A rua das Carreiras

De Sala Virtual Brusque
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A Rua das Carreiras

  • Ayres Gevaerd

A rua mais tradicional, a que mais lembra o vida brusquense sob o aspecto social e recreativo, desde os primeiros dias da nossa Comu-nidade, é a rua das Carreiras. Naquela rua foram construídos os pri-meiros ranchos de recepção e hospedagem dos colonos que iniciaram a colonização do Vale do Itajaí-Mirim, em 1860. Lá nossos antepassa-dos se reuniam sob rancho de estacas coberto de folhas de palmitos para as primeiras reuniões sociais e religiosas; para cantar e dançar sob os acordes da gaita do lendário João Lenchow, certamente com consumo de cerveja de fabricação doméstica, aquela "espécie de li-monada", na citação do velho Schneéburg em seus notáveis relató-rios mensais. Não se chama exatamente rua das Carreiras. Já se chamou Ge-neral Osório, Siqueira Campos e atualmente Hercílio Luz.. Porém, a não ser oficialmente, ela é conhecida por todos os brusquenses, por "Carreiras", simplesmente "Karrerbahn.", pelos nossos avós germar nicos. A origem do nome é evidente: servia de pista de corridas de ca-valos, crioulos, matungos e outros ditos, com pitadinhas de sangue mais nobre. O "atilho" das grandes corridas, quando participavam a. nimais de outros lugares, era acertado com certa antecipação. Comu-mente porém, quando de proprietários aqui residentes, a corrida era acertada no próprio dia. Não raro degeneravam e as brigas, quando mais violentas, cau-savam pouca preocupação ao delegado de polícia, porque a cadeia era na mesma rua. As pessoas de minha geração devem lembrar-se desse edifício, um casarão, construção de enxamel, com uma varanda que circunda-va todo prédio no 1°. andar. Primitivamente se chamava "Casa da imigração", depois foi transformada em cadeia pública, residência clo carcereiro e do destacamento policial. Destacamento não é bem o ter-mo, pois raras eram as ocasiões em que Brusque possuia mais do que um policial. Um pouco além daquele prédio existia uma ala de coqueiros em terreno do Schützen Verein, hoje Clube de Caça e Tiro Araujo Bras-que. A grande maioria dos terrenos do lado direito da rua pertenceram — 96 — à veterana Sociedade e a venda de lotes proporcionou-lhe bom, lucro. O aspecto da rua das Carreiras, hoje, e o de 50 anos atrás pouco mudou. Muitas casas residenciais das mais antigas famílias brusquen-ses ainda lá se encontram,. Müller, Orthmann, Matiolli, Ulber, Pruner, Moritz, Ristow, 'Schoening, Galle, Schwartz, Orthmann, Krieger, Zink, Hafermann, Harbe e outras mais. Meus aves maternos foram dos primeiros moradores e donos de muitos lotes que doavam aos filhos a medida que casavam. Hoje, de-corridos aproximadamente 60-70 anos, seus descendentes conservam o antigo dote. A rua das Carreiras, destituida de comércio, apenas duas ofici-nas de ferraria e carpintaria, sempre foi tranquila. Era de se ver, en-tretanto, a extraordinária movimentação nos dias de Pascoa, época da festa dos Atiradores, o Schützen — festa que se realizou, ininterrupta-mente, desde 1866, para declinar somente nos anos da segunda guerra mundial, quando a Sociedade sofreu intervenção policial. A festa de Páscoa continua hoje, porém, sem o entusiasmo e a vibração dos velhos tempos fazendo com que as seguidas diretorias in-troduzissem modificações nas competições de tiro, boião e bocha. O Tiro de Guerra n° 317 foi outra sociedade que sacudiu a rua das Carreiras desde a primeira fase, 1917, depois em 1929 até 1940', quando as diversas turmas se educavam na sede e páteo dos Atiradores. O velho hábito das reuniões familiares na frente de suas resi-dências, ao entardecer, e nas primeiras horas da noite, ainda é conser-vado naquela rua. Costume que a vida e a cidade cultivaram durante 60 anos aproximadamente. Finalmente, para mim, é a rua que mais recordações da infância traz. Brincadeiras infantis, o gostoso café com kuchen, o pão de milho com queijinho e açúcar grosso, os ovos de Páscoa e os brinquedos de Natal. Suas velhas casas algumas de enxamel, desafiando o tempo, firmes ao lado de uma ou outra construção moderna, gostaria que per-manecessem mais alguns anos. Lembram tempos que nunca mais vol-tarão, além de recordar seus moradores, parentes ou não, dos quais poucos sobrevivem. Que voltem os dias das festas dos Atiradores, que ressurja o segundo dia de Páscoa e que nesse dia a Familia Brusquense se reuna novamente, em franca e saudável confraternização, como o fazia no passado.

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