Ayres Gevaerd: Personalidades do passado brusquense. Mutter Jonk e Guilherme Wiethorn Filho. Crônica

De Sala Virtual Brusque
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Personalidades do passado brusquense

Ayres Gevaerd

Mutter Jönk

Das personalidades do passado brusquense, nenhuma foi mais querida e teve designação popular mais carinhosa do que Margarethe Jönk: MUTTER JÖNK.

Duas gerações de brusquenses ela ajudou a trazer ao mundo, o que lhe valeu a amizade, o respeito e a confiança de toda mulher na plenitude da maternidade, além da consideração da comunidade.

Mutter Jönk, ao aceitar a plena execução de sua profissão de parteira, certamente tinha consciência de sua responsabilidade, dos parcos recursos médicos e farmacêuticos, das dificuldades de locomoção, a pé, a cavalo, com carroça ou carro de mola, na vila e na extensa região colonial.

Dedicou-se à profissão confiando em seus conhecimentos e em sua coragem para enfrentar com decisão as deficiências próprias da época.

As cartas que dirigia aos filhos distantes refletem seu caráter, suas preocupações e dedicações maternais. E é no aspecto espiritual desses documentos, nas condições de esposa e mãe, que se avaliam o cuidado e a dedicação com que formou e educou tantas mães na Comunidade brusquense.

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Margarethe Jönk, nascida Todt, era natural da Alemanha. Cedo emigrou para o Brasil, cuja cidadania abraçou, prestando juramento, no dia 27 de setembro de 1857, na Freguezia de Santa Tereza de Valença, no Rio de Janeiro. Casou com Ferdinando Jönk, natural de Holstein, Alemanha, em Petrópolis, tendo desse matrimônio nascido 5 filhos, 42 netos, 86 bisnetos e 4 tataranetos.

Foi Ferdinando Jönk um dos fundadores da Sociedade de Atiradores, e membro destacado da Comunidade Evangélica.

Mutter Jönk, nos últimos anos de sua vida, já viúva, residia com uma de suas filhas em pequeno prédio, situado nas imediações do Largo 4 de Agosto[1].

Faleceu no dia 30 de setembro de 1932, com 94 anos. Acha-se sepultada no cemitério evangélico.

Guilherme Wiethorn Filho

Provavelmente poucos brusquenses se recordam do professor Guilherme Wiethorn Filho, exceção feita aos remanescentes dos que frequentaram as Escolas Reunidas e os primórdios do Grupo Escolar Feliciano Pires.

Em 1917 foi diretor das Escolas Reunidas de Brusque, criadas pelo decreto nº 1026 do Govêrno Estadual, em 16 de junho daquele ano. Tinha, como professoras, Georgina de Carvalho da Luz, Corália Gevaerd Olinger, Laura Garcia e Aurora Araujo.

Em principios de 1919 foram encerradas as atividades das Escolas Reunidas e em substituição foi instalado o Grupo Escolar Feliciano Pires.

Guilherme Wiethorn Filho foi nomeado seu diretor em maio do mesmo ano, iniciando atividades com as professoras citadas e mais Maria Etelvina da Luz Mohr, [[Arminda Haberbeck[[ e o professor Hercílio Zimmermann.

Em 1920 diplomou a primeira turma que terminou o 4º ano, com 18 alunos, sendo paraninfo Carlos Luiz Gevaerd.

Guilherme Wiethorn Filho pertenceu à classe dos Mestres-escola, famosa a seu tempo, não só pelo SABER em tôda a plenitude da palavra, como também pelo sistema de ministrar disciplina aos alunos: a palmatória. Quando não aplicada nas palmas das mãos, com mais vigor se ajustava aos fundilhos. No entanto, registre-se, o processo que os métodos modernos não admitem mais, nunca fez mal a ninguém. Acho até que poderia ser aplicado hoje, com resultados benéficos. No aplicar o corretivo, "Seu Wiethorn" não era, absolutamente, rigoroso em demasia. De conformidade com a falta, o castigo era então aplicado e com a advertência, sempre repetida: 'Na próxima vez eu dou com mais força'.

Velhos educadores, recordando aquele tempo, e eu acredito piamente, afirmam que os Mestres-escola modelaram uma geração que se tornou famosa pelos expoentes que produziu em distintas e nobres atividades humanas.

O Grupo Escolar Feliciano Pires funcionou em um grande prédio de alvenaria, de 2 andares, com 4 grandes salas, dois gabinetes, um para o diretor e o outro para biblioteca e reuniões, e mais duas salas menores. Nas 4 salas funcionavam as secções do 1º ao 4º ano. Ainda no tempo do Professor Wiethorn foi construído outro prédio, perfeitamente igual destinado à secção feminina.

O diretor residia com sua família na mesma rua, quase defronte ao edifício da secção feminina.

Em Brusque nasceram dois de seus filhos. Um deles, Mário, há pouco tempo remeteu para a Sociedade Amigos de Brusque preciosa coleção de fotografias do Grupo, dos professores e dos alunos de 1920. Incluiu o original de uma carta cujo texto já foi divulgado, mas que incluo nesta crônica.

Ao sair de Brusque, transferido para Palhoça, lá fixou residência. Em 1960 uma das Comissões dos festejos do 1º Centenário de Brusque, convidou-o para receber homenagem de seus ex-alunos, o que motivou a carta citada:

"Palhoça, maio de 1960.

Meu prezado Ayres: Em palestra mantida com o nosso amigo Alexandre Brasil, residente nessa cidade, fui informado que meus queridos ex-alunos brusquenses desejam meu comparecimento nas festividades do primeiro centenário de fundação dessa progressista e opulenta cidade, a realizar-se no dia 4 de agosto do corrente ano.

Orgulha-me, sobremodo, esse gesto cativante daqueles que, no passado, guiei quanto possível, afim de lhes preparar o destino e que hoje são faróis de esperanças dessa bendita e hospitaleira terra.

Meu prezado Ayres: emocionado, prometo-lhe, embora carregando o fardo pesadíssimo de meus oitenta anos de idade, atender ao honroso convite, posto que, desejosos estão os meus inesquecíveis ex-alunos verem o velho professor novamente em contacto com aquelas gralhas barulhentas e irrequietas de outros tempos.

E então, de mãos dadas, formaremos uma grande roda, cantando uma canção em homenagem às crianças brusquenses".

Infelizmente seu estado de saúde não permitiu realizar o que tanto desejava pois veio a falecer em Julho, vésperas de nosso primeiro centenário de fundação.


Casa de Brusque

  1. Entroncamento da Rua Hercílio Luz, Rui Barbosa e Ponte Irineu Bornhausen. Conforme Lei Nº 166/1964. Disponível em: <https://leismunicipais.com.br/a/sc/b/brusque/lei-ordinaria/1964/17/166/lei-ordinaria-n-166-1964-amplia-o-perimetro-urbano-cria-zonas-suburbanas-e-estabelece-nomenclatura-de-vias-urbanas?q=Largo%204%20de%20Agosto>. Acesso em: 6 dez. 2023.