Mudanças entre as edições de "Ayres Gevaerd: "Cinematographo" - Crônica"

De Sala Virtual Brusque
Ir para navegaçãoIr para pesquisar
Linha 30: Linha 30:
  
 
Os filmes, como disse, eram bons, alguns excelentes, hoje clássicos e peças de Museu. Quem, dos velhos frequentadores, não gostaria de rever Greta Garbo, Pola Negri, Lilian Gish, John Gilbert, John Barrymore, Tom Mix, William S. Hart, Buck Jones, os grandes do Far West; as curtas comédias de Charles Chaplin, Chico Bóia, Max Linder e Haroldo Loyd; os famosos filmes em série, Ravengar, os Perigos de Paulina, O Fiacre nº 13, O avião silencioso, O cavaleiro fantasma?
 
Os filmes, como disse, eram bons, alguns excelentes, hoje clássicos e peças de Museu. Quem, dos velhos frequentadores, não gostaria de rever Greta Garbo, Pola Negri, Lilian Gish, John Gilbert, John Barrymore, Tom Mix, William S. Hart, Buck Jones, os grandes do Far West; as curtas comédias de Charles Chaplin, Chico Bóia, Max Linder e Haroldo Loyd; os famosos filmes em série, Ravengar, os Perigos de Paulina, O Fiacre nº 13, O avião silencioso, O cavaleiro fantasma?
 +
 +
Os conjuntos musicais, indispensáveis no tempo do cinema mudo, eram em geral, formados por um violino, um violão e um cavaquinho. O repertório musical era improvisado, de conformidade com o filme que se projetava. Uma valsa chorosa, lenta, se adaptava por exemplo, a uma cena romântica, um final triste de romance, uma evocação saudosa. À direção do conjunto cabia muita responsabilidade e perícia na adaptação da música à imagem ou cena. Uma valsa era substituída rapidamente por um tango, uma marchinha, um maxixe, um fox, sempre de conformidade com o enredo.
 +
 +
  
 
*Publicado originalmente na [[Revista Notícias de Vicente Só - número 003|Revista Notícias de Vicente Só n. 03]] páginas 56 e 58. Acervo da [[Sociedade Amigos de Brusque|Casa de Brusque]]
 
*Publicado originalmente na [[Revista Notícias de Vicente Só - número 003|Revista Notícias de Vicente Só n. 03]] páginas 56 e 58. Acervo da [[Sociedade Amigos de Brusque|Casa de Brusque]]

Edição das 10h35min de 31 de maio de 2019

"Cinematographo"

  • Ayres Gevaerd

Nota - jornal Novidades - Itajaí, 16 de julho de 1908 - do Correspondente de Brusque: "Com uma Casa regular, deu dois espectaculos o cinematographo CILMER. A pouca claridade das vistas obriga-nos a advertir ao seu empresario sr. Julianelli de procurar meios de melhorar esse defeito do aparelho".

A leitura desta nota despertou-me recordações há muito adormecidas. Quando menino, conheci o sr. Julianelli. Aparecia em Brusque com seu cinematógrapho movido a bateria elétrica, e sua camioneta, realizando sessões ao ar livre e nos salões das sociedades.

Guardo um velho programa do "Pavilhão Recreativo da Empreza Julianelli" anunciando exibição da grandiosa fita sacra "Nascimento. Vida, Paixão e Morte de N. S. Jesus Cristo", artisticamente colorida, a mais completa, etc. No programa outras fitas, de menor metragem.

Mesmo depois do aparecimento do cinema em Brusque, iniciativa de Willy Stracker, por volta de 1913, as visitas do sr. Julianelli eram freqüentes, tornando-se personagem muito simpática e popular. Faleceu há poucos anos, em Blumenau, em avançada idade.

Em outra crônica lembrei aspectos técnicos, programas e dificuldades financeiras do cinema mudo em nossa cidade. Outros lembro agora, tentando voltar a um passado que a cada dia mais e mais se distancia.

Willy Stracker instalou o seu cinema no ano da inauguração da luz elétrica em Brusque, iniciativa de João Bauer. Denominou-o de 'Cinema Moderno' e funcionou no salão do "Hotel Zum Deutscher Kaiser", propriedade de Guilherme F. Krieger, o popular e muito lembrado "Schoner Wilhelm". Os jornais Brusquer Zeitung e a Gazeta Brusquense anunciavam o programa em suas edições semanais, além da distribuição de Programa - Convite, pela cidade. Em março, por exemplo, exibiu o filme "Unglûckliche Liebe" em 5 partes e em junho, "Faust".

Rodolfo Krieger adquiriu de Willy Stracker o "Cinema Moderno", que conheci funcionando no grande salão de festas do referido hotel, prédio reformado, local dos bailes promovidos pelo C. E. Paysandú nos primeiros anos de sua fundação.

Por volta de 1924/25 João Schaefer, por sua vez, comprou o cinema, transportando-o para o salão de seu Hotel, com a denominação de "Cine Esperança".

Carlos Gracher seria seu novo proprietário, quando arrendou da família João Schaefer o prédio para dar continuidade ao tradicional Hotel. Anos depois, quando "seu Carlos" instalou seu próprio hotel, trouxe consigo o velho cinema. O cinema sonoro ensaiava nesse tempo os primeiros passos com a denominação de Vitaphone, sons gravados em disco, girando combinado com a imagem do filme. O aperfeiçoamento, entretanto, veio logo, com o Movietone, som e imagem no próprio celulóide.

Entusiasmo e espírito empreendedor superaram as contínuas dificuldades do tradicional cinema brusquense. "Seu Carlos" mudou tudo. Reformou e embelezou o salão, adquiriu o aparelhamento sonoro e mudou o nome para "Cine Guarany" e no dia 3 de março de 1934 projetou o primeiro filme: "Voz do meu coração". A 17 do mesmo mês, Museu de Cêra", hoje um clássico do cinema.

-

Guardo muitas recordações dos cinemas de "seu Carlos", principalmente da primeira fase, do cinema mudo, é claro. Sabia dos seus grandes dias e de seus dissabores, para os quais muito contribuí.

Uma das cousas alentadoras e agradáveis do nosso velho cinema, eram os bons filmes e seu título: "Cinema Esperança". Esperança de uma 'Casa cheia', sinônimo de lucro compensador. Na realidade era uma esperança, raramente confirmada.

Os filmes, como disse, eram bons, alguns excelentes, hoje clássicos e peças de Museu. Quem, dos velhos frequentadores, não gostaria de rever Greta Garbo, Pola Negri, Lilian Gish, John Gilbert, John Barrymore, Tom Mix, William S. Hart, Buck Jones, os grandes do Far West; as curtas comédias de Charles Chaplin, Chico Bóia, Max Linder e Haroldo Loyd; os famosos filmes em série, Ravengar, os Perigos de Paulina, O Fiacre nº 13, O avião silencioso, O cavaleiro fantasma?

Os conjuntos musicais, indispensáveis no tempo do cinema mudo, eram em geral, formados por um violino, um violão e um cavaquinho. O repertório musical era improvisado, de conformidade com o filme que se projetava. Uma valsa chorosa, lenta, se adaptava por exemplo, a uma cena romântica, um final triste de romance, uma evocação saudosa. À direção do conjunto cabia muita responsabilidade e perícia na adaptação da música à imagem ou cena. Uma valsa era substituída rapidamente por um tango, uma marchinha, um maxixe, um fox, sempre de conformidade com o enredo.


Casa de Brusque


Ligações externas