Documento de 16 de março de 1862

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Directoria da Colonia Brusque em 16 de Março de 1862. Exm°. e Revm°. Snr. Em Officio, que tive a honra de dirigir a Va. Exak com data de 5 de Março corrente, e que levou na madrugada do dia 7 o Snr. De1e- gado da Policía Joaquim Pereira Liberato para remette1-o por um Po- licial exprmso da Villa à Cidade, 1evei ao conhecimeuto de Va. Exa. o accontecimento do Roubo de Rs. 91000$OOO na noite de 4 a 5, e seu reachamento no mesmo dia 5 pelas 4 a 5 horas da tarde n'huma L lagoa, pedindo instrucções (além de todas indagações possiveis e pes- quizas. que aqui continuamos a fazer) como devia pela Lei de pYo- ceder neste casq para o descubrimento de summa importancia, do 1adrão. Repetindo 0 conteudo do dito Officfõ acrescento algums de- talhes minuciosos. Desde a noite de 7 de Fever'eiro, em que che_guei de regresso da > Cidade à essa Colnnia para reassumir a Direcção da Íñesma, tenão Ês ^ 25z000$000 denheíro do Estado no meu poder, para os pagamentos ' ” das despezas da Colonia, feitas nos mezes passados de Outubro, No- ~ . vembro e Dezembro de 1861 e para os de Janeiro 1862 feitas emçm 1'I'e- i_ vereiro e Março provaveis a fazer, mandei vir todos os dias ao anoite- ; ' cer, huma guarda de 3 Soldados, fazer Sentinella por turno de 2 em 2 ' horas até o romper do día, na casa muito insufficiente, e sem segu- ' rança alguma, da Directoria. " Na noíte de 4 do corrente a 5, constou esta Guarda dos 3 SOI«



dadosz Bernardino José de Souza, Luíz Jacintho da Rosa, e José Pe- dro.

No dia 4 de Março pelas 7 horas de noitinha, convencionados de sahirmos um pouco como de costume, fechou o Snr. Delegado da Policia a porta na frente da casa e as 2 janellas em presença do Fis- cal Paulo Ploenies, em quanto eu estava ainda escrevendo, e acendi uma lamparinap que sempre deíxo acesa, para achar luz na mínha VOI~ ta.

O Fiscal tinha vindo, dar parte dos Serviços nos caminhos à seu cargo, e o Snr. Delegado por costume e dedicação de amisade, e respondeo 'à minha pergunta, como as mais vezes fizesse, se tinha tudo bem fechado2 certamento que simz 0 Fiscal fechou a porta da sahida da casa no ladb do espigão da casa, entregou-me a chave, e de- pois de eu ter verificado ser bem fechada, fomos visitar o Agrimensor Germano "I'hieme, morador muíto perto da casa da Directoria. Depois de circa de meia hora de demora, o Fiscal tinha sahido para ceíar à. sua casa, fomos à casa vdo Snr. Knorring, marido da Professora-Pu- blica. Cbnversando ali cousa de 1/4 de hora, sahioÉ Snr. Delegado para finaliZar algums afazeres do seu negocio em casa de sua proprie-

' dade, dizendo que voltava buscar-me para irmos então juntos como de costume, ceiar na casa particular do Dr. Eberhard aonde estou em pensão de alimentação, e situada na Rua-perpendicular áquella do Snr. Knorring, aonde fiquei esperando. Poderião ter decorrido 3/4 de hora, quando o Snr. Delegado mandou-me dizer por seu caixeiro a':~ lemão Ju1i0_ que não podia vir buscar-me por ser ajnda muito ocupa- do, e que eu fosse buscalo na sua venda, (a mesma Rua em pouca dis- tancia da casa do Snr. Knorring) .

Sahi immediatamente sem mais demora, e fui á dita Venda, presenciando o Snr. Delegado accabar as suas escritas, e á diversas Ordems e recommendações, que déo à seu Caixeiro relativas ao seu negocio, e fomos ceiar em casa do Sr. IEberhaxd.

Commeçou a chuver, retiramonos pelas 11 horas, cada um com luzes accesos na mão, pois a noite era escura, e separamonos no cam.i- nho, indo cada um directamente à sua casa em dístancia uma da outra, que em maxima differencia de 3 minutos, cada um devia chegar à sua. Achei o soldado, Luiz Jacíntho da Rosa, de Sentinella na porta do la-- do do Espigão da casa da Directoria, o soldado Bernardino José de Souza julgo, se nâo me enganq acordado e não vi o Soldado José Pe- dro,. que dizia no outro dia ter dormxdo neste momento e quasi toda a noute, recolhido em um pequeno abrigo, que mandei fazer para servir de recolhimenbo aos soldados não de sentinella. Abri esta porta com a chave, que como sempre 1evei comigo e apenas entrei no pequeno es- paço da casa com a luz acesa na mão, achei a lamparina apagada, e vi immediatamente a porta dobrada na freñte da casa, toda ex 1arga~



mente aberta. ASSustado corri à escrivanínha (uma mesa grande, de ambos os lados c0m repartimentos e gavetas todas e todos c0m fecha- duras), e achei-a forçada e rombada por um buraco feito na faboa latteral em que entra a linguetta da fechadura daquelle repartimento, fechado com fechadura de dobrada volta (cujas chaves em toda par- te levo sempre comígo, e os tinha n'algibeira), em que estava guar- dado o denheiro do Estado ;um caixão pregado, c0m oleado amarello envolto e sellado, que continha Rs. 9:OO›0$UOO, roubado; e outro cai~ Xão aberto sem tampa, que conforme a cifra da caixa, na antevespera feita_ devia conter Rs. 2:615$000 em notas nOVaS de 2$ e 1$ e algums reis em cobre; este caixão que sempre e sempre estava posto em cima do roubado, achei metade fora e metade dentro do repartimento com todo o denheiro a vista, no qual como pela contagem posterior se Ve- rifícou estavão Rs. 2:6›15$OOO em notas e algum cobre, o ladrão nào tocou neste denheiro. ' \ Este reconhecimento terriveL foí cousa de minutos, diria quasL de segundos, Saltei, c0m a mesma luz na mão, da porta para fora, grittando c0m todas as forças que tinha, por Socorro, que estava mu- bado! Socorro! Acorrerão logo o Snr. Delegado, que, oomo elle disse ao Snr. de Knorring; apenas chagado em casa nem tempo tinha, para segu- rar a Vela de sebo que levava sobre algums píngos que deixou cahir nos portaes da jane11a, quando ouvio os meus grittos; accorerão mui- tos habitantes da Sede da Cnlonia, Colonos, empregados e particula- res; declarei o Roubo e o dcnheiro achado, o qual depoís de contado ficou pelo momento na mão do Delegado guardad0. O'De1egado procedeo immediatamente o Visum rcpertum e o corpo delicto verba1, mandando examinar tudo pelos Accorridos pre- sentes_ deo-se busca nos Ranchos, e com prompta concessão dos ha- bitantes, em quasi todas as casas e vendas, inclusivamente à Ordem do Delegado na sua própria, batteo-se toda a noite e com toda a chu- r Va 0 matto. Colloquei logo Guardas soldados e colonos em todos os camínhos que conduzem nos lottes dos Colonos, e nos caminhos que conduzem da Sede da Colonia para fora da mesma, assim como ao lon- go do Río, sem nada achar, sem nada descubrir. ' Deo-se tãobem busca, a pedido do seu marido, em casa da Pro~ x fessora Publica, nas casas de todos os enzpregados, em casa do Ex Se- 7 _. cretarío Guido Seckendorf por mim denntído do seu cargo em 8 de 4 Fevereiro do anno corrente, que tinha chegado da Pedra Grande, : aonde se occupa na construcção de uma casa, visitar no dia 4 do Rou- bo visitar sua familia, aínda residente na Sede da Colonia, donde re-- _ - gressou no día 5 antes do roubo achado; tudo inutilmente. ír Continuarão todas as diligencías no dia seguinte, que era 5 do mez de Março corrente, vierão os Colonos avisados ainda de noite, 7 ._ 19 _



para batterem em multidão todo o matto vizinho para descubrir pe~ 10 menos algums vestigios, prometti à quem soubesse descubrir o la- drã0, ou achasse o roubo, Rs. 100$000 de Gratificação - tudo sem effeito. O Snr. Delegado procedeo o Interrogatorio e depoimento dos 3 soldados, que estavão de Guarda na Directoria, e do Colono Gúilher- me Risch que se achou contiguo de baixo do mesmo tecto da Directo- ria no do Rancho pegado de visita ao Colono Willering; e junto aqui as Copias escriptas e attestados pelo Escrivão interino, nomeado espe- cialmente pelo Snr. Delegado da Polícia para essa acontecimento, Germano Thieme.

Entre as 4 e 5 horas da tarde do día 5 de março, arrastando~me de novo para contínuar a presencíar as diligencias, para fora da casa da Directoría ,aonde rne tínha recolhído por uma hora, para descan- çar da fadíga. Encontrei quasi de frente da casa do negocio dos Srs. Dr. La Roche e Eduardo Sales, administrada, com interesse nos m- cros, pelo Suisso de nome Matter, grittando as creanças allemaes e meu pequene molequc que vierão correndoz O B'acker (padeiro em portuguem achou o denheiro na lagoa nos fundos de sua Casa de Hospeiaría e de nengO com venda; Seu verdadeiro nome é Philippe Krieger, coionc, com Leu lote muíto bem plantado por trabalhadores allugados_ e que naturalmente não recebe subsidios, e é geralmente apeuido Baecker (pacleiro) por ser padeiro na padaria do Snr. Joa- quím Ferelra Liberat0. O Agrímensor Thieme, éscrivão interino, e:~'.-- pecíalmente nomeado neste acontecimento pelo Snr. Delegado da Poli~ cía, estava em minha companhia, e vimos vindo o Snr. Delegado do lado de Phelíppe Kríegen levantando o Caixão achado, no ar accom- panhaõo pelo Dr. Eberhard e Philippe Krieger .\E'ste declarou, que passando pela pínguela sobre a estreita lagoa nos fundos de sua casa para ver sua plantação de milho além, e para outra urgencia corporaL vio quasi ao pé da pínguela um caíxão sumergido pela metade nas aguas da lagoa; e asustado que seja talvez o roubado, correo á casa em frente da sua; do Dr. Eberhard, partícipandolhç aquelle encontro, que neste instante chegou tãobem o Snr. Delegado Liberato á mesma casa, e forão todos os 3 ao lugar indicado, tirarão o Caixão ainda pre- gado, rasgando-se no acto de tiral-o d'agoa o fino encerado, e levarão o á CaSa da Directoria, aonde foí aberto em presença de muitas teste- munhas; achou-se dentro 9 paquetes cada hum de hum Çonto de Reis_ ou por outra os 9:000:$000, em notas novas de 2$ completas, mas mui~ to molhados.

Oh! Exm°. Snr.! Sim, Deos é grande! Elle ouvio em tempo, as preces de minha alma em agonia, da minha honra asassinada. Res~ ta a descubrir o asassino .

Como o Snr. Delegado na sua partida se esquecesse de man- dar escrever e assignar o Corpo de Delicto na noite do roubo só bo- 20




calzmente wfeito, por isso julguei me obriga-do, de exigir por escrito as declarações e opiniões, que declararão as mesmas digo e opiniões, que pronunciárão as mesmas pessoas testemunhas no Corpo de delicto bocaL na noíte do roubo, na oocasião que examinárão minuciosa- mente o rombamento da Escrevaninha e mais circunstancias, cujos depoimentos forão escripetas em parte pelo Snr. Max, Barão de P«rinz, em parte pelo escrivão interino Germano Thieme dictados e assigna~ dos pelos respectivos Depoentes e algums totalmente manu propria escriptos e assignados; todos com assistencia do Escrivão intexçino fei~ tos e por elíe rubricados. Remetto os juntos, a Vak Exa. em originais, pois não tive tempo de AcopíaLos e menos de traduzi1-os parraq portugues Dosr Depoimentos mencionados sobre o achado no exame do amm- bamento da Escrevaninha collige-se que o arrombamento fôra feito por um instrumento de ferro pontiagudo segundo a opinião de ums, e cortante pela opinião de outros, algums assvistentes julgarão ser feí- to por Baionetta; por isso remetto a Va. Ex°. aquella das 3 Baionetas dos 3 soldados que sempre montão a Guarda do denheiro só de Baio- nebta_ na qual os assistentes julgarão serem visiveis certos Eígnais. ella pertence ao Soldado da la. Sentinella na noite do rouboz Bernar- díno José de Souza. _ Collige~se mais pelas marcas bem visíveis na estreita frente da linguetta da fechadura, que esta linguetta foi pelo buraco do arrombamento na taboa 1ateral, com força empurrada e assim entrado na fechadura; e que a porta do repartimento em que se achava o denheiro, pelas ma-rcas claras de um instrumenbo cortan te, que nella fresquissimamente feitas se vê, por ser dura de abrir-se mesmo com a fechadura aberta, foi puchada à força para fora. Collige-se mais, que o ladrão deve ter tido completo coriheci- mento das particularídades da casa e da Escrevaninha, ou que fora muito bem ensínado, que havia denheiro no CaiXão pregado e maís do que os 22600 e tantos mil reis, que disprezou de levar do caixão aberto com o denheiro avista, cujo caixão devia primeiramente tirar de cima do caixão pregado, e necessariamente ver o conteudo, pois o juste acerto do buraco do arrombamento em frente da linguetta7 indi- ca ser feito com luz acesa, e finalmente, que, não se encontrando rom« bamento nemhum, nem nas portas, nem nas janellas, salvo umas ín- cisões com ferro cortante na pequena tramella de páo, que jíra sobre um prego, com a qual alem da fechadura, se segura ainda a porta de- brada na frente da casa; e que com facilidade pela fresta entre a dita porta e a taboa que faz parte da parede de taboas da casa. pode ser abaixada por quem está fora da casa. O ladrão deve pois ter entrado pela pcrta da Serventia em uso geral no lado do IEspigão por auxilío de uma chave falsa ou ter aberta esra mesma fechadura bastante ordi- naria p0r um prego, sahindo depois de ter fechadc outra Vez a dita porta pela dobrada na frente -- ou entrou c sahio pela porta da fren- ' te só. Em nemhum de ambos os casos, parece ter-se podido fazer o Ioubo e arrombamento tão imperceptiveL e por isso é incrível sem te- - 21 _..=

rem sido a Sentinella ou os Soldados da Guarda de uma ou de outra maneira de conivencia qualquer que seja; precisando o ladrão (como fez) primeiramente deslocar uma velha pesada poltrona de braços e assento almofadados, que sempre esta encostada na porta d0'reparti- mento arrombado da escrevaninha, o que assim como o arrombamen- to sempre deve ter feito um barulho estranho no interior, principaL mente n'huma noite chuviscosa como a do Roubo, estando todo em redor da casa em completo silencio.

Ainda tenho de observar, que forão achados vestigios de pisa~ das perto e na beira da lagoa, em que se achou o roubo, de pé fino, comprido, na sola do pé cavado e de dedo unidos, que parecem não pertencer á pessoa acostumada de pé no chã.0, que porem devião ter- se apagadas, se o roubo foi deitado na mesma noite na 1agoa, pois chuveo muito depois da meia noite até quasi ao amanhecer, só se f0i, depois transmudado de outro lugar para o do achamento do roubo.

Não sei, se foi puramente infame cobiça do denheiro, ou se en- trou tãobem algum espirito de malquerencia ,ínveja, continuação das intrigas interesseiras, ou de vingança neste trama e drama do roubo.

Com o auxilío de Deos e da Justica espero ancioso, junto com todos os empregados na Direcção da Colonía ,que se descubrirá o la- drão.

Remetto nesta data os 3 Soldados que estiverão de guarda, presos ao Smn Commandante do Batalhão do deposito, accompanha- dos pelo Cabo Pinto, de toda a minha confiança .

É tudo, que por ora tenho de levar ao conhecimento de V°. Efxa.

Deos Guarde á Va. Exa.

Exm°. e Revm°. Snr. Conselheiro Vicente Pires da Motta

Dm°. Presidente da Provincia de S. Catharina

o Director da Colonia

Barão de Schneéburg

Casa de Brusque