Entrevista Celerino Rauber - Luiz Gianesini

De Sala Virtual Brusque
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Filho de Fermino Adolpho Rauber (in memoriam) e de Maria Selvina Rauber; natural de Iporã do Oeste/SC, nascido aos 03.02.64. São em onze irmãos: Belmiro, Aládia, Lino, Ana, Maria, João, Gelásio, Wilma, Jacinta, Dalvino e Celerino. Torce para o Internacional

Como foi a sua infância e juventude?

Foi muito boa. A infância e até aos 15 anos, foi junto com a família, em Iporã do Oeste/SC, na agricultura. Havia muito espaço para brincar, nos campinhos de futebol, no meio dos pastos. A escola ficava a quatro quilômetros de casa e diariamente era uma festa fazer esse trajeto. Com vários colegas vizinhos. Dos 15 aos 22 anos, estudei no Seminário. Iniciei em Curitiba, passando por Jaraguá do Sul e Brusque. Um privilégio. Sem dúvida a melhor escola possível. Formação integral. Após sair do Seminário - quatro anos como Repórter do Jornal Santa Catarina e Professor. Mais adiante, só Professor e Diretor da Escola Georgina e ainda Professor no Ensino Superior.


Como foi a educação recebida de seus pais?

Foi muito interessante. Como sou o décimo de uma família de 11 irmãos, o mais velho é 21 anos mais velho e é Padre, tendo exercido uma grande e positiva influência sobre os demais, principalmente os mais novos. Faz parte dessa educação, alguns princípios indiscutíveis, como honestidade, senso de justiça, solidariedade, amor ao trabalho, como único caminho para obtenção das coisas, em meio a muitas dificuldades de uma vida muito dura na lavoura.

Primeira Professora?

Dona Bertila. Uma senhora muito dedicada. Quando fui para a Escola, mal falava a língua portuguesa, pois em casa só se falava em alemão. A Professora não só tinha o trabalho de ensinar a ler e escrever, mas também de falar o português. Era uma tarefa árdua para ela, mas desempenhou com muita competência.

Formação escolar?

O ensino fundamental foi em Iporã do Oeste. O ensino médio em Curitiba, no Seminário, a Graduação em Estudos Sociais, na Febe, a Especialização em Geografia, na Univali, a Especialização em Fundamentos da Educação – Convênio Febe /Furb e Mestrado em Educação na Furb. Um caminho percorrido sempre com o objetivo de buscar o desenvolvimento pessoal e prestação de um serviço qualificado na educação, seja qual for a atividade exercida, seja Professor, Diretor etc.

Quais as metas traçadas por sua Diretoria quando assumiu a Pasta? Quais as metas já alcançadas?

Quando assumi a Diretoria de ensino, vim de sete anos como Professor da Rede Municipal seguidos de outros sete anos como Diretor de Escola. Portanto, com conhecimento prático do que se passa com o Professor e com o Diretor no seu dia a dia. Agora estão se completando os sete anos como Diretor de Ensino. O que posso afirmar, com toda segurança, é que os nossos Professores, de maneira geral, são muito comprometidos com a Educação. Levam o trabalho muito a sério e a minha função, em conjunto com a equipe da Secretaria, permitiu que articulasse melhor o trabalho entre todos, ou seja, que se sistematizasse uma proposta de trabalho, construída coletivamente, com o envolvimento e participação de todos. A partir dessa proposta, que inclusive já está na segunda edição, cada escola construiu o seu Projeto Político Pedagógico e cada Professor, o seu planejamento anual, bimestral e diário. Portanto, uma interferência direta na ação pedagógica de cada profissional. O fato de ter um trabalho planejado, facilita, inclusive, na percepção das deficiências e necessidades e a formação continuada, palestras, cursos etc, tem sido sempre promovidos, com base nessas observações e ouvindo os profissionais. Assim, o trabalho é muito dinâmico e a Rede cresceu não só em números, mas em qualificação de todo o processo, criando novos projetos, conforme as necessidades apresentadas. No momento atual, estamos debruçados sobre a ampliação do ensino fundamental de 8 para 9 anos. Essa ampliação tem fortes implicações pedagógicas e nós precisamos dar conta das mesmas. Portanto, a meta principal é organizar e planejar o trabalho, mas trata-se de um processo dinâmico, com novidades e conflitos diários a serem administrados e superados. Este será, inclusive, o legado que ficará. Quem vier depois, terá o enorme desafio de dinamizar o processo educativo. Brusque é um município em “eferverscência”. A educação acontece neste contexto.

O que poderia ser aperfeiçoado em sua área de atuação? (que depende de outros)

Na verdade dependemos de uma série de elementos. Poderíamos dizer que os Professores poderiam vir melhor formados das universidades. As universidades vão dizer que os alunos ingressam com base muito fraca e somos nós, do ensino fundamental e médio, que encaminhamos os alunos para a faculdade e aí se vai estabelecendo um jogo de empurra-empurra que não leva a solução nenhuma. Eu acredito que o melhor caminho é uma aproximação entre todos os envolvidos com o processo educativo. Mas sem dúvida é a formação ou qualificação dos profissionais que faz toda a diferença, aliado, é claro, a sua devida valorização e garantia de infraestrutura necessária, como material didático adequado e todos os materiais necessários para o ato pedagógico. De 2001 para 2007, o número de alunos da Rede Municipal dobrou. Passou de 4500 para 9000 aproximadamente. É evidente que esse crescimento exigiu da administração um esforço extraordinário, para ampliar a rede física, ampliar o quadro de profissionais enfim, todos os elementos que se fazem necessários. É um desafio muito grande e complexo. Nas avaliações que vem sendo feitas, inclusive pelo Ministério da Educação, nós conseguimos nos situar nas primeiras posições. Mas é preciso ter consciência de que a qualidade da educação no Brasil é fraca e não podemos nos dar por satisfeitos. Há muito que se fazer e estudar.

Grandes nomes na educação?

Todos os meus Professores, com destaque ao Padre Nestor Eckert e Tadeu Mikowski. Mas como estou em Brusque, desde 1984, todos os Secretários da Educação deram o melhor de si e para mim são grandes nomes na educação: Ana Maria Leal, Celso Westrupp, Padre Nestor Eckert, Mauro Junglaus, Eliane Busnardo, Delmar Tôndolo, José Zancanaro, Marilisi Fischer. Cada um deles com suas respectivas equipes de trabalho e Professores do seu tempo. Eles estão presentes no presente e estarão presentes no futuro da Rede Municipal e Brusque deve muito a eles.

Quais as melhores obras que já leu?

Foram muitos bons livros. Gosto de literatura, filosofia, sociologia e educação. Em literatura poderia citar: “O nome da Rosa” de Humberto Eco; “O velho e o Mar”, Ernest Hemingwai; “Morte e Vida Severina”, João Cabral de Melo Neto. Enfim, a literatura encanta. Em filosofia li alguns clássicos, como “O Principe”, Nicolau Maquiavel, que é muito marcante. “Discurso e Método”, René Descartes e outros. Mas gosto muito de “O Ponto de Mutação”, Fritjof Capra; “A Dança do Universo”, Marcelo Gleiser. A filosofia, a partir do momento que você começa a compreender, se torna muito significativa e trás respostas para muitas questões e circunstâncias que a vida apresenta. Em Educação gosto dos livros de Paulo Freire. Citaria “Pedagogia da Autonomia”. Também, de Hugo Assmann “Reencantar a Educação”. Ubiratan Dambrósio “Educação para uma Sociedade em Transição”. Gosto de ler e a leitura nos torna melhores.

'Atualmente o que está lendo?

Atualmente estou lendo várias coisas ao mesmo tempo. Inclusive, estou retomando alguns estudos de latim com “Programa de Latim”, de P. Júlio Comba. “A Era dos extremos”, de Eric Hobsbawm. E acabei de ler um livro encantador chamado “Pergunte a Platão”.

Lê jornais? Tem lido a Coluna Dez? Vale a pena?

Também costumo ler jornais, diariamente. A Coluna Dez tenho lido e vale a pena porque conhecer um pouquinho melhor as pessoas, os enriquece muito e a Coluna Dez presta este serviço, de mostrar as pessoas e todos têm a contribuir, até mesmo ou talvez, ainda mais, aqueles que pensam e veem o mundo de maneira diferente de como a gente o vê.

O casamento ainda é válido?

Fui casado por dois anos e meio. Estou separado há dez anos. Meu pai faleceu há três anos, justamente, um ano antes de completar 60 anos de casamento. Foram dois casamentos que foram válidos. Diferentes no tempo e na duração e na maneira como terminaram. E se terminaram é porque houve motivos para isso. No caso dos pais, porque ele faleceu e no meu caso, com a Íria Frisanco, que tivemos uma separação amigável, porque separados seríamos mais felizes. Diante desta experiência, penso que o casamento é válido e que deve ser motivo de felicidade. Quando não é, deve terminar.

Pensa em sair como candidato no próximo pleito eleitoral?

Gosto muito da educação e a educação depende muito de decisões políticas. E esta é uma grande responsabilidade. Por esse motivo já fui candidato a vereador em 2000. E sempre entendi que estava naquele caminho para prestar um serviço. Recebi 477 votos e fui o segundo suplente. O meu partido que é o PDT, o que me deixou bastante satisfeito. Na última eleição recebi convite do partido para candidatar-me novamente, mas achei melhor apoiar um candidato da educação, que é o vereador José Zancanaro, que está exercendo o seu mandato. Para a próxima eleição gostaria de ver um Professor na Câmara de Vereadores e eu prefiro apoiar alguém do que ser o candidato.

O Brasil tem acerto?

É claro que tem. O Brasil é um país jovem em relação ao restante do mundo civilizado. Quando a gente é jovem, a não ser que se tenha nascido em berço de ouro - o que não é pecado- a gente tem que construir a vida. Aos poucos. Estudar. Trabalhar. Se estruturar. É próprio da juventude, ter energia e força para enfrentar as adversidades. E é assim que vejo o Brasil. Um país jovem e que será uma potência. É necessário que se purifique. Há muita corrupção interna e exploração externa. Mas isso, acontece por ser jovem e por isso vulnerável. Os jovens precisam se cuidar e merecem ser cuidados pelos adultos. O Brasil da mesma forma. Os jovens estão perdidos porque são vulneráveis? De jeito nenhum. E assim também o Brasil.

A administração Ciro Marcial Roza está no caminho certo?

Eu vim morar em Brusque em 1984. No ano da grande enchente, que torturou a cidade. Hoje vejo que Brusque deu a volta por cima. É um espirito diferente. Um povo trabalhador, mas também, muito empreendedor. O Ciro Roza tem o respaldo que tem porque é quem melhor incorpora este espírito. A administração do povo, não pode estar na contramão deste mesmo povo, mesmo que desagrade a uma parcela, o que é natural. O Prefeito tem muito claro esta visão. Ele conhece a cidade que administra e por isso não abre mão do seu ponto de vista. O artigo primeiro da Constituição Federal diz que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos direta ou indiretamente, nos termos desta constituição”. Ciro Roza faz isto.

Referências

  • Matéria publicada em A VOZ DE BRUSQUE aos 10 de janeiro de 2008.