Reminiscências - Os transportes em Brusque no início do século

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REMINISCÊNCIAS

Os transportes em Brusque no início do século

(Crônica elaborada com dados fornecidos, a viva voz, pelo Sr. João Jorge Kormann nascido a 29 de outubro de 1901, filho de Guilherme e Elisa Kormann)

Brusque dispunha, para escoar suas mercadorias e importar gêneros de que necessitava, de uma frota de lanchas que perfaziam a distância Brusque-Itajaí.

O porto estava situado nas cabeceiras da atual Ponte Irineu Bornhausen, dispondo de trapiche de pedras, mastro de madeira e guincho. Este último muito servia para a descarga do maquinário importado da Alemanha pelo Cônsul Carlos Renaux, quando da ampliação de suas indústrias.

Encarregado deste transporte era o Sr. José Knihs, possuidor de uma frota com várias lanchas-perúa e de uma lancha motorizada, construída em Hamburgo (Alemanha). Fora batizado com o nome “SELMA”, em homenagem à primeira esposa do Cônsul, Selma Wagner Renaux. Destinava-se ao transporte de cargas e também de passageiros. Servia para pic-nics aos domingos à tarde, quando era de bom gosto um passeio fluvial, do porto até Santa Terezinha, na praia da família Heckert[1]. O Sr. José Knihs, alemão, já acostumado ao transporte fluvial ao longo do rio Reno.

Pelo Itajaí-Mirim, a distância entre Brusque e Itajaí perfazia uns 100 quilômetros. Sete-oito horas para a ida e 1 dia para a volta.

As lanchas-perúa eram utilizadas para o transporte de cereais, com a farinha de mandioca, açúcar-grosso, feijão, milho, pipas de cachaça. Uma lancha-perúa carregada precisava de dois dias para vir de Itajaí a Brusque.

No tempo das estiagens os carroceiros tinham importante função: devido ao fato de o rio não ter muita profundidade, iam encontrar as lanchas no Brilhante, na fazenda de Antônio Gastaldi, para aliviar-lhes a carga. Na altura da atual granja de O MUNICÍPIO situava-se o armazém para descarga de mercadorias. Outro armazém, abaixo de Santa Terezinha, pertencia a Floriano Fischer.

Vários brusquenses dispunham de lanchas-perúa: Gregório Diegoli as tinha 2, Aldo Diegoli 2, Amadio Beduschi, no Barracão, 1, Guilherme Krieger 1, Otto Schaeffer 1, José Knihs 2. João Kunitz muito trabalhou no transporte, quer pelo Itajaí-mirim (Brusque-Itajaí) quer pelo Itajaí-açú (até Blumenau).

O velho Coronel Guilherme Krieger possuía uma fazenda em Endoenças, acima de Dom Joaquim, antigo Cedro. Em Dom Joaquim ficava sua grande loja. Sua lancha ia até a barra do Cedro carregar os produtos agrícolas da região. Eram milhares de sacas de açúcar grosso, milho, farinha de mandioca, café, batata, banha, manteiga, etc.

Quando Brusque esteve inundada pela grande enchente de outubro de 1911, todas estas lanchas prestaram inestimável serviço à população.

Carlos Hassmann, Manoel Montibeller, João Nilo e Manoel Bittencourt eram construtores de lanchas. E Antônio Damasio, José Jacques, Domingos Jacques, Cândido da Silva, João Vanolli, Manoel Teixeira, Luiz Zanon, eram alguns dos lancheiros.

Durante a Primeira Guerra Mundial fez notícia em Brusque a construção de um grande barco. O estaleiro situava-se no local do hoje Cine Coliseu. Carpinteiro-construtor foi o itajaiense Antônio Dutra. Quando estava pronto toda a população vibrou em ajudar a puxá-lo para o porto, para lançá-lo nas águas.

Infelizmente o nível das águas na época era muito baixo, por isso o barco sendo logo vendido ao Rio de Janeiro, onde fez o transporte Rio-Niterói.

Casa de Brusque

  1. Imediações da rótula da Unifebe.