Autobiografia do Pastor Johann Anton Heinrich Sandreczki

De Sala Virtual Brusque
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AUTOBIOGRAFIA DO PASTOR JOHANN ANTON HEINRICH SANDRECZKI

I

Desejamos destacar nesta nota a notável concordância das memórias do Pastor, no que concerne às suas atividades na Colônia, com os apontamentos feitos por Oswaldo R. Cabral em seu livro "Brusque" e com a síntese histórica do Centenário da Igreja Evangélica em "Brusque" que publicamos em 1965.

O Pastor Sandreczki situa-se na história de Brusque nos tempos coloniais como uma das mais extraordinárias atuações na consolidação, não sómente de sua Igreja como também, e isso é importante, nos destinos da própria Comunidade Brusquense que então se iniciava.

Há pouco a S.A.B. deu início à coleta de dados biográficos não só de brusquenses já desaparecidos como também de contemporâneos. Esses registros servem para julgar, com justiça, a atuação que exerceram na vida comunitária. No trabalho de cada pessoa, homem ou mulher, considerados em conjunto, estão os alicerces de uma Comunidade e devem ser lembrados para exemplo dos pósteros, dando-lhes o destaque que realmente merecem.

Ayres Gevaerd

Auto-biografia do Pastor Heinrich Sandreczki, escrito em setembro de 1909.

(Tradução de José Ferreira da Silva. De uma cópia pertencente à Sociedade dos Amigos de Brusque).

Nasci a 22 de setembro de 1837, em Hermópolis, na ilha grega de Sira.

Meu pai, o Dr. Carlos Sandreczki era de descendência polaca e nascera na Baviera e, ao tempo do rei Otto, esteve a serviço da Grécia como juiz regional em Sira, mas depois entrou para o serviço da "Church Missionary Society" (Sociedade Eclesiástica Missionária) como diretor das Escolas da Sociedade em Sira.

Minha mãe, Jeanette Contouz, a zelosa protetora de minha infância, educada desde sua meninice no estilo alemão, era filha de um francês residente em Munique e que estivera antes a serviço do Duque de Leuchtenberg.

Apesar das poucas ligações com a Alemanha, eu e os meus irmãos, longe dêsse país, fomos educados por meu pai profundamente alemães e eu convivia, além de com meus irmãos, com dois jovens, filhos do Missionário Mildner que também estava a serviço da mesma Sociedade que meu pai.

Meu pai foi o nosso primeiro professor em ciência e religião. Mais tarde êle, de acôrdo com o missionário Mildner, fizera vir da Alemanha um professor ao qual eu e meu irmão Max os dois irmãos Mildner fomos confiados e que prosseguiu na nossa educação.

Meu pai foi transferido para a Ásia Menor e, primeiramente, localizou-se em Budjah, próximo a Smirna e, posteriormente, em Smirna mesma.

Em Budjah, nós, crianças, tínhamos um excelente local de brinquedos e, para as demais ocupações, nos espaçosos cômodos e varandas das grandiosas casas pertencentes à Missão que nós ocupávamos com o Pastor Wolters e que, além disso, eram cercadas de parreiras, árvores frutíferas e outras bonitas plantas, e que nós aproveitávamos ao máximo. O nosso professor era um certo senhor Pokorni.

Dois anos eu vivi, ainda na nova pátria, na casa paterna. Então, meus pais resolveram mandar-me para uma escola na Alemanha e, segundo os planos de meu pai, para estudar medicina.

Como filho de missionário e em consequência da constante leitura dos jornais da Missão Calwer, minha fantasia preferia ocupar-se mais com as imagens da vida de missionário. Isso, entretanto, pouca influência teve então na minha decisão de acatar os desejos de meu pai, relativamente ao meu futuro.

Deixei, portanto, a casa paterna, sentindo dolorosamente a despedida. Meu destino era München. Ali eu deveria ir para a Companhia de meu avô Contouz. Relativamente aos estudos, fui pôsto sob as vistas e a orientação do meu tio, o barão Max du Prel, que era casado com a irmã de meu pai. Eu tomei-lhe grande estima, apesar da rigidez com que era tratado. Ali eu tive também oportunidade de aprender um francês correto.

Frequentar uma escola pública era coisa completamente nova para mim. Dominava ali um sistema pedagógico muito diferente do nosso professor particular Henning em Sira. Entretanto, adaptei-me bem, embora de começo fôsse bastante difícil.

Passado o primeiro ano, o conselho do meu padrinho de batismo, Heinrich von Schubert, eu deveria entrar para um Instituto. Êsse Instituto, em Augsburgo, ao qual estava ligado um curso ginasial, era tido como o melhor para o estudo e a educação. Infelizmente, entre muitos alunos reinavam a rebeldia, a desobediência e o pouco caso por um estudo sério. Senti, então, fortes desejos de regressar a München e o tio Du Prel resolveu mandar-me novamente para um ginásio nessa cidade.

Pouco depois disso, meu pai decidiu o meu regresso ao lar paterno em Jerusalém, para onde êle havia sido transferido pela Missão da Palestina, como secretário da Sociedade Missionária. O seu plano era mandar-me concluir os estudos na Inglaterra. Mostrei-me, porém, pouco interessado em seguir a carreira da medicina, a que êle havia me destinado e, por fim, decidi resistir-lhe.

Estava-me reservada uma direção mais alta.

A 21 de agosto, eu pús os pés no patamar da velha Casa da Missão Basiliense. Por quatro anos e meio fui aluno da Casa e ali recebi grandes benefícios para a minha vida interior e exterior.

A 21 de fevereiro de 1864 fui ordenado em Hürtingen, Würtenberg, pelo decano Sotck. Mas não fui destinado como missionário entre os pagãos, como era meu desejo, mas como pregador para colonos alemães no Brasil.

O govêrno, então ainda imperial, do Brasil, havia se comprometido de manter pastores evangélicos nas suas colônias e a estipendiá-los. E quando, anteriormente, solicitações a êsse respeito, através do Cônsul de Baden, no Rio de Janeiro, já haviam chegado à Sociedade Missionária de Baden, alunos dessa Casa já haviam sido enviados para o Espírito Santo e Santa Catarina. E quando outras solicitação se repetiu no ano de 1864 fomos eu e Hermann Reuther, destinados, êste para Santa Isabel, no Espírito Santo e eu para Itajaí-Brusque, na província de Santa Catarina.

Muito bem preparados pela Casa Missionária, empreendemos, em março do mesmo ano, a viagem para o oeste longínquo, através de Paris e Le Havre. Conosco viajou a senhorita Ana Groben, noiva do pastor Karl Wagner, do Rio de Janeiro. Em Le Havre embarcamos num veleiro que se achava pronto para largar o pôrto sob o comando de um amável francês.

Viagem muito calma levou-nos em 40 dias, 11 dos quais práticamente parados em virtude de calmarias no equador, ao Rio de Janeiro, onde desembarcamos em começos de maio.

(Continua)

Casa de Brusque