Emancipação administrativa

De Sala Virtual Brusque
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  • Álisson Sousa Castro, Historiador.
  • Marlus Niebuhr, Historiador.

Datas são marcos, faróis que nos ajudam a navegar em segurança na história. Quantas vezes, ao vislumbrarmos o Brasão de nosso município, ao recair nosso olhar sobre o belo listel em vermelho, cor que representa nosso amor pela terra natal, salta à nossa visão as datas de 1860 e 1881 (04 de agosto de 1860 - 23 de março de 1881).

Para compreendê-las, devemos voltar aos caminhos da história.

A data de 04 de agosto de 1860 marca a chegada dos 55 alemães, que instalaram a colônia Itajahy (Brusque). Guiados pelo Barão Maximilian von Schneeburg, esperançosos colonos seguiam em canoas rio acima, para seu novo lar, entre eles as famílias: Höeffelmann, Wilhelm, Neuhaus, Scharfenberg, Orthmann, Boiting, Ostendarp, Morsch, Walther e Richter.

De valor inestimável, são as cartas (relatórios) do Barão Schneeburg, trocadas com o Presidente da Província Francisco Carlos de Araújo Brusque, sobre os primeiros tempos da colônia, reproduzidas por Cabral em seu livro. Vejamos alguns trechos da carta de 31 de agosto de 1860:

Ilmo. E Exmo. Sr. Presidente da Província de Santa Catarina.
             Tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Excia. que em 4 de agosto, corrente, quinto dia de viagem pelo Rio d’Itajaí-Mirim acima, cheguei com a primeira turma de 55 colonos com bom tempo e com muito zelo conduzidos pelo contraente Pedro Werner (vulgo Pedro Miúdo) ao lugar Vicente-Só [...] Em 19 de agosto chegaram a Vicente-Só os 139 colonos da 2ª turma [...] que tiveram má viagem pelas frequentes chuvas.
            Todos os 194 colonos gozam de boa saúde, menos muito poucos, que se acham bastante incomodados em conseqüência da má viagem e que, pela feliz presença do Sr. Eberhardt são por ele com muito cuidado socorridos, sendo ele químico com curso de medicina [...]
              Rogo a V.exª. de mandar-me as suas ordens[...] a fim de colocar utilmente os piquetes dos soldados, que tem de formar o cordão de defesa contra o agresso dos bugres[...]

Percebemos, mesmo nesse pequeno trecho do documento, que não foram dias fáceis, vejamos:

- As “chuvas frequentes” relatadas no documento, que tão bem conhecemos atualmente, marcaram a memória de nossa terra desde os primeiros tempos. A 7 de outubro de 1862, casas ficaram submersas, diante de fortes chuvas e trovoadas, não foi diferente em 1864, quando a Sede da Colônia amanheceu coberta pelas águas. Novas cheias marcaram os primeiros tempos, em 1866, 1868, 1869, 1877, e às vésperas de nossa emancipação administrativa em 1881, a grande enchente de 20 de setembro de 1880, causou aflição em uma população assustada que buscou refúgio na colina da igreja local, por três dias.

- Apesar de as boas notícias, dos colonos terem chegado com “boa saúde”, às terras da colônia, foi registrado pelo padre Alberto Gattone, entre os anos de 1862 e 1870, óbitos pelas mais diferentes causas, como: “afogado no rio”, “mordedura de cobra”, “bichos que tinha na cabeça”, “afogado na goela por causa de lombrigas” e inflamações diversas... Eram comuns na colônia, a verminose, a febre amarela, como também falta de médicos e remédios. Assim, casos de varíola e disenterias, alastravam-se fazendo várias vitimas. O único caminho em busca da cura, quando faltavam os médicos e os recursos, era o distante hospital de Desterro (hoje Florianópolis) um longo percurso, que assustava os enfermos, separados da família e pouco conhecedores da língua portuguesa, temiam hostilidades. - Por fim, mas não por último na lista de dificuldades, podemos citar o constante receio do ataque “dos bugres”, como cita o documento, e que ficou registrado nos vários confrontos, como os registrados em 1863 e 1865. Os “bugres” no linguajar pejorativo dos colonizadores eram os Xokleng, que ocupavam um “território em movimento”, e mantinham uma disputa secular com os Guarani e os Kaingang para controlar este território, que se estendia pelas florestas localizadas entre litoral e o planalto, e as terras que ao Norte chegavam até a altura de Paranaguá; ao Sul, até as proximidades de Porto Alegre. Sobreviver nestas terras, não foi tarefa fácil. Mas, mesmo diante de tantas dificuldades, no ano de 1861, os colonos já produziam legumes variados como: arroz, milho, feijão, batata, inhames, mangaritos, taiá, mandioca e café. Em 1863 foi introduzido o cultivo da cana-de-açúcar, do algodão e do tabaco. Mas, devemos recordar, que a farinha de trigo era a base alimentar do alemão em sua terra natal. No Brasil, ao contrário, a farinha de trigo era escassa, sendo substituída pela farinha de mandioca e pela farinha de milho, o fubá. Várias mudanças e substituições nos hábitos alimentares se fizeram necessárias como: a carne fresca, o centeio, o leite e queijos usados na Europa, foram substituídos pelo charque e pelo feijão.

A data de 23 de março de 1881, marca a criação do atual município de Brusque, sua emancipação político-administrativa.

Longe de ser uma valorosa conquista dos brusquenses, a transformação de colônia para município representou descontentamento dos colonos já que perderiam benefícios concedidos pelo Estado. Benefícios estes que, segundo o relatório exposto na segunda sessão da vigésima segunda legislatura da Assembleia Provincial de Santa Catharina, no ano de 1881, teriam custado aos cofres públicos desde o estabelecimento das colônias até 1880, a soma de 7,780:391$625, sendo o maior valor destinado às Colônias Itajahy e Príncipe Dom Pedro, totalizando 3,920:089$843, ou seja, 50,38% do total. Vale ressaltar que Blumenau, que recebera 30% do montante, permaneceu como de iniciativa privada nos primeiros anos.

O orçamento da Província de Santa Catarina foi deficitário desde 1868. Para o exercício de 1878-1879, por exemplo, o déficit foi de 18:929$212, para o biênio seguinte (1879-80) aumentara para 36:249$300. Diante disso buscou-se cortar gastos. Os relatórios, sempre ambíguos, apontam duas tendências: uma em criticar a gestão dos recursos ao assinalar que “a câmara torna-se inútil, e até noviça, quando se converte em corporação parasitária” e outra no sentido de criticar a excessiva centralização das decisões e responsabilidades.

Em 1880 havia nas Colônias Itajahy e Príncipe Dom Pedro 8.689 habitantes. Os colonos, exauridos seus recursos pessoais, e diante das dificuldades enfrentadas na agricultura, recorriam constantemente ao poder público em busca dos chamados “jornais”, ou seja, trabalho em obras públicas como abertura de estradas. A diminuição do valor dos jornais acarretava em protestos violentos. A situação se agravou, sobretudo após a grande enchente de 1880.

Diante desse panorama, eleva-se a Freguesia de São Luiz Gonzaga à categoria de município por meio da Lei provincial nº 920.

Referências