Entrevista Adonis Marcos Lisboa - Luiz Gianesini

De Sala Virtual Brusque
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ADONIS MARCOS LISBOA: Adonis Marcos Lisboa; natural de Guaporé/RS, nascido aos 14/10/1969, filho de Adão Rodrigues Lisboa e Dosolina Lisboa; cônjuge: Sandra Luiza Rogelin Lisboa; s: Maura Lisboa e Adonis Vinícius Lisboa

Como foi sua infância?

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Com bastante dificuldade financeira e problemas familiares. No entanto, com muito amor por parte de minha mãe.

Sonho de criança?

Não lembro se tinha.

Como foi sua juventude?

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Foi de um jovem que trabalhava durante o dia e estudava à noite. Tive vários amigos, mas não fui de sair para as festas, pois comecei a namorar muito cedo, com dezesseis anos.

Pessoas que influenciaram?

Minha mãe, um grande amigo de infância chamado Laone Maus, outro amigo chamado Luiz Mello, amigo Marco Benites, grande mestre Sidirley de Jesus Barreto, outro mestre João Batista Freire, dentre outros.

Como veio para Brusque? Foi bem acolhido?

Morava em Gaspar e como meu trabalho passou a partir de 2004 se concentrar quase todo em Brusque, decidi morar aqui. Fui muito bem acolhido. Trabalho em Brusque desde 1999.

Formação escolar

Não lembro das primeiras. Fiz o Ensino Fundamental (anos finais, antigo ginásio) na Escola Estadual Oito de Setembro em Estância Velha/RS e depois o segundo grau (hoje Ensino Médio) na Escola Cenecista, também em Estância Velha.

Primeira professora?’’

Não lembro.

Melhor professora/ (Por quê?)

Maria Helena. Porque nos ensinava bem e nos acolhia como filhos. Ministrou aulas para mim no segundo grau.   O esporte é sinônimo de Educação Física?

Esta pergunta parece ter uma resposta óbvia, ou seja, não. Mas na realidade não é bem esta resposta que encontramos. Uma grande parcela da população, quando fala Educação Física está pensando no esporte, associando esses dois termos como se fossem sinônimos. No entanto, a Educação Física é muito maior e muito mais que o esporte. Este é muito importante, porém é um dos elementos da Educação Física. Em especial estou me retratando à Educação Física Escolar.

Se pensarmos na Educação Física fora da escola, a gama de possibilidades e elementos que a compõem aumenta significativamente. Na escola também acontece este equívoco e podemos comprovar isto analisando o currículo da disciplina destinado aos anos finais do Ensino Fundamental (5ª. à 8ª. série). Ele está fundamentado no ensino de alguns esportes. Há muitos conteúdos para serem ensinados além de esporte, por exemplo: relaxamento, dança, alongamento, brincadeiras populares, ginástica (refiro-me às ginásticas que não são esporte), sensibilização corporal.

Enfim, o esporte é muito importante para a Educação Física, mas não está no mesmo patamar que ela. Devemos nos questionar se ao final do Ensino Fundamental e Médio, teremos mais alunos que se tornarão atletas ou alunos que se tornarão cidadãos não-atletas e que necessitam aprender mais coisas para utilizarem em seu cotidiano. Coisas que a Educação Física Escolar pode e deve ensinar.   Como a Educação Física pode contribuir para a aprendizagem geral dos alunos na escola?

A Educação Física, quando ministrada com excelência, pode contribuir de modo efetivo e significativo para a aprendizagem do aluno, não só na própria disciplina, mas para as demais.

Em primeiro lugar a Educação Física trabalha com a motricidade humana (movimento humano), ou seja, com a pulsão de vida que existe em nós. Para nos mantermos vivos e saudáveis, devemos nos movimentar. Ela trabalha com a vida em sua essência. Ao permitir o movimento, possibilita a melhoria da consciência corporal dos alunos, do autoconhecimento corporal, do contato com as limitações e potencialidades. O aluno deve aprender com todo seu corpo. A Educação Física, repito, quando ministrada com excelência, pode desenvolver nos alunos as estruturas para as demais aprendizagens escolares. Podemos citar aqui a organização espacial e temporal, necessárias para aprender Matemática, Língua Portuguesa, História, Geografia. Desenvolve as coordenações motoras, que são a ordenação conjunta de pensamento e ação. Estas tão importantes para o cálculo, a escrita, o desenho. Desenvolve a lateralidade, a direcionalidade, o tônus muscular, o ritmo, todos importantes para as aprendizagens nas disciplinas acima e todas as outras. A Educação Física não ensina matemática, nem Arte, nem Língua Inglesa, ela desenvolve no aluno aquilo que é necessário para aprender todas estas disciplinas. E tudo isto, preferencialmente deve ser aprendido de forma lúdica e de corpo inteiro.   A Educação Física é uma disciplina como qualquer outra na escola, tem a mesma importância?

A resposta é sim para as duas partes da pergunta. No entanto, não são raras as vezes que esta disciplina é negligenciada por todos os envolvidos no processo escolar, inclusive pelos professores da mesma. Ela deve ter o mesmo peso que as demais. Contudo, com este direito vem também os mesmos deveres das outras. Ela tem especificidades pedagógicas, que de alguma forma mencionei acima. A Educação Física por estar no mesmo patamar das demais, exige que seus professores estudem, tanto quanto os outros, questões relacionadas à avaliação, à didática, às teorias da Educação, à Psicologia da Educação e outros temas inerentes a ação pedagógica do professor.

Por ter a mesma importância que as demais disciplinas, os professores devem elaborar cuidadosamente seus planos de ensino, seus planos de aula. Devem ter um currículo que permita organizar, assim como em outras, o que se ensina em cada série (ano). Ter uma escala gradativa de aprofundamento e complexidade dos conteúdos no transcorrer dos anos letivos, para que o aluno perceba claramente o que se avança em termos de conteúdos de um ano para outro.

A Educação Física é uma disciplina como qualquer outra e com a mesma importância, porém, com uma especificidade muito relevante, ela privilegia ao aluno aprender vivenciando todo seu corpo.   O que é Psicomotricidade, para que idades se aplica e como pode contribuir para a Educação Física?

A Psicomotricidade é uma área do conhecimento, independente da Educação Física. Ela pode ser e é utilizada nesta disciplina, porém, tem suas bases teóricas bastante sólidas e aplica-se em três áreas distintas: educação, reeducação e terapia.

Para termos um ponto de partida na compreensão da Psicomotricidade, apresento dois conceitos do professor Sidirley de Jesus Barreto, grande mestre desta área, professor da FURB (Blumenau): “Atualmente percebemos que psicomotricidade é o relacionar-se através da ação, como um meio de tomada de consciência, de unificação do Ser, que é corpo-mente-espírito-natureza-sociedade” e “Psicomotricidade é a estratégia de intervenção psicopedagógica que utiliza o movimento como um meio e não um fim em si mesmo”.

Diante disso podemos perceber que a Psicomotricidade valoriza substancialmente a interação entre as pessoas e que busca trabalhar tanto na prevenção de dificuldades de aprendizagem, desajustes sociais e outros fatores, como também atua na resolução destas dificuldades quando já instaladas.

Há uma idéia geral de que a Psicomotricidade serve apenas para as crianças, mas isto não é correto. Ela enfatiza mais a atuação nesta fase da vida, porque é mais importante e mais adequado prevenir do que sanar problemas. Mas a Psicomotricidade se estende desde os bebês até os idosos (Gerontomotricidade). Também atua nos ambientes de trabalho com a Ergomotricidade. Ela pode ser aplicada antes mesmo do nascimento da criança, pois podemos realizar trabalhos com gestantes, o que contribui sobremaneira para o desenvolvimento da mãe e do bebê.

Ressalto que não existe uma única Psicomotricidade, existem diversas linhas desta área, cada uma com bases teóricas que as justificam. Exemplificando posso citar: a Psicomotricidade Relacional, a Psicomotricidade Sistêmica, a Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers, a Transpsicomotricidade, a Prática Psicomotora Aucouturier.

Sobre as contribuições que esta área do conhecimento pode oferecer à Educação Física, estas são diversas. É possível, ao utilizarmos os conhecimentos da Psicomotricidade, observar melhor nosso aluno, enfocarmos em suas potencialidades e não em suas dificuldades, reconhecendo e valorizando assim suas habilidades. Também esta área contribui para desenvolvermos por meio da ludicidade (principal meio de atuação) as atividades que proponham aos alunos situações-problemas, desafios que os mesmos deverão solucionar, utilizando para isso toda sua corporeidade e sua criatividade. Desta forma, conforme mencionei acima a respeito das estruturas desenvolvidas para a aprendizagem das disciplinas escolares (lateralidade, tônus muscular, coordenações motoras etc), estaremos proporcionando uma aprendizagem de corpo inteiro e principalmente, estimulando a autonomia e a imaginação em nossos alunos.

A diversidade de atividades deve proporcionar aos alunos maior consciência corporal, melhoria das relações que estabelece dentro e fora da escola, promover o autoconhecimento e a ampliação de sua sensibilidade. Atrelado a isto, instigar a criticidade do aluno. A Psicomotricidade trabalhada adequadamente deve estimular que o aluno realize as ações práticas (mais corporais) e depois as transfira para o campo das representações mentais, ou seja, desenhe, escreve, reflita e verbalize sobre o que realizou. Refletir sobre suas ações práticas e conseguir transformar algo concreto em algo abstrato, este é um dos propósitos da Psicomotricidade. Ao conseguirmos isto, ela não contribuirá apenas para a Educação Física, e sim, para todas as disciplinas, e mais ainda, para toda a sociedade.   Conte algo que você queria fazer e não deu certo?

Ser doutor até os 40 anos. Farei 41 em outubro e não consegui concretizar este sonho. Iniciei o doutorado, mas tive que interromper.

Algo que você apostou e não deu certo?

Alguns cursos de formação de professores que acreditava que as pessoas adeririam, mas não foi o que aconteceu.

O que faria se estivesse no inicio da carreira e não teve coragem de fazer?’’

Eu considero que ainda estou no início da carreira, pois me graduei em Educação Física em 2001. Tenho feito quase tudo que idealizo para minha carreira.

O que você aplica dos grandes educadores, das aprendizagens que teve, no seu dia a dia?

Várias coisas, por exemplo, buscar a excelência em tudo que faço. Isto me foi ensinado pelo aprendizado que tive no Judô, ensinamentos de Jigoro Kano, que foi muito influenciado pela arte dos samurais. Me fazer cada dia mais autônomo e tentar estimular que meus alunos também o sejam e sempre sonhar. Isto aprendi com meu mestre Sidirley de Jesus Barreto.

Quais as maiores decepções e alegrias que teve?

Uma das grandes alegrias que tive até hoje, foi ter sido selecionado como aluno efetivo no mestrado e ter conseguido concluí-lo.Das decepções eu não lembro.

O que você mudaria se pudesse na profissão que exerceu?

Melhoraria o nível de pesquisa e estudo dos profissionais da área, não só da Educação Física, mas da Educação em geral.

O que é uma sexta-feira perfeita?

Uma sexta ensolarada que viajo para ministrar algum curso noutra cidade.

Um resumo de sua vida profissional

Vou falar do momento atual: Trabalho no Centro Educacional Cultura com algumas aulas de Judô; Trabalho com Psicomotricidade Relacional nesta mesma escola, porém num trabalho de atendimento de algumas crianças em período não escolar; Sou contratado pela Secretária de Educação do município de Brusque e por esta aplico dois projetos em duas escolas da rede de ensino municipal; Ministro algumas disciplinas nos cursos de Educação Física e Pedagogia da Unifebe;  Ministro uma disciplina no curso de Educação Física da Faculdade Avantis em Balneário Camboriú; Ministro cursos de formação para professores pelo estado de Santa Catarina.

Referências

  • Matéria publicada no EM FOCO em 26 de outubro de 2010.