Entrevista Gianfranco Vianello - Luiz Gianesini

De Sala Virtual Brusque
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PADRE GIANFRANCO - EVANGELIZAÇÃO

Padre Gianfranco.

Primeiramente fale de suas origens, familiares, primeiro emprego

Sou italiano, vivi na pequena cidade de Cinisello Balsamo – 100 mil habitantes – na cintura da grande metrópole de Milão – como se fosse Santo Amaro em São Paulo. Meu pai foi trabalhador numa pequena oficina mecânica; minha mãe foi sempre uma dona de casa; minha irmã, falecida com 39 anos, trabalhou numa firma perto de casa, e eu também comecei com 15 anos, um trabalho, numa grande fábrica em Milão, que produzia máquinas para tinturas de tecidos – 350 empregados. Aos 20 anos decidi de ingressar no Seminário Missionário do PIME. Fui ordenado Padre na Catedral de Milão, no dia 28 de junho de 1972.

A grande decisão na vocação religiosa?

Naquela época, bastante agitada pela revolução cultural acontecida na Europa, nos idos de 1968, com as movimentações dos estudantes, iniciada na França e que se alastrou por toda a Europa, e bastante entusiasmada pelo evento do Concílio Vaticano II, que abriu a Igreja a uma visão do mundo e na compreensão da evangelização colocada muito mais perto do povo, se envolvendo nos caminhos sociais, culturais, econômicos, também, a religiosidade das famílias e das comunidades cristãs, foram obrigadas a uma avaliação da sua própria fé. Um outro acontecimento, está ligado a minha experiência de educador no movimento dos escoteiros italianos. Sendo responsável de uns quarenta adolescentes e enfrentando sempre os problemas deles – e todo mundo sabe, conhece, experimenta a turbulência e as dificuldades que enfrentam – com todo o acompanhamento pedagógico, metodológico, religioso do caso, que só Deus conhece e pode educar o coração das pessoas, que os jovens precisam de Deus, que só Ele tem as palavras certas para soprar neles a vida, a beleza, o amor. Nós, como educadores, somos simples – e às vezes, complicados – instrumentos para ajudar a alcançar a meta da maturidade cristã e, da visão cristã da existência. Então eu me disse: talvez não é isso que eu deveria fazer, transmitir a presença de Deus na vida deles? E o pensamento foi imediato: o Padre tem esta possibilidade! E assim foi.

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Qual foi a reação de seus pais ao comunicá-los da importante decisão?

Quando avisei da minha decisão de entrar no Seminário Missionário, os meus pais ficaram um pouco surpreendidos, não tanto minha mãe que me disse: ‘ eu sabia que você estava pensando nisso!’. O sofrimento a causa desta minha decisão estava ligado ao fato de que eu me tornava missionário, isto é, um Padre que vive longe de sua Pátria, de sua família, sem ter possibilidades para depois ajudar os seus pais; e, ainda, a preocupação de encontrar nas missões situações difíceis pela saúde e a possibilidade de encontrar também a morte.

Como surgiu a África em sua jornada missionária?

Depois da minha ordenação recebi a destinação para trabalhar em Camarões. Grande foi minha alegria, porque a África, no seu mistério, na sua pobreza, na sua realidade ambiental, estava em cima dos meus pensamentos. Fui em Paris para estudar a língua francesa e participar de um curso sobre o Islamismo, no “Institut Catholique de Paris”. Cheguei na Savana do norte de Camarões e começamos a construir as nossas pequenas ‘casas’ de areia e palha, cada dia preparando os tijolos e recebendo depois, como presente da tribo, onde estávamos, um telhado de palha bem construído por cada um dos três Padres recém-chegados. Não existia para nós a eletricidade e pela água nós utilizamos um poço. A aldeia, muito pequena, era em realidade de religião Islâmica, mas o chefe nos concedeu de colocar a nossa missão a quase dois quilômetros fora da aldeia.

Como fluiu o clima entre católicos, islamitas e as tribos?

O clima entre nós, católicos, os islâmicos e a gente da tribo dos Toupuri – animistas – foi muito bom. E começamos assim a nossa obra de evangelização. Depois me chamaram no sul do Camarões para trabalhar com os jovens da missão. Foi um pulo enorme, a respeito do Norte. Lá era plena floresta, com rios, árvores enormes, e também a maioria do povo era batizada nas diferentes confissões religiosas – católicos, protestantes, evangélicos, testemunhas de Jeová. Permaneci lá por sete anos. Depois, em virtude da malária, voltei para a Itália, onde assumi alguns serviços à nível do PIME.

Como foi o retorno à Itália?

Por alguns tempos fui o redator de uma revista “Misssionari del Pime”, irmã da Missão jovem, revista do PIME feita pelo Padre De Coppi, em Florianópolis; depois assumi a responsabilidade do Centro Cultural do PIME em Milão; naquele tempo trabalhei na diocese de Milão nos vários organismos da Cúria –Ecumenismo, Cultural, Missionário – e fui responsável da Comissão diocesana “Missão Ad Gentes e Diocese”, criada pelo Sínodo Diocesano que durou um ano inteiro. O Cardeal Carlo Martini, arcebispo da cidade, me nomeou Presidente da Comissão, com a tarefa de guiar trinta componentes na reflexão, das responsabilidades da diocese, respeito à Igreja Universal. Foi um trabalho interessante e útil, considerando que a Assembléia Sinodal contava com 900 Padres sinodais. Em seguida, fui eleito na Direção Geral do PIME e trabalhei em Roma por seis anos, visitando naquele período as missões do PIME, espalhadas pelo mundo.

E a vinda ao Brasil?

Em 2005 solicitei voltar novamente a trabalhar nas missões. A primeira opção foi outra vez a África, mas os médicos me desaconselharam, em virtude da malária, então escolhi o Brasil, já que tive uma belíssima impressão anos atrás quando o visitei. Foi assim que cheguei em São Paulo, onde trabalhei numa Paróquia que o PIME tem em Santo Amaro. Um dos principais trabalhos foi de seguir os jovens do Cespat, um escola profissional que o Padre Maurílio fundou e está seguindo, ajudando na formação das turmas. Foi uma experiência muito boa. Depois de três anos, lá trabalhando, cheguei aqui em Brusque, em fevereiro de 2008, mais precisamente na Paróquia de Águas Claras.

Algum trabalho específico em relação aos jovens?

A experiência que estou fazendo com os jovens na Comunidade de Águas Claras é simpática e ao mesmo tempo complexa. Todos conhecem as dificuldades em educar os filhos nos diversos âmbitos, notadamente na educação religiosa.

E a mentalidade individualista?

A pouca sensibilidade nos interesses fundamentais, respeito à vida, a convivência social, o relativismo, que a cultura de hoje, é o sopro. Inspirador de todas as escolhas, além de acentuar uma mentalidade individualista – e egoísta – muitas vezes, a falta de coragem educativa, a mídia que veicula uma visão superficial e instintiva da existência humana; um tipo de cultura que prescinde dos valores religiosos, tudo isso contribui para dificultar a pastoral. Uma outra dificuldade, em geral, é constituída pelo fato que também os jovens que participam – quando participam – à vida da Igreja, queimam esta presença, na maioria, somente na participação da Missa e nada mais.

E então cruzamos os braços?

Não, apesar desta realidade que vivenciamos, é o campo para trabalhar, sem se escandalizarem, se subtrair das responsabilidades na constante busca de meios, métodos e lugares que favorecem o amadurecimento dos jovens, que deverão enfrentar as tarefas sociais, familiares, políticas, religiosas com vistas ao seu próprio futuro.

Quais as parábolas que gosta de mencionar? Qual a essência inserida nelas?

Eu gosto de viver tudo isso. É por isso também a minha parábola preferencial é aquela da semente jogada no campo, que encontra todo tipo de terreno (Mt.13,1-24) pedregoso, espinhoso, bom. É o caminho da Palavra de Deus, que tem a sua própria e divina energia, mas ela está confiada também nas mãos dos semeadores, que são os pais, os educadores, os catequistas, os Padres. Esta nossa tarefa hoje, precisa de muita atenção, sensibilidade, vigilância, fortaleza, conhecimento para colocar a semente e individuar o joio semeado pelo inimigo da vida. Assim,

A minha parábola preferida é aquela do semeador que sai e joga a semente em todos os lugares, para dizer que Deus não espera as nossas condições e disponibilidades para se mover ao nosso encontro.

Uma homília bem planejada, acrescenta a participação dos fiéis? Costuma prepará-las ou faz de improviso, pelo conhecimento e pela experiência?

A respeito da homília, tenho o costume de prepará-la, bem antes de sua pregação, tomando o tempo para refletir sobre o texto, de um ponto de vista exegético, para atualizá-la aos dias de hoje. Algumas vezes, preparei na presença de alguns adolescentes, foi muito bonita.

A experiência com os escoteiros?

Uma experiência muito bonita foi também aquela de me tornar responsável nacional dos escoteiros da Itália: realizamos, naqueles anos, um encontro muito bonito de 15 mil jovens escoteiros (16 a 25 anos) que viu o Papa João Paulo II, como visitante ao nosso acampamento, encerrando depois com a celebração Eucarística aquele evento. Na Itália, sempre e só me ocupei dos jovens sem ter responsabilidade nas Paróquias, pois o PIME, na Itália, não tem como própria responsabilidade o cuidado das Paróquias.

Com a saída da mulher para o mercado de trabalho, como ficam as crianças?

O trabalho das mulheres, coloca na vida da família uma variante de grandes conseqüências pela educação dos filhos e a harmonia familiar. Do resto, as exigências econômicas são tão grandes que provocam uma forte obrigação de trabalho para sustentar as necessidades da família. Um equilíbrio entre tempo de presença na família fica fundamental. Poderia ser não tanto pelo tempo cronológico, mas pelo tempo afetivo e educativo que deveria ser utilizado para não criar um vazio perigoso na educação dos filhos.

A mulher atual utiliza mais da metade do tempo de sua ocupação principal com conversas pertinentes as baixarias dos programas de TV, com suas aventuras sexuais, utilizando-se da máxima de que são inconstantes por serem sinceras consigo mesmas. A igreja pensa em fazer alguma coisa para tentar reverter um pouco tantas futilidades?

Um afastamento do bom senso e uma correria à futilidades quebra, sem dúvida, aquela linha educativa que aponta aos valores fundamentais da vida no matrimônio e no relacionamento com os filhos. No terreno educativo as palavras servem só para explicar os gestos. Mas se os gestos são em si mesmos, sem valores, sem força projetual, não produzem o discernimento e a busca das coisas fundamentais. Deixando de lado o esbanjo de dinheiro e a coerência com o evangelho.

Por que os jovens estão caindo na depressão?

A depressão tem como raiz a frustração, isto é, a não realização de uma finalidade. Mas a finalidade deve ser possível, positiva e gradual; e tudo isso não faz parte da nossa cultura dos jovens que pretendem tudo, imediatamente e ao máximo.

Costuma ler jornais?

Sim, costumo ler jornais, mesmo se a minha cabeça está mergulhada nas buscas bíblicas e de livros formativos – talvez, conseqüência do costume de trabalho educativo que tenho na minha experiência. Além de alguns livros que escrevi na Itália pelos jovens. Inclusive, uma coletânea homilética. Hoje participo, escrevendo artigos, cada mês, na nossa revista Missionário do PIME, “Mundo Missão”. Revista que apresenta, através de experiências, reflexões, documentos, o caminho da Igreja no mundo.

Referências

  • Matéria publicada em A VOZ DE BRUSQUE, na semana de 23 a 28 de fevereiro de 2009.