Mudanças entre as edições de "Brusquer Zeitung"

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Num primeiro momento este artigo explora o conceito de “Deutschtum” desenvolvido pela historiadora Giralda Seyferth. Após, trata da estrutura do jornal e analisa as temáticas das notícias de acordo com os níveis elencados conforme sua estrutura para uma categorização e posterior análise.
 
Num primeiro momento este artigo explora o conceito de “Deutschtum” desenvolvido pela historiadora Giralda Seyferth. Após, trata da estrutura do jornal e analisa as temáticas das notícias de acordo com os níveis elencados conforme sua estrutura para uma categorização e posterior análise.
  
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==Brasilianisches Deutschtum ou germanidade brasileira==
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Para Seyferth (1981) as raízes ideológicas do nacionalismo alemão estão contidas em autores do romantismo alemão como Herder, que criou o conceito de Volksgeist (espírito do povo), particularizando um povo em detrimento do homem universal. Apesar do antagonismo entre unificação política e independência regional - que teria fundamentado o pensamento destes autores - o Estado continua sendo algo considerado artificial e não se impõe à existência da nação, tendo esta idéia se propagando antes da dominação francesa. Na prática ele acabou sendo mais tarde um agente ativo no processo de unificação nacional e da revolução industrial alemã.
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O apelo à nação no seio da população só encontrou receptividade quando feito pela Prússia, não tendo a Áustria alcançado sucesso na oportunidade em que enfrentara Napoleão. Alguns autores considerarem a língua como o elemento fundamental para a nação, o que por si só não explicaria a preferência da Prússia em detrimento da Áustria.
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A condição sine qua non era a de que a Prússia estivesse a frente do processo, o que se desenhou com o Zollverein (união aduaneira) em 1833 ao consolidar-se como uma espécie de nacionalismo econômico. Embora o Zollverein tenha obtido algum êxito no campo econômico, as revoluções que visavam reformas como implementação de constituição e defesa da unidade alemã foram repelidas por forças armadas conservadoras, tendo surgido mais tarde a figura de Bismarck que usa o nacionalismo dos filósofos como um recurso para a ação política firmando a idéia de que a nação como entidade política deveria ser vinculada à Prússia tendo com a institucionalização o poder de se firmar frente a França e Rússia, acabando também com as disputas dinásticas.
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O sucesso da Prússia no campo econômico em curto prazo deveu-se à revolução industrial implantada a partir de 1850 em um processo de renovação de seu sistema de transporte e fortalecimento de seu exército. Até a década de 1860 (Fundação da Colônia Itajahy-Brusque) fica implícito que a união viria com um inimigo em comum – o nacionalismo de Bismarck consolida a unificação com três guerras: 1864, 1866 e 1870, respectivamente contra a Dinamarca, Áustria e França.
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Os dois primeiros triunfos bélicos aconteceram sem o apoio do parlamento e do povo. A França, por fim, seria o inimigo em comum com os Estados do Sul por causa dos limites do Rio Reno.
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Estes estados até então estavam próximos ao posicionamento da Áustria, que na visão de Bismarck seria excluída da Alemanha. O inimigo em comum os fez ceder aos apelos da política nacionalista de Bismarck e ao derrotar o inimigo, os alemães reunidos em Versalhes proclamaram o rei da Prússia como Imperador Guilherme I da Alemanha em 1871.
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Deste período constata-se que a rápida industrialização, em vez de desenvolver o princípio liberal, acabou por exaltar a participação estatal neste processo ao que Seyferth (1981, p. 34) afirma que
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Edição das 23h57min de 6 de junho de 2012

  • Álisson Sousa Castro, historiador.

A imprensa teuto-brasileira em Santa Catarina nasce com o periódico joinvillense Colonie-Zeitung, mais tarde denominado Kolonie Zeitung. Este foi o único jornal editado em colônias alemãs em Santa Catarina até o ano de 1881 - ano do surgimento do Blumenauer Zeitung. Estas duas publicações, juntamente com os Kalenders (almanaques) foram responsáveis por suprir de informações os habitantes de Brusque já que a popularização de outros veículos como o rádio (Rádio Araguaia em 1946) e a televisão (após 1948 no Brasil) ainda se fariam distantes.

Segundo Ayres Gevaerd[1], o jornal “O Novidades” trazia farto noticiário de Brusque só que em vernáculo, o que era impeditivo já que o ensino público não se fazia presente e o ensino privado era realizado em idioma alemão – o que reforçava o desconhecimento do idioma português. Apesar da circulação dos jornais Blumenauer e Kolonie em Brusque[2] as notícias de Brusque apareciam raramente, ficando o noticiário local prejudicado já que as notícias disponíveis na maioria das vezes estava em português.

Foi somente em 1912 que finalmente se editou um jornal em Brusque, em idioma alemão: o “Brusquer Zeitung”, tendo ganho sua edição em vernáculo no ano de 1914 com o nome de “Gazeta Brusquense”. Para a historiadora Giralda Seyferth[3] sua “[...] expressão política local e estadual [...] foi mínima, provavelmente porque sua circulação era restrita”. Seyferth[4] afirma ainda que a maioria da população de Brusque na época era alfabetizada, de onde se postula que seu caráter restrito se dava à sua circulação local, até mesmo pelo fato dos municípios vizinhos serem povoados por elementos de outras etnias.

Assim como os jornais “Kolonie Zeitung” e “Blumenauer Zeitung”, o jornal “Brusquer Zeitung” também fora fruto do espírito associativista[5]. O “Brusquer Zeitung” compunha-se de uma Sociedade de Acionistas presidida por Otto Renaux, sendo idealizado por Otto Gruber, que foi seu primeiro redator.

Retornando à historiadora Giralda Seyferth (1981), a mesma em seu estudo sobre o nacionalismo e identidade étnica dos teuto-brasileiros no Vale do Itajaí afirma que “os jornais em língua alemã que circularam no sul do Brasil até 1941 se consideravam, sem exceção, como defensores do 'Brasilianisches Deutschtum' [germanidade brasileira]”. Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é identificar quais temas foram tratados pelo periódico e verificar se eles guardam alguma relação com esta ideia de germanidade brasileira.

Para responder a este questionamento faz-se necessário compreender o que seria esta germanidade brasileira, compreender a estrutura do jornal e classificar as notícias em temáticas e por fim verificar se há disparidade no enfoque internacional, nacional, estadual e local quanto à relação temática e alinhamento ao Deutschtum. Como produto destes questionamentos pretende-se possuir uma análise da imprensa teuto-brasileira em Brusque no contexto próximo à Primeira Guerra Mundial a fim de subsidiar futuros estudos relacionados à identidade étnica no período de guerra no município de Brusque.

Num primeiro momento este artigo explora o conceito de “Deutschtum” desenvolvido pela historiadora Giralda Seyferth. Após, trata da estrutura do jornal e analisa as temáticas das notícias de acordo com os níveis elencados conforme sua estrutura para uma categorização e posterior análise.

Brasilianisches Deutschtum ou germanidade brasileira

Para Seyferth (1981) as raízes ideológicas do nacionalismo alemão estão contidas em autores do romantismo alemão como Herder, que criou o conceito de Volksgeist (espírito do povo), particularizando um povo em detrimento do homem universal. Apesar do antagonismo entre unificação política e independência regional - que teria fundamentado o pensamento destes autores - o Estado continua sendo algo considerado artificial e não se impõe à existência da nação, tendo esta idéia se propagando antes da dominação francesa. Na prática ele acabou sendo mais tarde um agente ativo no processo de unificação nacional e da revolução industrial alemã.

O apelo à nação no seio da população só encontrou receptividade quando feito pela Prússia, não tendo a Áustria alcançado sucesso na oportunidade em que enfrentara Napoleão. Alguns autores considerarem a língua como o elemento fundamental para a nação, o que por si só não explicaria a preferência da Prússia em detrimento da Áustria.

A condição sine qua non era a de que a Prússia estivesse a frente do processo, o que se desenhou com o Zollverein (união aduaneira) em 1833 ao consolidar-se como uma espécie de nacionalismo econômico. Embora o Zollverein tenha obtido algum êxito no campo econômico, as revoluções que visavam reformas como implementação de constituição e defesa da unidade alemã foram repelidas por forças armadas conservadoras, tendo surgido mais tarde a figura de Bismarck que usa o nacionalismo dos filósofos como um recurso para a ação política firmando a idéia de que a nação como entidade política deveria ser vinculada à Prússia tendo com a institucionalização o poder de se firmar frente a França e Rússia, acabando também com as disputas dinásticas.

O sucesso da Prússia no campo econômico em curto prazo deveu-se à revolução industrial implantada a partir de 1850 em um processo de renovação de seu sistema de transporte e fortalecimento de seu exército. Até a década de 1860 (Fundação da Colônia Itajahy-Brusque) fica implícito que a união viria com um inimigo em comum – o nacionalismo de Bismarck consolida a unificação com três guerras: 1864, 1866 e 1870, respectivamente contra a Dinamarca, Áustria e França.

Os dois primeiros triunfos bélicos aconteceram sem o apoio do parlamento e do povo. A França, por fim, seria o inimigo em comum com os Estados do Sul por causa dos limites do Rio Reno.

Estes estados até então estavam próximos ao posicionamento da Áustria, que na visão de Bismarck seria excluída da Alemanha. O inimigo em comum os fez ceder aos apelos da política nacionalista de Bismarck e ao derrotar o inimigo, os alemães reunidos em Versalhes proclamaram o rei da Prússia como Imperador Guilherme I da Alemanha em 1871.

Deste período constata-se que a rápida industrialização, em vez de desenvolver o princípio liberal, acabou por exaltar a participação estatal neste processo ao que Seyferth (1981, p. 34) afirma que

Este tipo de individualismo está de acordo com uma outra característica do nacionalismo da Alemanha imperial, expressa na obra de Treitschke e outros autores, segundo a qual a unidade alemã se manifesta na pessoa do Imperador que, em síntese, é a Alemanha.

Referências

  1. GEVAERD, Ayres. A Imprensa Brusquense. In: ÁLBUM DO CENTENÁRIO DE BRUSQUE. 1960. Brusque: Edição da SAB, 1960. p. 293.
  2. SEYFERTH, Giralda. Nacionalismo e identidade étnica. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura, 1981. p. 49.
  3. Idem., Ibidem., p. 49
  4. Idem., Ibidem., p. 49
  5. GEVAERD, Ayres. op. cit. p. 293.