Entrevista Evandro de Mello Amaral - Luiz Gianesini

De Sala Virtual Brusque
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O entrevistado da semana é o Diretor Geral da Defesa Civil de Brusque Evandro de Mello do Amaral, nascido na cidade de Itaqui-RS em 26 de março de 1969; filho dos saudosos José Moraes Pereira do Amaral e de Anália de Mello do Amaral. Filhos: Luiz Fernando Nunes do Amaral, Luiz Gustavo Nunes do Amaral e José Moraes Pereira do Amaral Neto. Torce para Internacional de Porto Alegre

Quais são as lembranças que você tem da sua infância?

A minha infância foi muito trabalhada, tinha que ajudar os pais, desde os 09 anos eu vendia picolé, vendia pão que a minha mãe fazia, pasteis entre outras coisas. Ajudava meu pai no trabalho dele, alimentava os animais (vacas, cavalos, ovelhas e galinhas). Ajudava tirar leite, cortar lenha no mato...Mas também brinquei muito e sempre me dediquei aos estudos, de onde tenho muitas boas lembranças.

Você tem amigos da infância ainda?

Meus amigos ficaram no Rio Grande do Sul, quando vim para Santa Catarina com 14 anos. Mas sempre volte a minha cidade natal e revejo meus amigos e amigas, principalmente do tempo da escola.

O que sente falta da infância?

Principalmente do meu pai e minha mãe, da casa onde morávamos e dos tempos da escola, vivi momentos muito especiais naquele lugar que ajudaram a forjar o homem que sou hoje.

Quando você era criança queria ser adulto?

Sempre sonhei ser adulto e quando ouvia o som do motor dos carros que passavam na rodovia próximo a minha casa, imagina morando em grandes centros e sonhava em um dia vencer na vida e ser alguém importante.

Sonho de criança?

Exatamente em conhecer o mundo, estudar, ser alguém.

Como foi sua juventude? O que você mais gostava de fazer para se divertir?

Na minha juventude eu era meio atleta, jogava futebol amador, gostava de correr, participei de vários eventos de corridas rústicas, meia maratona. Meu principal foco era mesmo o esporte e a continuidade nos meus estudos, pouco saia pra baladas, vivi muito intensamente os anos 80 e tenho muitas lembranças boas daquela época.

Quais eventos mundiais tiveram o maior impacto em sua vida durante a sua infância e juventude?

Acho que minha geração foi privilegiada, pois assistimos a vários eventos e mudanças no mundo e no Brasil. Lembro pouca coisa nesse sentido na minha infância, porém, entre a minha juventude e já adulto assisti a queda do muro de Berlim, Impeachment do presidente Fernando Collor de Mello; Guerra do Iraque e captura e morte de Sadam Hussein, I Rock in Rio, Ataque as Torres Gêmeas nos EUA. A única coisa que lembro da minha infância foi a conquista em 1979 do Tri Campeonato Brasileiro pelo Internacional de forma invicta, com aquele timaço que até hoje dá saudades...rssss.

Pessoas que influenciaram ?

Meu pai, com ele aprendi a respeitar, a ser humilde, a trabalhar, a ser homem e acima de tudo ser honesto! Ele na verdade não era meu pai biológico, eram meus avós que me adotaram, me registraram e me criaram como se filho fosse.

Como era a escola quando você era criança? Quais eram suas melhores e piores matérias? De que atividades escolares e esportes você participava?

Sempre fui muito ativo na escola. Eu era um verdadeiro CAPETA quando saía para o recreio, mas bastava uma olhada de uma professora que eu imediatamente parava o que estava aprontando, pois sempre fui muito disciplinado. A escola era maravilhosa, eu era participativo, gostava de todas as matérias e sempre fui muito bem em todas elas, nunca peguei exame e sempre passei “por média” como diziam lá no RS. Eu me destacava na escola a ponto de representar minha escola no projeto “Vereador Mirim” onde os melhores alunos das escolas do município assumiam a Câmara de Vereadores por um dia e os projetos apresentados eram aceitos e executados pelo poder executivo. Lembro que pedi a ampliação da minha escola e ainda hoje quando vou lá tem um quadro com meu nome em agradecimento.

Formação escolar ?

Fiz o ensino fundamental até a 4ª série na Escola Municipal Aníbal Loureiro, depois passei para o Colégio São Patrício, onde estudei a 5ª Série, ambos na cidade de Itaqui-RS, depois eu vim para Santa Catarina onde retomei meus estudos na 6ª série na Escola Estadual Nereu Ramos em Itajaí, onde terminei o Ensino Médio (2º Grau) com o Curso Técnico em Contabilidade. Já no Ensino Superior foi na Unifebe, meu primeiro contato com Brusque. Depois fiz Especialização em Gestão Pública pela IFSC e estou matriculado para uma nova especialização em Defesa Civil pela Unisul.

Primeira professora?

Não lembro o nome da minha primeira professora, mas lembro do seu rosto, de seu jeito e de seu carinho com todos os alunos.

Grandes professores?

Meu pai avô, que mesmo analfabeto me ensinou a base para a construção do caráter de um homem....ser justo!

Como surgiu Brusque em sua trajetória?

Inicialmente quando vim pra cá para estudar Educação Física na Unifebe, depois com o convite para assumir a Defesa Civil que me fez mudar definitivamente para esta cidade que a cada dia descubro coisas novas e aprendo a gostar cada vez mais.

Como está formada a equipe da Defesa Civil?

A nossa equipe está formado por um quadro de profissionais excelentes, tenho agentes de defesa civil, tenho engenheiro, assistente social e outras pessoas comprometidas, que não medem esforços para ajudar a comunidade. Aqui conseguimos construir uma família que ninguém diz “não” pra nada e graças ao exemplo, todos incorporam esse espírito de atender bem a todas as pessoas e com a maior agilidade possível.

Como o senhor vê a Defesa Civil nos municípios e como melhorar suas atividades preventivas evitando perdas de vidas e de patrimônios no período chuvoso?

Defesa Civil não se faz somente com boa vontade. Precisamos de investimentos. Mas considero que estamos no caminho certo, muitas coisas estão acontecendo, creio que em pouco tempo teremos uma bela estrutura tanto no estado quanto em nosso município. Se comparado a outros municípios, Brusque está muito bem obrigado.

Em sua opinião como se faz uma Defesa Civil de excelência?

Com investimento, dedicação, com muita atenção às pessoas, especialmente aos mais velhos, pois estes detém o verdadeiro conhecimento. Mas não se faz Defesa Civil de excelência sem o comprometimento de TODAS as pessoas, entidades, poder público e sociedade civil organizada.

O que é um Plano de Contingência? Esse Plano de Contingência abrange somente o município?

Um plano de contingências nada mais é do que você escrever num documento aquilo que você faria numa situação adversa. Dando funções e responsabilidades a todos os envolvidos. Plano de contingência pode ser a nível federal, estadual, municipal, pode ser dentro de uma empresa, comunidade e até mesmo pode haver um Plano de Contingência Familiar, aqui na Defesa Civil temos um modelinho familiar. O que fazer no caso de uma emergência, é muito interessante.

Como acontece o monitoramento, prevenção e apoio ao socorro e recuperação quando os desastres acontecem?

A Defesa Civil tem a missão de articular e preparar, especialmente em épocas de normalidade. As pessoas imaginam a Defesa Civil salvando, resgatando. Esse papel não é nosso, nosso papel é de gerenciamento e coordenação. Defesa Civil somo todos nós e o papel da resposta é de todos, especialmente do Corpo de Bombeiros que é o braço operacional da Defesa Civil. Na fase de recuperação a Defesa Civil entra com o apoio técnico, documentação, decretação de Situação de Emergência e/ou Estado de Calamidade Pública que é o documento básico e necessário para a liberação de recursos para a reconstrução.

Além das ações realizadas quando os desastres acontecem, a Defesa Civil também tem a missão de orientar os cidadãos, a sociedade civil e os governos locais sobre como evitar e se proteger de situações de risco?

A partir da promulgação da Lei Federal nº 12.608, essa passou a ser a principal missão da Defesa Civil, hoje além das demandas diárias, trabalhamos no planejamento, identificação de áreas de risco, mapeamento das áreas inundáveis, preparação da comunidade através dos Núcleos Comunitários de Defesa Civil – NUPDECs, projeto Escola: Território Seguro em parceria com a secretaria de Educação, além da participação nas entidades e empresas com palestras de cunho preventivo e preparatório.

Algo cômico que aconteceu na sua vida?

Uma vez fomos acionados para fazer um salvamento na praia de Ubatuba em São Francisco do Sul, chegando na praia verificamos muitas pessoas olhando pro mar e todos apontavam uma silhueta que em determinado momento erguia uma das mãos como se tivesse pedindo socorro. Imediatamente organizamos os materiais e acionei o Helicóptero Águia I que fazia o apoio para nós e como o mar estava muito grande (as ondas) e agitado resolvi chamar reforço antes de entrar no mar. Entramos nágua e nadamos muito até o suposto afogado e nada do Águia I, nadamos mais um pouco e quando já estávamos chegando na vítima ouvidos o barulho da aeronave. Aí ao chegar na “vítima” verificamos que se tratava de uma galhada de árvore que boiava mar afora e cada vez que virava, um galho dava a impressão que acenava. Diante da situação resolvemos trazer o galho pra praia e explicar a situação pra população que a essa hora já era uma multidão, inclusive a imprensa...Diante da minha falta de experiência na época, nós entramos na água, quando na verdade deveríamos ter avaliado melhor a situação antes de colocar a guarnição em risco. No final tentamos explicar a todos, mas ficou um ar de “deboche” pra cima de nós....até hoje quando encontro algum antigo tripulante do Águia I eles gozam da nossa cara.

Um resumo de sua trajetória profissional?

Sempre tive vontade de ser militar, na verdade meu sonho era ser SARGENTO do Exército Brasileiro. Mas, quando chegou a época de servir, como eu sabia que quem morava em Itajaí não era escolhido pra servir em Blumenau, eu resolvi voltar pra minha cidade natal, pois é um Batalhão de Fronteira e lá dificilmente alguém era dispensado. Lembro que fiquei um mês fazendo “cri-cri” (limpando mato no meio das lajotas) e finalmente eu lembro que fui dispensado. Diante disso eu insisti inicialmente com o tenente que era o Sub Comandante da minha Companhia e ele me autorizou a falar com o Capitão que era o Comandante. Não fui aceito pra servir porque tinha uma cicatriz na cabeça, que foi adquirida num incêndio na minha casa quando tinha 03 anos. Segundo o capitão, aquela cicatriz iria deixar minha cabeça muito feia e os colegas iriam rir de mim, que eu serviria de chacota para os demais, assim fui dispensado. Por ironia do destino eu passei num concurso pra Bombeiro já aqui em SC em 1991 e quatro meses depois de formado, eu passei pra sargento e hoje já estou na iminência de ser promovido a Sub Tenente. Na minha vida profissional desempenhei várias funções, entre as mais importantes foram os trabalhos de Guarda-vidas que realizei em várias praias do estado, onde além de atuar como guarda-vidas ainda formava as novas turmas e treinava os bombeiros que vinham do interior, se destaca também minha estadia na Centro de Ensino do Corpo de Bombeiros em Florianópolis, onde atuei como instrutor nas novas turmas de bombeiros profissionais. Também inaugurei e fui o primeiro comandante do Bombeiro de Gaspar.

O que você mudaria se pudesse na profissão que exerce?

Transformaria a Defesa Civil num órgão totalmente independente, pois ainda existe a influência política e econômica que muito atrapalha para a realização do trabalho. A cultura prevencionista precisa ser trabalhada nos bancos escolares para que as futuras gerações não confundam a boa política com falcatruas e troca-troca, principalmente em épocas eleitoreiras.

E a experiência no Corpo de Bombeiros?

Entrei através de um concurso público por acaso, hoje não me vejo fazendo outra coisa. Tudo o que tenho e que sou devo ao Corpo de Bombeiros que é uma instituição fantástica onde me dedico de corpo e alma pra defender seus interesses e trabalho muito pra que seja sempre muito respeitada.

Quais medos você tem ou teve? maior medo é o de envelhecer ou o de entristecer ?

Medos temos muitos, acho que tenho medo de perder meus filhos, seja pro mundo, seja pra vida e o pior...pra morte.

Qual foi o maior desafio até agora?

Minha vida sempre foi pautada por desafios, pois desde pequeno, devido as dificuldades da família era tudo muito difícil, mas considero meu maior desafio o de estudar e graças a Deus e a minha persistência, consegui atingir meus objetivos.

Você se arrependeu de alguma coisa que disse ou que fez ?

De várias, hipócrita é o homem que diz não se arrepender de nada, embora eu pense muito antes de tomar uma atitude ou de fazer alguma coisa, ainda assim errei muito e se pudesse voltar atrás certamente corregeria meus erros.

Algo que você apostou e não deu certo?

Meu casamento

O que faria se estivesse no inicio da carreira e não teve coragem de fazer?

Concurso pra ir além.

O que você aplica dos grandes educadores, das aprendizagens que teve, no seu dia a dia?

Tudo que é bom é e deve ser aplicado. Sou muito atento e costumo filtrar as informações pra usar somente aquilo que é bom, tanto pra mim quanto pras pessoas que me cercam.

Quais as maiores decepções e alegrias que teve?

Alegrias foram várias, filhos, profissão, sucesso nos projetos, admiração das pessoas pelo meu trabalho e seriedade. Decepções foram poucas, acho que minha maior decepção ainda é não ter transformado a Defesa Civil num modelo para o estado, mas aí não depende só de mim. Acredito que ainda chegamos lá, pois existe a vontade por parte do governo, o que falta é o momento certo para fazer esse investimento.

Qual é a sua maior ambição?

Não tenho grandes ambições, só queria ser lembrado pelas coisas boas que fiz, talvez essa seja a minha maior ambição, deixar um legado.

O que mais incomoda?

A morosidade com que as coisas acontecem no meio público.

De que sente orgulho?

De ser honesto, de NUNCA haver me metido em nenhum tipo de falcatrua e de tratar bem TODAS as pessoas. Esse dom eu herdei de meu pai e minha mãe.

Em quem tem fé?

Em um ser que todos chamam de DEUS e nas pessoas.

Quais são as suas considerações finais?

Expressar meu desejo em transformar a Defesa Civil de Brusque num órgão de excelência e modernidade com ênfase para o uso da tecnologia. Queremos ser modelo para o resto do estado e quem sabe do país. Quero ainda deixar uma frase minha para reflexão: “Não salvamos vidas, quem salva é Deus, somos apenas instrumentos em Suas mãos” (Sgt E

Referências

  • Entrevista publicada no EM FOCO aos 19.07.13.