Personalidades do passado brusquense - "Onkel Hotel" e "Schöner Wilhelm"

De Sala Virtual Brusque
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PERSONALIDADES DO PASSADO BRUSQUENSE

“ONKEL HOTEL” E “SCHÖNER WILHELM”

  • Ayres Gevaerd

Duas personalidades do passado lembradas, a primeira por meus avós e a segunda com mais frequência por meus pais, e que tiveram, em razão de suas respectivas profissões, certo destaque na sociedade, nos primórdios da colônia e na vila, foram respectivamente, Onkel Hotel e Schoener Wilhelm. Felipe Krieger, mais conhecido por Onkel Hotel, foi participante da quinta leva de colonos entrados em 1861, como boticário e lavrador, funções que não exerceu. Como seu irmão Guilherme, tornou-se padeiro e proprietário, possivelmente o primeiro, de um hotel na então colônia. Meus avós maternos e uma tia há pouco falecida (Mathilde Ristow) sempre que lembravam um acontecimento social ou aventura boêmia, Onkel Hotel se achava presente. Onkel Hotel foi se apagando de minha lembrança, para reaparecer anos depois em documentos históricos, no livro “Brusque” e nos registros da Comunidade Evangélica. Existem várias referências ao padeiro Krieger nos registros do Barão de Schneéburg, notadamente quando a administração foi roubada em 9.000$000 – cédulas de 2$000 – na noite de 4-3-1862. Dias depois, Felipe Krieger achou a caixa contendo o dinheiro, submersa em uma lagoa que ficava nos fundos de seu hotel (imediações do futuro pavilhão de exposições), tendo sido gratificado com 100$000. O velho Barão teve a paciência, segundo anotou em documentos, de “passar a ferro” todas as cédulas. Onkel Hotel deve ter sido muito popular e benquisto na vida comercial e social da colônia, posição que se justifica pelos numerosos registros de batizados na Igreja Evangélica, servindo como padrinho. Não me recordo se minha tia Mathilde me contou ou se o li em algum registro especial: verificara-se o nascimento de uma criança de mãe solteiro cujo nome era conhecido. O pai, entretanto era desconhecido, segundo se murmurava, “possivelmente Onkel Hotel”.

Guilherme Luís Krieger, o Schoener Wilhelm, era filho de Onkel Hotel, e deve ter herdado certas características pessoais de seu pai, inclusive seus bens. Continuando com a tradição, conservou o Hotel “Zum Deutscher Kaiser” que ficava no lugar onde hoje se encontram as firmas Hermes Macedo, A. Cavalca e D. Malossi. O “Schoener Wilhelm” seu hotel, seu bar e o grande salão para festas, tornaram-se tão famosos que, nos registros das atividades sociais e artísticas de Brusque, no período de 1905 a 1920, aproximadamente, são frequentemente lembrados, assim como os Atiradores, promovidas desde os primeiros anos da colonização. (1866) as demais, com pequenas exceções, se realizavam no salão do “Schoener Wilhelm”. O primeiro cinema de Brusque “Cinema Moderno” de W. Stracke instalado em 1912, ocupou o salão, com programação semanal: as atividades dos clubes “4 de Agosto” “Liberdade”, Sport Clube Brusquense na primeira fase, e outras entidades, lá se desenvolviam. A concentração dos atiradores para iniciarem o desfile nas memoráveis festas de Páscoa lá era feita, como seu encerramento, que se dava nas terças, após a marcha de regresso. O início dessas famosas concentrações para a maior festa popular do ano, era perfeitamente equilibrado, correto e entusiástico. Já no encerramento, o desequilíbrio dos participantes, em sua maioria, era patente, físico e espiritual. A Sociedade dos Cantores, vez por outra, ocupava o salão para ensaios e noites de arte, sob a direção do Prof. Moritz Lehmann, grupo do qual participava o próprio “Schoener Wilhelm”. Existia na Vila, até o término da primeira grande guerra, um grupo que comemorava anualmente o aniversário natalício do Kaiser da Alemanha, ocasião em que se enaltecia a Glória da velha Germânia, terminando, naturalmente, no bar da casa que lembrava o próprio Imperador Alemão. As festas cívicas nacionais, promovidas pelas autoridades locais, quando não realizadas na Casa dos Atiradores eram no salão do Cinema. O bar “Schoener Wilhelm” foi ponto de reunião da boemia, lá pontilhando famosos tipos populares que passaram para o Folclore mesmo depois que passou para outro proprietário, Rodolfo Krieger, parente próximo dos antecessores. Duas coisas se destacavam no bar: um calendário com datas móveis encimado por uma gravura colorida mostrando a opulência dos negócios para quem vende a dinheiro e a bancarrota, para quem vende fiado: um armário com portas de vidro vendo-se, num dos lados, riscos de giz, que representavam os “tragos” de um freguês cuja presença era constante. Guilherme Luiz Krieger o “Schoener Wilhelm”, faleceu em 1914. Por poucos anos ainda dona Ida, sua esposa, continuou à frente dos negócios, passando o salão de cinema de W. Stracke a denominar-se “Salão Cinema Witwe Ida Krieger”. Rodolpho Krieger adquiriu mais tarde a propriedade, conservando o cinema, o bar, e a padaria, até 1922, aproximadamente.

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