Documento de 1 de janeiro de 1862

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RELATÓRIO DE 1º. DE JANEIRO DE 1862

(De acordo com a ortogratia original)

Directoria da Colonia Brusque, em 1º. de Janeiro de 1862.

Exmo. e Revmo. Snr.

Em obediencia ao que por V. Exª. me foi ordenado em Circular de 26 de Novembro último, passo a ter a honra de fazer o mais minuciosamente possivel a exposição exigida por V. Exª. sobre o andamento que tem tido esta Colonia desde a data da sua instalação. Esta Colonia foi estabelecida na margem esquerda do rio Itajahy-mirim no primeiro territorio ali medido ha tres annos, no dia 4 de Agosto de 1860, onde chegou acompanhado de 11 familias compostas de 55 pessoas o Snr. Barão de Schneeburg, Director para a mesma Colonia e de ordem do Exmº. Snr. Dr. Francisco Carlos d'Araujo Brusque, então Presidente desta Provincia. Como quando aqui chegou o Snr. Barão houvesse só matto virgem e existisse apenas, da meridiana para Oeste algumas picadas a pouco reaberta, e outra, que desvia de agresso a mesma meridiana, bem como algumas derrubadas já em matto e ranchos cahidos em vertices dos quadrados de 500 braças por lado, tratou primeiramente de acaminhar, digo, acommodar os ditos Colonos, sua bagagem e os mantimentos, em um engenho de farinha pertencente a Pedro José Werner estabelecido em logar denominado Vicente-só — lado direito do rio e fronteiro ao terreno destinado para a Séde da Colonia unico abrigo naquellas immediacões concedido gratuitamente pelo dito Werner.

A vista deste estado de coisas, mandou logo promptificar a área precisa para o levantamento dos ranchos provisorios de recepção de colonos não só para os que vierão com elle, como para os que vinhão em multidão o que, a pesar de todos os esforços de sua parte, não foi possivel conseguir-se antes de seis semanas. A Colonia conta actualmente 172 fogos e 727 colonos, como V. Exª. melhor verá no mappa estatistico que junto tenho a honra de apresentar. Na séde da Colonia existem mais 28 fogos entre casas de negocio, de particulares e ranchos de recepção habitados por 39 pessoas. Houverão 18 casamentos e ausentarão-se 36 colonos como consta do incluso mappa das familias, que tambem tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Exª. A área da Colonia he de 36.000,000 de braças quadradas, contendo 144 prasos primarios, e destes subdividio-se 72 em 181 lotes para os Colonos, alem de 500.000 braças quadradas, que ultrapassão o rumo da base até o rio, em figuras diversas.

Os colonos empregão-se geralmente na cultura de arroz, milho, feijão, batatas, inhame, mangaritos, taiá, tabaco, mandióca, café, algodão, canna, legumes e algumas arvores fructiferas, como larangeiras, e bananeiras, e bem assim trabalhão por conta do Governo nos caminhos da Coloniá, e por“sua propria conta, já como alugados, caixeiros, criados de servir, e a jornais em serviços de particulares, tanto dentro, como fora, na visinhança da Colonia. Nenhum destes trabalhos porem fornece por ora aos Colonos os meus sufficientes de viverem commodamente, excepto à aquelles que se alugão e trabalhão por sua propria conta, cujo numero he limitadissimo. Os Colonos começarão a perceber subsídios pecuniarios desde o dia 1º. de Janeiro de 1861, tendo-se fornecido anteriormente, desde o dia 4 de Agosto de 1860, em que chegarão as primeiras familias, mantimentos até ultimo de Dezembro deste mesmo anno, o que se tem considerado como subsidios recebidos. Expirando porem o tempo dos seis meses de subsidios aos primeiros colonos chegados em 4 de Agosto de 1860, no dia 4 de Fevereiro de 1861, e assim por diante proporxionalmente aos demais colonos, antes que lhes fosse possivel ter obtido pelo trabalho da lavoura e outros meios de viverem commodamente, nem mesmo soffrendo grandes privações, e sendo muito natural que não pudessem subsistir sem este socorro, visto não estarem ainda em condições de poderem manter-se exclusivamente de seus trabalhos, quer agricolas, quer a jornais nas obras publicas, determinou o Exmº. antecessor de Vª. Exª. o Snr. Dr. Ignacio da Cunha Galvão, o que já tinha sido recommendado pelo Exº. Snr. ex-Presidente Dr. Francisco Carlos d'Araujo Brusque, em seu relatorio de 17 de Abril de 1861, por ocasião de passar a administração da Provincia ao Exmo. Snr. Vice-Presidente Dr. João José de Andrade Pinto, a continuação deste auxilio por mais seis meses, em meios subsidios, a todos os Colonos, ultimamente até o fim do anno proximo findo, aos das tres primeiras turmas. Tendo porem de cessar este socorro antes do tempo concedido, em virtude do Aviso Circular do Ministerio dos Negocios d'Agricultura, Commercio e Obras Publicas, de 19 de Setembro do anno passado, sob Nº. 72, expedido pela Directoria das Terras Publicas e Colonisação, e tambem transmittido por copia a esta Directoria pela Repartição Especial das Terras Publicas, afim de dar a maior publicidade possivel ao proposito firme em que esta o Governo Imperial de não conceder mais diarias por adiantamento aos Colonos se não até seis meses, e isto mesmo, sob a condição das 1ªs, 2ª, 3ª e 4ª declarações, de que trata o citado Aviso, e tendo esta Directoria de dar a devida execução a essa ordem do Governo Geral, me parece de summa necessidade, não só o augmento dos jornaes dos trabalhadores, que até hoje tem sido só de 900 reis, deduzidos os subsidios a que tinhão direito attendendo aqui suas familias percebião ainda esse favor, como tambem do pessoal, por isso que, em vista da mesma resolução do Governo, só si fará pagamentos de subsidios aos colonos até ultimo de Novembro passado, ao que elles tem direito, segundo as ordens anteriores, e por não ter vindo ao conhecimento da Directoria o dito Aviso senão em fims do mesmo mez de Novembro, ficando já excluidas no mencionado pagamento do mez de Novembro; as tres primeiras constantes de 328 pessoas; assim como ficarão tambem no mez de Dezembro findo, ecluidas a de 4ª, 5ª, 6ª, e quasi todos os da 7ª turma, constante de 207 pesoas, continuando a merecer este favor do Governo, segundo as ordens existentes, parte dos da 7ª turma e os da 8ª, 9ª, 10ª, 11ª, 12ª e 13ª, contendo apenas 163 pessoas. Parece-me razoavel elevar-se os jornaes dos trabalhadores até 2$000 reis, isto he, de 1$000 reis a 2$000, conforme a natureza e capacidade de seus serviços, e o numero dos trabalhadores, segundo exijão as necessidades. Existem na Colonia algums estabelecimentos industriaes, como 2 padarias e 7 vendas ou armazens mais ou menos bem sortidos. Não ha nenhum estabelecimento de artes ou officios, exercendo-o comtudo algums colonos occasionalmente em suas proprias colonias. Fabrica-se já bastantes charutos para o consumo da Colonia com fumo produzido na mesma, assim como tambem se fabrica alguma cerveja e faz-se pão excelente de farinha de trigo, fubá, e mesmo de farinha de mandioca; mata-se as vezes bois e porcos, cuja creação e a de galinhas, he mais ou menos geral. O movimento commercial hé só de importação, não me sendo possivel obter informações mais ou menos exacta sobre seu valor. Ha na Colonia quatro vias principais de agresso, e uma transversal de communicação em construcção, a 2 legoas pouco mais ou menos de distancia da séde da Colonia, tendo a 1ª, pelo rio Guabiruba 5.650 braças de extencão, a 2ª pelo braço do Norte do mesmo Guabiruba 2,500; a 3ª pelo ribeirão do poço-fundo 1,200, a 4ª, pelas montanhas das Batéas 5,700, e a transversal 100. Todas as vias de agresso achão-se já inteiramente povoadas de ambos os lados por familias que possuem lotes de terras maiores ou mesmo, digo, ou menores de 100 a 250 braças, pouco mais ou menos de frente. Estes caminhos são muito regulares transitaveis por cavalleiros e cargueiros, e em algums logares, mesmo poderião servir para vehiculos de rodagem.

He para admirar o que neste ramo de serviço e no dos estabelecimentos de colonos, se tem feito no curto espaço de tempo da existencia deste nucleo colonial, attendendo às difficuldades com que teve de lutar o Snr. Barão para conseguir este fim. Trata-se já de melhorar estas vias de communicação encurtando as distancias, suavisando os declives e alargando-os de modo a prestarem-se à rodagem geral, para o que se tem augmentado o numero dos trabalhadores. Uma das maiores necessidades que tem a Colonia, he precisamente a de uma estrada boa e de pontes entre a Colonia e a Villa do Itajahy; porque a picada da qui hoje existe margenado o rio, nem sempre pode prestar-se a este serviço por causa das frequentes inundações, e mesmo por que não passa de uma picada pessima, que alem de ser um verdadeiro lamaçal, he quasi toda coberta de arvores cahidas, tendo muitas vezes o passageiro necessidade de abrir com grande difficuldade caminho por onde passar, exposto a ser vitima de todos estes tropeços. A direcção mais curta que deve ter esta estrada, na minha humilde opinião, só pode ser com a certo determinada à vista de uma exploração feita precedentemente por um perito que levante um ligeiro mappa e considere todas as circunstancias do terreno e dos materiais que ali existem ou que de longe devem ser procurados, para esta obra, e que sirva de baze ao orçamento das despezas a fazer-se com esta estrada, convindo que na fatura della, sejão empregados, tanto quanto for possivel, colonos deste estabelecimento, achando elles assim mais um recurso para facilitar a sua subsistencia. O terreno da Colonia he geralmente considerado bom para todas as plantações já referidas conforme as localidades, produzindo alem dos generos alimenticios, por óra só o tabaco, mamono e algodão, dos quaes merece toda a menção o tabaco, pois que aquelles poucos que o plantarão, tivema colheita muito satisfatoria. Segundo estou informando, deve o terreno ser tambem superior para plantações de linho, anio, cereaes e canhamo. As plantações que merecem maior proteção são o tabaco, as batatas, a canna e o café, tendo já os colonos que chegárão em Fevereiro do anno findo das fazendas, em que estávão de parceria, feito plantações deste ultimo genero no caminho das Batéas, logar que elles escolherão por ser montanhoso, e por isso mais apropriado para esta planta, infelizmente porem, queixão-se muitos delles hoje da má qualidade deste terreno, que na verdade contem grande quantidade de saibrão e derpilheiro. Dizem que se neste anno não tiverem melhor resultado, terão de abandonar essas colonias, e pedem que nesse caso, se lhes dê outros lotes. Hé tambem uma das principais necessidades, que se faça construir quanto antes a casa para a Derecção da Colonia; porem, que a meu ver, parece um impossivel, attendendo a grande necessidade que há em obter materiais e operarios para um logar tão remoto, de difficil communicação, falta de recursos, e onde tudo ha a preparar, se possa com a quantia de 1:800$000, que foi designada para este fim, edificar-se uma casa convenientemente apropriada e com a solidez necessaria. Ouso por tanto submetter à apreciação de V. Exª. a necessidade de elevar-se a supra dita consignação de 1:800$000 a 3:000$000 de reis pelo menos. Outro-sim,[1]

Referências

  1. A primeira parte deste documento é reproduzida no número 2 da revista Notícias de Vicente Só até essa palavra, continuando o restante do testo na edição de número 3..

Casa de Brusque