algo grandioso. Fernando Henrique Cardoso também passou pelo mesmo problema e também teve sua parcela de contribuição para o sucesso de Lula.

Qual a maior mentira já ensinada pelos tradicionais livros de História do Brasil?

Não vejo como mentira, mas creio que a representação de Tiradentes como imagem e semelhança de Cristo me parece uma manipulação política onde os governantes usaram o apelo religioso para legitimar a criação de um mártir republicano — já que no Brasil de então não havia povo (que se envolve), somente público (que assiste passivamente). A Guerra do Paraguai também é algo complicado, comparável às atrocidades cometidas pelos EUA atualmente. O Brasil tem uma dívida enorme com o Paraguai.

Destaque os melhores historiadores?

Há poucos historiadores de Brusque mas, com qualidade. Destaca-se, de longe, o trabalho elaborado pela historiadora Giralda Seyferth. Também podemos citar Maria Luiza Renaux e Marius Niebuhr. Há uma promissora nova geração em que estão Robson Gallassini e Carlos Eduardo Michel. Há ainda Walter Piazza e Oswaldo R. Cabral que escreveram clássicos, na época do centenário. No geral Tzvetan Todorov, Norbert Elias, Philippe Ariès e José Carlos Reis são os que eu tive um enorme prazer em ler.

Qual a contribuição de Ayres Gevaerd para o acervo histórico de Brusque?

A contribuição de Ayres Gevacrd foi fundamental para a formação de um acervo histórico em Brusque. Seu protagonismo é louvável. Não podemos deixar de mencionar que várias famílias contribuíram para a formação deste acervo. Mas, quando pensamos em Ayres Gevaerd devemos lembrar também da preocupação em divulgar este acervo — por mais que seja da forma antiga. Quando digo "forma antiga" quero dizer que a divulgação de acervos, de documentos antigos, era considerado como "fazer história" naquele período. Hoje, História não é passado — como se pensava antigamente. Hoje, História é buscar a compreensão de determinado problema da atualidade. Infelizmente algumas pessoas não compreenderam isto — por não terem formação específica na área de história - e continuam falando do passado e dizendo que são historiadores. Estes são memorialistas ou passadistas. Acabam falando de algo que não nos interessa e não nos ajudam a compreender a realidade atual. Simplesmente falam de coisas antigas, desconexas com a realidade atual.

Como você prevê a dinâmica social da imigração contemporânea hoje? Brusque será abaianada?

Não quero adentrar na área da Geografia ou da Sociologia mas, como a História bebe de outras fontes me arrisco a dizer que Brusque recebe hoje uma nova onda de imigração assim ,como foi a dos imigrantes de Baden, Holstein, Schleswig e assim por diante que vieram de um território que somente uma década depois de estarem em Brusque veio a se unificar sob o nome de Alemanha. Estas pessoas, quando da chegada dos italianos e irlandeses viram que tinham algo em comum que os diferenciava dos irlandeses e italianos, portanto, estas pessoas de diferentes regiões "se sentiram" como alemães. Mais tarde chegam levas de gaúchos e paranaenses. Creio que em cada uma destas levas houve algo que distinguisse aqueles que já haviam se homogeneizado dos novos estranhos. Quando chegou o italiano, ou americano(irlandeses) imagine o que os alemães pensaram! O mesmo, mais tarde, deve ter acontecido com o gaúcho e seu chimarrão, ou o paranense.. A questão é que no caso do imigrante baiano há um outro fator que é a questão da etnia — o que não era tão diferente no caso dos gaúchos e paranaenses, muitos descendentes de alemães e italianos. Esta análise não pode ser simplificada à questão da etnia, mas é algo que ressalta a diferença entre os grupos sociais — para isso o livro "Os estabelecidos e os outsiders" ajuda-nos a pensar. Podemos imaginar que se caminharmos para a integração como a União Européia daqui a alguns anos teremos Bolivianos, Venezuelanos e Paraguaios morando em Brusque, nisto não haverá mais brusquenses e baianos (como algo distinto) mas somente brasileiros (sem distinção) e os outros, os "gringos".

Comente aspectos políticos relevantes da história política do berço da fiação catarinense.

Brusque tem algo fascinante que é a figura de Carlos Renaux. Por mais que no processo de minha formação eu tenha procurado não focar nas grandes figuras, Carlos Renaux sem dúvida é o que se tem de mais relevante e me arrisco a dizer que ninguém se igualará a ele. Curioso não termos um Museu Renaux enquanto Blumenau tem o Museu Hering.

E da história econômica?

Volto ao Cônsul Carlos Renaux.

Se você fosse escrever a história de Brusque quais os 10 pontos que você não deixaria fora?

De maneira ampla gostaria de contemplar aspectos relacionadas ao meio-ambiente; política no período pós-redemocratização; nazismo; campanha de nacionalização; imprensa; urbanismo; cultura popular; esporte; lazer e economia.

Uma palhinha sobre a história de Itajaí?

Itajaí serviu de elo de ligação tanto de Blumenau, Brusque e até mesmo Lages com o litoral e a Capital Florianópolis. Também foi nosso quintal para o mundo, por onde chegaram os imigrantes e as mercadorias e por onde escoavam nossos produtos. Itajaí concentrou também importantes famílias alemãs (dos quais restaram alguns casarões tombados), famílias que foram protagonistas da política nacional. Para exemplificar temos Lauro Severiano Müller e mais recentemente as famílias Konder e Bornhausen. Assim como Brusque recebeu uma grande leva migratória e cresce verticalmente com cada vez mais prédios sendo construídos a cada ano.

Referências

  • Jornal Em Foco. Edição nº x. 2012.