Política e Políticos de Antanho

De Sala Virtual Brusque
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  • Ayres Gevaerd

I Como ocorreu na então Vila de “São Luiz Gonzaga” a mudança do regime monárquico para o republicano

SEMPRE gostei de anotar aspectos da vida brusquense, apanhados aqui e ali, não só peio simples prazer da pesquisa, como também, o que considero mais importante, porque podem servir, um dia, de estudo aos nossos cronistas e historiadores. No que concerne à vida oficial de Brusque, os registros que se encontram nos documentos da Colônia, são realmente valiosos, graças aos cuidados de seus administradores. Excetuando os anos de 1861, 1870, 1873, 1874, 1878 e 1880, os demais, desde a fundação, 4 de agosto de 1860, estão completos.

O mesmo já não acontece depois da emancipação, isto é, depois da criação do município, em 23 de março de 1881, até 1905, aproximadamente. Entretanto, de quando em vez, encontram-se registros interessantes, permitindo preencher falhas na seqüência histórica, nos raros livros oficiais e em notícias enviadas de Brusque aos jornais dos municípios visinhos, notadamente ao “NOVIDADES”, que se editou em Itajaí.

Desejamos nos reportar hoje ao livro de atas da Intendência Municipal, correspondente aos anos 1888, 1889 e 1890 e, ao mesmo tempo, anotar algumas ocorrências, aspectos das administrações municipais e o comportamento de personalidades políticas no período que vai de 1890 a 1908. O referido livro registra as atas das sessões da Câmara no tempo do Império e do Conselho da Intendência, estas com as citações de «Cidadão presidente do Conselho» e «Cidadão Governador », ensaios dos primeiros passos da República dos Estados Unidos do Brasil em Brusque. São, certamente, dignas de atenção todas as atas, para quem se dispuser a escrever a história do município.

Para mim que procuro fazer pequenos relatos ou registros, conforme já mencionei e, conhecendo, pela tradição oral, o comportamento de alguns dos velhos políticos de Brusque, acho que se deve publicar as atas das sessões que cuidam das providências para o reconhecimento do novo Regime e de outras, administrativas.

É certo que um resumo do que foi escrito seria suficiente; mas, pela forma tão simples e original como o secretário as redigiu, considerando ainda a conduta de nossos ilustres antepassados, cônscios de suas responsabilidades, uns como monarquistas, outros como republicanos, cremos que a transcrição se impõe, respeitando-se, como é óbvio, a ortografia.

Em seguida registro alguns incidentes, oriundos de acontecimentos sociais e políticos, possibilitando analisar o temperamento de alguns cidadãos vereadores ou intendentes que durante um quarto de século cuidaram dos destinos de Brusque.

“Ata da sessão extraordinaria do dia 23 de Novembro de 1889, sob a presidencia do vereador Guilherme Krieger Junior. O secretario José Vicente Haendchem. Aos vinte tres dias do mez de Novembro do anno de mil oitocentos e oitenta e nove nesta villa de São Luiz, no Paço da Camara Municipal pelas onze horas do dia achando-se reunidos os srs. vereadores como presidente Guilherme Krieger Junior, vice presidente Jorge Boettger e mais vereadores Frederico Klappoth, Germano Scheurich, Gottlieb Becker e Adriano Schaefer; faltando o vereador João Batista Rudolph com participação, achando-se numero legal, o snr. presidente declarou aberta a sessão. Lido o expediente constou o seguinte: Um telegrama circular do telegrapho participando a sahida do Snr. PEDRO D'ALCANTARA, um outro circular do telegrapho participando a Camara Municipal do Rio (?) ter aclamado a Republica dos Estados Unidos do Brazil. Um outro do Governo provisorio de 22 de Novembro participando .......... da Republica.

Um officio do presidente da Provincia de 15 de Novembro enviando o jornal Regeneração. Um outro do Governo Provisorio do Estado Republicano Catarinense de 17 do corrente comunicando ter assumido o governo deste Estado. Um outro de 18 de Novembro comunicando ter determinado que as repartições publicas continuem a funcionar. Um outro de 21 do corrente declarando que podem ser recebidas as notas do Banco do Brazil. De cujo conteúdo os vereadores declarão ser inteirados, mandando o sr. Presidente archiva-las. O presidente consulta os vereadores reunidos se reconhecem o Governo Republicano.

Como foi unanimemente applaudida, adherindo-se esta Camara a Republica Federal Brazileira, reconhecendo o Governo Provisorio. O presidente mandou em vista d'esta deliberação officiar ao Governo provisorio do Estado Republicano a respeito. E não tendo mais nada a tratar o Snr. Presidente levantou a sessão as doze e meia horas do dia. Eu José Vicente Haendchem secretario que o escrevi e assigno. Krieger Junior, Jorge Boettger, Frederico Klappoth, Germano Scheurich, Gottlieb Becker e Adriano Schaefer. O Secretario José Vicente Haendchem”.

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“Acta da sessão do dia 7 de Janeiro de 1890. O secretario José Vicente Haendchem. Aos sete dias do mez de Janeiro do anno de mil oitocentos e noventa nesta Villa de São Luiz de Gonzaga no Paço da Camara Municipal, pelas nove horas da manhã, achando-se reunidos os cidadãos vereadores como presidente Guilherme Krieger Junior, como vice presidente Jorge Boettger, e os demais vereadores Germano Scheurich, Gottlieb Becker, Frederico Klappoth, João Batista Rudolph e Adriano Schaefer, achando-se numero legal dos cidadãos vereadores o Snr. Presidente declarou que de conformidade o artigo 22 paragrapho 5o. do regulamento No. 3029 de 9 de Janeiro de 1881, hia-se proceder a eleição de presidente e vice presidente para servir no anno corrente.

E preechidas as formalidades, forão recolhidas da urna sete cedulas: Guilherme Krieger, quatro votos, Gottlieb. Becker tres. votos, promiscuamente foi eleito o cidadão vereador Guilherme Krieger Junior e que este se proclamando eleito tomou a presidencia e declarou em seguida que hia se proceder a eleição para vice presidente, o que foi feito e aprovado, promiscuamente forão recolhidas da urna sete cedulas, o vereador Jorge Boettger quatro votos e João Batista Rudolph tres votos, promiscuamente foi eleito vereador Jorge Boettger, em vista do que o snr. Presidente declarou eleito o vereador Jorge Boettger. E estando assim concluida a eleição do presidente e vice presidente. Pelo sr. presidente foi convidado todos os vereadores para a sessão do dia treze do corrente. E por nada mais haver o sr. presidente mandou lavrar a presente ata que assignão. Eu José Vicente Haendchem secretario que o escrevi e assigno. Krieger Junior, Jorge Boettger, F. Klappoth, Germano Scheurich, Gottlieb Becker, Baptista Rudolfo. O secretario José Vicente Haendchem”.

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“Acta da sessão do dia 13 de Janeiro de 1890 sob a presidencia do vereador Guilherme Krieger Junior. O secretario José Vicente Haenilchem. Aos treze dias do mez de Janeiro do ano de mil oitocentos e noventa, nesta Vila de São Luiz Gonzaga, no Paço da Camara Municipal velas onze horas da manhã, achando-se reunidos os srs. vereadores como presidente Guilherme Krieger Junior, como vice presidente Jorge Boettger e os demais vereadores Frederico Klappoth, Germano Scheurich, Gottlieb Becker, João Baptista Rudolph e Adriano Schaefer, declarando-se numero legal o Sr. presidente declarou aberta a sessão. Lido o expediente, constou o seguinte: Um officio do Governo Provisorio do Estado Catharinense, datado de 25 de Novembro do anno passado, adherindo já à Republica dos Estados Unidos do Brazil as Provincias do Pará, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagõas, Bahia, Espirito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio G. do Sul. Um outro do mesmo Governo comunicando ser nomeado Governador desta Provincia o Sr. Lauro Seceriano Miller, um outro do mesmo Governador Catharinense comunicando que faça constar por editaes que ao proprietario de terreno assiste o direito de pesquizar e extrahir produto mineral sem intervenção alguma dos Estados Unidos do Brazil. Um outro do mesmo Governador, declarando que podem ser recebidas as notas do Banco do Brazil. Um telegrama do mesmo Governador dando a grande publicidade que todos os extrangeiros são cidadãos Brazileiros após dois anos de residencia. Uma circular do mesmo Governador Miiller declarando que podem ser recebidas as notas do Banco de São Paulo. Um outro do mesmo Governador remetendo a esta Camara um exemplar da Lei do orçamento para o exercicio do corrente anno. Um outro do secretário do Governador mandando copia para aqueles que não querem ser cidadãos brazileiros. Um outro do mesmo secretario declarando que podem ser recebidas as notas do Banco da Bahia. A Camara ficou inteirada. Um requerimento do vigario João Fritzen pedindo titulo definitivo das terras aonde está coliocada a igreja matriz, vindo do Governador para esta Camara informar. A Camara informou com as informações de ser atendido o que o suppte. pede na sua petição. Um outro requerimento de João Bauer (pedindo pagamento de tintas e oleos fornecidos para a casa aonde funcionou o escritorio da Comissão de Reginaldo Candido da Silva. A Camara informou que nada podia dizer a respeito. Um outro da viuva Gertrudes Krieger, pedindo tambem pagamento de fornecimento de tintas e oleos para a casa da dita Comissão. A Camara informou que nada podia dizer a respeito. Um outro de Jacob Olinger pedindo ao Estado um terreno contiguo ao da Igreja Matriz d'esta Villa e vindo do Governo a esta Camara para informar. A Camara deu as informações necessarias. Um outro do procurador d'esta Camara fazendo saber que no poder de Reginaldo Candido da Silva existe um armario que anteriormente existia no antigo hospital, a Camara ficou integrada. Pelo procurador desta Camara foi apresentado o balanço de receita e despesa durante o anno proximo passado. A Camara aprovou unanimemente sem votos. Foi nomeada uma Comissão o vereador Scheurich, Schaefer e Becker para refir sobre o conserto que necessita a estrada em terreno de Nieburg. Pelo presidente d'esta Camara foi dito que a casa da Camara precisava dum pequeno concerto no telhado e caiar de novo a sala das sessões. A Camara deliberou que fosse feito o concerto. A Camara deliberou e avisou dO ...:........ para fazer orçamento dos concertos que necessitam as estradas e pontes e boeiros. E não tendo mais nada a tratar o Snr. presidente encerrou a sessão a uma hora da tarde. Eu José Vicente Haendchem secretario que o escrevi e assigno. Krieger Junior, Boettger, Klappoth, Scheurich, Becker, Schaefer, Rudolf. O Secretario José V. Haendchem.”

Esta foi a ultima reunião da Camara de Vereadores. Iria proceder-se a modificação de "Camara de Vereadores" para "Intendencia Municipal" bem como a redução de seus integrantes de sete para cinco.

“Intendencia Municipal. Sessão extraordinaria do dia 14 de Janeiro de 1890. Aos quatorze dias do mez de Janeiro do anno de mil oitocentos e noventa nesta Villa de São Luiz, no Paço da Camara Municipal pelas cinco horas da tarde, presentes os cidadãos intendentes Eduardo von Buettner, Frederico Klappoth, Adriano Schaefer, João Bauer e Carlos Renaux, os quaes em vista da Resolução no. 61 do cidadão Governador deste Estado Federal de 7 do corrente e em vista do officio de 8 do corrente do mesmo cidadão Governador, em que nomeia os cidadãos acima indicados, para fazer parte do Conselho da Intendencia deste Municipio, tomarão assento na meza e declararão fazer eleição do presidente do dito Conselho, que foi immediatamente feito e tendo a maio ria de votos o cidadão Carlos Renaux, para Presidente do Conselho, que tomou assento no topo da meza e declarou por aberta a sessão. Pelo porteiro d'esta Camara foi apresentado officio dirigido aos intendentes do ex presidente Guilherme Krieger Junior de 14 do mez corrente do seguinte theor: São Luiz em 14 de Janeiro de 1890. Acuso o recebimento do vosso officio de hoje e tendo a responder-vos que em nada assiste-vos n direito de impôr a mim como presidente da Camara Municipal, agora dissolvida pelo acto do Governador, hoje recebido a convocar vereadores da mesma Camara para-sessão por:vos:marcada; nemtem os membros de extincta Camara a entregar-vosarchivo e mais pertences como dizerdes, visto que o archivo se acha sob a responsabilidade do secretario e a Caixa de Caixa de administração do procurador da Camara onde vos devereis ter-se dirigidos para os fins que desejaveis alcançar. Saude e fraternidade aos cidadãos Intendentes municipais Carlos Renaux, Frederico Klappoth, João Bauer, Adriano Schaefer e Eduardo von Buettner. O ex-vereador Guilherme Krieger Junior.

E em vista d'este officio os Intendentes nesta acta assignados tomarão posse dos seus lugares sem ser-lhes entregue pelo ex-presidente o archivo e mais pertences, fazendo esta o secretario e tendo comparecido igualmente o procurador d'esta Camara para prestar contas sob o actual estado da caixa, o qual apresentou o livro caixa mostrando um saldo de duzentos e dois mile setecentos e quarenta e um reis a favor do cofre municipal. No fazer-se esta acta, foi no mesmo tempo nomeado uma comissão composta dos intendentes cidadãos João Bauer, Frederico Klappoth e Carlos Renaux para examinar o archivo e contas do pracurador d'esta Municipalidade. IE! como nada mais tinha a se deliberar foi pelo presidente encerrada a presente sessão remetendo-se copia ao Exmo. Governador d'este Estado. Eu José Vicente Haendchem secretario que o escrevi e assignho. Carlos Renaux, Eduardo vor Buettner, Frederico Klappoth, Adriano Schaefer, João Bauer, José V. Haendchem”.

A tomada legal do Poder Executivo brusquense pelos republicanos-de acordo com os documentos de 7 e 8 de Janeiro de 1890, como não podia deixar de ser, magoou os monarquistas. Nas sindicâncias procedidas pela Comissão, aparentemente nada foi apurado que desabonasse a Câmara extinta. Se houve irregularidades, teriam sido de pequena monta, prevalecendo o bom senso dos novos administradores, iniciando, sem maiores delongas, o novo Governo.

Viria então a revolução de 1893, que poderia, diante dos acontecimentos que se verificaram em Blumenau e os mais dolorosos em Desterro, criar na política local novas animosidades. Isto felizmente não se verificou. Em face da pouca importância estratégica de Brusque, o movimento de tropas. do- Governo e Revolucionárias, era feito entre Itajaí e Blumenau e apenas pequenos grupos isolados de «maragatos» e «pica-paus» apareceram, não molestando ninguém. Quando um grupo se aproximava, o outro, contrário, já cuidava de desaparecer, ambos fazendo pouso em terras de João Bauer, proximidades de sua residência.

Gumercindo Saraiva visitou a Vila, sendo recebido pelas autoridades e personalidades. Visitou as escolas, repartições públicas, tomou naturalmente providências cabíveis na ocasião e despediu-se. Prudentemente, os «contrários » permaneceram em suas, residências.

Houve, é certo, alguns alarmes na Vila, originários de boatos de que, determinadas pessoas seriam aprisionadas e sumariamente fuziladas. Havia assim: motivo de susto, porque as notícias vindas de Destêrro, palco de: verdadeiras atrocidades, desgraçadamente tinham fundamento.

Uma das pessoas visadas pelos «pica-paus» na então vila, durante as incursões feitas, foi o cidadão Carlos. Luiz Gevaerd, então exercendo as funções de comissário de polícia, professor público e particular, cargos que na época o destacavam na comunidade.

A vila era sempre alertada quando se aproximavam grupos das facções em litígio e as autoridades, naturalmente, tomavam as providências possíveis.

Certa feita, Raimundo Rodrigues, de côr parda, veterano da guerra do Paraguai, muito afeiçoado a Carlos Luiz Gevaerd, veio preveni-lo de que estava sendo cuidada sua prisão; exatamente por volta do meio dia, quando a família estava reunida para um almoço festivo, dia de aniversário natalício de Dona Mariquinha (Maria Luiz Corsin Gevaerd), sua esposa. Rapidamente, Carlos Luiz Gevaerd reuniu os familiares, alimentos, dirigindo-se até à barcaça situada, então, nas proximidades da atual ponte Mário Olinger. Feita a travessia, refugiaram-se na casa de Nicolau Werner, situada na atual Fazenda Hoffmann, em Vicente Só, só voltando dias depois. Outras ocorrências certamente se verificaram, de maior ou menor importância, as quais, por falta de registro quando narradas por nossos maiores, foram esquecidas.

II Administrações municipais de 1890 a 1915 - Liderança política - A visita do General Marciano de Magalhães - A Guarda Nacional de Brusque

Os livros de Notas do primeiro Tabelionato local, recém consultados, permitiram completar a relação das administrações municipais, porque as atas das eleições, certamente por força da lei, eram devidamente registradas.

Completa-se assim o quadro das Câmaras e Superintendentes inserto no Album do Centenário às folhas 309 a 312, organizado pelos srs. Cyro Gevaerd e Evilásio Guilherme Gevaerd. De acordo, pois, com as atas transcritas na primeira parte deste relato, em 1889, Guilherme Krieger presidia a Câmara de Vereadores formada ainda por George Boetger, Germano A. Thieme, depois Frederico Klappoth, Germano Scheurich, Gootlieb Becker, Adriano Schaefer e João B. Rudolf.

A 7 de Janeiro de 1890, a mesma Câmara, baseada em lei de 9 de Janeiro de 1881 reelegeu-se, administrando o município somente por 6 dias. A 14 de Janeiro de 1890, a República fazia prevalecer sua força instalando a Intendência Municipal, de conformidade com a Resolução no. 61, assim formada: Carlos Renaux, Eduardo Buettner, Frederico Klappoth, Adriano Schaefer e João Bauer. Carlos Renaux foi eleito presidente por maioria de votos. Da administração passada permaneceram no novo órgão os cidadãos Frederico Klappoth e Adriano Schaefer.

A 30 de Agosto de 1891, na primeira eleição popular verificada em Brusque, elegeu-se Superintendente Municipal Carlos Renaux, com 57 votos, permanecendo a mesma: Intendência e mais o cidadão João da Silva Matra. No ano seguinte, 20 de Novembro, atendendo ao artigo 73 da Lei nº. 44 do mesmo ano, procedeu-se a eleição da Câmara para o quatriênio 1.1.1893 a 31.12.1896, que ficou assim constituide: Batista Rudolph, Cristiano Becker, Guilherme Krieger, João F. da Rocha e Nicolau Lauritzen. No cargo de superintendente, além do titular, exerceu as funções o suplente Nicolau Gracher. Adriano Schaefer foi o superintendente a seguir até 1898, quando foi eleito, a 13 de Novembro, Carlos Luiz Gevaerd. Não existem elementos seguros que atestem a permanência de Carlos Luiz Gevaerd no cargo durante o período. Nicolau Gracher e João Bauer, por exemplo, exerceram o mandato como substitutos legais, tendo o primeiro assinado com Carlos Renaux a 20 de Setembro de 1900 contrato para instalação de pequena via férrea que partia da então barcaça, situada nas proximidades da atual ponte Irineu Bornhausen, até a Pomerânia, local da recém fundada fabrica Renaux.

Nicolau Gracher faleceu em pleno exercício do cargo, sendo eleito. para substituí-lo, por quase um ano, Guilherme Krieger. Carlos Kühne foi eleito a 7.12.1902, assumindo a 7 de Janeiro de 1903, varias vezes substituido por Guilherme Krieger, Nicolau Lauritzen e Guilherme Kormann. Carlos Kühne também faleceu no exercício da superintendência, substituido a 12 de Julho de 1903 por Carlos Renaux, já com o título de Tenente Coronel, exercendo ainda as funções em seu impedimento ocasional, Vicente Schaefer. A 2 de Dezembro de 1906, Guilherme Krieger foi novamente levado ao alto cargo que assumiu a 1º de Janeiro de 1907 e com ele o seguinte Conselho: João P. da Silva Mafra, Guilherme Rich Jr., Luiz de Marchi, Joaquim E. Regis, Carlos Renaux.

Guilherme Krieger foi reeleito por mais um período de 4 anos e finalmente, a 2 de Agosto de 1914, seu tradicional antagonista, Carlos Renaux, substituiu-o, conseguindo 439 votos contra 208 de Guilherme Krieger. No próprio dia da posse o novo titular assinou ato designando para seus substitutos legais: 1º Otto Renaux, 2º Godofredo Mosimann e 3º Guilherme Kormann e no dia 8 de Novembro de 1915 renunciou ao cargo, passando-o a seu filho Otto Renaux.

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A liderança política em Brusque, no período compreendido entre 1890 e 1915, um quarto de século, foi disputada pelos srs. Guilherme Krieger e Carlos Renaux.

Nesse tempo Guilherme Krieger possuia grande e movimentada casa comercial (atual prédio das Lojas Renaux), exportava produtos agricolas para os mais importantes centros comerciais do País e importava, em regular escala, as mais variadas mercadorias da Alemanha. Carlos Renaux, por sua vez, desenvolvia em ritmo progressivo sua indústria textil. Como deputado estadual, ponto alto de sua carreira política, participou em 1891 da primeira Assembléia Constituinte Estadual. Ambos com destaque na Sociedade de então, notadamente no “Schützen Verein”” no qual desempenharam por varias vezes as funções de presidente. Vale a pena registrar “que na tradicional festa da Páscoa do centenário Clube dos Atiradores, que durava 3 dias, nossos ilustres homens públicos esqueciam, temporariamente, suas brigas políticas. Aliás, a confraternização, na famosa festa, era geral. Festa de âmbito municipal, durante pelo menos 75 anos, era reunião obrigatória das famílias de Brusque, destacadas e humildes.

Propús-me registrar algumas ocorrências verificadas na então vila de Brusque, visando destacar o grau a que chegaram os melindres sociais e políticos de nossos dois líderes, aos quais, cumpre anotar, muito deve Brusque. A solenidade da transmissão dos altos cargos da administração municipal, naqueles tempos, sem dúvida, era concorridíssima: autoridades, convidados especiais, Banda Concórdia, foçuetes, passeata pelas principais ruas da vila, terminando, como não podia deixar de ser, no Schiitzen Haus, ou casa dos Atiradores.

Passados os primeiros dias de relativa calma, as flechas eram desfechadas mutuamente, com mais agressividade, ao que se pode concluir, na parte do Tte. Cel. Carlos Renaux.

Até 1912 por falta de jornal local, as noticias eram geralmente publicadas no “O Novidades”, além de outros, da Capital, Blumenau e Joinvile: sociais, religiosas, politicas e oficiais.

No dia 22 de Novembro de 1905 inaugurou-se a ponte metálica “Vidal Ramos”, acontecimento de extraordinário destaque, que contou com a presença do Cel. Pereira e Oliveira, representando do Governador do Estado, e comitiva. Carlos Renaux proporcionou aos visitantes excursão pelo rio a bordo da lancha “Selma”, reconduzindo-os, depois de encerrada a festa, a cidade de Itajaí.

A ponte custou aos cofres públicos 45:292$260. No ano seguinte, 1906, faltava pagar aproximadamente 5:000$000, que o então superintendente procurou cobrir, pelo menos parcialmente, com uma subscricão popular que somente atingiu a 9858500. Guilherme Krieger recusando-se em colaborar, deu motivo a seu antagonista, ainda no poder, a fazer declaração pública através “O Novidades” de 4.3.1906. Relacionando, agradece as pessoas que generosamente contribuiram para o resgate final da ponte, lamentando, todavia, que o sr. Guilherme Krieger, destacado comerciante, largamente conceituado, com casa matriz e filial, possuindo carroças e cavalos, aproveita diariamente a facilima comunicacão, com nada contribuiu! Apesar do ataque direto e duro, Guilherme Krieger não reagiu, pelo menos oficial e publicamente. Certamente comentou o fato, ironicamente, esperando ocasião para um revide à altura. Carlos Renaux passou o cargo no dia 1 de Janeiro de 1907 ao Cel. Guilherme Krieger. Poucos meses depois estampava “O Novidades” famosa “Carta politica" dirigida a Sua Excia. o Sr. Cel. Superintendente Municipal, assinada pelo Tte. Cel. Carlos Renaux.

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No dia 30 de julho de 1907, Brusque recebeu honrosa visita, minuciosamente descrita no jornal de Itajaí. Como não podia deixar de ser, terdo-se em conta as condições locais na época, Brusque, recém elevada à categoria de municipio, com bases econômicas em formação, carência de estradas, desejosa, de apresentar-se dignamente à personalidades e autoridades, que poderiam aquilatar a operosidade dos brusquenses, esmerou-se para receber os visitantes, engalanando a vila. Da Capital do Estado, objetivando avaliar o valor estratégico da rêde de estradas de rodagem da região do Vale do Itajaí, cnegava a Brusque o General Marciano Botelho de Magalhães, acompanhando da seguinte comitiva: Tenente Firminio Borba, tenentes Antonio Cavalcanti e Armando Jorge, aspirante Nilo Val, Major Hipolito Boiteux e Francisco Gotardi Primo. Foram recepcionados nas imediações da casa de negócio de José Rudolf, em Aguas Claras, pelos srs. Cel. Guilherme Krieger, Tte. Cel. Carlos Renaux, João Bauer, Vigario Padre Moeller, Dr. Erico E. Torres — Juiz de Direito, Luiz J. Múller, Diogo da Luz, Max José Schumann — Comissario do 2o. Distrito de Terras, Major Vicente Schaefer, Capitão João Schaefer e outras pessoas, não identificadas. Apresentou-se o Tte. Cel. Carlos Renaux como Comandante da Guarda Nacional de Brusque e o Superintendente Cel. Guilherme Krieger, em nome do municipio, apresentou as saudações de praxe, seguindo-se as apresentações pessoais. Formado o cortejo com 10 carros de mola, foi saudado por grande número de pessoas, com palmas e foguetes, ao chegar na ponte Vidal Ramos. Na residência do Superintendente, ponto final da recepção, e a Banda Musical “Concórdia” executou o Híno Nacional e outras peças de seu repertorio.

As 16 horas a comitiva visitou os Atiradores, sendo-se-lhe oferecido cerveja das fábricas locais, participando, em seguida, de uma prova de tiro ao alvo.

Em companhia dos coroneis Guilherme Krieger e Carlos Renaux, o General Marciano percorreu, em carro de mola, as principais ruas da vila, enquanto os demais membros da comitiva permaneciam na séde dos Atiradores. As 18 horas, na residência do superintendente, foi oferecido fino banquete aos ilustres visitantes e convidados especiais; as vinte horas, na residência do Cel. Carlos Renaux, nova reunião para uma xicara de chá. Finalmente, as 21 horas, realizou-se ainda na séde da Sociedade de Atiradores, baile de gala, abrilhantado pela Banda da Sociedade Musical Concórdia. No dia seguinte, feitas as despedidas, a comitiva seguiu para Blumenau, em carros de mola. Comenta ainda o jornal: “Cousou geral e agradavel impressão o cavalheirismo dos srs. Coroneis Renaux e Krieger, oferecendo ambos as suas elegantes residências para hospitalidade do distinto General Marciano, irmão do inolvidavel fundador da República, Benjamim Constant”.

Mal os ilustres visitantes deixaram a vila, os mais desencontrados sentimentos, aparentemente encobertos, explodiram. Mais do que as questões pessoais e politicas, os brios das patentes da Guarda Nacional local, ficaram abalados.

Ilustramos os desentendimentos simplesmente transcrevendo as notas publicadas no jornal de Itajaí, “Novidades” de 25 de agosto de 1907. “Escreve-nos de Brusque o Sr. Cel. Guilherme Krieger: Illmo. Snr. Redator do “Novidades*. Tendo lido no vosso conceituado jornal de 11 do corrente a descripção da chegada do amigo Sr. General Marciano de Magalhães a este Municipio em 30 do passado, peço-vos a rectificação de um tópico d'essa noticia onde houve um equivoco de vosso correspondente. Como coronel comandante que sou da Guarda Nacional n'esta Comarca de Brusque, não passei o comando ao sr. tenente coronel Carlos Renaux, e, se o tivesse de fazer seria ao sr. tenente coronel Nicolau Lauritzen, pois sendo a nomeação de ambos de igual data, segundo a regra militar estabelecida para o caso, ao sr. tenente coronel Lauritzen cabia assumir o comando como mais velho, não sendo portanto exato que o sr. Tenente coronel Renaux se apresentasse ao sr. General na posição de comandante superior interino que não lhe competia e nem lhe fôra delegado. Não é exato tambem que os srs. João Bauer, Vicente Schaefer e João Schaefer sejam presentemente coronel, major e capitão da Guarda Nacional como graciosamente os distingue o vosso correspondente. Com a publicação destas linhas muito penhorareis ao vosso constante leitor-e amigo affectuoso. Brusque, 20 de agôsto de 1907. Guilherme Krieger”.

No número de 8 de setembro: “Amigo senhor Redactor. No vosso estimado jornal de 28.8.1907 corrente, saiu um artigo assignado pelo sr. Guilherme Krieger, referindo-se o mesmo tambem ao meu nome; por isso me vejo obrigado a dizer algumas palavras. Diz o mesmo snr. não ser exacto que o Srs. João Bauer, Vicente Schaefer e João Schaefer sejam presentemente Coronel, Major e Capitão.

Não precisava o sr. Guilherme Krieger allegar tal facto, porque qualquer pessõa está ciente de que não ocupamostaes cargos. Todavia cumpre-me dizer que somos bastante capazes para ocupar tais postos e se a nossa querida Patria um dia precisar da Guarda Nacional, saberemos manejar uma arma, nas suas fileiras.

Brusque, 3 de setembro de 1907, Vicente Schaefer”.

A questão passou então à Seção Livre do referido jornal levando as notas simples pseudônimos. Uma delas lamenta as ocorrências, advertindo o sr. Guilherme Krieger: “fique o Sr. Krieger sabendo que a nomeação do geralmente estimado cavalheiro João Bauer é mais antiga do que a sua pois ella emanou do legendário Marechal de Ferro e a do sr. Krieger do sr. Prudente de Moraes. “Um observador”.

Outra nota de “Um observador”, contestando outra, de “Um intransigente”: “O público que julgue entre os chefes das duas facções politicas de Brusque e declare a quem cabe a culpa de que neste lugar nunca, infelizmente, se poderá fazer politica e harmonia em pról do municipio e dos proprios chefes”. Retrucou “Um intrangigente” no número de 15 de Setembro, referindo-se à politica local endereça-lhe a seguinte advertência “Quem tem telhado de vidro não jogue pedra no alheio”,

As notas com os dois pseudônimos continuaram, já então mais duras, descobrindo defeitos administrativos e políticos, terminando abruptamente com a entrada de outro anonimo, mais ponderado, sugerindo as pazes das ilustres patentes de nossa honrada “Guarda Nacional”.

E aquí terminamos os nossos registros. Hontem como Hoje, as questões políticas sempre deram margem às mais obsurdas e apaixonantes brigas. As que anotamos absolutamente não influiram na continuidade do progresso de nossa terra, então tomando bases cada vez mais sólidas. Nos momentos dificeis, nas reuniões familiares e sociais, nossos saudosos antepassados esqueciam as desavenças. Ha muito que deixaram este mundo, permanecendo entretanto presentes na carinhosa lembrança de descendentes, nas crônicas históricas, nos registros de nossas principais sociedades e na história das administrações-de Brusque em lugar de indiscutivel relêvo.

Casa de Brusque