Documentos como pesquisar

De Sala Virtual Brusque
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  • Marlus Niebuhr

Este texto visa instrumentalizar com noções básicas, pesquisadores da rede de educacional de Brusque, tanto pública quanto privada, assim como demais interessados na pesquisa histórica. Os conceitos não serão aprofundados, neste momento, mas servirão como tema gerador de debate.


Livros e pesquisadores.

É fato notório que os documentos fazem parte do trabalho do historiador. Sua analise de documentos é parte fundamental do ofício do historiador, pois cabe a este, interpretar, relacionar fatos e acontecimentos.

Atualmente, temos uma visão ampla do que nomeamos como documento. De acordo com Jacques Le Goff, no século XIX e no início do século XX, a história positivista tinha o documento escrito como uma prova histórica, incontestável. No entanto, os historiadores perceberam a necessidade de buscar outras fontes, por exemplo: as arqueológicas, as orais, e imagéticas, entre outras.

O documento não deve servir apenas como um suporte que confirme um conjunto de informações, mas o próprio documento deve ser objeto da análise do historiador. Mas, devemos nos lembrar de que a “análise do historiador”, não é isenta, mas perpassa uma série de valores no qual o historiador, como sujeito histórico esta inserido. Assim, este sujeito que escreve a história, é permeado por ideias, contradições de sua própria época, experiências pessoais que acumulou ao longo da vida, desejos e aspirações. Podemos então perguntar, quando olhamos sua carreira: - Qual sua formação? – Quais foram seus professores? – Qual era a sociedade e os valores de sua época? Também não devemos nos esquecer de que no âmbito da formação, qual linha teórica que abraçou nos caminhos da história.

As perguntas poderiam ser outras: - Qual a classe social que pertence? – Qual a orientação partidária? – Qual o rol de amizades compõe seu dia a dia? Perguntas que podem parecer irrelevantes, mas que podem ser percebidas nos escritos deste sujeito que se propõe a analisar a história. Sem escapar do tema em questão e caminhar em outra direção, que seria o ofício do historiador, ainda devemos completar dizendo que: a pesquisa histórica pode ser feita por outros sujeitos (não historiadores), mas com resultados diversos. Assim, o é para um jornalista que busca a comprovação de suas palavras ou a fundamentação de um artigo, bebendo das águas da história. Muitos jornalistas, no entanto, dedicaram bom tempo de suas vidas desenvolvendo trabalhos de caráter histórico, muitos exemplos poderiam ser aqui citados. No âmbito da ficção, um escritor, apaixonado pela história, a usa como cenário para figurar seus personagens, se atendo ou não, aos acontecimentos verídicos. Em síntese, absolutamente nada disso é incorreto ou não é válido, ao contrário são recursos utilizados pelos sujeitos que compõem a sociedade, e nos ajuda a pensar, que, as diferentes visões da história são possíveis.

No entanto, cabe aqui ressaltar um fato inegável. O tempo investido é fator fundamental nesta analise, neste sentido aquele acadêmico que frequentou a universidade, participando de extensões, estágios, palestras, oficinas e tantas outras atividades ao longo de seus estudos, desenvolve uma habilidade para tratar com os documentos, conhece as várias teorias da História, conhece a própria história da história, estudando historiografia, e aprende a pesquisar utilizando várias metodologias. Nesse sentido, este acadêmico, que pode vir a ser também professor de história, dependendo de sua graduação, recebe um instrumental mais adequado para análise.

O historiador, deve também ter em mente, que as palavras impressas em documentos como: jornais, relatórios, ofícios, refletem interesses e desejos, motivações que determinada pessoa, grupo, ou classe, registrará em seus escritos. Gostaria neste ponto de citar a emblemática figura de Michel Foucault[1], quando expõe a ideia que todo um documento é um monumento, e que traz em si, vestígios, marcas do seu tempo, mas também de quem o produziu, neste caso cabe perguntar: - Quais os seus motivos e interesses?

Popularmente, e no cotidiano da sala de aula, o documento ainda é representado como portador da verdade, e em muitos casos, é disposto no material didático meramente como um recurso ilustrativo. Neste caso, cabe ao professores, estabelecer relações entre as diferentes fontes documentais, possibilitando novas leituras.

Referências

  1. FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.